segunda-feira, agosto 24, 2020
Nova vida, novo blogue
Depois de 13 anos de blogue dedicados à crítica ao ensino superior e muito especialmente da Universidade do Minho, vou a partir de 1 de setembro deixar o serviço e passar a ser mais um aposentado da CGA.
domingo, maio 10, 2020
A prática laboratorial em tempos de vírus
Estava o primeiro semestre em pleno, com as dificuldades já referidas
das aulas laboratoriais (avarias de equipamentos, falta de materiais e
produtos..), entretanto resolvidas com recurso a verbas exteriores à
universidade, e eis que é tudo interrompido pelo aparecimento do vírus COVID
19. Quando se pensava que poderiamos transmitir aos alunos os conhecimentos
necessários ao seu futuro profissional na indústria têxtil, eis senão que nos
cai em cima algo muito pior do que qualquer outro acontecimento desde a
fundação da Universidade do Minho, ou de qualquer outra universidade. As aulas
teóricas passaram a ser lecionadas à distância com recurso a ferramentas
eletrónicas, tais como plataformas informáticas de reuniões por vídeo, zoom,
skype entre outras, e as aulas práticas foram suspensas. Agora coloca-se a
questão do funcionamento futuro das aulas práticas, uma vez que a proximidade
entre pessoas, neste caso alunos, professores e técnicos, deverá ser no mínimo
de 2 metros, para evitar o contágio ou de 50 m2 em seu redor no caso de
investigadores em laboratório. Também outros cuidados como a transmissão
através de superfícies que são tocadas pelos utilizadores dos laboratórios,
sejam bancadas, equipamentos, puxadores de portas, embalagens de produtos, seja
prevenida. Normalmente já se utilizam luvas nos laboratórios, o que evitará em
grande parte esta transmissão, mas as luvas se levadas à cara, e entrarem em
contacto com boca, nariz ou olhos, não servirão de nada na prevenção do
contágio, se estiverem contaminadas.
Por isso entende-se o receio
dos utilizadores dos laboratórios a iniciarem as aulas, com um número de alunos
que rondará os quinze alunos. Começando pela distância que já é recomendada para
investigadores a de 50 m2 em seu redor. Se aplicarmos esta área aos alunos da
licenciatura e mestrado, teríamos 750 m2, uma área muito superior ao espaço
laboratorial de qualquer laboratório da UM. Os do departamento de Engenharia
têxtil não terão mais do que 200 m2 no máximo, e com equipamentos e bancadas
pelo meio, está área será muito menor. Como fazer então?
Haverá várias hipóteses que
podemos imaginar que poderiam funcionar minimamente. como sejam aulas de demonstração,
operadas pelo professor e pelo técnico do laboratório, e que seriam filmadas e
transmitidas através da plataforma de ensino à distância. É evidente que estas
aulas não poderiam ser consideradas aulas prática, porque os alunos não iriam
adquirir "prática" na aplicação das técnicas que seriam ensinadas.
Seriam aulas teóricas para todos os efeitos. Outro hipótese é diminuir muito o
número de alunos, talvez para um terço dos atuais 15 alunos que é o estipulado
para cada laboratório, mas nesse caso as turmas eram divididas em 3 ou 4
turmas, o que iria sobrecarregar a utilização dos laboratórios e os horários
dos professores. Com as atuais turmas de 20 a a 30 alunos, seria incomportável.
