segunda-feira, julho 11, 2011

Carta aos e-mailers dos gelados

Estamos no fim do período lectivo e aproximamo-nos da “silly season”.
Só isso explica a quantidade de mensagens de e-mail a propósito de uma prova de gelados. Uma grande parte das críticas foram dirigidas tanto à aluna que enviou o e-mail com erros para toda a comunidade académica como para o professor que a criticou também enviando a crítica para toda a comunidade académica. É caso para dizer como alguns disseram: não têm mais nada que fazer? Já não falo de trabalhar, estudar ou investigar. Mas tão-só, se não têm outros assuntos em que possam gastar as vossas energias? Podiam por exemplo ler os estatutos da UM e fazer uma avaliação crítica, ou ler o ECDU no caso dos professores e verificarem quais são as actividades que fazem parte da profissão. Ou podem por exemplo ler um livro que aumente a sua cultura. É minha opinião que grande parte dos erros que os alunos (e alguns professores) cometem é porque não pegam num livro. Talvez leiam os jornais (desportivos na maioria no caso do sexo masculino) e lêem as legendas da televisão ou dos filmes da internet, mas ler um livro bem escrito em português não acredito que o façam. Dá muito trabalho - Muitas vezes ficam-se pelo título só para o meter numa conversa de amigos, mas isso era antes, agora nem o título. A internet substituiu a leitura. José Saramago, Lobo Antunes e outros autores conceituados não são lidos por esta nova geração. Lêem o Miguel Sousa Tavares, o Rodrigues dos Santos (o nosso Dan Brown), e outros que por aí que se servem do jornalismo para vender livros (embora o Miguel Sousa Tavares ao menos fez algum trabalho de casa sobre o livro de São Tomé , que serve de leitura para quem não é muito exigente). E o sexo feminino quase só lê romances da Clara Pinto Correia ou da Isabel Allende, as que lêem, porque maioria lê revistas côr de rosa com informação inútil sobre príncipes e princesas, ou artistas de telenovela.
Depois admiram-se da dislexia dos nossos alunos (sem ofensa para quem padece da doença) e de alguns professores?
Quanto ao mundo que nos rodeia e a outras culturas, nomeadamente a anglo saxónica, teriam muito a aprender se lessem Phillip Roth ou John Updike, ou John Coetzee. É uma lição de vida como tratar os seus semelhantes. Se alguns colegas os lessem saberiam como lidar com certas questões que minam as universidades, nomeadamente preconceitos entre alunos e professores.
Porque essa é que é a questão fundamental por detrás destes e-mails.