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domingo, maio 10, 2020

A prática laboratorial em tempos de vírus


Estava o primeiro semestre em pleno, com as dificuldades já referidas das aulas laboratoriais (avarias de equipamentos, falta de materiais e produtos..), entretanto resolvidas com recurso a verbas exteriores à universidade, e eis que é tudo interrompido pelo aparecimento do vírus COVID 19. Quando se pensava que poderiamos transmitir aos alunos os conhecimentos necessários ao seu futuro profissional na indústria têxtil, eis senão que nos cai em cima algo muito pior do que qualquer outro acontecimento desde a fundação da Universidade do Minho, ou de qualquer outra universidade. As aulas teóricas passaram a ser lecionadas à distância com recurso a ferramentas eletrónicas, tais como plataformas informáticas de reuniões por vídeo, zoom, skype entre outras, e as aulas práticas foram suspensas. Agora coloca-se a questão do funcionamento futuro das aulas práticas, uma vez que a proximidade entre pessoas, neste caso alunos, professores e técnicos, deverá ser no mínimo de 2 metros, para evitar o contágio ou de 50 m2 em seu redor no caso de investigadores em laboratório. Também outros cuidados como a transmissão através de superfícies que são tocadas pelos utilizadores dos laboratórios, sejam bancadas, equipamentos, puxadores de portas, embalagens de produtos, seja prevenida. Normalmente já se utilizam luvas nos laboratórios, o que evitará em grande parte esta transmissão, mas as luvas se levadas à cara, e entrarem em contacto com boca, nariz ou olhos, não servirão de nada na prevenção do contágio, se estiverem contaminadas.
Por isso entende-se o receio dos utilizadores dos laboratórios a iniciarem as aulas, com um número de alunos que rondará os quinze alunos. Começando pela distância que já é recomendada para investigadores a de 50 m2 em seu redor. Se aplicarmos esta área aos alunos da licenciatura e mestrado, teríamos 750 m2, uma área muito superior ao espaço laboratorial de qualquer laboratório da UM. Os do departamento de Engenharia têxtil não terão mais do que 200 m2 no máximo, e com equipamentos e bancadas pelo meio, está área será muito menor. Como fazer então?
Haverá várias hipóteses que podemos imaginar que poderiam funcionar minimamente. como sejam aulas de demonstração, operadas pelo professor e pelo técnico do laboratório, e que seriam filmadas e transmitidas através da plataforma de ensino à distância. É evidente que estas aulas não poderiam ser consideradas aulas prática, porque os alunos não iriam adquirir "prática" na aplicação das técnicas que seriam ensinadas. Seriam aulas teóricas para todos os efeitos. Outro hipótese é diminuir muito o número de alunos, talvez para um terço dos atuais 15 alunos que é o estipulado para cada laboratório, mas nesse caso as turmas eram divididas em 3 ou 4 turmas, o que iria sobrecarregar a utilização dos laboratórios e os horários dos professores. Com as atuais turmas de 20 a a 30 alunos, seria incomportável. Outra alternativa seria dividir a turma por especialidades, um pouco como se faz nos projetos interdisciplinares, PI. Assim os alunos seriam distribuídos pelos laboratórios conforme as suas especialidades. Tomando como exemplo o curso de Engenharia Têxtil, digamos que um grupo de 5 alunos escolhia tecelagem, outro grupo malhas, outro confeção, outro materiais/física têxtil, outro ultimação/tingimento. Ainda poderia haver uma subdivisão para estamparia/coating. Seria uma forma de ter 5 alunos no máximo em cada laboratório. Para outros cursos de engenharia, poder-se-ia fazer algo semelhante dividendo as aulas práticas por especialidades específicas desses cursos. Seria aconselhável que os aluno já tivesses algum conhecimento da matéria e da forma como funcionam os aparelhos laboratoriais, pois teriam que ter alguma autonomia para poderem começar de imediato as experiências devido ao reduzido tempo da aula prática para levar até ao fim o trabalho, como já acontece nos projetos interdisciplinares, e para não necessitarem do apoio constante do técnico do laboratório e do professor, uma vez que sendo trabalhos individuais, não haveria tempo para dar esse apoio a todos. Este sistema seria mais adequado para as aulas práticas dos últimos dois anos do curso, por esse motivo. Mesmo assim os professores teriam que se organizar para estarem disponíveis para qualquer dúvda que os alunos tivessem, ou por vídeo conferência (zoom, skype, whatsapp, etc, ou mesmo deslocando-se ao laboratório. Em termos logísticos, as aulas práticas das disciplinas (UCs) de cada semestre passariam a fazer parte do Projeto Interdisciplinar, sem necessidade de necessariamente haver coerência entre elas, como atualmente sucede, tendo um protótipo em vista. Neste caso, os alunos seguiriam os protocolos das aulas práticas de cada uma das UCs respetivas. Coloca-se a questão dos horários de laboratório. Teria que haver sacrifícios no plano de estudos, nomeadamente nos projetos interdisciplinares, que passariam a ser mais virados para outra forma de trabalho, como dissertações de revisão de matérias atuais, como funcionalidades têxteis, por exemplo, para que esses períodos em laboratório fossem dedicado a estas aulas práticas e as dissertações poderiam ser escritas em casa.


sábado, fevereiro 15, 2020

Engenharia: Um futuro para os alunos que pode não ter "exit"(o) para a indústria


Mais um ano financeiro se inicia na Universidade do Minho. Nos departamentos, após uns meses de frenesim a alterar cursos na Escola de Engenharia, de 5 anos para 3 anos, a terem início em 2021, voltou tudo à mesma rotina de organização de aulas e arranque de mais um ano financeiro. No caso de departamentos com laboratórios, as duas vertentes estão interligadas, de uma forma dramática, considerando que os departamentos não recebem as verbas necessárias para o seu funcionamento e muito menos para o seu reequipamento. No ano passado não receberam nenhum dinheiro, o que poderia ter como consequência não dar aulas práticas nos cursos de engenharia. Seriam cursos teóricos. Houve que fazer uma ginástica e angariar verbas através da prestação de serviços pelos laboratórios no caso do departamento de engenharia têxtil, por exemplo, que dirijo desde março do ano passado. Equipamentos já antigos, tiveram avarias que foram ultrapassadas com estas verbas, só porque eram avarias pequenas. Esta é uma situação que é geral aos departamentos da Escola e que não poderá continuar por muito mais tempo, sob pena de se chegar a um ponto de não retorno. Os equipamentos são antigos e não durarão muito mais. A maioria são do início dos anos 80 e 90. O Estado, através de sucessivos governos, financiam as Universidades com verbas que são mais de 90% gastas em salários. Compreende-se que não haja verbas para equipamento. Sem professores e funcionários a Universidade não funciona, está claro, e poderá até ser que em áreas em que a componente prática não é essencial, seja suficiente o investimento em pessoal. Seria de pensar para as outras áreas uma verba superior? Sabe-se que a Universidade tem uma contribuição muito relevante para o seu orçamento que provém dos projetos de I&D, nomeadamente através de overheads (custos indiretos) desses projetos, que normalmente são 25% do valor do projeto. Estes projetos são maioritariamente da Escola de Engenharia e no entanto estas overheads ficam em grande parte na reitoria para as suas despesas gerais. Uma pequena parte regressa à Escola de Engenharia e 6% chega aos departamentos. Digam-me o que se pode fazer com estes 6% no que se refere por exemplo às despesas dos laboratórios. Quanto ao reequipamento, não se pode sequer imaginar o que se poderia comprar (talvez uma caixa de ferramentas..). Portanto estamos conversados. Num futuro não muito longínquo, estimo em mais 5 anos a julgar pela idade dos equipamentos, teremos cursos só teóricos na maior parte das disciplinas de engenharia e de ciências dos departamentos da Escola de Engenharia. Onde se investiu por ordem do governo, foi na contratação de investigadores e na integração de funcionários precários. Teremos pois mais investigadores, mais profissionais de carreira, mas que passarão ao lado deste problema.. As Universidade passarão a ser institutos de investigação uma vez que se basearão não só em bolseiros temporários mas em investigadores de carreira, e os funcionários que são integrados na carreira, contribuirão para o funcionamento das aulas de uma universidade de "papel e lápis" e servirão de suporte administrativo aos professores e investigadores deste novo tipo de instituição, que produzirá graduados sem noção do mundo industrial que os espera. Serão graduados sem possibilidade de saída ou êxito na indústria.

