sexta-feira, setembro 09, 2011

Estilos de poder

Vêm aí cortes que implicam despedimentos e/ou perda de poder de compra dos Professores da UM. Nesta fase crítica da Universidade do Minho o que sabemos é-nos transmitido na forma de números: tantos por cento de cortes de Professores convidados. Nem uma palavra aos visados, de conforto ou de justificação do porquê que foram eles os escolhidos. Nem um comunicado fosse escrito ou falado pelo sr. Reitor (pelo menos que viesse a público). Já tivemos como ocupante anterior do cargo um reitor mudo em relação a uma explicação aos visados de que iria cativar as suas verbas provenientes dos seus projectos; agora temos um reitor que corta a direito sem grandes explicações, e já não são verbas de projectos, são salários que ferem o nível de vida de muitos Professores e que inevitavelmente lhes vai causar sérios problemas pessoais. É um estilo de líder apolítico e tecnocrata, já para não falar da falta de sensibilidade social,um pouco como o Ministro das Finanças actual. Pode ser que as coisas mudem com o tempo e que o reitor fique mais temperado e mais maleável com o continuado malhar do Ministro no orçamento da UM (linguagem de engenharia talvez apropriada a quem se dirige)... e mude de estilo.
Ficar-lhe-ia bem.

domingo, setembro 04, 2011

Os cortes na UM são cegos?

Os cortes das Universidades vêm dar o seu contributo forçado à dívida. Que seja. Mas quem sairá prejudicado? Os professores convidados serão os primeiros a serem despedidos segundo instruções do reitor. À primeira vista parece bem uma vez que são "convidados". No entanto muitos destes Professores estão há anos nesta situação só porque as contratações estão congeladas. Não estão por opção! E muitos fazem mais serviço do que os contratados, uma vez que não podem dizer que não ao seu vínculo precário. Quem vai fazer o trabalho deles? Quem sofre? Os alunos, claro! Se os cortes não são cegos porque estão direccionados aos mais fracos, são cegos no que respeita às consequências, porque quem tem mais professores convidados é quem mais vai sofrer e possivelmente cursos vão fechar nestas Escolas por essa razão. Houve muitas promoções recentes entre os funcionários para Directores, talvez seja aqui que se deva também começar a cortar. Afinal o Governo não está a cortar chefias intermédias em várias instituições por não se justificar tantas chefias? Na UM aumentaram-se o número de Divisões para acomodaram mais chefes e desta forma promoverem funcionários que até não teriam nem os anos de serviço nem as qualificações que normalmente são exigidas para essas funções. Chegou-se ao ridículo de fazerem Divisões que aparentam não chegar sequer à meia dúzia de funcionários portanto sem qualquer massa crítica (é como se os romanos tivessem nas suas legiões centúrias com menos de cem romanos e os centuriões as comandassem)! Não seria também de reestruturar as Divisões e poupar também aqui? Fizeram-se ainda promoções à pressa em Serviços como que adivinhando o que vinha aí: o congelamento até 2003 nas promoções d a Função Pública anunciado esta semana. É assim que querem mobilizar as pessoas desta casa? Chama-se a isto em inglês um "pre-emptive attack", em linguagem militar. Antes dos cortes é preciso “atacar”, mas para o benefício de alguns. Quando isto acontece, normalmente não são os mais capazes que são promovidos como é evidente. São aqueles cujo "currículo" as chefias, leia-se Director, conhecem melhor. Agora os outros funcionários que estiveram anos à espera, que melhoraram o seu currículo, até que passaram a licenciados, podendo ser promovidos pelo seu esforço, ficam mais uma vez sem qualquer esperança de ver os seus justos desígnios alcançados.
No caso dos professores, fez-se um Regulamento de avaliação o RAD, “para inglês ver”. É mais uma auto-avaliação do que uma avaliação por terceiros. Só 15% da avaliação no RAD da Engenharia é que pesa a avaliação do avaliador! Ora por muito incompetentes que os professores sejam nunca vão ter a avaliação que pudesse distinguir o trigo do joio. E depois criticamos os professores do ensino secundário que não querem ser avaliados e torcem-se todos por uma auto-avaliaçãozinha. Nós vamos pelo mesmo caminho! Quando chegar a altura depois de 2013 para retomar as promoções e enviar alguns para a mobilidade, não haverá bases para o fazer. E os cortes serão realmente cegos, porque nessa altura vai haver despedimentos, com o rumo que as coisas levam.
Sejamos corajosos e arrume-se a casa, preparando-a para os maus tempos que se avizinham, e por uma vez façamo-lo duma forma objectiva, sem compadrios nem mediocridade.

sábado, setembro 03, 2011

Os cortes no Ensino Superior

Os cortes abrangem as Universidades. Até aqui nada demais, uma vez que a prioridade deste Governo nos cortes não é como se julgava na gordura do Estado, mas apesar de gestos simbólicos de cortes nas gravatas e nos motoristas, os cortes vão para aquilo que é o essencial para os portugueses menos privilegiados, ou seja, as urgências hospitalares na saúde, o subsidio de Natal que para muitos servia para cobrir despesas que o ordenado não cobria, nos transportes públicos, etc. Despesismo da Madeira não é atacado ao contrário do despesismo do anterior governo que serve de desculpa para o acréscimo dos impostos. Promoções nas Forças Armadas sancionadas, ao arrepio do que já tinha decidido o governo anterior, ao declarar ilegais essas promoções; enfim, o corte não é assim tão cego como se julga, porque se fosse também os muito ricos, á excepção do Américo Amorim que não é rico e pertence à classe trabalhadora segundo afirma, seriam taxados nas suas fortunas. O argumento de Passos Coelho que assim os outros ricos, nomeadamente estrangeiros, não investem se isso for para a frente, dá vontade de perguntar se o P.C quer Portugal equiparado às repúblicas das bananas, com salários baixos e sem impostos para quem investe. Esse dinheiro que entra também não fica lá como se pode ver no seu nível de vida e como se comprovou nos últimos anos com a saída das empresas estrangeiras para outros locais de mão de obra mais barata. A não ser que seja essa a estratégia do P.C., baixar o custo da mão de obra em simultâneo com as benesses para esses potenciais investidores milionários. O que é certo que esses senhores, Amorim, Belmiro e Soares (Pingo Doce) ganharam dinheiro muito à custa do trabalho dos outros e de mão de obra barata (quanto se paga para fazer rolhas?) e agora seria altura de compensar um pouco o Estado do qual beneficiaram (sem falar nos programas de auxílio do Estado, Pedip e QRENs de que beneficiaram largo).

