domingo, maio 10, 2020

A prática laboratorial em tempos de vírus


Estava o primeiro semestre em pleno, com as dificuldades já referidas das aulas laboratoriais (avarias de equipamentos, falta de materiais e produtos..), entretanto resolvidas com recurso a verbas exteriores à universidade, e eis que é tudo interrompido pelo aparecimento do vírus COVID 19. Quando se pensava que poderiamos transmitir aos alunos os conhecimentos necessários ao seu futuro profissional na indústria têxtil, eis senão que nos cai em cima algo muito pior do que qualquer outro acontecimento desde a fundação da Universidade do Minho, ou de qualquer outra universidade. As aulas teóricas passaram a ser lecionadas à distância com recurso a ferramentas eletrónicas, tais como plataformas informáticas de reuniões por vídeo, zoom, skype entre outras, e as aulas práticas foram suspensas. Agora coloca-se a questão do funcionamento futuro das aulas práticas, uma vez que a proximidade entre pessoas, neste caso alunos, professores e técnicos, deverá ser no mínimo de 2 metros, para evitar o contágio ou de 50 m2 em seu redor no caso de investigadores em laboratório. Também outros cuidados como a transmissão através de superfícies que são tocadas pelos utilizadores dos laboratórios, sejam bancadas, equipamentos, puxadores de portas, embalagens de produtos, seja prevenida. Normalmente já se utilizam luvas nos laboratórios, o que evitará em grande parte esta transmissão, mas as luvas se levadas à cara, e entrarem em contacto com boca, nariz ou olhos, não servirão de nada na prevenção do contágio, se estiverem contaminadas.
Por isso entende-se o receio dos utilizadores dos laboratórios a iniciarem as aulas, com um número de alunos que rondará os quinze alunos. Começando pela distância que já é recomendada para investigadores a de 50 m2 em seu redor. Se aplicarmos esta área aos alunos da licenciatura e mestrado, teríamos 750 m2, uma área muito superior ao espaço laboratorial de qualquer laboratório da UM. Os do departamento de Engenharia têxtil não terão mais do que 200 m2 no máximo, e com equipamentos e bancadas pelo meio, está área será muito menor. Como fazer então?
Haverá várias hipóteses que podemos imaginar que poderiam funcionar minimamente. como sejam aulas de demonstração, operadas pelo professor e pelo técnico do laboratório, e que seriam filmadas e transmitidas através da plataforma de ensino à distância. É evidente que estas aulas não poderiam ser consideradas aulas prática, porque os alunos não iriam adquirir "prática" na aplicação das técnicas que seriam ensinadas. Seriam aulas teóricas para todos os efeitos. Outro hipótese é diminuir muito o número de alunos, talvez para um terço dos atuais 15 alunos que é o estipulado para cada laboratório, mas nesse caso as turmas eram divididas em 3 ou 4 turmas, o que iria sobrecarregar a utilização dos laboratórios e os horários dos professores. Com as atuais turmas de 20 a a 30 alunos, seria incomportável. Outra alternativa seria dividir a turma por especialidades, um pouco como se faz nos projetos interdisciplinares, PI. Assim os alunos seriam distribuídos pelos laboratórios conforme as suas especialidades. Tomando como exemplo o curso de Engenharia Têxtil, digamos que um grupo de 5 alunos escolhia tecelagem, outro grupo malhas, outro confeção, outro materiais/física têxtil, outro ultimação/tingimento. Ainda poderia haver uma subdivisão para estamparia/coating. Seria uma forma de ter 5 alunos no máximo em cada laboratório. Para outros cursos de engenharia, poder-se-ia fazer algo semelhante dividendo as aulas práticas por especialidades específicas desses cursos. Seria aconselhável que os aluno já tivesses algum conhecimento da matéria e da forma como funcionam os aparelhos laboratoriais, pois teriam que ter alguma autonomia para poderem começar de imediato as experiências devido ao reduzido tempo da aula prática para levar até ao fim o trabalho, como já acontece nos projetos interdisciplinares, e para não necessitarem do apoio constante do técnico do laboratório e do professor, uma vez que sendo trabalhos individuais, não haveria tempo para dar esse apoio a todos. Este sistema seria mais adequado para as aulas práticas dos últimos dois anos do curso, por esse motivo. Mesmo assim os professores teriam que se organizar para estarem disponíveis para qualquer dúvda que os alunos tivessem, ou por vídeo conferência (zoom, skype, whatsapp, etc, ou mesmo deslocando-se ao laboratório. Em termos logísticos, as aulas práticas das disciplinas (UCs) de cada semestre passariam a fazer parte do Projeto Interdisciplinar, sem necessidade de necessariamente haver coerência entre elas, como atualmente sucede, tendo um protótipo em vista. Neste caso, os alunos seguiriam os protocolos das aulas práticas de cada uma das UCs respetivas. Coloca-se a questão dos horários de laboratório. Teria que haver sacrifícios no plano de estudos, nomeadamente nos projetos interdisciplinares, que passariam a ser mais virados para outra forma de trabalho, como dissertações de revisão de matérias atuais, como funcionalidades têxteis, por exemplo, para que esses períodos em laboratório fossem dedicado a estas aulas práticas e as dissertações poderiam ser escritas em casa.