sábado, março 17, 2012

A garra que nos falta

Vimos o Sporting bater um dos grandes do futebol europeu, o Manchester City. Com um plantel que vale dez vezes menos que o do adversário, conseguiu ganhar. E de que forma? utilizando a sua tática de um bom futebol técnico mas sobretudo como dizem do seu treinador, muita garra. Resistência e contra-ataque. Não será uma forma também do país resistir perante os milionários europeus e os especuladores que deitam abaixo o nosso rating? Resistir sim como estamos a fazer, e a que custo, mas também contra-atacar. Parece-me que é aqui que o governo não está a fazer nada. A nossa economia afunda-se a olhos vistos, o governo aceita todas as imposições da troika do FMI e da sra.. Merkel, e como um aluno bem comportado vai fazendo o que lhe mandam. Dos jogadores do Sporting o Manchester não conhecia ninguém. Agora já conhecem. De Portugal quem é que lá fora conhece alguém do governo? Pois é preciso darem-se a conhecer e quanto mais cedo melhor. Insistam na restruturação da dívida para maiores prazos e a juros mais baixos, mas não pedinchando. Eles que tenham respeito porque se nós lhes fecharmos a porta temos para onde nos virarmos, para África e eventualmente o Brasil e a Ásia. Há lá muito boa gente que gosta dos nossos produtos, como o vinho do porto, e de alguma da nossa tecnologia. É melhor aguentarmos um período mau de uns anitos do que pôr em causa todo o futuro dum país durante anos a pagar a dívida e os juros...e a morrer lentamente à fome, como a história do burro do inglês que tanto lhe reduziu a ração para poupar que o burro morreu de fome. Vejam a Islândia, a crescer 2,5% ao ano! E estava na bancarrota há 3 anos atrás. Porque não nós? Se nos "chatearem" muito até fazemos como eles. Só a ameaça já nos traria dividendos.
Por hoje não se fala do Ensino Superior porque não há nada a falar: está também sem garra.