terça-feira, agosto 30, 2011

Uma rentrée universitária atribulada

Ao aproximar o novo ano lectivo e o fim do ano financeiro, demite-se a Vice-Reitora que tem o pelouro das finanças da Universidade, Margarida Proença. A altura não podia ser pior, principalmente com o aproximar do fim do ano e do fechar de contas, que é sempre um quebra cabeças para a instituição. Daqui se podem tirar várias ilações: Uma é que o reitor foi apanhado de surpresa, precisamente porque não iria demitir a pessoa que instituiu e que controla todo um novo processo de contabilização das despesas, com a introdução de dimensões e outras designações que aparecem na página da intranet que dá acesso à contabilidade dos projectos e que são para muitos ainda um mistério.
Outra possível ilação é que foi o reitor que a demitiu, mesmo em má altura, aproveitou as férias tal como fazem as empresas, para arrumar a casa. Mas nesse caso, demitiu porquê? Tal como aparece noutro blogue, se a demitisse teria alguém já na manga, o que parece não ser o caso, senão teria anunciado a sua substituição e não a sua demissão.
Há aqui toda uma telenovela por desvendar se o reitor não vier explicar os porquês da demissão. Em jogo está a estabilidade e a celeridade dos processos na Divisão Financeira e Patrimonial e em última análise, a imagem da Universidade perante a tutela, em momentos de crise que exigem uma gestão muito profissional e criteriosa das contas deste ano que está próximo do fim.
Aguarda-se pois uma substituição célere e suave, com a ajuda activa de quem cessa funções na passagem do testemunho.

segunda-feira, agosto 22, 2011

O corporativismo alastra

Está visto. Quem manda são as corporações. São os sindicatos (corporações mais propriamente) dos professores que fizeram recuar sucessivos governos na avaliação até chegar ao ponto em que não vão ser avaliados (já não vão ser os mais antigos..), são os polícias que fazem greve disfarçada de baixa médica por razões psicológicas (único na Europa e talvez no mundo esta capacidade de improviso dos portugueses), são os militares que fazem promoções à revelia do estatuto geral da função pública que não permite aos restantes funcionários tal desrespeito pelo Estado (por não terem armas?), foram os juízes que mantiveram os seus dois meses de férias, são os maquinistas da CP que param um inteiro sistema de transporte, por também acharem que estão acima dos outros funcionários do Estado ou de empresas públicas e autarquias ao exigirem desbloqueamento das remunerações, e agora veja-se bem... são os árbitros!
Porque não hão-de os árbitros fazer birra também?
Afinal foi só o Sporting que os pôs em causa, nada de mais. Têm o F.C.Porto e o Benfica mudos e indiferente, e principalmente o FCPorto que tanto os apaparicou no passado com fruta e outras guloseimas (segundo escutas de telemóveis por todos ouvidas). Percebo pouco de futebol e não é só por ser adepto do Sporting. Poderia ter sido e pode ainda ser ao contrário: ter o Sporting e o Benfica a apaparicá-los e quem se trama é o FCPorto, se não se mudar radicalmente a mentalidade destas corporações.
As corporações (incluindo alguns sindicatos que actuam como tal) jogam com as divisões na nossa sociedade. As profissionais (professores, juízes, e outras) jogaram com a divisão política, apoiando-se nos partidos da oposição ao governo para alcançarem os seus objectivos. Os árbitros jogam com a rivalidade entre os três grandes clubes, posicionando-se com os que na altura estão na liderança. Tudo porque neste País ainda não se aprendeu que a Justiça, seja a justiça profissional em que todos devem ser tratados da mesma forma ao serem ou não avaliados, seja a dos tribunais, ou a do futebol, não deve estar ao serviço de quem berra mais (leia-se, quem tem mais acesso aos media)ou quem mais intimida a sociedade, seja com a sua força latente, no caso das forças armadas, seja com a falta de segurança das populações, no caso da Polícia, seja com a educação dos nossos filhos, no caso dos professores, ou seja com o nosso tempo livre e estado de espírito, no caso dos árbitros. Num Estado de Direito, deve, isso sim, estar ao serviço do País, que é algo que muitos se esquecem quando olham para os seus previlégios (actuais, futuros ou em risco). Já não bastava a crise.

sábado, agosto 20, 2011

Consequências de uma antecipada "silly season" de alguns políticos

De volta de umas férias, deparo com notícias que demonstram que nada mudou na política. O que o os partidos da oposição criticavam, aplicam com tanto ou mais afinco que o partido socialista. "Jobs for the boys", aparentemente quase 50% das nomeações para os ministérios foram para detentores do cartão partidário. Ingerência nos média através de uma acção de recompensa pelos bons serviços de Mário Crespo, amigo de Moniz e Moura Guedes, com a sua prometida nomeação para comentador em Washington. Impostos que não se iriam aplicar, afirmado mil vezes por Paulo Portas e reafirmada a vontade de cortar nas despesas, o que se verifica é que nunca tivemos nos últimos anos impostos tão gravosos: subsídio de Natal cortado daqueles que trabalham por conta de outrem e daqueles que estão a recibos verdes. Neste último caso nem a troika foi tão longe. Outro imposto que aumenta é o IVA para compensar as empresas com a queda do TSU (pelos vistos até os bancos beneficiam desta queda, o que é perverso). Enfim, já Miguel Sousa Tavares disse na sua crónica no Expresso que se fosse o Sócrates a tomar estas medidas caía o Carmo e a Trindade. Qual a razão de tão pouca contestação? Estado de graça do governo? Cá para mim é o tomar de consciência que algo correu terrivelmente mal quando se chegou ao ponto da antipatia pessoal pelo Sócrates, alimentada pelos média em grande medida, ter suplantado a razão, ou seja o discernimento dos partidos, ao ponto de haver uma aliança entre partidos como o parido comunista e o BE a aliarem-se a partidos no outro extremo do espectro político, o PSD e o CDS, para deitarem o governo PS abaixo. PCP e BE sucumbiram a pressões dos sindicatos dos professores na questão da avaliação que os impulsionou para outras fantasias, como a de que teriam o povo do seu lado se houvesse eleições, como se os professores representassem o eleitorado (a "silly season" começou muito antes do Verão para estes partidos!). O resultado foi o que se viu. O PCP manteve o seu eleitorado imutável, sem crescer, e o bloco quase desapareceu. Foi o maior favor que fizeram àqueles que sempre criticaram, os que eles designam como os representantes do grande capital e dos latifúndios. A privatização a que sempre se opuseram vai ser muito maior que o que estava previsto, a escola pública vai competir em pé de desigualdade com a privada, as Misericórdias serão subsidiadas com dinheiro tirado ao Serviço Nacional de Saúde numa promiscuidade entre a religião e o Estado, muito do agrado do CDS. Nada disto está no entendimento com a Troika. Quanto à Universidades, nada será como dantes. Já se anunciam cortes de 10%: quando os ordenados constituem 95% das despesas, significa isto cortes nos salários? O reitor já disse que vai cortar em horas extraordinárias dos funcionários (nem me tinha apercebido que as havia) e controlar a progressões (hoje notícia no DN)
A avaliação dos professores no superior não vai ter pois consequências pois não pode haver progressões nem nos escalões nem na carreira de cada professor com este cenário. Qual o incentivo para produzir trabalho científico?
Quanto à avaliação dos professores do secundário, fala-se que os mais velhos, os do escalão 8 e 9 (?) não serão avaliados, pois nas palavras do ministro, estes já são muito bons! Este era o ministro que era exigente! Professores que foram transitando de escalão em escalão só devido à sua idade são muito bons? Deve estar a confundir os professores com o vinho do Porto!
E assim vai o País. Se não estava bem com Sócrates também não é com estes governantes que se vai estar melhor, mesmo contando com o denominador comum da troika. Só se for para aqueles que têm dividendos a receber e não paguem os impostos com que nos brindaram para o Natal.

