sábado, junho 13, 2015

Bolonha

Que balanço se faz da implementação de Bolonha? Nenhum? Porque é que as Universidades não fazem um balanço dos resultados? O que se ganhou e o que se perdeu? Afinal altera-se todo um sistema de ensino e não se fazem balanços, como se a mudança fosse definitiva. A sociedade empresarial, e principalmente a industrial, recusa empregar licenciados de Bolonha. O que é que isto nos diz? Diz-nos que os cursos de 3 anos de engenharia ou ciências não têm qualidade? É evidente que é isso que nos estão a tentar dizer. E na Educação? O que é que os resultados dos exames feitos aos professores com resultados preocupante, demonstrando o que muitos já sabíamos, que há muitos professores que não dominam a matéria que lecionam nas nossas escolas? Os próprios sindicatos vêm agora dar a mão à palmatória e concordar que de facto pode haver casos desses, mas que são as instituições de ensino que são ocupadas por não ensinarem bem. Na engenharia, procurou a Ordem dos engenheiros colmatar eventuais falhas das licenciaturas de Bolonha instituindo os Mestrados Integrados, com a mesma duração que as antigas licenciaturas. O problema é que foi tudo feito à pressa e os Mestrados Integrados acabaram por ser uma licenciatura mas sem estrutura. Não há aulas práticas como havia na licenciatura; não há tantas provas escritos recorrendo-se muito a trabalhos, que tantas vezes são copy-paste de outros trabalhos sem possibilidade de haver uma avaliação objetiva; não há estágio empresarial/industrial perdendo-se aquilo que seria uma introdução do aluno na empresa/indústria e quantas vezes tinha como consequência o aluno permanecer na empresa e conseguir um emprego, além de se afirmar com um projeto muitas vezes útil e ás vezes até inovador. O que há de positivo com Bolonha é talvez só a implementação de projetos integrados, em que os alunos usam de alguma iniciativa para apresentar soluções para apresentarem produtos ou processos, supostamente inovadores, que lhes são sugeridos pelos professores e que integram matéria de várias disciplinas (UCs). Talvez com tantos projetos integrados se espere que o aluno saia com capacidade para resolver problemas e até de inovar. Sem dúvida que este aspeto do curso estava ausente do formato anterior dos cursos, pelo menos do plano de estudo não constava, e só no estágio haveria algo de parecido. No entanto os professores das UCs eram livres de solicitar aos alunos que apresentassem trabalhos sobre determinados temas, da mesma forma como acontece agora com os projetos integrados. Só não eram temas que abrangessem também outras UCs. Mas quantas vezes essa integração é de facto feita? Até porque em muitos casos as UCs de um determinado semestre, serão muito difíceis de incluir num projeto integrado, por serem tão díspares. Falando dos casos que conheço dos cursos onde lecionei estes anos, verifico também que muitos assuntos são repetidos ano após ano, sem os alunos aprofundarem esses temas suficientemente ao longo dos anos. Acabam por não saber mais do que aparece nos motores de busca, que vem em abstracts, sumários e reportagens da atividade de empresas nas áreas abrangidas pelo tema em estudo. No caso dos doutoramentos, que merecem uma análise separada, por supostamente serem de um trabalho original, verifica-se que os programas doutorais, que agora na UM contam para nota final, uma vez que sendo opções não são propriamente UCs que serão determinantes na formação do aluno em investigação, e retiram tempo precioso para que o aluno possa ter tempo de aprofundar o estudo que estará a realizar por iniciativa própria. Em três anos de doutoramento, é um ano que se "perde". São muitas vezes UCs que ao contrário do que se pretende, retira ao aluno a sua aprendizagem de investigação, ao tentar ensinar a investigar, pois retira a auto aprendizagem, essencial para a capacidade necessária à afirmação do investigador. Além do mais, um doutoramento com dois anos efetivos de doutoramento, dificilmente terá o mesmo nível que os doutoramentos que eram efetuados em 3 e muitas vezes 4 e mais anos.

