terça-feira, fevereiro 20, 2018

Uma Auto-estrada para os Mestrados e Doutoramentos

O Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior apresentou o que pode ser considerada uma revolução na investigação do ensino superior, com base num estudo da OCDE, ao instituir doutoramentos nos politécnicos, entre outras medidas. Fê-lo à revelia do CRUP, o conselho de reitores das universidades, embora tivesse segundo afirma tido discussões sobre o assunto com este órgão. Não se entende esta pressa e esta decisão unilateral, com a oposição de um órgão que representa as universidades, seja esta tomada de posição boa ou má. Claro que foi logo aplaudida pelos politécnicos, e pelo sindicato do ensino superior onde tanto o presidente como a maioria dos militantes são professores de politécnicos. Não quero com isto dizer que não seja uma medida positiva, desde que com as devidas cautelas, que o ministro afirma ser condição para esta medida ser autorizada nos politécnicos e agora alargada às universidades: que tenham capacidade científica na área para poderem ser candidatos a orientarem doutoramentos. Faz sentido. E concretiza a nova medida com o mínimo de classificação dos centros de investigação de Muito Bom.
O problema não é só a capacidade científica dos professores. É também a dos candidatos. Para encherem os seus cursos, não será que as universidades estão a facilitar os acessos aso doutoramentos? Isso será mais evidente com as admissões de alunos estrangeiros inseridos em protocolos entre universidades, como aqui já foi referido.  Mas não só. Não é preciso ir fora de portas para encontrarmos situações caricatas de alunos sem as bases para frequentarem uma licenciatura por não terem as disciplinas específicas, frequentarem Mestrados e Doutoramentos na mesma área, sem essas mesmas disciplinas específicas. Cada colega que olha para o seu próprio centro e departamento e descobrirá casos destes.
Estes Mestres e doutores, são desta forma convertidos em engenheiros, por exemplo, sem o poderem ser na licenciatura.
Com o fim dos Mestrados Integrados, com o argumento da aplicação de Bolonha, outra das medidas anunciadas, será mais um incentivo para isso acontecer. Licenciados sem as matemáticas passsarão a engenheiros, que não vão conseguir fazer projetos de engenharia por não terem as bases. Passarão a doutores, sem terem as bases para poderem trabalhar na indústria. Ficarão mais longe de poderem ser integrados na indústria e longe de poderem participar na Inovação tão propalada que não vai acontecer.