terça-feira, setembro 29, 2009

Um Ministro do Ensino Superior diferente por favor

Este Ministro tentou de facto inovar, com a introdução do RJIES e o novo ECDU.
Alguns aspectos destes dois documentos são positivos, a meu ver. Mas na realidade o que mudou verdadeiramente em relação aos anteriores documentos? Muito pouco, a não ser a possibilidade das Universidades passarem a Fundações, que talvez fosse o único verdadeiro objectivo do Ministro ao introduzir o RJIES. Senão vejamos: Introduziu o Conselho Geral, que seria uma grande novidade. Antes havia a Assembleia da Universidade. Qual a diferença já que o CG elege o Reitor e a Assembleia também elegia? Só se for que o CG pode fiscalizar o Reitor enquanto que a Assembleia não tinha esses poderes. Mas a fiscalização é relativa, e necessita de uma maioria absoluta para ter verdadeiras consequências (demmissão do reitor, por exemplo). O Senado já existia. O Conselho Administrativo também, etc, etc. Portanto que novidades há? No caso da UM, se houve novidades essas foram introduzidas pelos Estatutos da própria Universidade, que aproveitou os novos Estatutos para juntar duas Unidades Orgânicas numa só, e para conferir o estatuto de Escola ao Departamento Autónomo da Arquitectura (anunciado na última reunião do CG e a meu ver prematuramente). Nas Unidades Orgânicas também não há grandes alterações ao que acontecia anteriormente, a não ser a figura do Conselho de Escola, que por analogia com o Conselho Geral elege o Presidente de Escola e fiscaliza a sua actividade.
Fica pois a sensação que foi quase tudo cosmética, menos para aquelas Universidades escolhidas para se transformarem em Fundações. As verdadeiras intenções do Ministro não serão de separar estas Universidades de outras possibilitando que de futuro tenham orçamentos superiores às restantes e que se distanciem, qual Oxford e Cambridge? Tal como na Ciência (ver post anterior), as manias de ter uns escolhidos entre os demais para alcançarem a excelência voltam a ser visíveis. Na Ciênca foram aqueles que foram escolhidos para "colaborarem" com o MIT. Nas Universidades são as Fundações que também são só para alguns (tanto num como noutro caso sem concurso).
No caso do ECDU, foi tudo feito para ficar tudo na mesma, pelo menos na Universidade, com a agravante de haver uma intenção de se desfazer dos docentes que poderiam estar a mais (leitores e Professores sem Nomeação Definitiva). Até alguns, os Professores Auxiliares mesmo com Nomeação Definitiva não se livram de daqui a uns anos com dois pareceres negativos serem dispensados, por não terem tenure.
No Politécnico têm que todos ir a concurso, mesmo os que estão lá há anos, para assim se poderem eliminar mais alguns docentes.
Não vamos ter saudades deste Ministro que ainda por cima acumulou o Ensino Superior com o da Ciência. Esperemos que o futuro Governo não caia na mesma asneira. Havendo dois Ministros diferentes, as probalidades de um ser bom serão melhores, ou não?

domingo, setembro 27, 2009

Um Ministro da Ciência diferente por favor

Hoje no jornal Público há um artigo que refere um acordo entre a Universidade do Porto e a de Sheffield no Reino Unido, por iniciativa de uma spin-off. Sheffield (incluindo arredores) será uma cidade da mesma dimensão que o grande Porto. Era uma cidade industrial que sofreu uma depressão a partir do declínio da sua principal indústria (do aço). Eu próprio constatei esse declínio ao passar na auto-estrada nos anos 80 que atravessava a parte industrial da cidade. Era de facto desolador o cenário de fábricas abandonadas. Aparentemente criou-se na cidade um dinamismo impulsionado por uma instituição denominada "Creative Sheffield", através da formação de licenciados nas áreas das novas tecnologias, com a cumplicidade da Universidade de Sheffield, e o arranque de um Parque Tecnológico. Não houve por parte da Universidade uma associação a uma Universidade como o MIT, mas só com recursos próprios e o apoio do Governo. Nós por cá o que fizemos? Dizem-nos que nos associámos ao MIT, o melhor laboratório do Mundo (eu diria que não foi uma associação mas uma contratação dum serviço de formação). Mas o que é que isso custou? Poder-se-ia investir em associações mais próximas e sem subserviência como parece estar a acontecer entre a Universidade do Porto e a de Sheffield? Podia-se. Mas era preciso uma humildade que o nosso Ministro não tem. O que se pretendia era um resultado rápido, tipo "penso-rápido" e não um trabalho que só desse resultados daqui a uns anos. Talvez para o Ministro ainda ir a tempo de beneficiar de hipotéticos resultados surpreendentes que provocariam o tal salto tecnológico que seria o objectivo do governo. Outra "mania" do Ministro foi o investimento que fez no CERN, o laboratório Europeu onde está o "acelerador de partículas", um sistema de que provocaria a fusão nuclear, como alternativa à actual cisão nuclear. Tudo à grande e à Francesa. Também participamos no ESA, o programa europeu de exploração do espaço. Para quê? Em primeiro lugar porquê? Mais uma vez o Ministro de bicos de pés perante as grandes potência Europeias e perante os EUA (no caso do MIT).
Esperemos que o novo governo, que tudo indica seja do PS outra vez, não coloque lá este Ministro de novo.

sábado, setembro 19, 2009

As eleições para a Escola de Engenharia podem trazer mudança?