sábado, maio 23, 2015

Inquéritos e estatísticas

As empresas são assediadas constantemente com inquéritos de alunos de mestrado ou doutoramento, e até de licenciatura, que fazem trabalhos e teses baseadas numa análise desses inquéritos. É algo que se tornou “viral” ultimamente, não estando os professores também livres de apanharem com inquéritos por parte também de alunos. Claro que todos gostamos de ajudar os jovens nesse seu percurso de aprendizagem. Mas será que ao responder estamos mesmo a ajudar? Que resultados tiram estes alunos de inquéritos que demoram uns minutos a responder? Por outro lado as empresas são obrigadas a preencher inquéritos do INE sobre I&D. Para que serve? Para estatísticas claro, mas na realidade qual o proveito? Inquéritos são o que são. Podem espelhar uma situação mas não a resolvem. Por isso não se percebe qual o objetivo, a não ser encher arquivos de números. Também temos na Universidade inquéritos à aprendizagem. Quem os faz terá a noção que ninguém os vai analisar? Ou mesmo ler? Parece que temos uma inquérito-mania. Tenho para mim, que as estatísticas são o oposto duma avaliação objetiva do mérito ou do fracasso, nivelando tudo pela média. Com a entrada do processo de Bolonha, as avaliações ponderadas dos trabalhos dos alunos, acabam sempre por nivelar, ou digamos, "terraplanagem", sem altos nem baixos. Os concursos também seguem a mesma "segurança" com avaliações ditas objetivas em folhas excel. Mal vamos quando ninguém sobressai e ninguém é excluído. Temos depois profissionais que não passaram por um verdadeiro crivo, sendo que não poderão responder a desafios que terão de enfrentar de uma forma conclusiva ao longo da sua vida profissional, mas antes acabam por evitá-los ou então acabam por aprender à própria custa, porque no ensino superior não foram verdadeiramente postos à prova.

domingo, maio 17, 2015

A ciência é para ser aplicada?

Discute-se mais uma vez nos fóruns sobre ciência se esta deve ser fundamental ou aplicada. Durante os últimos anos investiu-se muito na ciência fundamental e supostamente na ciência aplicada. Mas os resultados são mais evidentes no que se investiu em ciência fundamental, com o número de doutorados e de publicações científicas a crescer exponencialmente nas últimas 2 décadas, mas o que se investiu em ciência aplicada não surtiu o efeito desejado, segundo Daniel Bessa no jornal Expresso deste sábado dia 16, só se tendo registado 18% das patentes da média europeia em Portugal. Há algo que não está certo, uma vez que o investimento em investigação e desenvolvimentos está a 82% da média europeia, muito superior portanto ao que se investe na maioria dos países europeus. No caso das patentes, nunca houve no passado incentivo científico ao seu registo, não se considerando no mesmo nível que os artigos científicos e não havia nem há incentivo financeiro para o se registo, que estará fora do alcance de qualquer inventor individual. Além do mais, quem regista patentes em Portugal tem pela frente examinadores que são mais papistas que o papa, chegando a ser mais fácil obter a sua aprovação noutros países europeus do que em Portugal. Há uma atitude de chumbo fácil, de uma forma leviana em que se faz uma análise negativa da patente sem o cuidado de analisar exaustivamente o seu mérito, tal como fazem os EUA no que respeita à patentes submetidas pelos seus cidadãos e empresas. Eles protegem a nossa tecnologia, nós penalizamos a nossa. E mesmo das patentes aprovadas só 3% da média dessas patentes contribuíram para as exportações, através do seu licenciamento ou venda. O mal não pode estar só nos investigadores, mas no desajuste dessas patentes ao tipo de empresas existentes em Portugal. Com algumas exceções, são pequenas e médias empresas sem estrutura para poder tirar partido de novos desenvolvimentos ou novos produtos. Os setores de atividade também são setores de grande imobilidade tecnológica, que mesmo modernizando-se, fazem-no através da importação, e não através de inovação obtida no país. É sem dúvida um problema complexo. Mas sem descomplexá-lo não se resolve. Vamos por partes: se os setores são de baixa tecnologia, há quem defenda que deviam-se substituí-los por outros mais sofisticados e mais produtivos. Como exemplo, o setor têxtil, que de momento está bem e exporta a maior parte da sua produção. Como vai uma indústria deste teor contratar doutorados? A sobrevivência faz com que não faça planos para alterar o seu paradigma: exporta mas não evolui. Outras indústrias como o calçado, também não têm necessidade de doutorados, por serem também de baixa tecnologia, e mais focados no design e no branding. Falou-se muito da Bosch a contratar engenheiros e possivelmente doutorados. Mas a Bosch é estrangeira e à primeira oportunidade de cortar nos custos, deslocaliza para países onde os salários e energia mais baixos, tais como os países de Leste. E mesmo que fique, é uma gota no Oceano. É necessário fazer um pausa para pensar, mesmo que isso signifique diminuir os número de bolseiros nas universidades. Talvez esperar uma década para o cenário industrial mudar para um de mais alto nível tecnológico e consequentemente mais apelativo para os doutorados e vice-versa, que precise de doutorados. Até porque temos 9,2 doutorados por cada 1000 habitantes quando a média da UE é de 6,2, segundo o mesmo artigo de Daniel Bessa. Entretanto faça-se ciência mas com dinheiro de fora, sejam projetos europeus ou internacionais, e que não necessitem de comparticipação nacional. Porque fazer ciência é sempre necessário, para o futuro das universidades e da própria ciência, que todos os países têm que ter, em maior ou menor grau. Mas não com os escassos recursos que temos. É a única via, a meu ver. Pelo menos a mais lógica e pragmática.