sábado, março 24, 2018

Entrada e progressão para doutoramento

Parece que quanto mais difícil é a progressão na carreira dos professores, mais fácil é a progressão dos alunos (alguns) para o grau de doutoramento...È o sinal dos tempos. A progressão na carreira depende do esforço dos professores em reclamarem aquilo a que têm direito, o que não tem acontecido. A progressão para doutoramento parece depender só de quem gere os programas doutorais, sem qualquer outro controlo. Decidem sobre aceitação de candidatos mesmo que seja algo que será obviamente irregular, ainda que legal. Basta que os estatutos dos programas doutorais sejam tão abrangentes que aceitam qualquer especialidade como condição de entrada, sem haver necessidade de aval superior, ou por parte da Escola a que pertence o centro, ou mesmo por parte do Conselho de Escola ou do Conselho Geral (que aprova doutoramentos). Assim, temos doutoramentos para todos, sem necessidade de disciplinas nucleares que são também designadas por específicas no caso do acesso à Universidade. No caso que conheço, porque apareceram na minha UC há umas semanas, um grupo de 4 alunos com formação em gestão e outros em design, afirmaram que estavam ali porque a UC iria fazer parte do seu programa doutoral, Quando questionados qual o programa doutoral, qual não foi o meu espanto quando responderam que era em Engenharia Têxtil. Ainda perguntei se não seria em Design de Moda, que existe também no Centro de Ciência e Tecnologia Têxtil, 2C2T, e percebi que coloquei o dedo na ferida, ao avisá-los que teriam que estudar bastante uma vez que não teriam as bases para um doutoramento em Engenharia. Não mais frequentaram a minha UC, de Acabamentos Funcionais, tendo uma das alunas(!?) me informado por e-mail que afinal esta UC não fazia parte do currículo do programa doutoral (?!). Parece que os alunos é que determinam o que necessitam de frequentar...Tendo-me certificado junto do Diretor do Centro 2C2T que de facto é uma UC nuclear do programa doutoral, pergunto: que esquema é este? Um aluno que queira entrar na licenciatura em engenharia têxtil precisa de matemática e química ou física e para doutoramento, não precisa? É de facto uma situação singular e altamente preocupante. Vamos ter doutoramentos com uma designação que não vai corresponder ao que realmente se estudou e investigou, uma vez que sem as bases científicas não será possível fazer investigação a nível de doutoramento. Talvez, na realidade estes alunos façam um doutoramento em Design de Moda, afinal só que terá outra designação. Será que há ainda a possibilidade em Centros de I&D heterogéneos, como é o caso do 2C2T de ter um júri de Design de Moda a aprovar um doutoramento em Engenharia Têxtil? Fazendo parte do mesmo centro professores de ambas as especialidades, possível, é. Vamos ver na altura que júris serão propostos. Como já tivemos um caso no passado de plágio em doutoramentos de Design e Marketing neste Centro, muito divulgado nos media de então, penso que se devia ter mais cuidado para não colocar de novo o nome do Centro nos media pelas piores razões, mas parece que não se aprende com o passado, cometendo os responsáveis do Centro 2C2T, nomeadamente a Comissão do curso do programa doutoral em engenharia têxtil, erros de "casting" grosseiros, em programas tão importantes para o nível científico do Centro e do Departamento, como os programas doutorais. Suspeito que há outros casos como este noutros centros de I&D da UM, e compete aos membros desses centros de os denunciar, a bem da justiça académica. Não é justo para outros que tanto trabalho tiveram a aceder a um doutoramento numa área que ambicionam frequentar, especializando-se de acordo com os requisitos para o fazer, verem outros entrarem com base noutros critérios de maior tolerância, ou mesmo facilitismo em alguns casos.Também será difícil os orientadores destas teses poderem ter um a produção científica relevante com esta "matéria prima", mas esse será outro problema que persiste e terá que ser objeto de outro tipo de análise mais aprofundada, sob pena do Centro vir a baixar e muito a sua classificação nas próximas avaliações pela FCT.

terça-feira, fevereiro 20, 2018

Uma Auto-estrada para os Mestrados e Doutoramentos

O Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior apresentou o que pode ser considerada uma revolução na investigação do ensino superior, com base num estudo da OCDE, ao instituir doutoramentos nos politécnicos, entre outras medidas. Fê-lo à revelia do CRUP, o conselho de reitores das universidades, embora tivesse segundo afirma tido discussões sobre o assunto com este órgão. Não se entende esta pressa e esta decisão unilateral, com a oposição de um órgão que representa as universidades, seja esta tomada de posição boa ou má. Claro que foi logo aplaudida pelos politécnicos, e pelo sindicato do ensino superior onde tanto o presidente como a maioria dos militantes são professores de politécnicos. Não quero com isto dizer que não seja uma medida positiva, desde que com as devidas cautelas, que o ministro afirma ser condição para esta medida ser autorizada nos politécnicos e agora alargada às universidades: que tenham capacidade científica na área para poderem ser candidatos a orientarem doutoramentos. Faz sentido. E concretiza a nova medida com o mínimo de classificação dos centros de investigação de Muito Bom.
O problema não é só a capacidade científica dos professores. É também a dos candidatos. Para encherem os seus cursos, não será que as universidades estão a facilitar os acessos aso doutoramentos? Isso será mais evidente com as admissões de alunos estrangeiros inseridos em protocolos entre universidades, como aqui já foi referido.  Mas não só. Não é preciso ir fora de portas para encontrarmos situações caricatas de alunos sem as bases para frequentarem uma licenciatura por não terem as disciplinas específicas, frequentarem Mestrados e Doutoramentos na mesma área, sem essas mesmas disciplinas específicas. Cada colega que olha para o seu próprio centro e departamento e descobrirá casos destes.
Estes Mestres e doutores, são desta forma convertidos em engenheiros, por exemplo, sem o poderem ser na licenciatura.
Com o fim dos Mestrados Integrados, com o argumento da aplicação de Bolonha, outra das medidas anunciadas, será mais um incentivo para isso acontecer. Licenciados sem as matemáticas passsarão a engenheiros, que não vão conseguir fazer projetos de engenharia por não terem as bases. Passarão a doutores, sem terem as bases para poderem trabalhar na indústria. Ficarão mais longe de poderem ser integrados na indústria e longe de poderem participar na Inovação tão propalada que não vai acontecer.