quinta-feira, julho 28, 2011

A Quinta dos Peões vai a aprovação na Câmara sem consulta pública

A construção"Quinta dos Peões" (quinta em frente ao campus de Gualtar) vai finalmente arrancar, com aprovação do projecto na Câmara, segundo informação de NDNR. A UM vai colaborar. Resta saber como. Talvez os actuais responsáveis não saibam mas o que se disse na altura para minimizar os efeitos de ter uma parede de edifícios a tapar a vista da UM, foi divulgado no tempo do reitor Chaínho Pereira um acordo entre o Rodrigues Névoa e a UM que os edifícios altos, de apartamentos ou escritórios, ficariam a ladear a quinta, perpendicularmente à frente da UM, e que qualquer edifício em frente seria baixo, supõe-se que térreo. Chegou-se a falar nas instalações para a Guarda Republicana.
A memória é curta, e a estratégia de deixar passar algum tempo antes de construir parece estar a resultar para o(s) empreiteiros. Se a UM der o seu aval a algo que prejudique a fachada e a vista de e para os edifícios da frente, CP1 e CP2, cometerá outro erro, em cima dos que já foram cometidos desde o princípio de toda esta história, ou seja, desde o ponto em que o edifício poderia ter sido cedido à UM pelo Ministério da Agricultura e não o foi, por via de jogadas da Câmara em sintonia com os empreiteiros e com o beneplácito reitor dessa época, Sérgio Machado dos Santos.
É curioso como é no período de férias na ausência dos Professores, alunos e funcionários que surge esta tomada de decisão. É um assunto demasiado sério para ser resolvido no aconchego dos gabinetes. Como qualquer obra que influencia a vida dos cidadãos, deve ser submetida a consulta pública antes de se avançar para a construção. Mas como no caso da Fundação não houve uma consulta séria á Academia, neste caso nada faz supor que haverá. A não ser que haja um movimento nesse sentido que consiga sensibilizar as entidades públicas e privadas envolvidas no processo.

domingo, julho 24, 2011

A praxe estupidifica?

Numa entrevista a Rodrigues dos Santos transmtida ontem na RTP, Philip Roth explica que no seu livro "Exit Ghost" que o que ele quis transmitir foi o perigo das novas gerações deixarem em grande parte de ler livros. E explica que nem tão pouco é a culpa da internet, mas da falta da capacidade de concentração dos potenciais leitores de tirarem uma ou duas horas diárias para lerem um livro. Será mesmo o que vai acontecer?
O mundo é demasiado rápido para se perder tempo a ler? Por aqui, na Universidade, vemos que muitos dos jovens mal sabem escrever bem português quanto mais lerem um livro do princípio até ao fim e se é assim num meio que se afirma ser de cultura e saber, como será noutros meios? No meio industrial, comercial, rural? Os nosso alunos entram na Universidade, passam pela iniciação da praxe, gritam em altos berros obscenidades, frequentam um curso numa área restrita, têm uma vida social intensa (aqueles que têm) e saem da Universidade a saber o quê em cultura geral? O ensino secundário obrigou-os a ler um ou dois escritores portugueses para que pudessem passar o exame, o que não despertou o interesse pela leitura uma vez que foi uma obrigação. Entram para a Universidade e ficam a saber logo de início que o que interessa para ser um membro de pleno direito da sociedade estudantil universitária é o à-vontade na interjeição de obscenidades em frases feitas, por isso as gritam para se habituarem logo de início. Qual o incentivo para uma escrita e conversação correctas ao integrarem a sociedade um dia que acabam o curso? Como se poderão concentrar na leitura de um livro? Estarão pois condicionados quanto muito à leitura das revistas e jornais desportivos (os do sexo masculino) como já aqui referi.
Será como Philip Roth também afirmou na entrevista que a leitura estará restrita a uma elite cultural, tornando-se quase um culto?
Só o saberemos já tarde de mais.

sexta-feira, julho 22, 2011

O ECDU e a exclusividade são levados a sério?

