segunda-feira, setembro 18, 2017

As praxes sem controlo

Agora que as féria acabaram e as aulas começaram, temos as notícias do costume no que respeita ao ensino superior. Número de alunos que entraram, que este ano subiu enchendo a maior parte dos cursos, e a praxe. Vamos à praxe. Todos os anos há abusos nas praxes, e todos os anos comentamos esses abusos e lamentamos que quase tudo fique na mesma. Este ano não vou fazer comentários sobre os alunos. A prática da praxe já está enraizada, muito por culpa e complacência das Universidades, e para acabar com a praxe teriam que se tomar providências que afetariam toda a estrutura estudantil. As universidades não teriam coragem de fazer um "clean start" que seria necessário para alcançar o fim da praxe. Também teria que haver uma mudança de mentalidades dos alunos, o que não é possível num curto espaço de tempo. Por isso é melhor as universidades não terem a veleidade de poder fazer mudanças profundas agora. Limitem-se a impedir o pior das praxes evitando abusos maiores e não façam promessas que cheiram a propaganda. Se querem acabar a sério com a praxe, iniciem desde já um programa sério de reuniões, workshops, para talvez para o ano se iniciar um ano diferente, com um ano de transição para uma universidade sem praxes. Já muito foi dito das praxes e das tradições académicas. Elas complementam-se, e a praxe escuda-se muito nas tradições. No caso da maior parte das universidades as tradições são muito recentes e baseiam-se já na iniciação dos alunos e não propriamente em tradições académicas. A praxe é muito baseada no respeito pelas hierarquias, ou melhor, na submissão dos mais novos aos mais velhos. Nos colégios privado ingleses, os alunos têm uma hierarquia em que há prefeitos que tem poder sobre os alunos mais novos. Este sistema foi imitado por muitos colégios em muitos países, incluindo Portugal. Mas os alunos têm este sistema instituído dentro dos regulamentos dos colégios e ele é controlado à distância pelos professores, que mantêm um certo equilíbrio que protege na medida do possível os mais novos. Quando passamos para o nível do ensino superior, esta proteção desaparece e os alunos mais novos, os caloiros, ficam à mercê dos mais velhos, o que pode originar situações de humilhação para os caloiros que podem deixar sequelas. Quem se importa com isso? Só quando há uma desgraça, porque de resto a "caravana passa e os cães ladram" sem mordiscarem nem um pouco a estrutura da praxe.