sexta-feira, setembro 29, 2017

O financiamento desiquilibrado nas universidades

O Ensino superior continua sem financiamento suficiente para evoluir e até manter a qualidade dos seus cursos. Não há verbas para compra de equipamento, que em alguns departamentos não são substituídos há décadas. Em contraciclo, nas últimas décadas tem vindo a aumentar e muito o financiamento à investigação. Não que não seja importante, mas quando se colocam as duas vertentes num plano tão desigual em termos de financiamento, temos como consequência o que está a ser a evolução do País, com doutorados e pós-docs a mais, muitos emigrando por não terem onde praticar o que aprenderam nos anos de investigação. A contribuição nacional neste esforço de investimento em I&D comparticipado pela CE, é desajustado em relação ao esforço de apoio ao ensino no ensino superior. O resultado do investimento em I&D tem resultados obscuros, não se vislumbrando ao longo dos anos uma evolução no nível tecnológico do país, nomeadamente em zonas industriais no norte do País, onde ainda predominam as indústrias tradicionais, têxtil e do calçado. Mesmo estas indústrias são prejudicadas quando os engenheiro que saem das Universidades não têm a componente prática essencial à sua integração rápida na indústria a à evolução e modernização destas indústrias, mais evidente na têxtil que no calçado. Fala-se também no aumento exponencial dos alunos estrangeiros, que são na sua maioria brasileiros, que levam consigo uma imagem de departamento depauperados, equipamentos antiquados e pessoal, nomeadamente docente, já com idade próxima da reforma, tudo devido ao subfinanciamento do setor. Será esta a imagem que queremos para o ensino superior dentro e fora do País? Se algumas universidades e departamentos que apoiam os setores industriais, sejam as indústrias transformadoras sejam as de construção civil, vivem do que alcançaram no passado, na formação de quadros que ajudaram a construir estas indústrias , agora podem ajudar a descredibilizar essa mesma indústria se não se modernizarem e investirem no rejuvenescimento do seu pessoal docente. O governo e particularmente o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, devem começar a pensar no desenvolvimento da indústria para onde vão estes engenheiros e não tanto na investigação, nomeadamente aquela I&D "sem consequência", e devem alterar a sua política de investimento no ensino superior, investindo mais nos cursos e menos em I&D, pelo menos enquanto não houver um equilíbrio entre os dois vetores.

sexta-feira, julho 14, 2017

Estudantes a meio gás

Soubemos pela boca do vice-reitor da Universidade de Coimbra em entrevista ontem à TSF, que há Universidades entre elas a Universidade do Minho, a cobrarem metade do valor das propinas a estudantes de Erasmus, nomeadamente referindo-se a estudantes brasileiros. A Universidade de Coimbra cobra as mesmas propinas que aos estudantes portugueses, Diz ele, e bem, que estamos todos a pagar para estudantes de fora estudarem nas nossas universidades, uma vez que metade do valor das propinas não paga os custos da Universidade por aluno. Para além desse aspeto, injusto também para os estudantes nacionais que pagam as propinas por inteiro, há ainda a considerar o facilitismo que é na generalidade concedido a esses estudantes na hora de lhes atribuir uma classificação. Vejam-se os Mestrado e doutoramentos que têm convénios com Universidades brasileiras e que já referi anteriormente. Não sei qual é a intenção dos reitores destas instituições nesta abordagem aos estudantes estrangeiros e nomeadamente aos brasileiros que já representam 1 em 5 da totalidade dos estudantes, segundo a mesma fonte. Será de engordar o número de alunos fugindo aos numerus clausus e dessa forma apresentar uma universidade com mais alunos competindo desta forma no ranking das maiores universidades portuguesas? Será porque consideram que as universidades são mais atraentes a estudantes estrangeiros e por isso são melhores? É um mistério...Maior contribuição para a produção científica dificilmente será, uma vez que estes estudantes, salvo raras exceções, não permanecem o tempo suficiente para produzir algo de cientificamente válido que seja publicável nas melhores revistas internacionais. Os estudantes devem ser todos tratados da mesma maneira e com o mesmo rigor, como é evidente. Penso que os professores e estudantes da UM, no caso que nos toca, merecem uma explicação por parte da reitoria.

domingo, junho 05, 2016

Os cursos têxteis e os empregos na indústria

Vimos na imprensa recentemente ser anunciado que na UM, os 8 finalistas do curso de engenharia têxil tinham tido ofertas de 200 empregos. Será que é benéfico anunciar as vagas que existem na indústria para aliciar candidatos aos cursos das Universidades? Não seria melhor anunciar onde estão os melhores empregos? É que para um licenciado hoje arranjar emprego, tem que aceitar um ordenado que não tem nada a ver com o que um licenciado recebia há uns anos atrás. As habilitações académicas estão desvalorizadas, não porque estejam piores, o que também é difícil de avaliar, mas porque há muitos licenciados para a geografia empresarial existente em Portugal. No caso da têxtil os candidatos ao curso e os seus pais têm essa perceção. São na maioria pequenas e médias empresas que não comportam um licenciado, e muito menos dois ou três, na perspetiva dos patrões. Na verdade o que os patrões querem e sempre quiseram, com honrosas exceções, é mão de obra barata. Os engenheiros fizeram-lhes jeito para darem o salto de empresas rudimentares que eram em empresas modernas e bem equipadas, graças também ao esforço que o país fez com os programas comunitários de apoio financeiro nas últimas décadas. Agora que as empresas funcionam de uma forma rotineira e automática. sentem que não precisam dos engenheiros. Põe-se a questão se não deveria haver uma maior aproximação para o grosso das empresas e fornecer-lhes profissionais que teriam cursos técnicos, a nível do que o politécnico oferecia há uns anos atrás, os engenheiros técnicos, sem descurar os cursos com maior exigência para as grandes empresas, que não são assim tantas, e para a novas empresas dedicadas a setores mais exigentes tecnologicamente, como a dos têxteis técnicos. Para formar engenheiros técnicos, com a tentativa de fusão de que se falou em tempos, seria uma solução para o IPCA, por exemplo, em conjunto com a Universidade do Minho, fazer um tal curso desse género. Seria também útil que os alunos fizessem estágios frequentes na indústria ao longo dos 2 a 3 anos do curso. Para o caso do curso mais evoluído, seria uma ideia manter os Mestrados e doutoramentos, mas não prosseguir com o curso de Mestrado Integrado, uma solução que nasceu com Bolonha e que tantas críticas tem merecido por parte de todos, empregadores em primeiro lugar, mas também de professores e dos próprios alunos.