Outra alternativa seria dividir a turma por especialidades, um pouco como se
faz nos projetos interdisciplinares, PI. Assim os alunos seriam distribuídos pelos
laboratórios conforme as suas especialidades. Tomando como exemplo o curso de Engenharia Têxtil, digamos que um grupo de 5 alunos
escolhia tecelagem, outro grupo malhas, outro confeção, outro materiais/física
têxtil, outro ultimação/tingimento. Ainda poderia haver uma subdivisão para
estamparia/coating. Seria uma forma de ter 5 alunos no máximo em cada
laboratório. Para outros cursos de engenharia, poder-se-ia fazer algo semelhante dividendo as aulas práticas por especialidades específicas desses cursos. Seria aconselhável que os aluno já tivesses algum conhecimento da matéria e da forma como funcionam os aparelhos laboratoriais, pois teriam que ter alguma autonomia para poderem começar de imediato as experiências devido ao reduzido tempo da aula prática para levar até ao fim o trabalho, como já acontece nos projetos interdisciplinares, e para não necessitarem do apoio constante do técnico do laboratório e do professor, uma vez que sendo trabalhos individuais, não haveria tempo para dar esse apoio a todos. Este sistema seria mais adequado para as aulas práticas dos últimos dois anos do curso, por esse motivo. Mesmo assim os
professores teriam que se organizar para estarem disponíveis para qualquer
dúvda que os alunos tivessem, ou por vídeo conferência (zoom, skype, whatsapp,
etc, ou mesmo deslocando-se ao laboratório. Em termos logísticos, as aulas
práticas das disciplinas (UCs) de cada semestre passariam a fazer parte do
Projeto Interdisciplinar, sem necessidade de necessariamente haver coerência entre
elas, como atualmente sucede, tendo um protótipo em vista. Neste caso, os alunos
seguiriam os protocolos das aulas práticas de cada uma das UCs respetivas.
Coloca-se a questão dos horários de laboratório. Teria que haver sacrifícios
no plano de estudos, nomeadamente nos projetos interdisciplinares, que passariam a ser
mais virados para outra forma de trabalho, como dissertações de revisão de
matérias atuais, como funcionalidades têxteis, por exemplo, para que esses
períodos em laboratório fossem dedicado a estas aulas práticas e as dissertações poderiam ser escritas em casa.
sábado, fevereiro 15, 2020
Engenharia: Um futuro para os alunos que pode não ter "exit"(o) para a indústria
Mais
um ano financeiro se inicia na Universidade do Minho. Nos departamentos, após uns meses de frenesim a
alterar cursos na Escola de Engenharia, de 5 anos para 3 anos, a terem início
em 2021, voltou tudo à mesma rotina de organização de aulas e arranque de mais
um ano financeiro. No caso de departamentos com laboratórios, as duas vertentes
estão interligadas, de uma forma dramática, considerando que os departamentos
não recebem as verbas necessárias para o seu funcionamento e muito menos para o
seu reequipamento. No ano passado não receberam nenhum dinheiro, o que poderia
ter como consequência não dar aulas práticas nos cursos de engenharia. Seriam
cursos teóricos. Houve que fazer uma ginástica e angariar verbas através da prestação
de serviços pelos laboratórios no caso do departamento de engenharia têxtil,
por exemplo, que dirijo desde março do ano passado. Equipamentos já antigos,
tiveram avarias que foram ultrapassadas com estas verbas, só porque eram
avarias pequenas. Esta é uma situação que é geral aos departamentos da Escola e
que não poderá continuar por muito mais tempo, sob pena de se chegar a um ponto
de não retorno. Os equipamentos são antigos e não durarão muito mais. A maioria
são do início dos anos 80 e 90. O Estado, através de sucessivos governos,
financiam as Universidades com verbas que são mais de 90% gastas em salários.
Compreende-se que não haja verbas para equipamento. Sem professores e
funcionários a Universidade não funciona, está claro, e poderá até ser que em
áreas em que a componente prática não é essencial, seja suficiente o
investimento em pessoal. Seria de pensar para as outras áreas uma verba
superior? Sabe-se que a Universidade tem uma contribuição muito relevante para
o seu orçamento que provém dos projetos de I&D, nomeadamente através de
overheads (custos indiretos) desses projetos, que normalmente são 25% do valor
do projeto. Estes projetos são maioritariamente da Escola de Engenharia e no
entanto estas overheads ficam em grande parte na reitoria para as suas despesas
gerais. Uma pequena parte regressa à Escola de Engenharia e 6% chega aos
departamentos. Digam-me o que se pode fazer com estes 6% no que se refere por
exemplo às despesas dos laboratórios. Quanto ao reequipamento, não se pode
sequer imaginar o que se poderia comprar (talvez uma caixa de ferramentas..).
