quinta-feira, outubro 25, 2012

Trabalhar para aquecer

O Reitor veio dizer que é necessário cortar no aquecimento no inverno devido a cortes no orçamento da UM. O reitor do Instituto Superior Tècnico prefere fechar por períodos de tempo as instalações. E fechar de vez? Cortar no aquecimento ou fechar de vez as instalações? Talvez seja melhor fechar porque "trabalhar para aquecer" é o que já se vai fazer em muitos locais de trabalho das universidades, perdoem-me a provocação. Mas numa visão pessimista, se os cursos de humanidades não têm saída (por não haver lugares para os professores e psicólogos nas escolas), se a investigação não se aplica nas empresas e a ID fundamental de excelência (uma aposta no futuro)não vai sobreviver com os cortes anunciados da FCT, se o ensino de enfermagem e de engenharia civil é para benefício dos países para onde emigram os jovens licenciados, se os outros cursos de engenharia vão pelo mesmo caminho, se o direito gera advogados para o desemprego, a gestão idem aspas, então o  ensino será mesmo só para "aquecer". Este governo que pense nisso e que veja bem o buraco em que nos está a meter.

domingo, outubro 21, 2012

Reitor da Universidade do Porto afronta faculdades


Nem tudo vai bem nas novas universidades-fundação. Na Universidade do Porto o reitor Marques dos Santos tenta controlar as faculdades através da introdução de alterações ao estatuto da universidade a que preside, como noticia o jornal Público, com a introdução de uma nova regra que lhe permite nomear os diretores das faculdades que até agora são eleitos pelos Conselhos de Escola. Para tal, tem o Conselho Geral a apoiá-lo mas tem quase todos os diretores das faculdades, contra. Argumentam que a medida é um retrocesso na democracia da instituição, argumento que não haverá muita gente que conteste. O que deu no reitor para seguir o caminho da confrontação? Os resultados das faculdades têm sido fracos? Pelos vistos não. Então porquê? É óbvio: porque não quer autonomia das faculdades para poder ser ele a mandar através de "yes-men" que nomearia para a direção das faculdades. Mas um reitor tem que reger a sua Universidade pelo consenso não pela força e isso ele não percebe. A democracia tem muitas vezes o condão de favorecer o despotismo, por via da astúcia dos seus utilizadores, como ao longo da história exemplos como os Bórgias o demonstraram. Neste caso é óbvio que o reitor esperou pelo seu segundo mandato para implementar estas medidas não se sujeitando a um novo escrutínio. Mas também tem a virtude de deixar alternativas aos eleitores entre eleições, ou seja, a possibilidade de se manifestarem nem que seja pela contestação geral e contínua a estas medidas.

quinta-feira, outubro 18, 2012

Os três macacos


A universidade é um objetivo de muitos jovens que ambicionam ter um dia um diploma que lhes permita ter um futuro mais seguro. No entanto já não é assim tão linear, como tem vindo a ser transmitido pelos órgãos de comunicação. Mas se é não assim, então qual é a saída? Muitos já pensam que vão emigrar e admitem que até é melhor do que ficar em Portugal sem qualificações e/ou sem emprego. Outros vão ficando em Portugal na esperança das coisas mudarem. Não há no entanto uma luz ao fundo do túnel conforme a maioria dos especialistas sustenta ao serem interpelados quanto ao orçamento de estado proposto por este governo. Vai haver austeridade em cima de austeridade, segundo se afirma. Os impostos são elevados e o consumo vai baixar implicando maiores dificuldades das empresas e dispensa de mais trabalhadores. É este o cenário. É um atentado para com as novas gerações e portanto contra o país, uma vez que são elas o futuro do país. Temos pois um país em queda livre. Perante o coro de protestos, que fazem os nossos governantes? Fazem como a troika, ou seja, como o os três macacos: não ouvem, não falam, não vêm.

