sábado, março 21, 2009

Low-cost nas viagens e nas Universidades

Ir a uma conferência em Low-cost tornou-se normal para muitos professores e investigadores, procurando assim poupar alguns euros da bolsa disponível. Se o preço parece apetecível, como tem vindo a ser denunciado recentemente, não é bem o que parece. Paga-se o check-in, as malas, o seguro, o cartão de crédito, as sandes, o café, o excesso de peso acima dos 15 Kilos quando normalmente o peso limite é de 20 Kgs, etc. No futuro próximo serão as idas à casa de banho que serão pagas. Tudo somado não será muito mais que viajar na TAP ou noutra empresa de "bandeira". Ainda por cima para o reembolso é necessário o recibo que por ausência de balcões no aeroporto do Porto, têm que ser pedidos à sede, sem haver a certeza que vem "direitinho". Há ainda essa preocupação.
Mesmo que se poupe dinheiro, temos o resto. O aeroporto de Low-cost tem o aspecto duma estação de autocarros, com o povo a amontoar-se nos locais de check-in e de controlo. Talvez por isso sejam tão maltratados pelas empregadas no check-in, como se tratasse de "crowd control" e não de servir o cliente. Eu por exemplo fui recebido com o comentário que "já tinha dito três vezes que o limite de 15 Kg foi ultrapassado". Primeiro não disse três vezes, só uma, e depois mesmo que o limite tivesse sido ultrapassado, o cliente, eu neste caso, devia ser informado com profissionalismo, como sempre fui noutras companhias.
Uma vez no avião, não vale a pena pensar que se pode ter um descanso: os bancos não reclinam! E beber um copo de água que seja, temos que pagar, e não é pouco (somado ao resto já ultrapassa um bilhete da TAP).
A viagem de autocarro da empresa, a Terravision, é algo terceiro-mundista. É sujo, o condutor mais parece um serial killer, com travagens de "emergência" contantes, e o aspecto interior do autocarro condiz com o da empresa: Low-wash!
Tanto para partir como ao chegar ao destino, o condutor permanece no sítio, e os ocupantes como que por intuição põesm e retiram as malas. É tudo feito pelos clientes, mas nem por isso têm desconto.
É um pouco como a fast food, em que os clientes é que põem as bandejas no sítio, para poupar mão-de-obra e despejam o lixo no sítio próprio. São treinados para o fazerem. Não tarda muito, é-lhes dada a massa da pizza ou o hamburguer congelado á entrada e ordeiramente, metem -nos no micro-ondas ou forno disponível ao balcão, e assim as empresas Fast food não precisam dos empregados para o fazer.
Já foi anunciado que a Ryan Air vai acabar com o check-in e dispensar os empregados que estão ao balcão. Qualquer dia dispensam as hospedeiras de bordo e põem uma caixa automática com sandes e bebida a bordo.
Sintomático é a recolha dos restos, que as hospedeiras chamam apropriadamente "rubbish" (lixo). Assim não precisam de ter uma empresa de limpeza a limpar entre os voos. Observando a saída dos passageiros do avião que nos levou, verifiquei que não havia tempo para essa limpeza, uma vez que entrámos logo de seguida. Havia papéis no chão e outros sinais de falta desse serviço de limpeza, que não menciono para não ferir susceptibilidades.
Enfim, estamos a caminhar rapidamente para o auto-serviço. O cliente é que acaba por fazer quase tudo. É um pouco como aqueles programas em que o artista ou o actor acaba por ser o próprio concorrente. Sai quase a custo zero para o programa, não ter que pagar a actores.
Penso que no Ensino Superior o mais parecido talvez seja a Universidade Aberta, embora já tenha visto teses no Ensino Superior em que o proponente do trabalho foi o próprio candidato.
Com a tendência das low-cost não será que o ensino caminha para o low-cost também?
Já lá vai o tempo em que as secretárias escreviam os ofícios dos professores. Com o aparecimento dos computadores, foi o início e com os programas como o e-mail a serem usados como ferramenta principal, o próprio docente já faz tudo, desde o edital para bolsas às consultas para compra de equipamento. Agora com o ajuste directo deu-se um passo atrás e preenche-se um papel o que com o mundo cada vez mais informatizado parece um contra-senso. Parece que isto vai ser alterado o que é uma pena porque me fazia lembrar o antigamente com uma certa nostalgia (o tempo em que tínhamos os ofícios escritos pelas secretárias).
Enfim, pertencemos a uma rede de tratamento de documentação. Imaginem se os professores do ensino secundário tivessem que fazer o que nós fazemos (encomendar equipamento, matérias primas, escrever editais para bolsas, etc). Seria um protesto nacional. Nós o que fazemos? Isto e muito mais, desde que nos digam o que é preciso fazer. Somos obedientes, é isso.
Sabemos que é tudo em prol do Low-cost e como bons portugueses, isso agrada-nos.