Portanto estamos conversados. Num futuro não muito longínquo, estimo em mais 5
anos a julgar pela idade dos equipamentos, teremos cursos só teóricos na maior
parte das disciplinas de engenharia e de ciências dos departamentos da Escola
de Engenharia. Onde se investiu por ordem do governo, foi na contratação de
investigadores e na integração de funcionários precários. Teremos pois mais
investigadores, mais profissionais de carreira, mas que passarão ao lado deste
problema.. As Universidade passarão a ser institutos de investigação uma vez
que se basearão não só em bolseiros temporários mas em investigadores de
carreira, e os funcionários que são integrados na carreira, contribuirão para o funcionamento
das aulas de uma universidade de "papel e lápis" e servirão de
suporte administrativo aos professores e investigadores deste novo tipo de
instituição, que produzirá graduados sem noção do mundo industrial que os
espera. Serão graduados sem possibilidade de saída ou êxito na indústria.
segunda-feira, julho 08, 2019
Do que é que estão à espera?
Decreto-Lei n.º 84/2019 de 28 de junho (artigo 77º)
Artigo 77.ºConcursos para promoção às categorias de professor associado e catedrático1 - Até 31 de dezembro de 2019, as instituições de ensino superior podem abrir concursos para promoção de professores auxiliares e associados, até ser atingido o limite inferior de 50 % definido no n.º 1 do artigo 84.º do Estatuto da Carreira Docente Universitária, nos termos dos números seguintes.2 - Podem ser opositores ao concurso para promoção os professores com contrato por tempo indeterminado com a instituição e que tenham o mínimo de 10 anos de antiguidade na respetiva categoria.3 - Os concursos só podem ser abertos para área ou áreas disciplinares em que haja mais do que um professor com contrato por tempo indeterminado com a instituição, que reúna as condições para ser opositor, e desde que o conjunto de professores associados e catedráticos de carreira dessa área ou áreas disciplinares não represente mais de 50 % do total dos professores de carreira.4 - Os júris dos concursos são compostos maioritariamente por individualidades externas à instituição de ensino superior.5 - O concurso de promoção rege-se, com as necessárias adaptações, pelo disposto nos artigos 38.º e seguintes do Estatuto da Carreira Docente Universitária, em tudo o que não esteja especialmente previsto no presente artigo.
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segunda-feira, abril 01, 2019
A nova minuta dos concursos para progressão na carreira
Os estatutos e regulamentos que dizem respeito à vida dos Professores da UM têm
vindo a ser homologados duma forma expedita, sem consulta pública ou pelo menos
sem publicidade, e rapidamente homologados pela reitoria e/ou Conselho Geral.
Já referi no post anterior, a alteração à última hora do artigo que determinava
a rotatividades do cargo dos Diretores dos Centros de Investigação. Quando é
esta a forma de fazer aprovar regulamentos e estatutos, acontecem as
arbitrariedades, contradições e pelo meio injustiças, mesmo que a intenção seja
bem-intencionada. Um outro exemplo foi a minuta que regulamenta os concursos
para Professores Associados e Catedráticos, acabada de ser homologada. Veja-se na
nova minuta de concursos, que alguém teve ideia peregrina de reinventar, o novo
regulamento que vai reger os concursos introduz especificações que se
podem introduzir ao designar UCs específicas. É no mínimo arbitrário
escolher UCs, ou pelo menos sê-lo-á sempre para alguém que fica de fora. É
contraditório com o ECDU, que determina no número 2 do artigo 37 que "A
especificação da área ou áreas disciplinares não deve ser feita de forma
restritiva, que estreite de forma inadequada o universo dos candidatos". E
é claro que pode implicar injustiças no que respeita a candidatos que estão à
espera há muito tempo para se candidatarem, preparando anos a fios o seu
currículo, e que, mesmo com um bom currículo, são excluídos por uma medida
administrativa. O argumento de que se pode desta forma ativar áreas que
necessitam de um incentivo no recrutamento de Professores Associados ou
Catedráticos, é subjetivo, uma vez que não há a certeza de entrar alguém de
fora, podendo servir tão só para a promoção de alguém que já faz parte dessa
área. Essa até pode ser a intenção, o que nesse caso,
desvirtua a regras da concorrência.
