domingo, julho 25, 2010

Avaliação de docentes na Escola de Engenharia: recuo nos avaliadores e "ponderação" ao estilo de Bolonha

Após discussão em plenário e análise de propostas de alteração, a Escola de Engenharia propôs outro documento em que se nota que houve um recuo na divergência que havia com o documento geral de avaliação, o RAD-UM, que serviu de base à elaboração do RAD-EEUM, nomeadamente no que respeitava aos avaliadores. O bom senso prevaleceu e já não são os Directores de departamento que avaliam os docentes. Tal como já foi aqui escrito, seria também uma aberração em termos de ECDU, uma vez que os Directores de Departamentos, poderiam não ser da mesma área específica do avaliado e poderiam ter um grau inferior ao avaliado. Os avaliadores são agora, tal como estipula o documento de base, o RAD-UM, Professores catedráticos nomeados pela Comissão avaliadora. Espera-se que agora o documento seja rapidamente homologado, uma vez que não há discrepâncias de maior com o documento base, o que será positivo para os docentes que já estão há muito à espera da subida de escalão, congelada que foi durante anos pelo senhor Ministro da tutela. A nova condição para a mudança de escalão é que tenham excelente durante duas avaliações consecutivas ou quando somarem 9 pontos, que será na maior parte dos casos obtida em três avaliações consecutivas (antes a subida era automática).
A ponderação também foi alterada em alguns critérios, sendo aqueles que provocaram mais discussão no plenário os que mais se alteraram. Assim, no que respeita ás publicações científicas, o número de autores tem mais peso na alteração da pontuação que antes, chegando aos 50% de ponderação para 4 autores o que estará mais de acordo com o que de facto acontece, uma vez que com mais de dois autores, um sendo o autor e o outro o "supervisor", o trabalho de todos dificilmente terá o mesmo grau de empenho e execução, para não falar de iniciativa e grau de dificuldade, que o trabalho de um só autor. Haverá sempre um grau de injustiça quando um autor trabalha mais que os outros e todos são contemplados da mesma forma, mas cabe ao autor principal evitar que isso aconteça, não recorrendo a terceiros que exijam que o seu nome faça parte da publicação. Cabe também ao supervisor não fazer esse exercício de trocar nomes entre equipas, só com o intuito de multiplicar o número de publicações. Essa prática tem vindo a ser mais comum nos últimos anos em grandes equipas, com a consequente inflação de publicações para alguns, que aparecem com centenas de publicações sem muitas vezes terem tido qualquer interferência no trabalho. Seria até mais justo que a ordenação dos autores pesasse na classificação final. Por exemplo, seguindo a norma instalada que o primeiro da lista de autores foi quem fez grande parte do trabalho e o último é o supervisor ou o "chefe" da equipa, o primeiro autor teria o uma ponderação de 50%, o último (supervisor que supostamente teve a ideia do trabalho e orientou) 25%, e os restantes 25% seriam divididos pelos restantes autores. Mas enfim, a proposta já é bastante mais justa do que anteriormente, e quanto mais "entropia" se mete no sistema mais complicado se torna, e isso também não ajuda nada à distinção entre quem realmente vale uma classificação de "excelente" e quem através de uma infinidade de critérios conseguiu lá chegar, sem realmente o merecer. Isto é o que acontece, após Bolonha, cada vez mais na avaliação dos alunos com a proliferação de trabalhos em detrimento de testes e exames. Há uma maior subjectividade na análise de trabalhos (dissertações) do que em testes e exames, disso não há dúvida, e com todas as componentes que constituem a avaliação, incluindo a autoavaliação dos alunos, a dissertação em si, a apresentação, "a presença em palco" e outras componentes que os docentes se lembrem de introduzir, acabam quase todos por ter a mesma nota. Na Avaliação dos docentes com tantas componentes pode acontecer o mesmo, com quase todos os docente nivelados (por cima ou por baixo, mas desconfio que será por cima). Por exemplo na componente de investigação há 15 possibilidades de pontuação, havendo mesmo equivalências estranhas, como a equiparação dum artigo numa publicação internacional a um "artigo" numa publicação dum livro de Actas duma conferência internacional, desde que estejam ambas no ISI web of knowledge, como se um artigo que é examinado por vários "referees" ao pormenor se comparasse com uma apresentação numa conferência, transcrita para um livro da Actas, em que na maioria dos casos a Comissão Científica da conferência limita-se a verificar a relevãncia do "abstract" para o tema da conferência e a confirmar idoniedade dos autores. No caso dos docentes ainda há a possibilidade de alternativa de escolha na ponderação (ensino/investigação é a mais óbvia, sendo que o docente escolhe aquela que mais lhe convém), o que "corrige" desvios para classificações inferiores.
Mas enfim, podemos dizer que o Ministro teve aquilo que merecia, ao retirar a subida de escalão automática de escalão por razões economicistas, pois quem faz a avaliação não está a pensar nesses termos, mas tão só em passar por mais esta burocracia sem fazer "muitas ondas".