Parece que o ECDU serve para os concursos e para pouco mais. Quando lemos no ECDU que os docentes devem leccionar, fazer investigação e actividades de gestão, compreendemos que todas estas actividades, umas mais que outras, não causam qualquer controvérsia. No entanto o artigo 4 na alínea c também permite que os docentes podem:
"Participar em tarefas de extensão, de divulgação científica e valorização económica e social do conhecimento".
O artigo 67 tal como no anterior estatuto determina que o pessoal docente de carreira exerce em regra em regime de dedicação exclusiva. As excepções estão referidas no número 5 do artigo seguinte: ajudas de custo e despesas de deslocação. No artigo 70 acrescenta-se ainda os direitos de autor e as actividades que decorrem de contratos entre a Universidade e empresas ou instituições.
No entanto há bastantes professores universitários que exercem funções noutras instituições, e alguns funções executivas seja em empresas como directores científicos ou em instituições de cariz social. Segundo o artigo 68 nem estas funções em empresas nem as instituições de cariz social fazem parte das excepções. Como é possível? Para além destas situações do conhecimento dos governantes da UM haverá muitas outras não declaradas.
Parece que o ECDU não é fiscalizado uma vez que pelo menos na Escola de Engenharia da UM deixou de ser obrigatório apresentar cópia do IRS e/ou uma declaração no sentido que o docente não exerce outra profissão. Porquê? Foi dada alguma explicação por parte da reitoria sobre esta dispensa?
A colaboração com a indústria ou com as empresas ou as instituições é importante para a função da Universidade. Se essas funções seguirem as regras, não forem remuneradas ou sendo-o são declaradas como PSECs, então tudo normal. Mas não o sendo o que é que o ECDU estipula? Nada menos que um procedimento disciplinar e a reposição das quantias auferidas.
Claro que esta é uma daqueles artigos que não são para cumprir, mais como uma ameaça até onde pode ir a sanção. Tudo normal num país em que os que não cumprem não pagam por isso. É como os crimes fiscais. Nestes anos todos de democracia só houve um afigura grada que foi presa, agora já em domícilio e muito em breve, cidadão livre (O.Costa do BPN).
A questão é a seguinte: se ninguém liga, porquê que se insiste? Se houvesse total liberdade de acção, até poderia ser que os Professores trouxessem de fora informações relevantes para o ensino, mas por exemplo engenheiros a exercer funções em instituições de cariz social não será propriamente o caso. Mas enfim,a tutela que assuma ao menos o óbvio e faça uma resolução circular na Universidade que estipule aquilo que já acontece: Não queremos saber o que faz lá fora e não lhe pediremos explicações nem terá que apresentar qualquer comprovativo. Ponto.

domingo, julho 17, 2011

Fundação ou a teoria da conspiração

Já aqui me debrucei sobre o RJIES introduzido pelo anterior Ministro da tutela como sendo um processo em que se perdeu representatividade aos vários corpos que compõem as Universidades. Percebe-se agora que o objectivo final era a passagem a Fundação. Ninguém deu nada pelo artigo no RJIES que preconizava tal transformação, e talvez fosse esse o objectivo. Se o Ministro fizesse um regulamento directo de transformação das Universidades em Fundações, haveria uma reacção contrária por parte dos Professores, funcionários e alunos de tal forma que ele teria que recuar. Assim, primeiro introduz um passo intermédio, o RJIES, que já tira muita representatividade aos membros da Academia, para posteriormente, uma vez instalado o RJIES, poder contar com os reitores na forja, que seriam simpatizantes do modelo Fundação. O reitor só teria que ter a maioria no Conselho Geral e não teria problemas de maior na aprovação deste desígnio. Não sendo obrigatório a consulta à Academia, seja por via do Senado ou por referendo, não haveria qualquer percalço no caminho traçado.
Pois é isso que está a acontecer nas várias Universidades. A Universidade do Minho foi a primeira, a de Coimbra com o novo reitor, substituído que foi o Seabra que era contra, seguirá também por este caminho. Juntar-se-ão às demais, Porto, Aveiro e ISCTE. Não tarda muito e o Instituto Superior Técnico e a Universidade da Madeira serão também Fundações, a julgar pelas notícias recentes.
O governo anterior tinha ministros que de socialistas só tinham a filiação mas de facto eram mais liberais (em termos de política económica e não nas ideias) do que muitos ministros do actual governo. O que dá muito jeito ao actual ministro porque o caminho para a liberalização do Ensino Superior está aberto.
Assim vai o comboio do Ensino Superior, indefectível nos seus carris até a paragem final, a Fundação.
Não haverá muitas formas de o desviar deste caminho a não ser uma paragem forçada por falta de combustível (os 50% que são requisitados para complementar o financiamento do Estado) ou uma inversão de marcha por o "timoneiro" entretanto ter sido substituído e o novo se recusar a trilhar por esta via.

sábado, julho 16, 2011

Feira de vaidades

Temos na UM duas publicações periódicas que publicitam as notícias da UM duma maneira geral. Uma tem o nome caricato de UMdicas, outra mais séria é a Universidade em Notícia, esta última via e-mail. Duma maneira ou outra, seja por divulgação gratuita da UM dicas ou por e-mail, todos temos acesso e é difícil não nos entrar pelos olhos adentro pelo menos a capa da UM dicas ou a página de rosto do Notícias quando a recebemos por e-mail. A qualidade da UM dicas é paupérrima, para não falar da publicidade patente, nem sequer disfarçada, aos dirigentes dos serviços sociais. A pretexto de qualquer evento do calendário, como o arranque do ano lectivo, ou mesmo sem qualquer razão, aparecem os dirigentes dos SASUM como entrevistados, com direito a fotografias dos entrevistados de dimensões que se vêm ao longe. Tudo isto no meio de notícias que até terão interesse para os alunos, como o desporto na UM, o que consiste numa promiscuidade intencional, pois atrai esse público para a leitura e, principalmente, para a tomada de conhecimento dos directores dos SASUM, da sua cara e das suas opiniões. Para além desta auto-promoção, há ainda a promoção da equipa reitoral. A ânsia de agradar a quem manda na UM, nomeadamente à equipa reitoral , é de tal ordem, que são constantes as entrevistas a toda a equipa.
Criticou-se muito o anterior reitor de ter terminado com uma publicação da UM, salvo erro chamada Jornal da UM e publicado pelo Curso de Comunicação, por não ser realmente alinhada com a reitoria, tendo sido a gota de água uma entrevista dum seu vice-reitor criticando de alguma forma a reitoria. Pois bem, porque não se retoma a publicação do dito jornal, uma vez que o reitor é outro e o vice-reitor é o mesmo? Seria pelo menos coerente com os acontecimentos de então e mostraria que esta equipa reitoral é diferente da anterior e promove o debate interno para além da informação promocional.
Outra publicação de que me interrogo é a da Universidade em Notícia, que embora não sendo do mesmo cariz promocional e não gaste dinheiro em papel, gasta com certeza muito tempo a quem o escreve. Começou por ser uma publicação sobre prémios e outros galhardetes conseguidos por professores da UM, o que em si não tem mal, e até promoveria a imagem da UM....se fosse lido fora da UM. Mas não! É dirigido à UM-net e ao interior da UM, referindo isso mesmo no título: "o que os media dizem de nós". Para quê? Para melhorar a auto-estima dos professores? Não se entende esta catadupa de notícias da UM, sendo muitas vezes mais reproduções de entrevistas de responsáveis da UM do que propriamente opiniões dos media sobre a UM, defraudando até as expectativas em que o título induz.
É certo que não havia nada do género com a anterior equipa reitoral e que o que o Gabinete de Comunicação e imagem da UM tem feito até seria de louvar. Mas foi-se do oito para o oitenta, e com tanta notícia banal, retira-se a relevância daquelas que realmente dignificam a instituição.

