segunda-feira, julho 11, 2011

Carta aos e-mailers dos gelados

Estamos no fim do período lectivo e aproximamo-nos da “silly season”.
Só isso explica a quantidade de mensagens de e-mail a propósito de uma prova de gelados. Uma grande parte das críticas foram dirigidas tanto à aluna que enviou o e-mail com erros para toda a comunidade académica como para o professor que a criticou também enviando a crítica para toda a comunidade académica. É caso para dizer como alguns disseram: não têm mais nada que fazer? Já não falo de trabalhar, estudar ou investigar. Mas tão-só, se não têm outros assuntos em que possam gastar as vossas energias? Podiam por exemplo ler os estatutos da UM e fazer uma avaliação crítica, ou ler o ECDU no caso dos professores e verificarem quais são as actividades que fazem parte da profissão. Ou podem por exemplo ler um livro que aumente a sua cultura. É minha opinião que grande parte dos erros que os alunos (e alguns professores) cometem é porque não pegam num livro. Talvez leiam os jornais (desportivos na maioria no caso do sexo masculino) e lêem as legendas da televisão ou dos filmes da internet, mas ler um livro bem escrito em português não acredito que o façam. Dá muito trabalho - Muitas vezes ficam-se pelo título só para o meter numa conversa de amigos, mas isso era antes, agora nem o título. A internet substituiu a leitura. José Saramago, Lobo Antunes e outros autores conceituados não são lidos por esta nova geração. Lêem o Miguel Sousa Tavares, o Rodrigues dos Santos (o nosso Dan Brown), e outros que por aí que se servem do jornalismo para vender livros (embora o Miguel Sousa Tavares ao menos fez algum trabalho de casa sobre o livro de São Tomé , que serve de leitura para quem não é muito exigente). E o sexo feminino quase só lê romances da Clara Pinto Correia ou da Isabel Allende, as que lêem, porque maioria lê revistas côr de rosa com informação inútil sobre príncipes e princesas, ou artistas de telenovela.
Depois admiram-se da dislexia dos nossos alunos (sem ofensa para quem padece da doença) e de alguns professores?
Quanto ao mundo que nos rodeia e a outras culturas, nomeadamente a anglo saxónica, teriam muito a aprender se lessem Phillip Roth ou John Updike, ou John Coetzee. É uma lição de vida como tratar os seus semelhantes. Se alguns colegas os lessem saberiam como lidar com certas questões que minam as universidades, nomeadamente preconceitos entre alunos e professores.
Porque essa é que é a questão fundamental por detrás destes e-mails.

sábado, julho 02, 2011

Cursos pós-laborais

Em Azurém, cursos pós-laborais podem resolver um problema imediato de falta de alunos, mas a médio prazo a qualidade dos diplomados que saem destes cursos vai implicar uma desvalorização dos cursos e um decréscimo no número de alunos resultante da fraca credibilidade dos mesmos. O problema é que os alunos que trabalham não têm tempo para cumprir as suas obrigações e os professores não têm condições para leccionar. A componente prática é prejudicada funcionando os laboratórios a meio gás, sendo sempre difícil "negociar" os horários com os técnicos. Grande parte do complexo pedagógico apresenta aspecto desolador, com poucos utentes, muitas luzes apagadas e bares fechados. O facto de ser obrigatório fazer um intervalo para os alunos jantarem, atrasa o fim da aula, terminando às 22:00 horas, o que para alguns, professores e alunos, já é difícil de suportar, com a desatenção e o cansaço a contribuir para aulas mais ligeiras e com menos substância. São comuns os trabalhos teóricos como prova de avaliação, sendo a informação da internet a base de todos os trabalhos. Raramente há referências científicas, sendo o "brasileiro" a língua dominante, o que demonstra o quanto é copiado sem qualquer tratamento. Embora este problema da internet e da aprendizagem "Wikiquicky" não seja exclusivo dos cursos nocturnos, receio que os cursos pós-laborais só venham agravar esta tendência.

