domingo, abril 27, 2014

O que pagamos e recebemos é mais justo do que há 30 anos atrás?

José Afonso dizia numa das suas canções de intervenção, os Vampiros, que "eles comem tudo". Pois hoje com  evolução do País cada vez mais capitalista e de livre concorrência, podemos dizer que eles "vendem tudo". Vem isto a propósito de vários sinais que têm surgido e divulgados nos média, tais como as privatizações em curso das empresas de água e resíduos urbanos. Há uma guerra em Lisboa entre a autarquia e o governo para evitar a privatização dos resíduos de Lisboa. Todos estão conscientes que os resíduos são um negócio apetecível, uma vez que os pobres contribuintes, ou melhor, munícipes, não têm outro remédio senão pagar, sob pena e serem levados a tribunal. Depois há as empresas municipais que conseguem sempre ter preços mais elevados do que quando o serviço pertencia à Câmara.Temos exemplos perto de casa, como o preço dos serviços da empresa municipal AGERE formada há uns anos. Os preços dispararam. Nós pagamos mais de 20 euros todos os meses, quando há municípios que pagam menos de 5 euros aqui muito perto, como por exemplo Terras de Bouro. Porquê? Será porque uma é para pagar os empregos que foram aninhados nessa empresa aquando da sua formação e noutro caso é a própria Câmara a tratar do assunto, não sendo necessário neste caso pagar ordenados extra de extra funcionários? Antes queria a Câmara como era há trinta anos atrás a cobrar.
Depois temos o que recebemos como Professores nas Universidades. Os custos com os ordenados dizem-nos que são 90% do orçamento das Universidades ou por aí. Mas ordenados de quem e de quê? Em tempos, no início da UM em 1975/76 havia a discussão sobre o subsídio de investigação que foi considerado pouco mais tarde, se não estou enganado, como o subsídio de exclusividade. Era separado do ordenado. Mais tarde foi incluído como fazendo parte do ordenado, numa daquelas medidas que antecedem eleições, quanto a mim erradamente, uma vez que quem faz investigação deve receber por isso separadamente. Imaginem quanto se pouparia se voltássemos ao tempo do subsídio de investigação ser pago a quem fazia investigação? É caso para pensar...Não que eu defenda fazer investigação só com o intuito de publicar, ser promovido em concurso por o ter feito extensivamente, e receber extra por isso. Não tenho a certeza que seja este tão pouco o melhor caminho. Mas, por exemplo, entre pagar ordenados a Professores Auxiliares com nomeação definitiva, Professores Associados que estão satisfeitos ou conformados com a sua posição na carreira e não fazem investigação e Catedráticos que chegando ao topo da carreira não terão incentivo para fazer investigação, ou pagar um subsídio àqueles que realmente fazem investigação fundamental, eu optaria por esta última hipótese como a melhor alternativa possível. Como membro da Escola de Engenharia  e por teimosia de querer de facto fazer algo de útil à sociedade, defendo mais a investigação com alguma consequência para parte dessa sociedade, nomeadamente a indústria, mas como isso é quase impossível com os obstáculos existentes, sejam causados pelo ECDU ou pelos próprios Estatutos da UM, ao menos que se faça uma investigação que possa dar alguma formação científica aos professores que suplante em muito a dos alunos que eles vão ensinar, para o bem da qualidade do ensino universitário, e que essa investigação seja compensada.


