sábado, março 24, 2018

Entrada e progressão para doutoramento

Parece que quanto mais difícil é a progressão na carreira dos professores, mais fácil é a progressão dos alunos (alguns) para o grau de doutoramento...È o sinal dos tempos. A progressão na carreira depende do esforço dos professores em reclamarem aquilo a que têm direito, o que não tem acontecido. A progressão para doutoramento parece depender só de quem gere os programas doutorais, sem qualquer outro controlo. Decidem sobre aceitação de candidatos mesmo que seja algo que será obviamente irregular, ainda que legal. Basta que os estatutos dos programas doutorais sejam tão abrangentes que aceitam qualquer especialidade como condição de entrada, sem haver necessidade de aval superior, ou por parte da Escola a que pertence o centro, ou mesmo por parte do Conselho de Escola ou do Conselho Geral (que aprova doutoramentos). Assim, temos doutoramentos para todos, sem necessidade de disciplinas nucleares que são também designadas por específicas no caso do acesso à Universidade. No caso que conheço, porque apareceram na minha UC há umas semanas, um grupo de 4 alunos com formação em gestão e outros em design, afirmaram que estavam ali porque a UC iria fazer parte do seu programa doutoral, Quando questionados qual o programa doutoral, qual não foi o meu espanto quando responderam que era em Engenharia Têxtil. Ainda perguntei se não seria em Design de Moda, que existe também no Centro de Ciência e Tecnologia Têxtil, 2C2T, e percebi que coloquei o dedo na ferida, ao avisá-los que teriam que estudar bastante uma vez que não teriam as bases para um doutoramento em Engenharia. Não mais frequentaram a minha UC, de Acabamentos Funcionais, tendo uma das alunas(!?) me informado por e-mail que afinal esta UC não fazia parte do currículo do programa doutoral (?!). Parece que os alunos é que determinam o que necessitam de frequentar...Tendo-me certificado junto do Diretor do Centro 2C2T que de facto é uma UC nuclear do programa doutoral, pergunto: que esquema é este? Um aluno que queira entrar na licenciatura em engenharia têxtil precisa de matemática e química ou física e para doutoramento, não precisa? É de facto uma situação singular e altamente preocupante. Vamos ter doutoramentos com uma designação que não vai corresponder ao que realmente se estudou e investigou, uma vez que sem as bases científicas não será possível fazer investigação a nível de doutoramento. Talvez, na realidade estes alunos façam um doutoramento em Design de Moda, afinal só que terá outra designação. Será que há ainda a possibilidade em Centros de I&D heterogéneos, como é o caso do 2C2T de ter um júri de Design de Moda a aprovar um doutoramento em Engenharia Têxtil? Fazendo parte do mesmo centro professores de ambas as especialidades, possível, é. Vamos ver na altura que júris serão propostos. Como já tivemos um caso no passado de plágio em doutoramentos de Design e Marketing neste Centro, muito divulgado nos media de então, penso que se devia ter mais cuidado para não colocar de novo o nome do Centro nos media pelas piores razões, mas parece que não se aprende com o passado, cometendo os responsáveis do Centro 2C2T, nomeadamente a Comissão do curso do programa doutoral em engenharia têxtil, erros de "casting" grosseiros, em programas tão importantes para o nível científico do Centro e do Departamento, como os programas doutorais. Suspeito que há outros casos como este noutros centros de I&D da UM, e compete aos membros desses centros de os denunciar, a bem da justiça académica. Não é justo para outros que tanto trabalho tiveram a aceder a um doutoramento numa área que ambicionam frequentar, especializando-se de acordo com os requisitos para o fazer, verem outros entrarem com base noutros critérios de maior tolerância, ou mesmo facilitismo em alguns casos.Também será difícil os orientadores destas teses poderem ter um a produção científica relevante com esta "matéria prima", mas esse será outro problema que persiste e terá que ser objeto de outro tipo de análise mais aprofundada, sob pena do Centro vir a baixar e muito a sua classificação nas próximas avaliações pela FCT.

domingo, março 11, 2018

Progressão na carreira- professores manifestam-se na rede UM

Finalmente alguns professores universitários reagem ao atraso do pagamento das progressões na carreira, a que têm (teriam?) direito por terem todos sido sujeios a uma avaliação pelo menos nos últimos 10 anos ( já havia avaliação em algumas Escolas/Faculdades antes disso). Neste caso, na UM fizeram-no através rede local, UM-net. É espelhada nestes e-mails a frustração pelo facto dos sindicatos do ensino superior não estarem a fazer o suficiente para acautelar este direito dos professores universitários, que tiveram uma avaliação até mais exigente do que os funcionários, e mais objetiva, com pontuações rigorosas para cada componente do currículo. Tomando como exemplo as escolas de engenharia, no caso da componente científica, a avaliação é baseada em publicações registadas nas bases de dados da Web of Science ou Scopus o que garante o reconhecimento a nível internacional da sua validade. Sugerem estes professores que se faça uma greve à submissão da candidaturas à avaliação deste triénio, que será feita nos próximos dois meses. Isto é, do meu ponto de vista, algo que não faz sentido, uma vez quem se prejudica são os próprios, porque seria previsível que a maioria dos professores submetiriam as suas candidaturas irrespetivamente de alguns em protesto as submetesse ou não. Não teria impacto mediático nem seria producente. Outra ideia seria, um pouco como os professores do ensino secundário fizeram, convocatórias nas redes sociais (facebook, etc) para manifestações à frente do ministério em ocasiões quando o ministro se desloca às universidades (o dia da universidade teria sido uma boa ocasião). Quanto à via sindical, também penso que não é solução, ou pelo menos que não seja a única via. O sindicato poderia de facto ser o meio de reivindicação do que é um direito dos professores Universitários, mas talvez pelas suas estruturas serem dominados por professores de politécnicos e por investigadores, preocupam-se neste momento mais com a integração de precários do que com os professore universitários. Seja qual for a razão, ao longo das últimas décadas nunca defenderam os interesses dos professores universitários, pelo menos que tivesse tido alguma consequência. Também é de estranhar a posição do CRUP nesta matéria. A ser verdade, a proposta do CRUP ou alguns reitores, de atribuirem 1 ponto por ano como classificação geral, sem tomar em consideração todo o trabalho feito nos últimos anos pelos professores tendo e vista a sua avaliação. Talvez esta proposta de nivelar por baixo, é a constatação que as avaliações das várias universidades não tiveram em conta o sistema de quotas, como vem referido em artigo do Público. Os responsáveis das instituições, tais como os sindicatos, lavam daí as suas mãos, deixando aos próprios a defesa dos seus interesses. Não é a primeira vez que isto acontece no ensino universitário.