terça-feira, junho 28, 2011

o CERN da questão

É altura do novo governo voltar aos antigos estatutos. O RJIES falhou no que respeita a uma maior democracia nas universidades. Reduziu a representatividade. Antes os Presidentes das Unidades Orgânicas eram eleitos por todos, agora são eleitos por um colégio eleitoral designado por Conselho de Escola. Perdeu-se imenso tempo com elaboração de estatutos para não adiantar nada nem em relação à representatividade nem em relação ao intercâmbio de ideias, uma vez que no anterior regime ao menos a Assembleia que era constituída por todos os docentes discutia os programas e as actividades da Escola. A Universidade globalmente também não se democratizou, pelo contrário enfeudou-se mais ao reitor. O Conselho Geral não é mais do que a antiga Assembleia, um órgão que elege o reitor. Poderá reunir mais vezes mas não tem a relevância que se previa, uma vez que acaba por ser um órgão consultivo do reitor, precisamente por ser o órgão que elege o reitor e de ter na sua composição a base de apoio da sua eleição. A eleição devia ser ou por outro órgão para não haver esta ligação entre eleitores e eleito. Assim tal como está é como uma espécie de Assembleia da República em relação aos deputados, em que todos se manifestam mas indo a votos, o partido com maior número de deputados, o partido do governo, é que ganha sempre. No caso das Universidade, por analogia, o "governo" é o reitor mais a sua equipa reitoral e a Assembleia da República é o Conselho Geral.
Em vez de evoluir para um sistema em que todos os corpos que constituem a Universidade tenham representatividade, houve uma menorização da representatividade de alguns corpos, por exemplo a dos funcionários. Os estudantes continuam com o poder de antigamente, podendo decidir uma votação essencial para a Universidade, como aconteceu com a votação da passagem da UM a Fundação em sede de Conselho Geral. Este novo regime, o fundacional, que não lhes fará diferença nenhuma, poderá afectar muito os outros corpos da Universidade, os professores e os fuincionários. Os investigadores dominam os Conselhos Científicos, o que seria lógico, não fosse o facto de uma fatia relevante ser composta por bolseiros que podem ter apenas um ano de casa. Antes o Conselho Científico era constituído por directores dos Centros de Investigação, agora a a sua representatividade pode ser inferior à dos outros investigadores. Poderá haver situações em que uma nomeação definitiva de um professor,por exemplo, seja decidida por bolseiros! Tudo isto tornou-se possível por uns estatutos feitos em cima do joelho, mesmo demorando o tempo que demorou.
Como diz o ditado, para pior já bastava assim, ou seja, não estávamos pior com o anterior estatuto.
Às vezes é melhor não inventar, mas como o nosso anterior ministro era um físico e não um gestor, as suas brilhantes ideias resultaram no que está á vista. Esperemos que não haja uma fusão atómica através da colisão de partículas, com uma geração de energia nunca vista, tal como ambiciona que aconteça no acelerador de partículas do Laboratório europeu de física de partículas, CERN, porque no caso de professores a colisão pode provocar o contrário, perda de energia no sistema, energia essa que é essencial ao processo de ensino e investigação.
Ora aí a questão: aplicou-se em pleno o princípio de Peter ao promoverem um físico a ministro.Que esperavam?
Esperemos que um matemático, que o é o novo ministro, não vá pelo mesmo caminho, e aplique a "lógica" da matemática ás instituições universitárias, mas que aplique o bom senso, que é algo que tem faltado em quem nos tem tutelado.

