domingo, março 31, 2013

A ciência, a gestão e as aulas

Vemos todos os dias nas Universidades alguns exemplos de atitudes entre os professores, que são de louvar. Vemos também exemplos de pessoas que se acomodam e que nos desiludem. Realçar os que são de louvar? Não há uma resposta fácil. Há a ideia que os casos de sucesso são um incentivo para os outros, mas serão? O problema é que nas Universidades há dois mundos: o da ciência e o da gestão. O primeiro é importante para os docentes subirem na carreira e o segundo é importante para a instituição e há quem defenda que serve também para se subir na carreira sem necessidade do primeiro (ciência). Aliás não há tempo para se cumprir os objectivos de um e de outro ao mesmo tempo. Mas os dois dão trabalho e se forem feitos com dedicação e derem resultados, são ambos recomendáveis. Quais destes casos são exemplos a seguir pelos mais novos?
Será para mim sempre um mistério que pessoas competentes em ciência se metem na gestão e que pessoas assumem muitas vezes cargos para os quais não têm o mínimo jeito ou afinidade. Pior ainda, quando pessoas que nem têm uma coisa nem outra, ou seja, que nunca fizeram ciência na vida e não têm jeito para a gestão, organizam a vida dos outros que fazem ciência.
Será que sou só eu que vejo a Universidade assim ou há por aí outros, têm uma visão diferente? Esses serão eventualmente aqueles que dão as suas aulas, não fazendo nem ciência nem gestão, e a sua atitude é a do comodismo, que resulta numa atitude amorfa sem pretensões nem em subir na carreira nem em gerir seja o que for. Dão as suas aulas e convencem-se que estão a cumprir o seu dever. Quais professores do secundário, dão as suas aulas, e o que fazem durante o resto do seu tempo, é um mistério. São esses, a maioria, que não põem os pés na Universidade em tempo de férias letivas, como foi patente nestas férias da Páscoa, o que não é sequer notado, ou é notado mas não é censurado nem controlado pelos seus superiores. Mas como a estratégia da UM centra-se à volta dos alunos, da burocracia em redor das aulas, com tudo e mais alguma coisa a ser preenchido pelos professores nas várias plataformas, esta faixa de professores "profissionais" entretêm-se com estas obrigações a atestar a sua dedicação, mas quanto a serem avaliados "no terreno" por outros mais experientes , isso não existe, podendo chegar ao ponto de tudo o que preenchem ser fictício. Ainda os professores do secundário vão ser avaliados primeiro na sala de aula que os Universitários, apesar de terem protestado tanto contra essa avaliação !

sábado, março 23, 2013

Competências e consequências nos Cursos tecnológicos da UM



A criação de competências nos vários cursos está definida pelos RAs, resultados de aprendizagem desde o processo de Bolonha. É um exercício que os professores fazem automaticamente. Sabem os professores que o fazem se por exemplo o departamento tem recursos para cumprir tais objetivos? Claro que não. Se fizessem um estudo sério, verificariam que em muitos casos não existem nem recursos humanos nem materiais para cumprir como o que está escrito nos RAs. Os departamentos mais tecnológicos por força dos cortes nos últimos anos, têm os equipamentos envelhecidos ou mesmo parados. Os próprios centros de investigação, que podiam ajudar, ou não o fazem porque os equipamentos estão alocados aos investigadores que se candidataram a projetos de investigação ou porque os projetos não financiam normalmente equipamentos. Há ainda os bravos diretores de departamentos de áreas tecnológicas que promovem os seus cursos como conferindo competências para os seus alunos contribuírem para uma indústria de futuro, quando os alunos trabalham com máquinas do passado e muitos passaram pelos cursos sem ter tido uma única aula prática da sua especialidade.

Estamos numa nova vertente do ensino, constituída maioritariamente por teoria, muita dela depois avaliada através de mini-dissertações, baseadas em informações que se obtêm através da net. A maioria dos alunos, e alguns professores, já não recorre às publicações da especialidade, mas sim a motores de busca, que só abordam generalidades.

Assim vão as competências atribuídas a muitos cursos tecnológicos. Ou o governo investe nas infraestruturas das Universidade ou bem pode dizer adeus às competências dos futuros engenheiros, químicos, físicos, médicos, farmacêuticos entre outros.