domingo, maio 01, 2016

A Festa dos Finalistas

Todos os anos assistimos ao mesmo, a feira de vaidades das diversas cerimónias de entrega de diplomas: o desfile de alunos em traje e insígnias; a bênção dos finalistas, uma cerimónia que nunca assisti mas que presumo seja uma cerimónia religiosa a certificar ou proteger pela mão de Deus um grau académico, o chamado "canudo"; a imposição das insígnias. Não entendo muito bem estas cerimónias nem a sua relevância no que respeita ao sucesso do aluno em obter um grau académico. Toda estas atividades se imiscuem no que devia ser um ato puramente académico de entrega de diploma e todos desviam a atenção do que suposto ser o objetivo da Universidade: ensinar e produzir graduados, não atores ou atrizes, soldados ou polícias fardados, com disciplina de praxe, fiéis católicos, modelos de passerelle.... Tudo o resto é folclore e o ensino dispensaria tal folclore se não fossem os pais dos alunos, os amantes das praxes, os responsáveis de protocolo, que não o dispensam. Compreende-se que os pais que investiram tanto no futuro dos filhos, queiram ver o resultado, e não os satisfaz só o canudo, querem ver e mostrar o sucesso dos filhos ou filhas que trouxeram a este mundo, como se de troféus se tratassem. Embora discorde, compreende-se. Agora os responsáveis de uma instituição de saber e ciência, a Universidade, alinhar com este folclore, subjugar-se ao capricho de associações de estudantes como na imposição das insígnias, não separar a religião do ensino na bênção dos finalistas, como manda a lei, é que é já mais difícil de aceitar no século XXI. Mas enfim, desde que se divirtam sem haver mal maior, quem pode criticá-los? O problema é que pode deixar sequelas no caráter das personagens que participam demasiado em tais atividades, nomeadamente os Professores que ano após ano assumem funções de protocolo, ficando eles próprios imbuídos de um espírito artificial e desligado da realidade científica e do saber e do verdadeiro objetivo do ensino universitário, que se devia pautar por uma entrega humilde dos professores à tarefa de ensinar o melhor que podem. Quanto aos alunos, isso, a vaidade de um ato único passa-lhes com o tempo, espero. Os pais talvez sejam os mais gratificados, ao verem os seus filhos chegarem ao pódio. Mas será que o pódio é uma prova que alcançaram a ciência e saber? Fica a pergunta.

quarta-feira, fevereiro 10, 2016

Bolsas de investigação para politécnicos

O novo ministro da educação veio hoje anunciar um novo aumento de verbas para a Ciência, o que já era anunciado pelo programa do partido socialista. Mas o mais interessante é que veio anunciar algo de novo que é o acesso a verbas de I&D aos politécnicos, ou seja, supõe-se que bolsas de doutoramento, e o seu acesso por pessoas não integradas no sistema do ensino superior. Quanto ao maior acesso às bolsas, estou de acordo, embora não o ministro não especificasse muito bem quem poderia concorrer. Mas só o princípio já é de aplaudir. Quanto mais abrangente na sociedade o acesso à investigação, melhor. Agora, o acesso a doutoramentos nos politécnicos, vai no sentido da desvalorização que os doutoramentos têm vindo a sofrer na última década nas universidades. Com a entrada em vigor dos programas doutorais, e baseio-me no que conheço nas engenharias, há um primeiro ano académico e só dois de investigação. Alguém consegue perceber como em dois anos se faz um doutoramento equivalente aos doutoramentos que se efetuavam, por exemplo, pelos assistentes que necessitavam do doutoramento para passarem a Professores Auxiliares' Podiam demorar oficialmente 4 anos de investigação e normalmente duravam mais. Não admira portanto, chegados aqui, a uma transformação de doutoramentos em cursos, desde Bolonha, que os politécnicos também tenham essa hipótese. De outra forma, considerando como antes que os politécnicos seriam para formar técnicos para as empresas, e não para fazer investigação, não se compreenderia. Muitos politécnicos não são mais do que escolas de formação superior em que os cursos não são práticos, como o eram antes, nem são teoricamente ricos em substância, como supostamente o serão os das universidades. Chegou-se a um estado de coisas em que os politécnicos, salvo honrosas exceções, são como antes se designavam muita universidades privadas, "de papel e lápis", agora talvez melhor designados de cursos de "wikipedia". Por outro lado, os seus professores , não fazendo investigação, não se vislumbra como a podem incutir nos alunos ou como podem orientá-los. Muitos desses professores só lá vão para dar aulas, não tendo atividades de I&D. Seria pedir de mais que fizessem aquilo que o país pediria deles? Ou seja, transferir novas tecnologias e produtos para o tecido industrial, diretamente ou por via dos alunos colocados no tecido empresarial, e principalmente no industrial? Não se incentiva essa função do politécnico atribuindo bolsas de investigação. O que se vai fazer agora é aproximá-los artificialmente ainda mais das universidades, com bolsas. Já temos universidades de primeira e outras de segunda (os politécnicos) devido a políticas que os sindicatos pedem e que os ministérios aceitaram ao longo dos anos. Esta, das bolsas, é mais uma.

sábado, novembro 14, 2015

Atratividade do ensino superior em crise

Hoje uma notícia no jornal Público diz-nos que o ensino superior é menos atrativo para os jovens por o emprego estar a crescer mais, embora modestamente, para os jovens com o ensino secundário completo do que para os licenciados, citando um relatório da Comunidade Europeia(CE). Por outro lado, muitos jovens licenciados exercem empregos abaixo das suas qualificações. A CE não foge à regra com 25% de jovens nessa situação. Adianta este relatório algumas causas, sendo a das oportunidades de emprego a primeira, mas que o abandono escolar também é elevado, pelo que se conclui que os alunos chumbam muito, talvez por os cursos não serem interessantes ou relevantes para um mundo em mudança. No caso de Portugal, com o que se perdeu nos último 4 anos, em que a indústria não evoluiu, em que não houve uma re-industrialização do país, mas que pelo contrário, houve um reforço das empresas dos setores tradicionais de mão de obra barata, os têxteis e o calçado por via das exportações, as saídas para os licenciados para postos de relevo nestas ou noutras engenharias são muito pequenas. Mesmo aqueles que exercem nestas indústrias, recebem ordenados pouco acima do ordenado mínimo. É o País que não acompanha o ensino ou é o ensino que não acompanha a indústria? É um ciclo vicioso porque uma coisa precisa da outra. Se a indústria não existe, os curso para essa indústria não fazem sentido e se os cursos não existem, embora não seja tão linear, também não há incentivo para a indústria se estabelecer no país, nomeadamente por via do investimento estrangeiro. Qual a saída então? Há quem defenda que as start-ups serão a solução. Mas estas são uma gota no oceano. Poderão no entanto, quando têm origem nas universidades como spin-offs, ter um efeito catalisador dos cursos donde emanaram, por servirem de exemplo para os candidatos aos cursos de ensino superior. Estes cursos com atratividade, por sua vez, terão um efeito de incentivo para a formação de outras spin-offs e assim sucessivamente. Será um ciclo vicioso mas desta forma, com efeito positivo tanto no tecido industrial como nos cursos de ensino superior.