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sábado, março 23, 2019
Os mandatos dos diretores dos centros de investigação e os de Presidentes de Câmara
Os estatutos das Unidades da UM, ou seja, as Escolas e Institutos,
foram reformulados. O da Escola de Engenharia acabou de ser homologada e publicado
em Diário da República. Ao ler esta versão final, fica-se com a sensação que
está tudo igual no essencial. Em termos de democracia não houve melhoramentos.
Numa versão anterior antes desta homologada, de uns 3 meses atrás (Novembro de
2018), havia por exemplo uma alteração no que respeita aos mandatos dos
diretores dos centros de investigação, forçando uma rotatividade com mandatos
que não poderiam ser renovados mais do que 2 vezes. Assim, acabava-se com um
abuso de poder de muitos diretores de centros que estão lá há mais de duas
décadas. Mas à última hora, voltou-se atrás e de novo remete-se a renovação de
mandatos para os regulamentos de cada centro. É evidente que, tal como nas
Câmaras Municipais, ao não forçar a alternativa, ela não ocorrerá facilmente.
Houve presidentes de câmara que atá a lei mudar forçando a alternativa,
estiveram no poder desde o 25 de Abril, períodos na ordem dos 30 anos. Estes
presidentes de Concelhos de Província, em que se inclui Braga, sabiam ganhar o
voto do povo, organizando festas populares e transportes gratuitos, para além
de se imiscuírem no futebol do clube da capital de Concelho, o que também
angaria muitos votos. No caso dos centros de investigação, não serão tão óbvias
as benesses, mas que há sempre forma de favorecer grupos dentro do centro,
fazendo incidir os investimentos mais num sentido que outro, e assim assegurar
uma maioria de apoio. Pergunta-se, a democracia ganhou com esta permanência? No
caso das câmaras, é só ver os casos gritantes de desmandos no que se refere a
construções e alienação de edifícios das câmaras, já para não falar de casos de
corrupção que obviamente são raros os casos de Presidentes de Câmara presos, ou
não fossem os negócios já feitos de forma a não deixa rastro. No caso dos
centros, é fazer uma ronda pelos laboratórios e possívelmente se descobrirá uma
relação entre investimento e apoio. O caso da Escola de Engenharia, é tanto
mais grave porque é uma Escola com centros se I&D que mais verbas
angariam e que portanto mais poderosos são, relegando os Departamentos para
segundo plano. Com este tipo de poder é evidente que o lugar de diretor é
apetecível. Já não diria que no caso dos departamentos será assim, uma vez que
os departamentos não têm dinheiro. Nem para tinteiros, quanto mais para aulas
práticas e atividades complementares dos cursos de que são responsáveis. Talvez
por não ser um lugar apetecível, com muito trabalho associado e poucos meios, o
lugar de diretor não sendo apetecível, já tem limites de renovação, podendo ser
renovado só 2 vezes. Por isso questiona-se se não houve pressão dos atuais
diretores dos centros de Investigação nesta mudança de última hora no que se
refere ao limite de mandatos. Se houve, é grave, mas se não houve também o é,
porque não tem uma explicação democrática.