Há ainda a considerar os doutoramentos. Hoje não é difícil tirar um doutoramento em engenharia. Pode-se entrar com a nota dez no programa doutoral e a partir daí é quase tudo de nível de Mestrado, na maior parte das vezes. Ninguém controla e os júris são escolhidos a dedo, não vá haver azar. Quem decide é um órgão que é basicamente uma comissão de curso escolhida pelo diretor do centro de investigação. Transformam os doutoramentos em cursos! Talvez fosse mais honesto chamá-los doutoramentos via ensino, porque os de investigação não se encaixam em dois anos de investigação que lhes são destinados. Que preparação ou competência um doutoramento destes dá ao aluno? Será que dá para entrar na Universidade como Professor Auxiliar? É este o corpo docente do futuro?

Bom, mas mudando de assunto para responder a um colega que afirma que um ministro á frente de um ministério onde ocorreram irregularidades, não por sua culpa direta, não se deve demitir, isto a propósito da demissão de Jorge Coelho quando da queda da ponte de Entre-os-Rios Ora essa não é a ideia geral que subsiste entre os eleitores e quando a honra está em causa, que subsiste entre os próprios responsáveis pelos ministérios. Assim é em países desenvolvidos como o Japão, o Reino Unido e os próprios EUA. Se um ministro não detetou um problema grave no seu ministério e considera que não o fez ou por distração ou por impossibilidade ou mesmo incapacidade, considero que o mais correto é demitir-se. Será diferente para os ministros ou primeiro-ministros que abandonam o cargo para assumirem outros cargos mais vantajosos do ponto de vista pessoal e financeiro. José Barroso e António Guterres são disso exemplos. Será que no nosso universo a demissão não seria uma via honrada? Há centros de investigação que se afundam lentamente há anos e no entanto continua tudo como se nada fosse. Não há renovação do pessoal dirigente também não há renovação de mentalidades. Aqui a demissão seria mais por incapacidade embora em muitos casos haja responsabilidades diretas. Há centros de engenharia que enveredaram há anos por conceder doutoramentos em áreas onde não têm competências, como seja o Marketing. Houve já consequências gravosas tais como plágio que envergonhou a Universidade e em particular o Centro e departamento em causa. Houve demissões? Não. Talvez seja altura de as haver, pois são os mesmos que são responsáveis pela área de Marketing e o Centro e Departamento em causa continuam a promover este tipo de doutoramento sem ter em atenção o passado.

 

sábado, março 16, 2013

As contradições do sistema eleitoral das Universidades


As eleições para o Conselho Geral já foram e ficou tudo como dantes. A Universidade não se renova, continua. Não porque a maioria esteja satisfeita com a equipa atual, mas talvez porque não há alternativas que tivessem sido reconhecidas como tal. Há que reconhecê-lo. Um empate técnico no corpo dos professores e investigadores é disso um sintoma. Tanto assim é que nenhuma das listas alternativas tinha um nome para reitor. Embora não tenha sido esse o objetivo das eleições, será esse o corolário principal do resultado das eleições, ou não fosse o reitor com a maioria do CG do seu lado, o absoluto senhor das suas decisões. Uma minoria no Conselho Geral não será impedimento de qualquer decisão por parte do reitor, será mais uma voz, só isso. Penso que isso é claro para todos. O mais caricato é que a maioria é decidida pelos estudantes. Devia haver no regulamento uma norma que impedisse isso de acontecer. Afinal não são os Professores e os Investigadores aqueles que decidem sobre o ensino e a investigação, os pilares da instituição universitária? Os alunos, devem ter um dizer nestes assuntos mas não deviam ser o fiel da balança como estão de novo a ser (já o foram nas últimas eleições). Para além do facto de a votação ter tido mais de 90% de abstenção entre os estudantes, não sendo por isso representativa desse corpo, á ainda a questão da própria Associação estar por detrás da lista vencedora. Pode-se dizer que houve uma intenção concertada por parte da Associação em ter uma posição importante no CG e daí tirar dividendos. Por outro lado teremos os cooptados também com um peso importante nas decisões, talvez demasiado importante para quem tem outras prioridades na sua vida profissional.

Mas o pior não será esta situação de continuidade no topo. O pior é a continuidade nas Escolas e nas sub-unidades orgânicas, Centros e Departamentos, duma política de imobilidade, e isso não se resolve com eleições, uma vez que os protagonistas estão demasiado próximo de eleitores, havendo um jogo de interesses contínuo entre eleitores e eleitos.