sábado, outubro 13, 2012

Andar para trás no Ensino Superior


Tanto se discutiu o RJIES e tanta energia se gastou nas universidades para a sua implementação, para agora na mudança de governo se querer revogar o RJIES e alterar os princípios fundamentais que originaram este regulamento, ou seja, uma maior agilização da governação do ensino superior e uma maior autonomia tendo como objetivo final a passagem de fundações, para aquelas universidades que tivessem condições para o poderem ser. Agora o ministro já não se limita a querer acabar com o regime fundacional para as universidades, matando à nascença algo que poderia dar novas perspetivas de desenvolvimento às Universidades conforme já aqui referi, mas também quer revogar o próprio RJIES. Os reitores contestam o facto de não terem sido consultados. Timidamente, mas vêm-no dizendo nos últimos dias. Os reitores são tratados pouco melhor que o resto de nós, Professores Universitários. E o que justifica toda esta fúria destruidora? A austeridade? Neste governo nada se faz com outros objetivos, como por exemplo, uma melhor performance, mas sempre com o argumento da poupança. Tanto se poupa no ensino superior e no I&DT que se põe em causa o desenvolvimento tecnológico de Portugal. Pois se também não modernizarmos as nossas instituições do Estado, livrando estas instituições da burocracia de décadas, como se estava a tentar fazer no ensino superior com a agilização dos processos como o RJIES,e como já se fez noutras áreas administrativas (a loja do cidadão é um exemplo), então ficamos definitivamente para trás na corrida ao desenvolvimento. Numa sociedade moderna não têm lugar as teias da burocracia que só servem para dar que fazer a alguns, dar importância a outros e em última instância, promover a corrupção, instrumento de que os individuais e as empresas recorrem para agilizar os processos. Vejam-se os países com menos corrupção, os anglo-saxónicos, são aqueles em que há menos corrupção porque há menos burocracia. Os EUA e até certo ponto o Reino Unido, são também os mais inovadores em grande parte devido à agilização dos processos no ensino superior e no I&DT. Nestas instituições, nomeadamente nas áreas da saúde, ciências e engenharia, as empresas financiam as instituições e nos EUA financiam os Professores. Com a anunciada perda de autonomia das Universidades e retrocesso no regulamento de gestão, em vez de se ir por este caminho que até servia para compensar o financiamento do Estado, que já sofreu cortes e vai ainda sofrer mais, dá-se mais um tiro no pé, coartando a função de captação de receitas que as Universidades tinham vindo a fazer e a aumentar progressivamente nos últimos anos. Haja algum respeito pelas Universidades, nem que seja pelo tempo que se gastou na introdução do RJIES e no caso das Universidades que passaram a fundações, no imenso trabalho de ajuste à nova realidade.

sexta-feira, outubro 05, 2012

A semana das más notícias para o ensino superior

Foi anunciado esta semana pelo ministro Vitor Gaspar o aumento do IRS para a classe média. Se não fosse a crise nos empregos em Portugal, e o desespero da generalidade dos potenciais candidatos a um emprego, será que alguém quereria ser Professor Universitário no atual cenário? Vejamos: com o aumento do IRS que para um Professor Associado, com ou sem agregação, uma vez que este governo retirou o aumento salarial indexado ao grau de agregado, ou Professor catedrático, poderá passar dos atuais 25% para os 40%, que implicará um ordenado de pouco mais de 2000 euros. Que sentido fará entrar com doutoramento como Professor Auxiliar, fazer o percurso académico e sujeitar-se a concursos para subir na carreira, quando pode entrar no setor privado, sem necessidade de doutoramento, seja uma empresa comercial, industrial ou de serviços, onde os ordenados são mais elevados à partida, onde a progressão é real e é sempre mais bem recompensada, podendo no privado cmo se sabe, haver outras formas de recompensar que não são abrangidas pelo IRS. Outra má notícia para o ensino, foi a declaração do ministro que vai cortar na Educação. Onde? Já cortou o que podia cortar no ensino secundário. Se cortasse mais teria o sindicato dos professores em pé de guerra o que o ministro da educação não admitiria do seu colega das finanças. Resta o ensino superior, a não ser que o ministro retire os subsídios aos colégios privados, o que iria contra a filosofia dos seus colegas de coligação, Mota Soares e ca. Como não é provável que o faça, será o elo mais fraco no que diz respeito à capacidade reivindicativa, ou seja o ensino superior, que será o alvo dos cortes. No passado, foi sendo retirado aos poucos o que o ensino superior tinha de motivador; agora vão definitivamente torná-lo numa repartição pública, onde se entra e se sai ao fim de uma vida de trabalho, basicamente com o mesmo ordenado.