terça-feira, julho 21, 2015

Cursos do ensino superior para todos os gostos

Mais um ano em que desce o número de vagas no ensino superior acompanhando a descida do número de candidatos. É a tendência dos últimos anos. Há ainda a novidade do Ministério da Educação informar sobre a empregabilidade dos cursos. Os alunos continuam a preferir os cursos que lhes dão emprego, medicina e enfermagem, o primeiro em universidades e o segundo mais em politécnicos. O que se verifica é que muitos dos alunos que vão para enfermagem, já o fazem com a ideia de emigrar. Porquê então que o Ministério aceita tantos cursos e com númerus clausus tão elevados? Não se entende. São recursos do País que poderiam ser empregues noutros cursos, mesmo em cursos que à partida não têm empregabilidade, como o das humanidades. Ao menos estes cursos custam menos ao País por não precisarem dos meios que os cursos de enfermagem precisam. Não há qualquer planeamento de cursos, muito devido à autonomia das universidade e dos politécnicos. Será que a autonomia das universidade e politécnicos deverá determinar quais os cursos a oferecer? Talvez em parte. Mas não deveria também obedecer a uma estratégia nacional? Aliás como se fez em relação aos cursos de medicina. Pelo menos nas engenharias poderia haver mais organização e não depender só da lei da procura e da oferta, como está a acontecer com os cursos de engenharia civil. O governo lava dali as suas mãos, guiando-se pela procura dos cursos, como se os candidatos soubessem quais os cursos mais relevantes para o país. Basta ver quanto alunos se candidatam aos cursos de comunicação, jornalismo, media, etc, para perceber da disparidade da desproporcionalidade entre o número de jornais, canais de televisão e outros media. Ou no caso dos cursos de engenharia biológica ou biologia, a desproporcionalidade entre os candidatos a estes cursos e os empregos disponíveis para este tipo de especialização: indústria alimentar, ambiente, etc. Ou no caso da arquitetura. E haverá muitos mais disparidades como estas. Estamos com um ensino superior dependente dos gostos dos alunos, ou nestes casos, mais das alunas. Que fazer? Penso que se os alunos gostam de tirar um curso que os satisfaçam, e não que o país precise, deviam pagar esse curso, tal como se paga um curso de guitarra ou de culinária gourmet, ou outros (pintura, decoração, etc). Demasiado polémico? Talvez e certamente não exequível. Mas então que o governo tenha uma estratégia de "hair cut" aos cursos repetidos em universidades e politécnicos distantes poucos quilómetros uns dos outros e númerus clausus para cima de 50. Tentou timidamente através da formação de consórcios, começando a norte, mas depressa recuou, ao ser confrontado pelo lobby dos reitores do CRUP. A única boa ideia que o Ministério da Educação teve para o governo superior, nunca saíu do papel! É hora deste ministério dar lugar a outro que tenha mais garra.

sábado, junho 13, 2015

Bolonha

Que balanço se faz da implementação de Bolonha? Nenhum? Porque é que as Universidades não fazem um balanço dos resultados? O que se ganhou e o que se perdeu? Afinal altera-se todo um sistema de ensino e não se fazem balanços, como se a mudança fosse definitiva. A sociedade empresarial, e principalmente a industrial, recusa empregar licenciados de Bolonha. O que é que isto nos diz? Diz-nos que os cursos de 3 anos de engenharia ou ciências não têm qualidade? É evidente que é isso que nos estão a tentar dizer. E na Educação? O que é que os resultados dos exames feitos aos professores com resultados preocupante, demonstrando o que muitos já sabíamos, que há muitos professores que não dominam a matéria que lecionam nas nossas escolas? Os próprios sindicatos vêm agora dar a mão à palmatória e concordar que de facto pode haver casos desses, mas que são as instituições de ensino que são ocupadas por não ensinarem bem. Na engenharia, procurou a Ordem dos engenheiros colmatar eventuais falhas das licenciaturas de Bolonha instituindo os Mestrados Integrados, com a mesma duração que as antigas licenciaturas. O problema é que foi tudo feito à pressa e os Mestrados Integrados acabaram por ser uma licenciatura mas sem estrutura. Não há aulas práticas como havia na licenciatura; não há tantas provas escritos recorrendo-se muito a trabalhos, que tantas vezes são copy-paste de outros trabalhos sem possibilidade de haver uma avaliação objetiva; não há estágio empresarial/industrial perdendo-se aquilo que seria uma introdução do aluno na empresa/indústria e quantas vezes tinha como consequência o aluno permanecer na empresa e conseguir um emprego, além de se afirmar com um projeto muitas vezes útil e ás vezes até inovador. O que há de positivo com Bolonha é talvez só a implementação de projetos integrados, em que os alunos usam de alguma iniciativa para apresentar soluções para apresentarem produtos ou processos, supostamente inovadores, que lhes são sugeridos pelos professores e que integram matéria de várias disciplinas (UCs). Talvez com tantos projetos integrados se espere que o aluno saia com capacidade para resolver problemas e até de inovar. Sem dúvida que este aspeto do curso estava ausente do formato anterior dos cursos, pelo menos do plano de estudo não constava, e só no estágio haveria algo de parecido. No entanto os professores das UCs eram livres de solicitar aos alunos que apresentassem trabalhos sobre determinados temas, da mesma forma como acontece agora com os projetos integrados. Só não eram temas que abrangessem também outras UCs. Mas quantas vezes essa integração é de facto feita? Até porque em muitos casos as UCs de um determinado semestre, serão muito difíceis de incluir num projeto integrado, por serem tão díspares. Falando dos casos que conheço dos cursos onde lecionei estes anos, verifico também que muitos assuntos são repetidos ano após ano, sem os alunos aprofundarem esses temas suficientemente ao longo dos anos. Acabam por não saber mais do que aparece nos motores de busca, que vem em abstracts, sumários e reportagens da atividade de empresas nas áreas abrangidas pelo tema em estudo. No caso dos doutoramentos, que merecem uma análise separada, por supostamente serem de um trabalho original, verifica-se que os programas doutorais, que agora na UM contam para nota final, uma vez que sendo opções não são propriamente UCs que serão determinantes na formação do aluno em investigação, e retiram tempo precioso para que o aluno possa ter tempo de aprofundar o estudo que estará a realizar por iniciativa própria. Em três anos de doutoramento, é um ano que se "perde". São muitas vezes UCs que ao contrário do que se pretende, retira ao aluno a sua aprendizagem de investigação, ao tentar ensinar a investigar, pois retira a auto aprendizagem, essencial para a capacidade necessária à afirmação do investigador. Além do mais, um doutoramento com dois anos efetivos de doutoramento, dificilmente terá o mesmo nível que os doutoramentos que eram efetuados em 3 e muitas vezes 4 e mais anos.