sexta-feira, maio 08, 2015

Consórcios em risco-2

Devem as universidades fundir-se? A fusão traz mais-valias às universidades? A opinião da EUA, Associação Europeia das Universidades, divulgada em notícia do jornal "Público" em 3 de Maio, diz que não. Na verdade pode ser uma forma de atingir maior dimensão mas não traz sinergias. Cortes, talvez, nomeadamente quando os cursos se sobrepõem. E os centros de investigação ganham com o aumento da sua dimensão? Penso que não. Por muito que se tente juntar professores, o ADN do investigador-professor típico faz com que ele não ceda a sua autonomia. Haverá sempre colaboração entre equipas complementares, mas não será esse o cenário provável entre equipas da mesma área de investigação. No caso das universidades do norte, Minho, Porto e Vila Real, que formaram o primeiro consórcio existente, elas são réplicas uma das outras, apresentado basicamente os mesmos cursos, e os mesmos centros de investigação, à exceção de alguns pequenos cursos e centros de setores específicos da região, mais ligado à agricultura no caso de Vila Real e cursos ligados ao setor têxtil na Universidade do Minho. É uma situação muito diferente daquela das faculdades existentes em Lisboa, o Técnico, centrado nas engenharias, e a Universidade de Lisboa, lecionando principalmente cursos de humanidades e ciências. Não havia portanto duplicação de especialidades por isso não se prevê um processo de "otimização" de recursos, um eufemismo par "cortes" de recursos. Mas no caso das universidades a norte, que a ideia do consórcio destas universidades não foi suficientemente ponderado nem pelo governo nem pelas partes interveniente, é mais que óbvio. Como os responsáveis por este consórcio vão descalçar esta bota que se tornou incómoda para todos, não sei. Se esta ideia for para a frente, poderá haver uma subalternalização das universidades da periferia, em relação às do litoral, nomeadamente a universidade à do Porto, no caso do consórcio a norte, devido à maior população estudantil no litoral. Até pode implicar um maior fosso entre estas universidades. Receando este cenário, as universidades mais periféricas, matam o consórcio à nascença. Veja-se a mais recentes tomada de posição do presidente do CRUP e reitor da UM que já é um passo nesse sentido.