domingo, abril 20, 2014

O 25 Abril,Braga, e Páscoa, uma semana de contradições



Esta semana comemora-se a Páscoa mas também o 25 de Abril de 1974. O dia da liberdade. O dia em que uma ditadura caduca caiu. O dia em que muitos caciques de regiões do interior tremeram e mais tarde em eleições livres também caíram. Em 1974 abriu-se um novo ciclo em que o país saiu da sua ignorância e se iniciou uma abertura o mundo exterior e um processo de alfabetização como nunca se vira na Europa. Esse processo teve grandes dificuldades de se afirmar nas aldeias do interior, nomeadamente a norte do Tejo, devido aos caciques e à igreja. Havia uma propaganda de sinal oposto ao da revolução que tal como o regime deposto, apelidava de comunista a todos os que queriam ensinar o povo analfabeto. A igreja desses locais isolados era a aliada. Felizmente tudo isso mudou e a própria igreja de então mudou muito. Nas cidades já tinha mudado sendo o bispo do Porto um exemplo disso. No entanto havia uma cidade que não mudava: Braga. Nem com a vinda da Universidade mudou assim tanto. Continuava a associação entre a igreja local e os grupos de extrema-direita que ainda perduravam na sociedade bracarense. O MDLP, um movimento que se tornou num grupo terrorista, que perseguia partidos de esquerda, organizava incêndios de sedes do partido comunista, como aliás aconteceu em Braga, armado com armas e bombas e que era acusado de ter morto o padre Max, tinha o seu refúgio em Braga, em casas de simpatizantes. O cónego Melo era acusado de pactuar com tais criminosos. No entanto, era venerado pela sociedade bracarense ao ponto de estar em todas as atividades mais relevantes da cidade, desde o futebol à universidade. Tinha como amigos figuras como o Presidente da Câmara, que pela sua filiação partidária os tornava "odd partners"("estranhos parceiros"). Talvez não tão estranhos, uma vez Mesquita Machado, que é a quem me refiro, o seu interesse seriam os votos da população maioritariamente católica e obediente à influência do cónego, e desta forma sabia que garantia mais uns milhares de votos nas eleições. Assim se manteve Mesquita Machado durante estes anos todos desde a revolução até atingir o limite de mandatos no ano passado, agradando à igreja local e ao povo das aldeias, acompanhando o cónego tanto no Sporting clube de Braga como nas atividades da vida da cidade, tais como inaugurações de obras de encher o olho ao povo, até à morte do cónego, não deixando no entanto de apadrinhar a estátua que se ergueu num local bem visível da cidade.
Outra contradição desta semana é a tolerância de ponto que a Universidade, leia-se o reitor, decidiu dar aos seus funcionários na segunda feira de Páscoa. Não faz sentido. Não se deu tolerância no carnaval, quando era essa a tradição da universidade e do país. Não se deu aos funcionários tolerância de ponto quando a UM fez 40 anos embora se tivesse dado essa tolerância aos professores. Mas na segunda feira de Páscoa dá-se tolerância. É tradição em algumas vilas e aldeias do Minho, tais como Terras do Bouro, que a cruz seja levada às casas dos crentes na segunda de Páscoa e não ao domingo, como acontece por exemplo em Braga. Também há a questão das tradições populares e esta também poderia ser considerada uma delas, mas sendo tão localizada como o é, temos o caso da UM querer mesmo ser uma universidade regional? Não o creio.

sábado, abril 12, 2014

Consórcio de Universidades a norte

As universidades do norte vão formar um consórcio para terem massa crítica nas canndidaturas a programas europeus, segundo notícias vindas a público esta semana. Na verdade a união devia ser mais ampla, mas já é um começo. Por exemplo na otimização de recursos, com a utilização de equipamentos nas áreas das ciências e das engenharias. mas o que se adivinha é que com os alunos a deixarem de garantir a existência de todos os cursos, seria útil escolher os melhores cursos e encaminhar os alunos para esses cursos. Só assim temos verdadeiramente um nivelamento das Universidades, porque de outra maneira haverá sempre cursos duplicados e o das Universidades do Minho e ainda mais os da Universidade de Trás os Montes ficarão sempre para segunda escolha em relação aos da Universidade do Porto. Não porque os da Universidade do Porto são melhores, mas devido à sua localização privilegiada, junto à costa e geograficamente mais perto de uma maior população estudantil mais preparada para entrar na Universidade. Por estas razões é pouco provável que a Universidade do Porto vá mais longe do que aquilo a que se propõe, otimizar as suas candidaturas a projetos europeus, aumentando a massa crítica. Por isso, não se entusiasmem demasiado com consórcios, porque as Universidades competem umas com as outras na captação de alunos e tudo o resto é folclore. E infelizmente para a UM, não será o Vira.