sábado, maio 23, 2015

Inquéritos e estatísticas

As empresas são assediadas constantemente com inquéritos de alunos de mestrado ou doutoramento, e até de licenciatura, que fazem trabalhos e teses baseadas numa análise desses inquéritos. É algo que se tornou “viral” ultimamente, não estando os professores também livres de apanharem com inquéritos por parte também de alunos. Claro que todos gostamos de ajudar os jovens nesse seu percurso de aprendizagem. Mas será que ao responder estamos mesmo a ajudar? Que resultados tiram estes alunos de inquéritos que demoram uns minutos a responder? Por outro lado as empresas são obrigadas a preencher inquéritos do INE sobre I&D. Para que serve? Para estatísticas claro, mas na realidade qual o proveito? Inquéritos são o que são. Podem espelhar uma situação mas não a resolvem. Por isso não se percebe qual o objetivo, a não ser encher arquivos de números. Também temos na Universidade inquéritos à aprendizagem. Quem os faz terá a noção que ninguém os vai analisar? Ou mesmo ler? Parece que temos uma inquérito-mania. Tenho para mim, que as estatísticas são o oposto duma avaliação objetiva do mérito ou do fracasso, nivelando tudo pela média. Com a entrada do processo de Bolonha, as avaliações ponderadas dos trabalhos dos alunos, acabam sempre por nivelar, ou digamos, "terraplanagem", sem altos nem baixos. Os concursos também seguem a mesma "segurança" com avaliações ditas objetivas em folhas excel. Mal vamos quando ninguém sobressai e ninguém é excluído. Temos depois profissionais que não passaram por um verdadeiro crivo, sendo que não poderão responder a desafios que terão de enfrentar de uma forma conclusiva ao longo da sua vida profissional, mas antes acabam por evitá-los ou então acabam por aprender à própria custa, porque no ensino superior não foram verdadeiramente postos à prova.

domingo, novembro 30, 2014

Assim vai o ensino superior na transição para 2015

Aproxima-se mais o fim de um ano em que as contas das Universidades chegam ao fim e mais um orçamento entra em vigor em 2015. Pelo que sabemos do que é divulgado que resta do orçamento deste ano, não chega para mais que uns consumíveis. Longe vai o tempo em que tínhamos o desafio de gastar mais do que tínhamos tempo para o fazer, a cumprir todas as regras, claro. Que o governo cortou no ensino superior já sabemos, mas que cortou ao ponto de cortar no futuro das universidades e do I&D é menos claro para os mais distraídos. Mas quando vemos que os cursos perdem professores, convidados e leitores, despedidos só por não terem vínculo, por muito bons professores que sejam, e quando bolseiros perdem a bolsa só porque a FCT decide cortar nas bolsas aliatoriamente e alterar a forma de avaliar os centros, atribuindo a uns que mal têm publicações a classificação de excelência a e a outros com mais que reconhecido nome internacional uma classificação menor, então perde-se o rumo, não se sabendo mais qual o objetivo da Universidade. O Governo humilhou muitos, fez perder a muitos aquilo que mais gostavam, a sua profissão, e ainda vai ficar mais um ano para terminar de enterrar definitivamente a esperança de muitos mais professores e investigadores. Com os cortes vêm também os despedimentos, com consequências para a qualidade que tinha como base no mérito dos seus professores. A meritocracia sai muito prejudicada e o que prevalece é aquilo que durante muitos anos andou a sondar o ensino superior, o corporativismo por um lado, e o "salve-se quem puder" de outros, eliminando os mais fracos e procurando salvar a pele sem olhar a critérios de mérito. É a promoção dos mais baixos instintos profissionais, que vem de cima. Leitores e bolseiros, os elos mais fracos, são as vítimas nas Humanidades, e os professores convidados, nas Engenharias. Precisamente aqueles que poderiam construir o futuro do ensino superior mais ligado à I&D e à sociedade. Tudo feito por colegas em reuniões departamentais, sem qualquer critério de mérito. O corporativismo vem de jogadas auto-protetoras por parte daqueles que constituem a maioria, normalmente os menos competentes, normalmente instigados por um líder eleito por eles, o que é uma deturpação da democracia e um atentado à meritocracia. O salve-se quem puder é normalmente típico de outros espíritos fracos e muitas vezes incompetentes que se juntam ao grupo da matilha, para não serem eles próprios sacrificados.

sábado, novembro 08, 2014

Questões sobre programas de doutoramento para alunos estrangeiros

Quais são as prioridades da UM? Quem se lembra do programa eleitoral do presente reitor? Do que retive desse programa só me recordo do compromisso em angariar mais alunos do estrangeiro para compensar a falta de alunos nacionais. Isso tem acontecido por exemplo no departamento de engenharia têxtil, talvez ainda o departamento com menos alunos por professor, através de programas conjunto de doutoramento. Mas isso traz prestígio à UM ou só traz receitas para a UM (e para os professores que lecionam neste programa)? Qual o grau de exigência para estes alunos? Será que alguma destas teses, obrigatoriamente com um limite temporal, alguma vez chega a ter reconhecimento internacional através de publicações em revistas "peer reviewed"? Sendo um curso que não conta como horas docência na distribuição de serviço docente, por serem pagos, será que podemos considerar que os parâmetros de avaliação serão diferentes dos doutoramentos que contam para os etis (horas por docente)? Pode-se considerar que é um curso privado dentro de uma Universidade pública? Bom se for como as camas dos privados para os doentes com seguro nos hospitais públicos, estes até têm melhor tratamento que os doentes do serviço nacional de saúde. Será que há aqui uma analogia? São questões para as quais não temos ainda resposta e que aguardaremos até ao fim para ajuizarmos sobre o real valor deste tipo de doutoramento e como contribui para a imagem da UM´.