Em breve haverá eleições para o Conselho de Escola da Escola de Engenharia. Quais os aspectos que se assemelham e aquele que diferenciam esta eleição da eleição para o Conselho Geral da Universidade? A estrutura e as funções são semelhantes, sendo que ambos os órgãos elegem o responsável que preside à instituição (Reitor num caso e Presidente da Escola noutro), se é que se pode chamar instituição à Escola. Ambos têm funções fiscalizadoras do governo da instituição. Mas as semelhanças acabam aqui. O Reitor está muito afastado do dia-a-dia dos docentes, enquanto o Presidente da Escola estará muito mais perto dos docentes e das suas actividades, ao Presidir ao Conselho de Gestão e ao Conselho Científico. O Presidente também tem poderes em relação à estrutura da Escola, nomeadamente no que respeita à formação de novas sub-unidades orgânicas, ouvido o Conselho de Escola, o que não acontece com o Reitor no que se refere a novas Unidades Orgânicas. Quer isto dizer que o Presidente de Escola, pode iniciar um processo de auscultação aos departamentos, que já tinha sido iniciado durante as "workshops" promovidas pelo anterior Presidente. É um processo que requer mais tempo do que aquele que foi atribuído durante a workshop, e o Presidente tem tempo (3 anos) para o fazer.
A meu ver esta será a verdadeira mudança que a Escola precisa. Tudo o resto será cosmética. Mesmo havendo mais que uma lista concorrente, atrevo-me a sugerir que os programas das listas concorrentes serão muito semelhantes, referindo aspectos consensuais como a excelência da Investigação e dos cursos da Escola, a ligação ao exterior, o empreendedorismo, e outros aspectos que embora tenham a sua evolução natural, também concordo que nunca é demais trazer ao debate nestas alturas em que há discussão de ideias. No entanto, os aspectos mais delicados, que mexem com o futuro dos docentes, como a reorganização departamental por exemplo, ficam por discutir. É altura de os docentes saírem da sua letargia e da sua posição confortável, e de discutirem a actual estrutura da Escola, herdada dos anos 70!
Os tempos são outros, já não se justificando por exemplo departamentos divididos só segundo sectores industriais e coincidentes com cursos para formação de engenheiros para esses sectores (Têxtil, Mecânica, Polímeros, e até Civil). Sendo evidente que estes cursos devem existir, até pela elevada procura para os sectores mais populares (Civil e Mecânica), é também verdade que esta situação não se manterá por muito mais tempo, dependendo da evolução do emprego nos próprios sectores de actividade. Até que houve evolução nos cursos, como por exemplo o advento de cursos horizontais como o de Engenharia de Materiais, então porque não houve evolução nos departamentos com a formação de um Departamento de Engenharia de Materiais? Talvez porque na altura da formação do curso, os materiais estavam divididos pelos vários departamentos, não havendo qualquer ligação entre eles. Agora, porém, tudo é diferente, sendo os materiais utilizados em varias formas e abrangendo várias áreas, especialmente com o advento dos compósitos e dos nanomateriais. Onde se situam por exemplo os compósitos de polímeros e fibras? Nos polímeros ou na têxtil? E os nanomateriais aplicados em revestimentos de têxteis ou de polímeros ou de metais? E as tintas com polímeros e pigmentos aplicadas em metais, ou na construção civil ou Naval?
Por outro lado a Engenharia assimilou a Escola de Arquitectura por uns tempos e agora deixou fugir a sua tutela. Onde pertence a Arquitectura? às Artes ou à Engenharia Civil? Esta discussão também ainda não terminou, até talvez tenha morrido à nascença ao incluir nos Estatutos da UM a decisão da autonomização da Escola de Arquitectura ao Conselho Geral da UM. Pois se o Design está na Escola de Engenharia, porque não a Arquitectura? Ou então o Design vai para a Escola de Arquitectura!
Esta discussão é importante para o futuro da Escola e deve ser assumida pelo Conselho Geral, mas principalmente pelo futuro Presidente da Escola.
Por isso, para mim, as eleições para o Conselho de Escola devem ter em vista a eleição de docentes e investigadores que possam influenciar esta discussão e também a própria eleição dum Presidente que a promova.