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terça-feira, janeiro 01, 2019
Os protagonistas da I&D ensino na transição de 2018 para 2019
Já que a mensagem de ano novo que era exclusivo do Presidente e do
primeiro-ministro se alargou a outros, nomeadamente aos partidos políticos, que
aproveitaram para fazer campanha para as eleições que vêm aí em 2019,
nomeadamente as legislativas em Outubro, aproveito também para fazer a minha
mensagem.
Este ano temos assistido a um ministério do Ensino Superior
populista, procurando agradar a todos, gastando o orçamento naquilo que é mais
populista, ou seja, garantir emprego a bolseiros e espalhando dinheiro pelos
laboratórios Colaborativos, algo que já conhecíamos com outro nome, os
laboratórios Associados. Assim, agrada aos que mais aparentemente precisam de
estabilidade, dando-lhes emprego, mas esquecendo-se o ministro da tutela, que
os investigadores bolseiros não dão aulas e que "fazer" investigação
a troco de um emprego não dá resultado, a não ser que seja uma multinacional do
ramo farmacêutico que paga salários milionários. Temos o exemplo do LNETI, mais
tarde INETI, mudou o nome mas não a produtividade científica, que sempre foi
incipiente, quando comparado com as universidades. Funcionários públicos são
por natureza trabalhadores das 9 às 5, e com objetivos precisos: dar aulas no
caso do ensino superior. Sem diretivas precisas e contabilizáveis, temo que não
haja resultados palpáveis. Mas o futuro dirá se será assim ou não. Precisamos
de I&D e até que o INETI era uma boa ideia, pois seria I&D para a
indústria. Só que não se percebeu na altura que a indústria nos arredores de
Lisboa era indústria pesada, já instalada e sem motivação para a I&D. A outra
indústria, a das PME, estava no cenrto e no norte do país, longe para
funcionários que só tinham das 9 às 5 para enquadra deslocações no seu plano de
trabalho. Ajudas de custo não seriam compensadoras, e sair da zona de conforto
também não é algo que seja para todos.
Por outro lado temos os
professores universitários que foram tratados de uma forma totalmente
diferente. São eles que orientam os bolseiros. mas sem incentivos e pelo
contrário ignorando as suas mais básicas aspirações. As progressões foram
consideradas e bem, como uma forma de premiar com base no mérito. Se não o está
a fazer é culpa das universidades que não fizeram um regulamento que realmente
avalia esse mérito. Mas tão-pouco o mérito é garantido no resto do funcionalismo
público que é avaliado segundo o SIADAP, permeável à cunha, por não incluir
avaliadores externos, mas júris locais que também estão dependentes de uma
hierarquia que pode cair na tentação de premiar os seus mais diretos
colaboradores e só depois os outros. O sistema de avaliação dos professores,
segue regras objetivas, mas os avaliadores não têm como corrigir erros na
conceção do regulamento uma vez que está em marcha. Na Escola de engenharia da
UM, chegou-se ao ponto de serem os serviços de documentação a aceitar os artigos
científicos e os “proceedings” das conferências cegamente, com base numa aritmética
cega, sem olhar ao valor real destes documentos. Mas, independentemente da
justeza da avaliação o que é certo é que sempre é melhor que nenhuma, que é o
caso dos professores do básico e secundário. Estes puseram o país de joelhos em
2018, e prometem continuar em 2019, com a exigência do desbloqueamento imediato
das progressões, e mesmo sabendo que já são beneficiados com a sua progressão
de quatro em quatro anos quando os professores do ensino superior é de cinco em
cinco anos, não aceitam o ajustamento do governo a esta discrepância com a oferta
de 2 anos em vez dos 9 anos pedidos, para repor a equidade com os outros grupos
de funcionários públicos.