segunda-feira, julho 11, 2011

Carta aos e-mailers dos gelados

Estamos no fim do período lectivo e aproximamo-nos da “silly season”.
Só isso explica a quantidade de mensagens de e-mail a propósito de uma prova de gelados. Uma grande parte das críticas foram dirigidas tanto à aluna que enviou o e-mail com erros para toda a comunidade académica como para o professor que a criticou também enviando a crítica para toda a comunidade académica. É caso para dizer como alguns disseram: não têm mais nada que fazer? Já não falo de trabalhar, estudar ou investigar. Mas tão-só, se não têm outros assuntos em que possam gastar as vossas energias? Podiam por exemplo ler os estatutos da UM e fazer uma avaliação crítica, ou ler o ECDU no caso dos professores e verificarem quais são as actividades que fazem parte da profissão. Ou podem por exemplo ler um livro que aumente a sua cultura. É minha opinião que grande parte dos erros que os alunos (e alguns professores) cometem é porque não pegam num livro. Talvez leiam os jornais (desportivos na maioria no caso do sexo masculino) e lêem as legendas da televisão ou dos filmes da internet, mas ler um livro bem escrito em português não acredito que o façam. Dá muito trabalho - Muitas vezes ficam-se pelo título só para o meter numa conversa de amigos, mas isso era antes, agora nem o título. A internet substituiu a leitura. José Saramago, Lobo Antunes e outros autores conceituados não são lidos por esta nova geração. Lêem o Miguel Sousa Tavares, o Rodrigues dos Santos (o nosso Dan Brown), e outros que por aí que se servem do jornalismo para vender livros (embora o Miguel Sousa Tavares ao menos fez algum trabalho de casa sobre o livro de São Tomé , que serve de leitura para quem não é muito exigente). E o sexo feminino quase só lê romances da Clara Pinto Correia ou da Isabel Allende, as que lêem, porque maioria lê revistas côr de rosa com informação inútil sobre príncipes e princesas, ou artistas de telenovela.
Depois admiram-se da dislexia dos nossos alunos (sem ofensa para quem padece da doença) e de alguns professores?
Quanto ao mundo que nos rodeia e a outras culturas, nomeadamente a anglo saxónica, teriam muito a aprender se lessem Phillip Roth ou John Updike, ou John Coetzee. É uma lição de vida como tratar os seus semelhantes. Se alguns colegas os lessem saberiam como lidar com certas questões que minam as universidades, nomeadamente preconceitos entre alunos e professores.
Porque essa é que é a questão fundamental por detrás destes e-mails.

sábado, julho 02, 2011

Cursos pós-laborais

Em Azurém, cursos pós-laborais podem resolver um problema imediato de falta de alunos, mas a médio prazo a qualidade dos diplomados que saem destes cursos vai implicar uma desvalorização dos cursos e um decréscimo no número de alunos resultante da fraca credibilidade dos mesmos. O problema é que os alunos que trabalham não têm tempo para cumprir as suas obrigações e os professores não têm condições para leccionar. A componente prática é prejudicada funcionando os laboratórios a meio gás, sendo sempre difícil "negociar" os horários com os técnicos. Grande parte do complexo pedagógico apresenta aspecto desolador, com poucos utentes, muitas luzes apagadas e bares fechados. O facto de ser obrigatório fazer um intervalo para os alunos jantarem, atrasa o fim da aula, terminando às 22:00 horas, o que para alguns, professores e alunos, já é difícil de suportar, com a desatenção e o cansaço a contribuir para aulas mais ligeiras e com menos substância. São comuns os trabalhos teóricos como prova de avaliação, sendo a informação da internet a base de todos os trabalhos. Raramente há referências científicas, sendo o "brasileiro" a língua dominante, o que demonstra o quanto é copiado sem qualquer tratamento. Embora este problema da internet e da aprendizagem "Wikiquicky" não seja exclusivo dos cursos nocturnos, receio que os cursos pós-laborais só venham agravar esta tendência.

terça-feira, junho 28, 2011

o CERN da questão

É altura do novo governo voltar aos antigos estatutos. O RJIES falhou no que respeita a uma maior democracia nas universidades. Reduziu a representatividade. Antes os Presidentes das Unidades Orgânicas eram eleitos por todos, agora são eleitos por um colégio eleitoral designado por Conselho de Escola. Perdeu-se imenso tempo com elaboração de estatutos para não adiantar nada nem em relação à representatividade nem em relação ao intercâmbio de ideias, uma vez que no anterior regime ao menos a Assembleia que era constituída por todos os docentes discutia os programas e as actividades da Escola. A Universidade globalmente também não se democratizou, pelo contrário enfeudou-se mais ao reitor. O Conselho Geral não é mais do que a antiga Assembleia, um órgão que elege o reitor. Poderá reunir mais vezes mas não tem a relevância que se previa, uma vez que acaba por ser um órgão consultivo do reitor, precisamente por ser o órgão que elege o reitor e de ter na sua composição a base de apoio da sua eleição. A eleição devia ser ou por outro órgão para não haver esta ligação entre eleitores e eleito. Assim tal como está é como uma espécie de Assembleia da República em relação aos deputados, em que todos se manifestam mas indo a votos, o partido com maior número de deputados, o partido do governo, é que ganha sempre. No caso das Universidade, por analogia, o "governo" é o reitor mais a sua equipa reitoral e a Assembleia da República é o Conselho Geral.
Em vez de evoluir para um sistema em que todos os corpos que constituem a Universidade tenham representatividade, houve uma menorização da representatividade de alguns corpos, por exemplo a dos funcionários. Os estudantes continuam com o poder de antigamente, podendo decidir uma votação essencial para a Universidade, como aconteceu com a votação da passagem da UM a Fundação em sede de Conselho Geral. Este novo regime, o fundacional, que não lhes fará diferença nenhuma, poderá afectar muito os outros corpos da Universidade, os professores e os fuincionários. Os investigadores dominam os Conselhos Científicos, o que seria lógico, não fosse o facto de uma fatia relevante ser composta por bolseiros que podem ter apenas um ano de casa. Antes o Conselho Científico era constituído por directores dos Centros de Investigação, agora a a sua representatividade pode ser inferior à dos outros investigadores. Poderá haver situações em que uma nomeação definitiva de um professor,por exemplo, seja decidida por bolseiros! Tudo isto tornou-se possível por uns estatutos feitos em cima do joelho, mesmo demorando o tempo que demorou.
Como diz o ditado, para pior já bastava assim, ou seja, não estávamos pior com o anterior estatuto.
Às vezes é melhor não inventar, mas como o nosso anterior ministro era um físico e não um gestor, as suas brilhantes ideias resultaram no que está á vista. Esperemos que não haja uma fusão atómica através da colisão de partículas, com uma geração de energia nunca vista, tal como ambiciona que aconteça no acelerador de partículas do Laboratório europeu de física de partículas, CERN, porque no caso de professores a colisão pode provocar o contrário, perda de energia no sistema, energia essa que é essencial ao processo de ensino e investigação.
Ora aí a questão: aplicou-se em pleno o princípio de Peter ao promoverem um físico a ministro.Que esperavam?
Esperemos que um matemático, que o é o novo ministro, não vá pelo mesmo caminho, e aplique a "lógica" da matemática ás instituições universitárias, mas que aplique o bom senso, que é algo que tem faltado em quem nos tem tutelado.

