domingo, fevereiro 25, 2018

Os dias da Universidade

Naquele que é o órgão oficial das notícias da UM, "O que os media dizem sobre nós", pode-se ler sobre o discurso do reitor no dia de aniversário da UM a seguinte frase: Reconhecendo o papel ativo das universidades no desenvolvimento do país, o reitor salientou que são depois negados os instrumentos necessários (sobretudo dinheiro) para a prossecução desse fim. "A Universidade do Minho tem práticas de gestão rigorosa, fiáveis e transparentes", não podendo, por isso, ser vista "com desconfiança". É intrigante esta mensagem que o novo reitor decidiu enviar ao ministério da tutela. Serão notícias recentes sobre os ajustes diretos que o fizeram transmitir esta mensagem ou seria só o facto de ao passar a Fundação, a Universidade terá mais liberdade do que antes na afetação de verbas e o que se pretende dizer é que não há que ter medo dessa passagem? Só o reitor saberá o que quis dizer, mas que se presta a várias interpretações, é aparente. O dia da Universidade tem sido pródigo em queixas e pedidos aos ministros. Era altura do dia da Universidade ser mais de comemoração da Universidade, do que se fez no ano que passou desde o é e menos de mensagens a ministros que já no passado com outros reitores soam a queixas. Os ministros devem saber que a UM tem relevância a nível regional e nacional e deve ser tratada como as outras, nem mais nem menos. Se há outras questões conjunturais, tais como mediáticas, que têm a ver com questões de atuação na gestão de verbas, que é só da responsabilidade dos órgãos que fazem essa gestão, e em última análise da reitoria, não da responsabilidade dos professores e dos investigadores que até têm contribuído para uma boa imagem da UM no que respeita à sua atividade científica e de relacionamento com as empresas e a sociedade em geral, não se deve penalizar os professores e investigadores com corte de verbas, mas sim exigir dos órgãos responsáveis por estes atos que se retratem. Em última análise, devia ser a própria Universidade a fazê-lo e arrumar a casa, e não fazer-se de virgem ofendida.

terça-feira, fevereiro 20, 2018

Uma Auto-estrada para os Mestrados e Doutoramentos

O Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior apresentou o que pode ser considerada uma revolução na investigação do ensino superior, com base num estudo da OCDE, ao instituir doutoramentos nos politécnicos, entre outras medidas. Fê-lo à revelia do CRUP, o conselho de reitores das universidades, embora tivesse segundo afirma tido discussões sobre o assunto com este órgão. Não se entende esta pressa e esta decisão unilateral, com a oposição de um órgão que representa as universidades, seja esta tomada de posição boa ou má. Claro que foi logo aplaudida pelos politécnicos, e pelo sindicato do ensino superior onde tanto o presidente como a maioria dos militantes são professores de politécnicos. Não quero com isto dizer que não seja uma medida positiva, desde que com as devidas cautelas, que o ministro afirma ser condição para esta medida ser autorizada nos politécnicos e agora alargada às universidades: que tenham capacidade científica na área para poderem ser candidatos a orientarem doutoramentos. Faz sentido. E concretiza a nova medida com o mínimo de classificação dos centros de investigação de Muito Bom.
O problema não é só a capacidade científica dos professores. É também a dos candidatos. Para encherem os seus cursos, não será que as universidades estão a facilitar os acessos aso doutoramentos? Isso será mais evidente com as admissões de alunos estrangeiros inseridos em protocolos entre universidades, como aqui já foi referido.  Mas não só. Não é preciso ir fora de portas para encontrarmos situações caricatas de alunos sem as bases para frequentarem uma licenciatura por não terem as disciplinas específicas, frequentarem Mestrados e Doutoramentos na mesma área, sem essas mesmas disciplinas específicas. Cada colega que olha para o seu próprio centro e departamento e descobrirá casos destes.
Estes Mestres e doutores, são desta forma convertidos em engenheiros, por exemplo, sem o poderem ser na licenciatura.
Com o fim dos Mestrados Integrados, com o argumento da aplicação de Bolonha, outra das medidas anunciadas, será mais um incentivo para isso acontecer. Licenciados sem as matemáticas passsarão a engenheiros, que não vão conseguir fazer projetos de engenharia por não terem as bases. Passarão a doutores, sem terem as bases para poderem trabalhar na indústria. Ficarão mais longe de poderem ser integrados na indústria e longe de poderem participar na Inovação tão propalada que não vai acontecer.