domingo, abril 26, 2015

Consórcios em risco-1

Todo o processo de nascença dos consórcios sai inquinado à partida, é o que se deduz das novas tomadas de posição por parte dos reitores. O reitor da UM, António Cunha, já veio dizer em entrevista há duas semanas atrás, que o consórcio já formado "terá que deixar de existir". Argumenta que o Conselho de Coordenação previsto para o consórcio, iria esvaziar as competências dos Conselhos Gerais. Não tendo havido uma posição pública por parte dos C.G., não sabemos se será essa a razão principal da argumentação contra o que nos permite duvidar da bondade da atitude do reitor da UM em relação à posição em que ficariam os C.G. sendo talvez mais a sua própria posição em que ficaria como reitor, que não teria a total liberdade de atuar em determinadas áreas, como até aqui, e muito menos se a UM passasse a Fundação. O reitor da UM e Presidente do CRUP não deixa no entanto de sugerir que qualquer alteração teria que ser feita no âmbito de uma alteração ao RJIES. Não se entende porquê, uma vez que este Conselho de Coordenação estaria acima dos órgãos das Universidades, não sendo ele próprio um órgão universitário, mas depreende-se, até pela natureza do consórcio, que seria um órgão intercalar entre o Ministério da Educação e as Universidades. A Universidade de Lisboa na atualidade,originou de um processo não muito diferente de "consórcio" entre a anterior Universidade de Lisboa e o Técnico, passando depois numa fase mais adiantada, a uma instituição única. Não defendendo à partida os consórcios, por não saber concretamente quais as consequências da sua formação, nomeadamente no corte de cursos "duplicados" que existam nas duas ou três Universidades do consórcio, mas por outro lado, só tenho ouvido referências elogiosas a esta união de duas universidades, principalmente pela sua maior dimensão originar numa maior visibilidade em termos internacionais, nos rankings e nas candidaturas a projetos internacionais. Na altura este aspeto foi salientado como sendo uma grande mais-valia para o consórcio estabelecido entre as três universidades do norte: Porto, Minho e Vila Real. Aparentemente este e outros aspetos positivos propalados na altura pelos governo e pelos reitores, nomeadamente aqueles das universidades que formaram o primeiro consórcio, as universidades do norte, que correram com as suas canetas em punho a assinar o protocolo, já não são assim tão positivos. Agora que o consórcio está formalmente formado, vêm os reitores, ou pelo menos o reitor da UM na qualidade de Presidente do CRUP, mostrar arrependimento pela sua anterior concordância em relação à formação dos consórcios. Pena foi que não tivessem pensado nos aspetos negativos antes. Agora depois de tudo assinado, se não for demasiado tarde, no mínimo coloca os reitores numa posição de falta de coerência em relação a todo o processo.

