Mais
um ano financeiro se inicia na Universidade do Minho. Nos departamentos, após uns meses de frenesim a
alterar cursos na Escola de Engenharia, de 5 anos para 3 anos, a terem início
em 2021, voltou tudo à mesma rotina de organização de aulas e arranque de mais
um ano financeiro. No caso de departamentos com laboratórios, as duas vertentes
estão interligadas, de uma forma dramática, considerando que os departamentos
não recebem as verbas necessárias para o seu funcionamento e muito menos para o
seu reequipamento. No ano passado não receberam nenhum dinheiro, o que poderia
ter como consequência não dar aulas práticas nos cursos de engenharia. Seriam
cursos teóricos. Houve que fazer uma ginástica e angariar verbas através da prestação
de serviços pelos laboratórios no caso do departamento de engenharia têxtil,
por exemplo, que dirijo desde março do ano passado. Equipamentos já antigos,
tiveram avarias que foram ultrapassadas com estas verbas, só porque eram
avarias pequenas. Esta é uma situação que é geral aos departamentos da Escola e
que não poderá continuar por muito mais tempo, sob pena de se chegar a um ponto
de não retorno. Os equipamentos são antigos e não durarão muito mais. A maioria
são do início dos anos 80 e 90. O Estado, através de sucessivos governos,
financiam as Universidades com verbas que são mais de 90% gastas em salários.
Compreende-se que não haja verbas para equipamento. Sem professores e
funcionários a Universidade não funciona, está claro, e poderá até ser que em
áreas em que a componente prática não é essencial, seja suficiente o
investimento em pessoal. Seria de pensar para as outras áreas uma verba
superior? Sabe-se que a Universidade tem uma contribuição muito relevante para
o seu orçamento que provém dos projetos de I&D, nomeadamente através de
overheads (custos indiretos) desses projetos, que normalmente são 25% do valor
do projeto. Estes projetos são maioritariamente da Escola de Engenharia e no
entanto estas overheads ficam em grande parte na reitoria para as suas despesas
gerais. Uma pequena parte regressa à Escola de Engenharia e 6% chega aos
departamentos. Digam-me o que se pode fazer com estes 6% no que se refere por
exemplo às despesas dos laboratórios. Quanto ao reequipamento, não se pode
sequer imaginar o que se poderia comprar (talvez uma caixa de ferramentas..).
Portanto estamos conversados. Num futuro não muito longínquo, estimo em mais 5
anos a julgar pela idade dos equipamentos, teremos cursos só teóricos na maior
parte das disciplinas de engenharia e de ciências dos departamentos da Escola
de Engenharia. Onde se investiu por ordem do governo, foi na contratação de
investigadores e na integração de funcionários precários. Teremos pois mais
investigadores, mais profissionais de carreira, mas que passarão ao lado deste
problema.. As Universidade passarão a ser institutos de investigação uma vez
que se basearão não só em bolseiros temporários mas em investigadores de
carreira, e os funcionários que são integrados na carreira, contribuirão para o funcionamento
das aulas de uma universidade de "papel e lápis" e servirão de
suporte administrativo aos professores e investigadores deste novo tipo de
instituição, que produzirá graduados sem noção do mundo industrial que os
espera. Serão graduados sem possibilidade de saída ou êxito na indústria.