domingo, outubro 26, 2014

O Novo Presidente do CRUP e a imagem da UM

Nada vai bem no reino de Crato. Confusão nas escolas, na colocação de professores, na falta de funcionários, provocando o caos nas escolas. Mas o que é um facto é que enquanto as atenções se concentram nos problemas do ensino básico e secundário, não se fala no ensino superior nem na I&D, pelouros também deste ministro. Se houver um questionário nacional sobre qual é o  ministro do Ensino Superior e da Investigação científica, aposto que muito poucas pessoas não ligadas ao setor, o saberão. É assim com este ministro todo-poderoso.
Entretanto houve eleições no CRUP e António Cunha ganhou, ficando a UM com um Presidente num órgão de representação muito importante na defesa das Universidades e no diálogo com a tutela. Pode ser que sangue novo faça a diferença, e até parece que foi esse um dos critérios que levou à eleição de A. Cunha, porque de facto ele deve ser o mais novo de entre os reitores. Também já é o reitor mais jovem na UM em muitos anos, o que deu esperança à Academia de mudanças, mas que de facto não são visíveis passados quase 6 anos de mandato. Será que pelo menos no CRUP, António Cunha fará vingar a sua juventude e conseguir recuperar o que o Ensino Superior e a investigação científica perderam desde que este governo tomou posse? Oxalá que sim, embora tenho dúvidas que o consiga, não só por culpa dele, neste caso, mas porque este órgão nunca conseguiu nada do ministro. Só com um novo governo, está visto. Pode ser que perante a adversidade surja o verdadeiro A. Cunha, uma vez que na UM, tendo tudo a favor, desde a maioria no órgão Conselho Geral, o único que poderia vetar a sua atuação, desde que foi eleito e desde que foi re-eleito, não aproveitou esse facto para lançar a UM na senda da excelência, mas pelo contrário afastou-a das outras Universidades portuguesas de referência, Lisboa e Porto, que lideram com grande avanço. Veja-se a quebra de alunos nas Engenharias, que não podendo ser imputado ao reitor, o que é certo é que não conseguiu impedir que a imagem da UM derrapasse nos últimos anos ao ponto de perder a confiança dos candidatos a estes cursos. A UM precisava de ter mais visibilidade, para que os alunos sentinssem vontade de vir. Mas essa visibilidade não foi suficiente e uma das causas será a falta de agentes (professores) que divulguem o nome da UM. Veja-se os docentes que dispensou nas humanidades, quando sob pressão, e que agora com o rejuvenescimento das humanidades em número de alunos, tanta falta fariam. O mesmo com os professores convidados. Todos estes farão falta para recuperarmos o nosso prestígio e a nossa imagem. São pessoas que podiam dar visibilidade à UM, com artigos, prémios e organização de eventos, por exemplo, dada a sua especificidade. Sabemos que não seria possível fazê-lo a professores do quadro seguindo as regras da meritocracia, com o RJIES e o ECDU que temos. Mas que poupasse noutras áreas, como nos subsídios aos SASUM, nas promoções de pessoal dos serviços a diretores, como na informática e no Largo do Paço de uma maneira geral, nas contratações de pessoal não-docente, que supostamente deveriam estar congeladas, nos subsídios à Associação de estudantes, evitando ter que dispensar professores. Claro que estes são setores estratégicos para o apoio que qualquer reitor precisa; quando se trata de contar votos no Conselho Geral, os alunos são importantes e  todos estes órgãos e serviços estão ligados aos alunos. Todos os reitores o fizeram e este não foi exceção.
Outro exemplo, muito importante para as engenharias, foi a ausência de um esforço na componente de apoio ao  empreendedorismo, tão  falado como prioridade, mas que não teve o apoio que merecia. Um exemplo foi a incubação de empresas spin-off. Recentemente a UM saiu da administração do Avepark, parque de Ciência e Tecnologia, o que deixou órfãos de estratégia publicitária, com a qual muito beneficiaria, os centros de I&D e as empresas incubadas nesse parque. Quem ficou com esse benefício foi a Câmara de Guimarães, que assumiu o controlo absoluto do Avepark.
Por isso é de reafirmar que o novo em idade nem sempre é sinónimo de novo em atitude. Que não seja assim no CRUP é o que todos na UM e restantes universidades desejamos. Queremos um Presidente do CRUP mais eficaz que os seus antecessores e já agora um reitor mais atuante na imagem da UM.  A saída recente da responsável por esse pelouro, infelizmente também não augura que as coisas mudem para melhor nesse sentido. A contrapor, a sua eleição para o CRUP lança momentaneamente o nome da UM para a imprensa, duma forma positiva,esperemos que a sua atuação também, perpetuando dessa forma este período efémero de exposição nos media.

sábado, julho 12, 2014

A ciência sem consequência



Têm vindo a ser frequentes as críticas ao financiamento por parte de institutos de I&D dos cortes de financiamento para a investigação fundamental. São de facto lamentáveis os cortes cegos nas bolsas que a FCT fez sem qualquer estratégia alternativa que concedesse financiamento alternativo à ciência, a não ser a promessa dos centros que passaram à segunda fase da avaliação serem financiados.

Mas quem mais se queixa?

 É quem mais recebeu nos últimos anos. Não é quem tem recebido pouco ou nada, que tem sido preterido ano após no financiamento, mas são aqueles que se pode dizer estava mal habituados. Muitos foram beneficiados através de programas especiais de financiamento "por atacado" a laboratórios associados e a institutos de I&D. O Centro de I&D que não estivesse integrado em laboratórios associados, não teria a garantia dos 10 anos de financiamento, mas teria 3 anos.

Claro que os centros de I&D tinham que estar sempre a candidatar-se a financiamento enquanto que os laboratórios associados não precisassem, sendo os seus orçamentos renovados quase automaticamente, não se conhecendo um laboratório associado que não tivesse o seu orçamento aprovado. Claro que nem todos os laboratórios associados eram de I&D fundamental e por não o serem não se queixam porque têm projetos com empresas como alternativa. Os outros, de I&D fundamental, sem outros recursos agora gemem. A questão é se um país como Portugal pode-se dar ao luxo de ter laboratórios de I&D fundamental, sejam institutos ou centros de I&D, totalmente ou quase totalmente financiados pelo Estado, na situação em que o País se encontra. Por muito que custe a estes “opinion makers” da ciência, constantemente convidados para programas sobre ciência, o que fazem pode ser muito interessante, mas o que o país agora precisa não é de “papers”, mas sim de ideias e de quem as ponha em prática. Biólogos às centenas a fazer I&D não vai resolver os problemas do país, por muito interessante que a genética seja. Desde que o genoma humano foi descoberto que não têm parado os cursos "bio" de se multiplicarem, ou de aumentarem s numeros cláusus, Depois vêm os doutoramentos nas áreas "bio" que tornaram o país num oásis para os "cocabichinhos". Não se esqueçam do que os rodeia, que é um país real com necessidades reais e muito mais básicas!  Portugal não é um país com capacidade de absorver as suas experiência, como os países das multinacionais, EUA, Suíça Alemanha, Reino Unido e França. Não, é um país pequeno e sem essa capacidade como é o nosso.

domingo, julho 06, 2014

Cursos sem alunos


Entre as notícias de crianças de famílias que perderam o rendimento mínimo, e que tudo indica permanecerão na pobreza extrema durante anos, a baixa taxa de natalidade e a imigração de famílias jovens que levam os seus filhos com eles para engrossar a juventude de países como Inglaterra, a França e Suiça…fala-se do fecho de cursos com menos de 10 alunos. Estima-se que serão pouco mais de uma dezena nas Universidades. Mas como será daqui a uns anos quando estes jovens, alguns não-nascidos outros sem meios para entrarem na Universidade por estarem na pobreza máxima, e outros que terão a sua vida outros países para onde imigraram, entrariam para a Universidade e que nunca lá chegarão? Não serão só uma dezena de cursos a desaparecer, serão centenas de cursos que desaparecerão.

O governo que não pense que as suas políticas de cortes não tem consequências na baixa do número de jovens em Portugal e que por sua vez um país com menos jovens terá necessariamente consequências não só no PIB mas na produção do saber, nas Universidades e Politécnicos.