domingo, março 29, 2015

Espaços verdes na UM

Vem a propósito de umas mensagens recebidas na UM-net este fim de semana sobre uma aluna ter sido avisada por um segurança para sair da relva onde estava sentada, um comentário sobre a falta de espaços verdes na UM. Pois se se havia de expandir os espaços verdes no campus, como seria de esperar quando se discutiu o futuro da quinta dos Peões mesmo em frente ao campus, e se prometeu uma expansão dos espaços verdes, o que parece ser a evolução no últimos anos é a ocupação de possíveis espaços verdes. Os edifícios aparecem por todos os lados, sabendo-se que alguns são de projetos megalómanos de projetos financiados que tudo indica não terão ocupação que justifique a sua dimensão, como por exemplo os edifícios a "norte" do campus. Podia-se ter expandido para esse lado com um espaço verde, com relva, árvores, arbustos, flores e toda uma envolvente que descansa se recomenda para descansar o corpo e a mente de quem estuda. Já antes a UM deitou abaixo sobreiros nessa zona, contra o parecer do Ministério do Ambiente. Porque será que as melhores universidades mundiais são as que têm as maiores zonas verdes? Basta passear pelo campus da Universidade de Oxford ou de Yale para nos apercebermos desse facto. Em Yale os espaços são de tal ordem que se montam tendas enormes para festejar a entrega dos diplomas no fim do ano, em que as famílias e toda a comunidade académica festejam em conjunto esse evento. Entretanto o projeto da quinta dos Peões parece estar parado, e já houve sucessivas alterações ao projeto que alteraram aquilo que estaria projetado no início, o prolongamento do campus para baixo, eliminando a estrada que neste momento separa os dois espaços. Tudo se alterou em nome do "progresso", estando agora previstos edifícios para congressos e incubadoras de empresas, associação dos estudantes, entre outros "equipamentos". Espaços verdes? Só se forem "incubados". Não se sabe porque o projeto está parado, mas não será por qualquer decisão que teria resultado da consulta pública, pois nunca teria sido feita pela câmara. Esse tipo de consulta, mesmo que tivesse sido feita, seria meio escondida e sem divulgação junto dos interessados, leia-se os frequentadores do campus de Gualtar e mesmo que fosse, nunca teria uma condenação, especialmente se apadrinhada pela reitoria e pela Associação de estudantes, que aí terá ganho a promessa duma sede. O empreiteiro dono da quinta, o sr. Rodrigues de Névoa, agradece. A reitoria deveria ter auscultado a Academia antes de se pronunciar junto da Câmara e do sr. Rodrigues Névoa. É por estas e por outras que uma reitoria sem controlo de uma Academia, porventura através de um Conselho Geral independente que representasse a Academia, poderá fazer o que entender. Então quando tiver as mãos livres da obrigatoriedades de concursos públicos e movimentações de verbas ao passar a Fundação, passará também a ser uma espécie de imobiliária, vendendo, adquirindo e encomendando edifícios sem qualquer plano estratégico global para a UM, que inclua nomeadamente os espaços verdes. Tudo numa lógica de encher os cofres da instituição (onde é que eu já ouvi isto). Enchendo os cofres não se melhora a qualidade de vida, como todos sabemos, e a qualidade de vida académica também é uma parte importante da vida de quem passa pela Universidade durantes os seus anos de formação. Não será por uns e-mails inofensivos que alguma coisa mudará. Meus amigos, se querem fazer alguma coisa, façam mais e e-mailing menos.

domingo, março 15, 2015

Uma Autonomia crescente é bom para a UM?

Com os consórcios entre universidades já estabelecidos, e a passagem a Fundação da Universidade do Minho, teme-se o pior em relação a arbitrariedades no que respeita aos despedimentos, admissões e promoções. A autonomia atual de que as universidades gozam, já permite atuar fora do que está estabelecido pelos diretivas gerais do governo, no que respeita à contratação de funcionários e das diretivas do RJIES e do ECDU no despedimento de professores, pondo em causa, neste caso, a qualidade e mesmo a sobrevivência de cursos emblemáticos da UM. O RJIES veio diminuir a fiscalização dos órgãos decisores, como o reitor e administrador, pelos membros da Academia, como já comentado anteriormente. As contratações e promoções de pessoal não-docente, mesmo que condicionadas, sucedem-se na UM, especialmente na área da informática. Tem talvez a ver com a fúria de desmaterialização que assolou a reitoria que arrastou consigo a administração da UM. Aparentemente tudo se justifica se contribui para essa desmaterialização, nomeadamente investir recursos não-existentes para contratar, promover os funcionários que estão alocados a essas tarefas. Como o dinheiro não é elástico, assiste-se por outro lado ao despedimento ou redução do número de horas de professores sem vínculo, os professores convidados, já praticamente extintos, e os leitores, também já anteriormente referido. Com a passagem a Fundação, com a implementação dos consórcios, tudo será mais fácil de fazer no que respeita a despedimentos, contratações e promoções. Com o mandato do reitor a aproximar-se do fim, dá também que pensar se não virá a acontecer como na política, quando os governos de gestão que antes de passarem a pasta, fazem as maiores despesas e muitas desastrosas e de duvidosa legalidade, pondo em risco a sustentabilidade do sistema para quem vem a seguir. Posto isto, qual o controlo que pode ser feito na UM? Nas condições atuais, nenhum, uma vez que o Conselho Geral é dominado maioritariamente por membros afetos à lista que elegeu o reitor. E com o próximo reitor será também assim. Só com uma alteração dos estatutos em que o Conselho Geral não elege o reitor, mas antes este é eleito diretamente por um processo independente da eleição do Conselho Geral. Para isso acontecer seria necessário a alteração do RJIES e dos Estatutos da UM. O RJIES está para ser alterado por este governo desde o princípio, mas parece que não vai acontecer, ou ao acontecer será feito em tempo record de uma forma atabalhoada que não traria nada de bom, e muito menos algo que mexa com os interesses dos governantes das instituições em causa. Resta aos professores, continuarem a trabalhar para que, atuando dentro do sistema atual, elejam um Conselho Geral que mude este estado de coisas, ao eleger um reitor que represente os interesses reais da instituição, ou seja, a "paz social" para que os funcionários e os professores se sintam motivados a trabalhar para uma universidade autenticamente democrática e em que os ideais académicos sobressaiam, nomeadamente a excelência na investigação científica e a excelência no ensino.