domingo, junho 19, 2011

A Justiça e a Avaliação do RAD

Pode-se dizer que a Justiça funciona mal mas pelo menos não há dúvidas de como funciona em termos de hierarquia. Na carreira dos juízes a hierarquia é respeitada porque só há um regulamento. Nas Universidade havendo dois regulamentos tudo se confunde. Um director duma sub-unidade de ensino e investigação pode anular totalmente o que vem estipulado no ECDU relativamente à hierarquia, se quiser. Pode alegar a legitimidade do voto, por ter sido eleito pela maioria dos membros do departamento ou centro, e decidir sobre assuntos que em princípio deviam ser da responsabilidade do Professor mais graduado. As disciplinas em que os professores se deveriam agrupar, podem deixar de funcionar. Basta que o Director não implemente o modelo que o ECDU prevê para que não funcionem. Os Professores Auxiliares não são nestes casos coordenados pelos seus superiores hierárquicos, sejam Professores Associados ou Catedráticos, nem os Professores Associados são coordenados pelos Professores Catedráticos. Há uma total liberdade nestes casos de actuação o que pode parecer muito democrático. No entanto todos sabemos o que a ausência de disciplina pode causar. O resultado está á vista. Na Engenharia por exemplo, basta ver quais os departamentos com piores índices de publicações, embora seja difícil avaliar departamentos e centros porque a média inclui elementos individuais com elevado número de publicações e outros sem nenhumas. Mas quem avalia sabe distinguir e nessa avaliação se for honesto e não "branquear" os maus resultados da maioria, chega infelizmente à triste conclusão que exceptuando um ou dois elementos, o nível científico é muito baixo. O nível pedagógico é mais difícil de avaliar para quem está de fora, mas normalmente acompanha o nível científico.
Nada se faz sem esforço intelectual. Esse esforço pode ser anulado se não se estabelecerem objectivos individuais para cada elemento. Não basta apontar metas e tetos globais para cada departamento ou centro de I&D, como acontece com o RAD da EEUM, e classificar segundo essas metas e testos. Seria necessário actuar antes para evitar o que pode vir a ser uma classificação geral medíocre. Seria necessário que essas metas e tetos tivessem sido implementadas há anos internamente e não se esperasse que fossem forçadas pelo exterior, neste caso pelo RAD.
Anos de complacência podem em muitos casos ter o seu resultado espelhado no RAD. Esperemos que os culpados sejam por uma vez identificados e que dos maus resultados se tirem consequências e que se ponha a casa em ordem, pronta para próximas avaliações. Temo que já não se vá a tempo e que numa ânsia de cortes por parte da Administração Publica, esta seja uma forma de cortar nos excedentes por parte daqueles que têm essa incumbência, ou seja, os mesmos que nunca fizeram nada para evitar este estado de coisas. Esses estão e estarão sempre bem, assim reza a história. Comecei por referir a Justiça e acabo dizendo que não há Justiça para os que não fizeram por a merecer e que estiveram anos em jogos proteccionistas de si próprio e dos seus pares.
Afinal há a Justiça que o Povo diz ser a Justiça de Deus, pois Deus escreve direito por linhas tortas. Ninguém se pode queixar, porque quem os pôs lá (a estes senhores) à frente das sub-unidades (Departamentos e Centros) são aqueles que agora vão ser avaliados.

domingo, junho 12, 2011

Como ligar o ensino às exportações?