domingo, setembro 13, 2009

Mais do mesmo por parte do reitor

Foi divulgada (ver em "Liberdade na UM") a promoção dos Directores de Secção dos Serviços de Acção Social à posição de Director de Serviço com um acréscimo de salário relevante, como consequência das alterações efectuadas à orgânica dos SAS, por despacho RT-46/2009 de 31 de Julho. Há alguns aspectos deste despacho que são contestados pelo autor do texto, sendo um deles o facto o Senado não ter sido consultado. Mas o mais grave quanto a mim é o de, mais uma vez, serem aqueles que mais fielmente serviram o reitor, que são escolhidos para estes lugares, criando uma situação de injuistiça perante os restantes funcionários da UM. Segundo o mesmo texto, haverá mais lugares de Director de Serviços dos SAS do que em toda a Universidade! Depois de haver suspeitas que os concursos para estes lugares foram desde o início menos que transparentes, agora, no momento da partida do reitor, surgem as promoções como que a desafiar tudo e todos: críticos, tribunais e a imprensa. Como se a UM já não tivesse suficiente publicidade negativa na imprensa! (ver post anterior sobre este tema).

domingo, setembro 06, 2009

O empreendedorismo da UM e a publicidade dada pelo Diário do Minho

A julgar pelos investimentos que a UM tem feito nos últimos anos (ver post anterior) deviamos ser uma das Universidades com mais empreendedores, empresas spin-offs, ou empresários por conta própria bem sucedidos. Sem contar com as empresas de Serviços, que não são bem empresas independentes da UM mas mais propriamente empresas que utilizam as estruturas universitárias muito para além do período de incubação, as empresas registadas como spin-offs contam-se pelos dedos de uma mão.
Quais as razões? Muitas vezes se justifica esta falta de empreendedores como sendo culpa da mentalidade conservadora dos licenciados, o que não deixa de ter algum fundamento. Senão, vejamos: quem vai para a Universidade vai porque quer tirar um curso, como é óbvio. Mas a pergunta seguinte será: para quê? e a resposta não será a politicamente correcta de querer aprender, mas antes que com um "canudo" terá mais hipóteses de ter um emprego e não será qualquer emprego, na mente da maioria, mas antes um emprego com um ordenado razoável e principalmente com estabilidade. Ora aqui está o busílis da questão: um empreendedor nunca deve pensar na estabilidade! É contrária á própria ideia de empreendedorismo. Não é por acaso que as empresas mais bem sucedidas nas Novas Tecnologias foram fundadas por estudantes que deixaram a Universidade a meio do curso: Microsoft e Google para mencionar apenas duas.
Haverá muitos outros casos que não terão sido assim, mas foram formadas por licenciados (seria interessante saber se estes licenciados eram alunos exemplares ou simplesmente acabaram o curso...)ou mesmo por professores, mas a excepção parece confirmar a regra. Em qualquer entrevista a estes empreendedores, normalmente o que eles dizem é que já não tinham muito mais a prender e a Universidade não lhes ia ensinar nada de novo. Claro que por esta altura eles já tinham uma ideias do que poderiam desenvolver no mundo empresarial. No entanto não deixa de reflectir no tipo de ensino que se faz nas Universidades.
Claro que não tendo a performance das Universidades Americanas, o cenário será pior nas Universidades na Europa e em particular em Portugal. A cultura na Universidade Portuguesa também não incentiva em nada o ensino para o empreendedorismo. Em primeiro lugar os Professores estão eles próprios preocupados com a sua estabilidade e não têm uma postura de empreendedorismo na sua própria carreira. Dão aulas, fazem alguma investigação e alguns fazem alguma gestão nos vários órgãos e sub-orgão da Universidade.
Podemos portanto até aceitar que a UM faça um esforço de investimento em empresas ou Associações viradas para o empreendedorismo, tais como o 2B Partner e o SpinPark. Não será essa o maior “pecado” do reitor AGR, mas antes o de não ter envolvido outros colegas de participarem neste esforço, talvez como já foi referido, por ter uma política de concentrar em apenas numa ou duas pessoas da sua confiança a tarefa de representar a UM nos órgão de Administração dessas empresas e Associações. A culpa também não pode ser atribuída quase exclusivamente a quem aceitou essa incumbência, como quis fazer querer o jornalista do DM. Numa empresa ou Instituição, quem é nomeado não pode facilmente recusar, especialmente se é o Vice-Reitor com esse pelouro, que é o caso de Manuel Mota. É estranho o artigo em que aparece como grande culpado M.M. É caso para perguntar a quem interessa. O incentivo que M.M. tem dado ao empreendedorismo só tem que ser elogiado, mas já a fobia do reitor de não abrir o leque a outros, isso sim, já tem que ser condenado.
Esta forma de governar pela Reitoria, não é nova. Vem detrás, de outras Reitorias e o resultado está á vista. O empreendedorismo dos próprios docentes está moribundo, dando lugar a um seguidismo que torna o ambiente escolástico e amorfo, com o contágio inevitável aos alunos, que eles próprios ficam sem entusiasmo e sem “rasgo”.
Assim, só com um nova política em que muitos mais colegas estão envolvidos se pode espalhar a cultura do empreendedorismo. Esperemos que o futuro reitor tenha percebido que este não é o caminho e que delegue e distribua por muitos mais colegas essa tarefa nobre do empreendedorismo!