domingo, julho 17, 2016

Ministro tenta travar praxes

Na imprensa desta semana vem a notícia que o Ministro da Educação afirmou em audiência parlamentar que vai escrever a todos os reitores para que proíbam as praxes. Foi uma medida corajosa e que já devia há muito ter sido tomada apor anteriores ministros que o antecederam. Tudo o que o ministro disse sobre as praxes já foi dito e redito por muitos nomes conhecidos da política e da sociedade. Os jovens que morreram na praia do Meco ou no muro de Braga, são a consequência mais grave das praxes. Há ainda o jovem de Famalicão. Todos estes trágicos incidentes não tiveram culpados. Não foi possível juntar provas. Em alguns casos, como o da praia do Meco, uma vez que só muito mais tarde, depois da casa ser limpa, é que as autoridades revistaram a casa. Não vou aqui servir de inspetor para procurar provas, mas que ninguém consegue tirar da minha cabeça, assim como acontece com a maior parte dos que souberam dos pormenores que antecederam a tragédia, que aquilo foi consequência de uma praxe, em que o "dux" foi interveniente na tragédia, isso não conseguem. Nem chegou a ir a tribunal acusado de homicídio involuntário, por negligência na forma como conduziu a praxe, aparentemente ordenando que os praxados estivessem de costas para o mar. É a justiça que temos. No caso do rapaz de Famalicão, chegou-se ao cúmulo da mão ser acusada por um dos membros da tuna envolvida no trágico incidente, tê-la acusado de difamação! Como é possível, a praxe estar de tal maneira aceite pela sociedade, que nem mortes ocorridas não fazem todo um povo revoltar-se? Já aqui exprimi que é uma espécie de doença da nossa sociedade que tem medo do poder oculto que está por detrás dos praxistas, algum desse poder chegando à igreja, sistema judicial e obviamente órgãos de poder ou influentes na Universidade, estes protegendo as ações dos praxistas, ou simplesmente pactuando com elas. O ministro chamou-lhes "fascizantes" às praxes. É uma afirmação que nos faz pensar. Afinal, independentemente dos nomes que se lhes atribuem mais ou menos honrosos, tais como a integração de estudantes na vida académica, são também atos de submissão perpetrados por “bullies” que não têm outro objetivo para além de humilhar os praxados o que por si só justifica a afirmação proferida pelo ministro. Não haverá outra forma mais digna de integrar os caloiros? Porque não promovem o convívio e a receção ao caloiro, com festa e alegria, sem a componente da praxe? Da forma como o fazem agora, com a praxe, parece-me mais uma barreira que uma integração. No que respeita à UM, pareceu-me que a resposta do reitor da UM foi um pouco ténue, falando vagamente em valores humanistas e liberdade para todos. Isto o que é? Que tipo de resposta é esta? Não se entende. Um reitor que proibiu há algum tempo atrás praxes no campus, mas que as deixa praticar tais atos à vista de todos nas imediações, é o mesmo que fazer nada. Aliás as praxes continuam dentro do campus, embora transvasem para as imediações. O ministro não pode ditar regras às universidades devido à autonomia que foi concedida às universidades há muito tempo. Mas se a autonomia serve para evitar atuar, nomeadamente nestes casos gritantes de injustiça e prepotência por parte das Associações dos Estudantes e duma elite dentro da Associação que dirige as praxes, quase como uma estrutura autónoma, atuando impunemente perante os mais fracos daqueles que supostamente representam, os estudantes, então preferiria que não houvesse autonomia. O reitor não pode ir a votos de novo, mas apoiará um sucessor. Nessa altura será necessário ser claro na sua atitude que até agora tem sido ambígua no que respeita à praxe, para que quem o suceda, e a lista que o apoiará, seja também sujeito ao escrutínio da academia neste ponto tão relevante para a vida académica.