sábado, maio 26, 2018

O ministro ambíguo e os amigos do seu RJIES- uma teoria

Circula uma petição sobre a investigação e os investigadores. Há queixas de burocracia, avaliações mas sobretudo da precariedade das carreiras de investigadores. O ministro Manuel Heitor assinou a petição, algo inusitado e surreal. Não faz sentido um ministro assinar algo que critica o seu ministério e o governo de que ele faz parte. Tem sorte do primeiro-ministro ser um político de consensos e que não está no ADN dele demitir ministros. Mas quais serão as razões desta atitude do ministro? Ele responde que assinou como professor universitário e não como ministro. Então estamos com um caso de Jeckyll e Hyde, em que ele às segundas, quartas e sextas é ministro, e às terças, quintas e sábados é professor investigador. Este ministro tomou algumas medidas positivas, como sendo o arranque de laboratórios colaborativos criados entre empresas e universidades com o apoio da FCT e o programa de contratação de investigadores. Este ministro no entanto tem outras contradições como seja a do corte de número clausus em algumas universidades. Numa atitude inesperada, aparentemente para defender as universidades do interior, a que já me referi neste sítio noutra ocasião, cortou números cláusus nas universidades ditas do litoral para desviar alunos para as do interior. É no entanto uma definição de interior e litoral um pouco enviesada, uma vez que nem na Universidade de Aveiro, junto ao mar, nem na Universidade do Minho a meia hora da costa por autoestrada, houve corte de vagas. Uma das razões destas contradições pode ser as amizades que criou no seu percurso académico e de governo. Assim, o ministro Manuel Heitor, tem-se mostrado ativo em apoiar determinadas figuras que o apoiaram no passado, o que pode explicar o seu apoio à petição de investigadores e professores. Há também contradições nos laboratórios colaborativos, que seriam para dinamizar o interior e no entanto o maior de todos, o Laboratório Colaborativo em Transformação digital, já é no Minho, em Guimarães e coordenado pela UM com o ex-reitor como diretor. O bom entendimento que teve com António Cunha, ex-reitor da UM e principalmente como ex-presidente do CRUP, terá alguma coisa a ver com esta escolha? Qual foi o apoio de A. Cunha ao ministro? Há o RJIES, que tanta polémica tem causado, e que na vertente de Fundação foi elogiado inúmeras vezes pelo ex-reitor António Cunha até que conseguiu dentro da UM fazer passar a mensagem, conseguindo que a UM passasse a Fundação. Seria mais do interesse da UM a passagem a Fundação, na perspetiva de A. Cunha, que do ministro, a passagem da UM a Fundação, por isso não será só por essa razão. Mas em relação ao RJIES, lembro-me de uma sessão de esclarecimento no campus de Azurém, penso que na perspetiva das eleições para o Conselho Geral, em que numa pergunta minha sobre se o RJIES estava em discussão nesta eleição, António Cunha respondeu veementemente que não, não estava em discussão. Nesta defesa do RJIES pelo líder máximo da instituição, não é possível sequer discutir o RJIES na UM, com tão influente e veemente apoio manifestado desta forma quase violenta. O RJIES é o mais antidemocrático regulamento de sempre do Ensino Superior, desde a implantação da democracia em Portugal no 25 de Abril. Sobre o RJIES já escrevi bastante, criticando-o amplamente, mas sobretudo por não permitir a eleição direta do reitor e não ter representatividade ponderada dos vários corpos que compõem a universidade, nomeadamente o desequilíbrio entre o número de professores e alunos por um lado e funcionários por outro. Sobre a Fundação também já me exprimi neste espaço de opinião, e também há muito que dizer, sem esquecer a vertente mercantilista das Fundações. Observação: este texto já foi alterado várias vezes na tentativa de chegar a uma conclusão lógica sobre estes últimos acontecimentos intrigantes, no Ministério da Ciência e Ensino Superior, mas mesmo assim há aspetos que não são ainda para mim completamente claros. Por isso, não nego que poderei alterar num próximo post, algumas destas suposições que nesta versão adianto.