Por sua vez, cursos que formam engenheiros para a indústria exportadora, como é o caso de engenharia têxtil, não podem fechar, e é uma posição corajosa sem dúvida, manter o curso a funcionar. O reitor já anunciou que é um curso estratégico para a região norte e para o país. O problema é que um curso com menos de 10 alunos torna-se um curso difícil de atingir os objetivos a que se propõe por não ter massa crítica. O intercâmbio entre os alunos, principalmente agora com Bolonha em que os projetos integrados são uma componente muito relevante do curso. Os alunos que entram para o curso de engenharia têxtil por exemplo vêm dos cursos CET, o que implica que com a alteração que o governo fez no ensino profissional é muito provável que o curso desça para números muito abaixo dos 10 tornando o ensino ainda mais problemático. Por isso a decisão de manter o curso aberto é sem dúvida corajosa.

domingo, setembro 08, 2013

O desaparecimento forçado dos cursos têxteis e as responsabilidades do CG na sua remodelação

Mais um ano de muito poucos alunos nesta primeira fase de colocações no curso de Engenharia Têxtil. Nada de extraordinário nisto, a não ser o facto de ser agora um curso diurno, que se pensava seria a solução ou parte dela, para aumentar o número de alunos significativamente. Penso que é altura de definitivamente pensar no fim do curso, por muito que nos custe a todos que ensinaram durante anos neste curso. Não é só inviável do ponto de vista económico mas também não é eficiente. Outros alunos entrarão por outras vias, alguns na segunda fase, outros vindos dos cursos tecnológicos com entrada direta, como tem acontecido nos últimos anos, mas o facto é que mesmo assim não serão suficientes e muitos destes alunos trabalham e prefeririam o curso pós-laboral que em princípio não funcionará por ter tido zero alunos nesta primeira fase. Há outras alternativas para o ensino de engenharia têxtil e particularmente para o ensino de química têxtil, uma área de extrema importância para a indústria de acabamentos, a que tem mais valor acrescentado no sector. Já existe um Mestrado em Química Têxtil. Poderia haver também um Mestrado em Engenharia Têxtil, vocacionado mais para a engenharia mecânica e de gestão industrial, podendo ser uma especialização para os alunos saídos destes cursos e engenharia que se interessavam ou conseguissem emprego na indústria têxtil, que se encontra neste momento de boa saúde, muito devido ao aumento das exportações.
O problema da indústria têxtil foi precisamente o seu divórcio das outras indústrias a montante, a de metalomecânica e a de produtos químicos têxteis. Assim acontece no ensino da UM entre os cursos correspondentes, o de metalomecânica e o de química. Num passado recente havia um curso de química têxtil que o departamento de química fechou. Embora os números rondassem os 10 a 15 alunos. Todos os alunos do último ano em que este curso funcionou encontraram emprego. Nos anos anteriores, embora não tendo dados sobre o emprego, tenho a noção que também não tiveram grandes problemas em arranjar emprego uma vez que me cruzo com ex-alunos desse curso em visitas a empresas de acabamentos e em redes sociais .  A componente de química junto com a de têxtil assegura a sua competência para lugares chave nas empresas de acabamentos têxteis. Há atitudes de departamentos, que por razões de interesses próprios, prejudicam o serviço que a UM deveria ter para com a sociedade e neste caso em particular para com a indústria preponderante envolvendo o pólo de Azurém, Guimarães, e Barcelos, que é a indústria têxtil. Não se entende como a autonomia dos departamentos, como o de Química neste caso, e a autonomia da Escolas, a de Ciências, chegue a este ponto, sem que a Reitoria tenha atuado para defender o interesse da região e do País. Haverá outros casos em que cursos desaparecem, ou desaparecerão, com a crise de alunos a intensificar-se sem que a Universidade possa impedir. Segundo o RJIES, criar cursos depende agora do Conselho Geral e do reitor. E encerrar cursos ou alterá-los de forma a que para todos os efeitos desapareçam, como aconteceu com o curso de Química-opção materiais têxteis? Também ! Afinal com a extinção do Conselho Académico pelo RJIES não será o Conselho Geral senão que deve analisar a extinção ou alteração de cursos? E não deve criar comissões para sugerir alternativas como neste caso do curso de Engenharia Têxtil ou de Química Têxtil em que vários departamentos e Escolas terão que estar forçosamente envolvidas? Há ainda o curso de Design e Marketing Têxtil, o doutoramento, que funciona há anos sem a colaboração da Escola de Economia na componente de Marketing. Como foi isto possível? O resultado tem sido o de doutorados com teses que não têm a chancela de verdadeiros especialistas nessa área e talvez também por isso, já causaram dissabores à UM em casos mediáticos de plágio.
Alterações que descaracterizam os cursos devem ser cuidadosamente avaliadas e ramos ou opções devem ser escolhas logo de início para não haver descaracterização !Truncar o ramo têxtil e empurrando a sua escolha para o meio do curso, quando antes era obrigatório escolher o ramo têxtil,(ou polímeros) no ato de inscrição, deu aos professores de química a possibilidade de de desviar os alunos para um opção introduzida de química científica (?). O resultado foram zero alunos nos últimos anos nas opções têxteis. O que fizeram os responsáveis do departamento na altura? Aceitaram estas condições e concentraram-se no curso de Design têxtil, como se este curso compensasse esta perda em química têxtil. Parece que há agora uma tentativa tímida de recuperar algumas opções têxteis no remodelado curso de química, uma vez que o curso não teve o sucesso que o departamento esperava. Esperemos que esta tentativa não seja mais um "embuste", palavra que tem sido usada ultimamente para quem nos quer atirar poeira para os olhos, e que o Conselho Geral faça o seu trabalho na defesa dos interesses duma indústria tão importante para a região e para o País.

quarta-feira, janeiro 09, 2013

Horários pós-laborais, quem os quer?


Quem dá aulas práticas em cursos pós-laborais em Azurém, como é o meu caso, depara-se com situações que muitas vezes rondam o caricato. Já não basta não ter as mesmas condições que de dia, muitas vezes pela ausência do técnico, que nem sempre está disposto a trabalhar à noite (até às dez), há também a questão dos acessos a partir de uma determinada hora. Imagine-se que deixa o computador no gabinete porque não o necessita para a aula prática e por volta das 9:30 vai buscá-lo. Não recomendo. Ontem fiz exatamente isso e quando estava para voltar para o laboratório estavam todas as portas de acesso ao edifício B, onde fica o gabinete, encerradas. Como nunca telefonei para o segurança não sabia o número de telefone. Por sorte a técnica ainda estava no laboratório pelo que lhe pedi que telefonasse. O mais caricato é que o segurança não queria vir abrir a porta e a técnica teve que ir ao seu gabinete insistir. Finalmente veio, abriu a porta e resmungou qualquer coisa como "o meu colega é que não queria..". Ainda lhe disse se as aulas são até às 10:00 horas da noite então todos os acessos devem estar abertos e não fechá-los às 9:30 horas como aconteceu. São estes e outros contratempos que fazem com que os professores não queiram dar aulas pós-laborais. Desconfio que só dá essas aulas quem tem esse sentido da responsabilidade ,,,e quem não se pode esquivar.