Ouvimos os políticos em geral a enaltecer as indústrias exportadoras como sendo o motor da Economia. Se virmos o panorama nas Universidades Portuguesas, o que vemos é que os cursos mais populares não estão ligados a indústrias exportadoras, embora se possa argumentar que os cursos de banda larga, tais como os cursos de gestão, sejam para todas as áreas incluindo a indústria. Cursos de biologia, engenharia biológica, engenharia biomédica, cursos de alguma forma conotados com as ciências da vida, muito procurados por alunos que sentem vocação ou foram incentivados pelos vários programas de Ciência Viva, verdadeiro sorvedouro de dinheiros públicos, nem sequer estão conotados com a indústria quanto mais a indústria exportadora. Um dos cursos de engenharia mais populares é o curso de Engenharia Civil. No entanto não é uma indústria exportadora, a não ser se considerarmos exportar engenheiros como fazendo parte das estatísticas de exportação.
De tempos a tempos também ouvimos alguns políticos ou jornalistas a criticarem o facto da Universidade e a indústria andarem de costas voltadas. São só palavras de circunstância porque uma política séria de planeamento do Ensino Superior no que respeita às Ciências e à Engenharia implicaria um planeamento desde o 1º ciclo, passando pelo secundário e não uma análise só da Universidade. Quando entram na Universidade já é tarde para os jovens, pois já fizeram a sua escolha. Mostrar aos jovens do ciclo e do secundário as empresas e o seu potencial existente (e o ainda não-existente), não fazê-los sonhar só com coisas interessantes divulgadas nos programas de divulgação da ciência como os pequenos truques que se fazem com a física ou a química e biologia, que não vão contribuir para o seu futuro, seria a meu ver mais útil ao futuro dos jovens. Seria mais útil que os jovens ouvissem empresários bem sucedidos de empresas do que professores universitários que nunca puseram os pés numa empresa, a apregoarem os seus cursos como sendo os melhores. Afinal os jovens de hoje não vão trabalhar nas Universidades mas nas empresas! Parece que é um País fascinado pelo ensino e esquecido do mundo real. Quando os alunos finalmente entram num desses cursos com que sonharam ouvem mais do mesmo só que mais sofisticado e mais desenvolvido. No fim do curso, podem ficar saciados de tanta ciência, mas ficam desprovidos de qualquer experiência que lhes permita entrar no mundo empresarial. Poderiam ser professores se não houvesse o desemprego que já existe e existirá durante anos neste sector. Muitos continuam com o sonho, enveredando pela via da investigação que é só um adiamento do inevitável, num País que não tem lugar para doutorados nas suas empresas.
O próprio sistema de ensino está artificialmente empolado, com programas doutorais em engenharia que não servem para as empresas, porque os alunos debruçam-se sobre um assunto muito específico. Mais parece que não há qualquer estratégia nas Universidades a não ser alimentar os alunos com cursos de 2º e 3º ciclo para que não fiquem no desemprego logo após a licenciatura, e ao mesmo tempo garantir que a Universidade não perca alunos, nem que isso signifique baixar o nível.
É certo que já não há um caminho direto para o emprego via ensino superior. Acabaram com os Politécnicos e transformaram-nos em Universidades tornando esta via mais difícil. A Escola Tecnológica não responde á necessidade que as empresas têm para inovarem e darem o salto tecnológico, sendo mais uma forma de fornecer as empresas com mão-de-obra qualificada que o é mas não o suficiente. O mais dramático é que mesmo muitos destes não ingressam nas empresas portuguesas preferindo emigrar. Que fazer?
Com um governo maioritário há uma oportunidade para fazer uma reestruturação geral do ensino de ciências e engenharia e pô-lo ao serviço das indústrias exportadoras. Mas fazê-lo implica mexer em muitos interesses instalados e isso já se provou com o anterior governo que é muito impopular. Resta-nos continuar a esperar que haja bom senso por parte dos pais e alunos na escolha do cursos e por parte dos professores que pensem mais no futuro dos alunos do que no seu próprio futuro.

sexta-feira, junho 03, 2011

UM: Atrair peões ao campus

Com o aproximar do Verão, constatamos as deficiências do campus de Gualtar e mesmo o de Azurém, embora menos, no que respeita a espaços verdes. Numa altura em que os alunos e investigadores poderiam auferir desses espaços nos seus tempos livres, como acontece em países realmente desenvolvidos, vemos os alunos em ambientes confinados, em corredores e em halls sem condições, o que não abona em nada a favor da Universidade como local de convívio, que também o deve ser. Afinal estes são considerados anos marcantes na vida dos jovens. Com que memória que ficam da sua passagem pela Universidade? Como procura a Universidade atrair os alunos? Noutras Universidades que lutam por cativar os melhores alunos estas não deixam de referir e mostrar os seus espaços verdes, por onde se pode conviver e relaxar num ambiente agradável, tão importante para enfrentar mais uma aula ou mais um teste ou exame.
Infelizmente, os reitores anteriores não defenderam o espaço em frente ao campus de Gualtar, a chamada quinta dos peões, que foi desafectada do Estado (Ministério da Agricultura) por uma câmara dependente de empreiteiros, e com a passividade ou mesmo conivência da Universidade.
O actual reitor, bem podia reverter esta situação e já que fez da possibilidade de alienar património um dos argumentos da sua campanha para passagem da universidade a fundação, poderia aproveitar essa possibilidade também para "readquirir" este património ao sr. Rodrigues Névoa, que tenho ideia ser o actual proprietário da quinta dos peões. Embora em teoria a Universidade não devesse pagar por um espaço que já era do Estado, uma vez que o negócio foi feito e houve transferência de dinheiro de privados para o Estado, o que por si só é estranho e devia ser investigado, devia a Universidade pagar exactamente a mesma quantia ao sr Rodrigues Névoa para não ser mais prejudicada do que já foi em todo este negócio. E devia fazê-lo antes que se começasse a construir!

quinta-feira, maio 26, 2011

A Fundação: regime de contratações e promoções

É sabido que no nosso País funciona e funcionou sempre a cunha. Uma palavrinha, uma ligação familiar ou de amizade ou de outra natureza, e o emprego ou a promoção estão garantidas. Acontece nas empresas e acontece na função pública. Todo o País depois sofre na sua competitividade por muitas vezes não serem os melhores em cargos de chefia, ou mesmo que não sejam de chefia mas suficientemente relevantes para "atrasar toda a máquina" ou numa designação muito mais apropriada em inglês: "slow down". Os sociólogos teriam muito a estudar sobre esta apetência que os homens e mulheres têm para se sentirem poderosos ao ter nas suas mãos o destino de alguém, e de daí tirarem prazer ao decidir sobre o seu emprego e futuro profissional.Também sobre os candidatos que se sujeitam a essa arbitrariedade este estudo faria um bom "case study" em termos da aceitação de ficarem a dever favores ao seu chefe e de futuro ter que "pagá-los".
Na função pública, quando um governo introduz uma lei mais exigente de concursos para admissão ou promoção de pessoal, é com o objectivo de reconhecer o mérito na avaliação. No entanto há uma tendência recente de se confundir competitividade com agilização de processos de contratação e de promoção. É o caso da transformação da Universidade em Fundação, em que todos estes processos de contratação e de promoção serão muito mais simples e rápidos. Pode de facto haver a coincidência de se contratar alguém muito capaz que imediatamente põe as suas capacidades de trabalho ao serviço da instituição e tal como em muitas empresas de sucesso, potencia a produtividade da secção para onde foi trabalhar ou onde foi promovido e indirectamente contribuir para a produtividade da própria Universidade. Mas em muitos casos pode também funcionar a cunha ou a proximidade, familiar ou outra, uma vez que é uma condição que não desapareceu nem desaparece tão cedo da sociedade portuguesa. No caso da promoção de funcionários, já temos o exemplo do SIADAP que permite aquilo a que se designou por Opção Gestionária, mas que bem se podia designar por "opção discricionária" pelas injustiças que causa ao passar ao lado da avaliação objectiva regular. No caso dos professores, o ECDU ainda vigora com exclusividade da promoção por via duma avaliação por concurso. Com a passagem da Universidade a Fundação, vai haver também a possibilidade de passar ao lado do ECDU, o que poderá também gerar situações de injustiça. Vamos esperar para ver, porque se as dúvidas ou mesmo rejeição de muitos professores da passagem a Fundação já são muitas, então serão muitas mais nessa altura, o que poderá provocar uma alteração do sentido de voto nas próximas eleições para os cargos dirigentes da UM, uma vez que os actuais dirigentes são os protagonistas desta mudança.