O ministro do Ensino Superior, não só não cumpre o Estatuto da Carreira
Docente Universitária, ECDU, que determina a progressão a partir dos 10 pontos como
lava daí as suas mãos ao relegar para as universidades com a sua autonomia, a
resolução de uma questão da sua responsabilidade.
Assim, prevejo que 2019 seja mais um ano de “marcar passo” na carreira
dos professores universitários e a melhorar na carreira dos investigadores. Em
ambos os casos, haverá poucos incentivos para fazer mais I&D, curiosamente por
razões quase opostas, uns por falta de incentivos, outros por demasiada “estabilidade”
de algo tão “instável” como a inovação, nem que seja pela definição da palavra.
Adivinhem quem é quem.
segunda-feira, novembro 26, 2018
A visita do PM ao país das maravilhas
O primeiro ministro visitou a Universidade do Minho hoje, nomeadamente a Reitoria/Largo do
Paço, e alguns centros de I&D da UM. No Largo do Paço, na companhia
do resto do governo, dispôs-se a responder a perguntas de alunos e professores.
A visita com direito a perguntas ficou no segredo dos deuses, até uma hora antes
quando foi divulgado na rede UM! Não sei se os professores no campus de Gualtar
teriam tempo de se prepararem, largarem o que estavam a fazer e ir assistir ou
mesmo intervir. Certamente os do pólo de Azurém em Guimarães, não teriam essa
possibilidade. Talvez por isso, não se tivesse visto ninguém da Escola de
Engenharia, maioritariamente instalada em Azurém, a colocar questões ao
governo. O reitor, como responsável máximo e "guardião" da UM, devia
ter sido mais democrático na divulgação desta iniciativa. Teria sido mais
interessante do que transportar o primeiro ministro aos locais do costume, centros
de I&D de maior projeção mediática sem mostrar nem falar das necessidades
da UM em termos de investimento. Os laboratórios pedagógicos estão decadentes, a colaboração com a indústria local
nacional é praticamente inexistente, privilegiando-se a Bosch e outras
multinacionais, tudo com ajudas do ministério da Ciência e Tecnologia e Ensino superior. A Bosch agradece, com baixos salários e condições de trabalho
que não se atrevem a aplicar no seu país de origem (a julgar pelos protestos recentes
dos trabalhadores às portas da empresa).
Percebia-se que as perguntas
tinham previamente sido vetadas, lidas de um púlpito, não fosse alguém colocar uma pergunta que seria embaraçosa para o ministro da tutela, para a UM ou para o próprio reitor. Ninguém incomodou o ministro. Houve uma
questão sobre as residências para estudantes, nitidamente já esperada pelo
ministro Manuel Heitor.
Podia-se questionar o conluio
entre o ministério da tutela e as universidades, ao abrigo da sua autonomia, de truncarem
as progressões na carreira dos professores àqueles com dois excelentes nas avaliações,
completamente à revelia do estipulado pelo ECDU e pelos estatutos da UM. Mas
não, esta e outras perguntas pertinentes ficaram de fora de um programa inócuo,
sem nada de novo: perguntas politicamente corretas e visitas aos locais
turísticos da UM do costume (leia-se centros de I&D) já na rota turística
de todas as visitas à UM de entidades nacionais e estrangeiras.
segunda-feira, novembro 05, 2018
Professores e investigadores, que futuro?