segunda-feira, março 02, 2015

A carreira docente estagnada

Quando o Estatuto da Carreira docente foi escrito, em 1979, na sua forma essencial, estava-se numa situação de crescimento, em que as universidades precisavam de professores de uma estrutura em pirâmide, com catedráticos, associados e auxiliares. Com o estabelecimentos da pirâmide veio a promoção dos professores ao longo dos anos, preenchendo os lugares vagos da pirâmide e culminando com o preenchimento dos lugares de catedrático. Nos últimos anos, com o congelamento das contratações de funcionários públicos, não houve entrada de doutorados, uma vez que com as alterações ao ECDU de 2009, tornou-se obrigatório o doutoramento para entrada nas universidades, para o lugar de professor auxiliar. Mas curiosamente houve entrada de novos professores diretamente para o lugar de Professor Associado, pela via do concurso público. Também têm diminuído os concursos para professores associados e catedráticos, devido aos cortes nos orçamentos das universidades. Na UM houve uma ligação da abertura de concursos ao número de alunos dos cursos e consequentemente dos departamentos responsáveis por esses cursos. Parece justa esta ligação mas também tem efeitos perversos, sendo o mais óbvio a desmotivação dos professores auxiliares nesses departamentos. A desmotivação leva a que os professores não façam I&D por não acharem que vão precisar de currículo para o resto da sua carreira académica, uma vez que a maior parte já ultrapassou os 45 anos, e por outro lado, não tendo a veia de investigador, também não fazem investigação porque não sentem prazer profissional nisso. O que acaba por acontecer é uma boa parte do pessoal docente, e são muitos os departamentos onde isto acontece, só dá aulas e gere o resto do tempo da melhor maneira que entender. Não sendo obrigatório picar o ponto, podem até fazer outras atividades ou pura e simplesmente não fazer nada, ou seja, nada relacionado com a I&D. Se ao menos tivessem atividades relacionadas com a sua especialidade, no caso das engenharias formassem empresas spin-off, ou fizessem consultoria para empresas do seu setor, através de projetos de prestação de serviços ao exterior, PSECS (que quase desapareceram), seria algo de que a Universidade beneficiaria, até seria aquilo que muitos pretendem como sendo uma relação entre o tecido empresarial e as empresas. Mas o que acontece é que mais parecem professores do ensino secundário ou mesmo ensino primário, que vão para casa quando não estão a dar aulas, mas com a agravante de terem menos de 1/3 de horas que estes profissionais. Como é possível uma universidade crescer na sua produção científica e consequentemente no seu valor, com uma estagnação desta ordem? Penso que o que deve ser feito e com urgência será de alterar totalmente o regulamento universitário. Uma hipótese seria de considerar que só os professores associados seriam do quadro e abrir concursos para todos os lugares docentes existentes como lugares de professores associados. Assim, os atuais professores auxiliares teriam que concorrer para o lugar de Professor Associado, juntamente com doutorados externos. Dar-se-ia um prazo de 2 a 3 anos para prepararem as candidaturas. Haverá outra formas semelhantes de resolver esta estagnação, mas a meu ver todas devem ter como objetivo o preenchimento de um lugar acima do que ocupa, como incentivo. Como qualquer concurso alguém ficará de fora, e espera-se que serão os melhores e mais motivados os que preencheriam esses lugares. Assim a Universidade terá futuro.