domingo, maio 15, 2011

Desvalorização dos graus em Engenharia

Mestrado? Doutoramento? São palavras que em tempos eram raras no quotidiano português mas que agora são comuns, o que seria exclusivamente motivo de orgulho para o nosso País, mas que são também motivo de preocupação pela sua aparente desvalorização. Senão vejamos. Para ingressar no Mestrado já não é necessário como era antes de Bolonha nota de 14 ou 13 com um bom currículo, e na Engenharia, no caso dos Mestrados Integrados, é uma continuação dos primeiros 3 anos, que conferem o grau de licenciatura. É preciso que se recue aos primórdios de Bolonha para nos lembrarmos que as licenciaturas eram para ser por si só o grau de ingresso no mercado de trabalho, com o objectivo de encurtar esse período de aprendizagem tornando-o torná-la mais virado para Mercado. Todos sabemos o que fizemos dessa ideia: foi para o lixo porque não interessava ao Ensino Superior ter os alunos menos anos na instituição com a consequente perda de receitas para as Universidades. Assim, desvalorizando a licenciatura, sobrecarregando-a de matérias que não interessariam ao potencial empregador, forçam os alunos a continuar para Mestrado para assim poderem ter aceitação no mercado de trabalho, e facilitam também essa transição integrando o grau de licenciatura em Mestrado Integrados.
Por sua vez, esta massificação de Mestrados, para além de desvalorizar o grau, força os alunos a pensar diferenciarem-se da concorrência, pensando em prosseguir para o doutoramento. A Universidade agradece e facilita essa transição: para ingressar no programa doutoral também não é necessário nota de 14, ou Mestrado com classificação de Muito Bom como era antes de Bolonha. Os Doutoramentos são agora programas doutorais, em que, tal como no Mestrado, têm um ano com aulas em matérias de "adaptação" à àrea do doutoramento e aulas em matérias de preparação para a investigação. Tudo muito lógico, mas perde-se um ano de investigação. Portanto temos o programa doutoral com menos um ano de investigação no doutoramento.
Em termos de capacidade dos doutorandos para a investigação, como consequência dos anos iniciais da licenciatura sem aulas de preparação de prática laboratorial, substituídas que foram em muitos casos por teoria e por trabalhos em computador (com recurso a motores de busca e enciclopédias on-line), temos a má preparação laboratorial dos alunos, mesmo daqueles que entraram com notas superiores a 14, indispensável para cumprirem um doutoramento.
Será normal que os supervisores façam que tudo seja possível fazer no curto espaço de tempo que têm para cumprir o calendário, não querendo dispensar no seu currículo mais uma orientação de um doutoramento.
Exagerado este cenário? Gostava que o fosse, mas teriam que me convencer do contrário, com factos e não "pedagogia", que é o que não falta na nova realidade que é Bolonha.

sábado, maio 07, 2011

A inércia do sistema perante sintomas preocupantes

Surgem ciclicamente mensagens de alguém que sente que foi marginalizado pelos seus superiores ou mesmo colegas, como foi o caso desta semana de Joaquim Sá do IE-Instituto da Educação. Conheço o Joaquim e conheço os seus problemas por alto, mas não conheço toda a história por detrás de tanta amargura. Sei que terá as suas razões, porque sendo um professor profundamente honesto , não conseguiu no entanto progredir na carreira tal como desejava. Assistiu durante anos à progressão de outros que não reconhece como tendo um currículo superior ao seu, ou pelo menos que não tem um currículo que lhe pareça em linha com as directrizes do que é normal nas Ciência de Educação. Para um leigo nesta área como eu, também fico surpreendido como currículos de biologia e áreas afins chegam a Professor Catedrático em departamentos onde supostamente “se ensina a ensinar”, havendo ainda por cima outros com currículo em áreas mais de acordo com a Educação em geral como é o Ensino de crianças, que é aparentemente a área do Joaquim, que ficam pelo caminho.
A frustração de ninguém lhe responder a estas questões, que lhe parecem anómalas, levou-o ao desespero e a tomar atitudes que muitos reprovam, como o de divulgar textos que chegam a insultar quem percorreu esses caminhos paralelos à Educação como o seu colega Nelson Lima, ele próprio eventualmente uma vítima do sistema, que como denuncia o Joaquim, “anicha” professores onde existe vaga, independentemente do seu currículo ser aquele que mais interessa ao fim em vista: neste caso a Educação. Também não aprecio esta forma de protesto que procura envolver todos os membros da comunidade académica num assunto que eventualmente não poderão julgar com isenção por não conhecerem toda a envolvente, e que por isso castiga quem não esperava tal ataque quando inocentemente divulga o que tem construído ao longo dos anos na UM, ou seja uma Micoteca, que sem dúvida tem muito interesse e mérito, embora talvez não para o Instituto de Educação, pelo menos directamente. Dito isto, também compreendo o grito de revolta do Joaquim, que entendo não como um ataque ao seu colega, mas mais um grito contra o sistema que o usou e o "cuspiu" quando ele se tornou incómodo. Infelizmente há vários casos destes nas Universidades, não só na UM como é bom de ver, e não há quem se interesse e procure resolvê-los. Para os alunos há o Procurador do aluno, mas infelizmente para os professores isso não existe.
Amigos Joaquim e Nelson, que não tenho o prazer de conhecer, como os compreendo! O Joaquim por não ter sido reconhecido o seu mérito, o Nelson que fez algo que ninguém lhe pediu para fazer, uma Micoteca, o que na Função Pública é invulgar. E se o fez por vias paralelas é porque não o poderia fazer por outras vias. Mas por favor, o vosso inimigo é o mesmo por isso não se digladiem mutuamente. Antes combatam o sistema juntos. Vejam como se originou toda esta confusão de critérios e exponham essas incongruências juntos, sugerindo rearranjos de sub-unidades orgânicas ou mesmo Unidades orgânicas de modo a que todos no futuro tenha uma vaga onde poderá correctamente se “anichar”, sem usar o nicho alheio.
É minha convicção e já a exprimi aqui neste espaço, que a UM já devia ter feito esse estudo global, reorganizar-se em novas e restruturadas unidades e sub-unidades. Não o faz para não mexer nos interesses instalados e como consequência temos casos como este, que imagino ser só a ponta do iceberg.