Os sindicatos do Ensino Superior, concentraram as suas reivindicações nos investigadores. Esqueceram-se das progressões dos professores do ensino superior. É o que se constata ao ler as notícias sobre as suas atividades recentes. Explicação? É mais urgente contratar precários do que fazer progredir aqueles que já têm emprego? Será? Ora se é, que sentido faz contratar bolseiros, porque é disso que se trata, que não terão outra atividade do que investigar? Se as bolsas são para projetos bem definidos, quando deixarem de ser bolseiro farão investigação para que objetivos? Normalmente são professores universitários que os orientam mas se estes deixarem de o fazer, porque a carreira será autónoma, quem os orienta? Eles próprios? Haverá alguns que terão experiência para isso, mas com que motivação? Para os professores, a investigação é paralela à docência, e o resultado são alunos com formação superior, que irão para o mundo exterior trabalhar e supostamente preencher lugares onde serão úteis. No caso dos investigadores o resultado é na maior parte das vezes inútil em termos práticos, sejamos sinceros, dado o caráter científico e prematuro da investigação. Poderá a muito longo prazo ser assimilado, por alguma grande empresa, das tais que não existem em Portugal, com capacidade para o fazer. Mas para um país como Portugal, o resultado a médio prazo será quase nulo. País de pequenas e médias empresas, descapitalizadas e interessadas na sobrevivência e puco mais. Gostava que me dessem exemplos de empresas em número expressivo que se lançaram internacionalmente utilizando resultados de I&D feito pelos melhores investigadores de Portugal.
Não que não tenhamos uma rede de investigadores relevante, mas que seja motivada por objetivos e que ganhe projetos europeus para financiar as suas bolsas, e não que sejam mais um peso para o orçamento já diminuto da Educação. As Universidades serão as primeiras prejudicadas com esta partilha do seu orçamento. Como alternativa, devia-se dar estabilidade aos investigadores com bolsas mais longas,de 5 a 10 anos ou mais, que serão úteis para mais tarde estes investigadores servirem de “pool” para o recrutamento de professores do Ensino Superior. Mas tudo o que seja a mais que isso, como a passagem destes investigadores a funcionários públicos, será um erro estratégico por parte do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, que de coordenação entre estas três vertentes, tem feito muito pouco, diga-se de passagem. Ajudaria no contexto desta problemática.
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segunda-feira, outubro 22, 2018
Investigar, a nobre atividade agora domesticada
Há uma nova onda de interesse na I&D em Portugal. São as notícias regulares sobre investigadores e os seus sucessos nos laboratórios. Compreende-se que assim seja. No entanto também há quem se aproveite desta onda, para promover a sua imagem, e quantas vezes para outros vantagens em concursos de angariação de fundos. Há, e ainda bem, uma maioria de investigadores abnegados, que gostam de investigar. O investigador e Professor Carlos Fiolhais, numa entrevista sobre o seu novo livre, chamou-lhe paixão e que os investigadores estão apaixonados pela sua profissão. Os sintomas são muitas vezes o de uma pessoa apaixonada, segundo Fiolhais, com atitudes semelhantes como uma atitude alheia ao que o rodeia e um pensamento constante no seu projeto e caminhos para o resolver. Normalmente não desiste e está anos com o mesmo projeto, tornando-se muitas vezes obsessivo em relação a ele. Também acredito que este é o investigador no seu estado mais puro. Não se deve confundir este tipo com outro tipo de investigador, mais prático, normalmente oriundo das engenharias, que procuram obter resultados finais par determinados fins práticos, que sirvam os setores das empresas em que a sua área de investigação se insere. São ambos digna da sua atividade, ou da sua profissão. Acredito que tanto uns como outros seriam bem integrados na carreira que está neste momento a tomar forma, com a integração de precários e bolseiros, os primeiros porque eventualmente poderão acabar como excelentes professores universitários ou mesmo contribuir para a descoberata de novos fármacos ou mesmo a cura de doenças, e os “engenheiros” em novos produtos processos que trazem mais produtividade, nascimento de novas empresas start-up, sustentabilidade, tão necessários ao país e no caso da sustentabilidade, ao planeta. No entanto, há outros que sem paixão, caso do primeiro caso, nem objetivos que acreditam e lutam por eles, no caso do segundo caso, para os quais um salário fixo para o resto da sua carreira será um emprego mal empregue para eles, e um desperdício de recursos do estado, que seria melhor aplicado noutras causas, como a saúde, a educação e as infraestruturas (hospitais, ferrovia, estradas) e principalmente em causas socias.
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