sábado, março 10, 2012

Não façam nada demais

Temos cada vez mais uma sociedade que castiga aqueles que fazem alguma coisa. Não há muito tempo o betão era o alvo de todas as críticas. Fizeram-se autoestradas a mais sem dúvida, mas algumas que se fizeram dão muito jeito. Quem se lembra de ir a Viseu pela estrada antiga? Ou ao Algarve? Era um castigo. Agora são as obras que se fizeram nas Escolas. Talvez se tenha exagerado em algumas escolas com os materiais e há um famoso candeeiro que tem andado nas bocas do mundo. Mas alguém parou para pensar nas condições que os alunos têm agora em contraste com as que tinham há pouco mais de um ano? Basta aos mais velhos pensarem na escola onde os filhos andaram e que conheceram, nas reuniões de pais, em salas sem o mínimo de condições para as reuniões, e aos mais jovens de recordar o frio que passaram quando eram alunos. Havia reportagens de escolas onde chovia lá dentro! É tudo política e tudo serve para bater, escolhendo sempre o aspeto negativo. E se não se fizesse nada? Se o programa de melhoramento do parque escolar não fosse avante? Estaríamos satisfeitos que tínhamos poupado esse dinheiro? Passaram despercebidos anos do formação do Fundo Social Europeu em que se ensinava de tudo, e desde que os alunos recebessem e os monitores tivessem emprego, estava tudo sempre bem. O que é que ficou desses milhões que se gastaram desde 1986? Muito pouco. Esfumou-se. E atravessou todos os governos de todas as cores políticas! Mas as críticas não existem. Mas se uma escola foi intervencionada e lá alguém se entusiasmou e comprou um candeeiro desnecessário ou um material mais nobre, cai o Carmo e a Trindade. As Escolas e as estradas estão aí para ser usadas por futuras gerações. Mas e as "sebentas" dos cursos do FSE? Onde estão e para que servem?
Na Universidade também se adquiriram materiais nobres para algumas das instalações mais recentes. Mas as obras que se fizeram vieram melhorar muito as condições de trabalho tanto dos alunos como dos professores. No Ensino Superior numa perspetiva mais etérea, o que se fez em I&D que muitas vezes não tem consequências para a sociedade, é elogiado ao máximo enquanto que aquele professor que atende os alunos fora de horas mas não tem um currículo brilhante é muitas vezes desprezado. O que fica para a Sociedade nestes dois casos? O aluno que foi ajudado terá um futuro eventualmente mais seguro, ou a investigação do Professor servirá muito provavelmente só para ele ter currículo e subir na carreira. Não façam nada que não dê pontos, é o que parece ser o lema das avaliações, tal como o RAD. Quem monta um laboratório será recompensado? Quem apoia os alunos fora das suas obrigações mínimas é recompensado? Quem ajuda os colegas por ser mais antigo na carreira é recompensado? O ECDU recomenda que assim seja, mas se o RAD não o premeia, qual o incentivo?
É um mundo de números. No tempo do Salazar, o país acabou por ter enormes reservas de ouro e as contas que hoje fariam inveja a uma Alemanha. Mas a que custo? Não havia estradas, nem escolas que se comparassem às dos outros países. Não havia hospitais dignos desse nome. Hoje temos uma dívida que nos preocupa mas temos um Serviço Nacional de Saúde que faz inveja a muitos países desenvolvidos. Se não o tivessemos feito, a nossa dívida seria mais pequena, mas viveríamos como em muitos países e como há 40 anos atrás, com medo de ter um acidente ou doença porque não sairíamos vivos do hospital.
E se forem políticos não façam infraestruturas mas em vez disso façam discursos e usem e abusem da caridade que essa retira o orgulho a quem a recebe mas ao menos mantem-nos vivos e principalmente gratos; distribuam algumas mordomias pelos vossos eleitores e serão recompensados.
Voltando ao Ensino e I&D: Não façam nada demais, porque ninguém os vai recompensar, e sobretudo não façam nada pelos outros.

sábado, março 03, 2012

O meio ministro

Quem tutela o Ensino Superior e da Investigação Científica? Um Secretário de Estado. Juntos, Ensino Superior e Ciência e Economia não valem sequer um ministro inteiro. Estamos pior que antes quando tínhamos um ministro para o ensino superior e a Ciência. Ao menos tivemos novos estatutos com o RJIES e bem ou mal iniciou-se um processo de renovação da orgânica das Universidades e abriram-se perspetivas para uma auto-responsabilização da Universidades através de uma maior autonomia. Algumas até passaram a Fundações com plena autonomia. O resultado está á vista: tudo parado. O processo de passagem a fundação da UM está parado. A fusão do Técnico e da Universidade de Lisboa já vinha de trás, não havendo qualquer indício de com este governo haver incentivos para outras fusões. Se a UM quisesse entrar num processo semelhante, fusão com outra Universidade ou com um politécnico, já aqui referido, que apoio teria por parte dum ministério ausente? Muito pouco. Já basta não responder aos apelos dos reitores que com os cortes sofridos as Universidades não vão poder continuar como até aqui. Já sofremos de há alguns anos a esta parte nos departamentos a cortes que vão até ao papel higiénico. Agora com mais cortes, onde vai chegar? Os alunos nas engenharias e ciências, estarão muito e breve a ter só aulas teóricas, uma vez que as aulas laboratoriais necessitam de matérias primas, manutenção de equipamentos, técnicos de apoio (não substituídos depois de reformados), etc. Qual a moral de cobrar propinas cada vez mais elevadas em cursos de engenharia e ciências, com os cursos a deteriorarem-se de dia para dia? Um país sem educação de qualidade nestas áreas está a hipotecar o futuro. A engenharia e as ciências são a base duma economia saudável, embora há ministros que pensem que mais saudável ainda é vender pastéis de nata.