domingo, junho 19, 2011

A Justiça e a Avaliação do RAD

Pode-se dizer que a Justiça funciona mal mas pelo menos não há dúvidas de como funciona em termos de hierarquia. Na carreira dos juízes a hierarquia é respeitada porque só há um regulamento. Nas Universidade havendo dois regulamentos tudo se confunde. Um director duma sub-unidade de ensino e investigação pode anular totalmente o que vem estipulado no ECDU relativamente à hierarquia, se quiser. Pode alegar a legitimidade do voto, por ter sido eleito pela maioria dos membros do departamento ou centro, e decidir sobre assuntos que em princípio deviam ser da responsabilidade do Professor mais graduado. As disciplinas em que os professores se deveriam agrupar, podem deixar de funcionar. Basta que o Director não implemente o modelo que o ECDU prevê para que não funcionem. Os Professores Auxiliares não são nestes casos coordenados pelos seus superiores hierárquicos, sejam Professores Associados ou Catedráticos, nem os Professores Associados são coordenados pelos Professores Catedráticos. Há uma total liberdade nestes casos de actuação o que pode parecer muito democrático. No entanto todos sabemos o que a ausência de disciplina pode causar. O resultado está á vista. Na Engenharia por exemplo, basta ver quais os departamentos com piores índices de publicações, embora seja difícil avaliar departamentos e centros porque a média inclui elementos individuais com elevado número de publicações e outros sem nenhumas. Mas quem avalia sabe distinguir e nessa avaliação se for honesto e não "branquear" os maus resultados da maioria, chega infelizmente à triste conclusão que exceptuando um ou dois elementos, o nível científico é muito baixo. O nível pedagógico é mais difícil de avaliar para quem está de fora, mas normalmente acompanha o nível científico.
Nada se faz sem esforço intelectual. Esse esforço pode ser anulado se não se estabelecerem objectivos individuais para cada elemento. Não basta apontar metas e tetos globais para cada departamento ou centro de I&D, como acontece com o RAD da EEUM, e classificar segundo essas metas e testos. Seria necessário actuar antes para evitar o que pode vir a ser uma classificação geral medíocre. Seria necessário que essas metas e tetos tivessem sido implementadas há anos internamente e não se esperasse que fossem forçadas pelo exterior, neste caso pelo RAD.
Anos de complacência podem em muitos casos ter o seu resultado espelhado no RAD. Esperemos que os culpados sejam por uma vez identificados e que dos maus resultados se tirem consequências e que se ponha a casa em ordem, pronta para próximas avaliações. Temo que já não se vá a tempo e que numa ânsia de cortes por parte da Administração Publica, esta seja uma forma de cortar nos excedentes por parte daqueles que têm essa incumbência, ou seja, os mesmos que nunca fizeram nada para evitar este estado de coisas. Esses estão e estarão sempre bem, assim reza a história. Comecei por referir a Justiça e acabo dizendo que não há Justiça para os que não fizeram por a merecer e que estiveram anos em jogos proteccionistas de si próprio e dos seus pares.
Afinal há a Justiça que o Povo diz ser a Justiça de Deus, pois Deus escreve direito por linhas tortas. Ninguém se pode queixar, porque quem os pôs lá (a estes senhores) à frente das sub-unidades (Departamentos e Centros) são aqueles que agora vão ser avaliados.

domingo, junho 12, 2011

Como ligar o ensino às exportações?

Ouvimos os políticos em geral a enaltecer as indústrias exportadoras como sendo o motor da Economia. Se virmos o panorama nas Universidades Portuguesas, o que vemos é que os cursos mais populares não estão ligados a indústrias exportadoras, embora se possa argumentar que os cursos de banda larga, tais como os cursos de gestão, sejam para todas as áreas incluindo a indústria. Cursos de biologia, engenharia biológica, engenharia biomédica, cursos de alguma forma conotados com as ciências da vida, muito procurados por alunos que sentem vocação ou foram incentivados pelos vários programas de Ciência Viva, verdadeiro sorvedouro de dinheiros públicos, nem sequer estão conotados com a indústria quanto mais a indústria exportadora. Um dos cursos de engenharia mais populares é o curso de Engenharia Civil. No entanto não é uma indústria exportadora, a não ser se considerarmos exportar engenheiros como fazendo parte das estatísticas de exportação.
De tempos a tempos também ouvimos alguns políticos ou jornalistas a criticarem o facto da Universidade e a indústria andarem de costas voltadas. São só palavras de circunstância porque uma política séria de planeamento do Ensino Superior no que respeita às Ciências e à Engenharia implicaria um planeamento desde o 1º ciclo, passando pelo secundário e não uma análise só da Universidade. Quando entram na Universidade já é tarde para os jovens, pois já fizeram a sua escolha. Mostrar aos jovens do ciclo e do secundário as empresas e o seu potencial existente (e o ainda não-existente), não fazê-los sonhar só com coisas interessantes divulgadas nos programas de divulgação da ciência como os pequenos truques que se fazem com a física ou a química e biologia, que não vão contribuir para o seu futuro, seria a meu ver mais útil ao futuro dos jovens. Seria mais útil que os jovens ouvissem empresários bem sucedidos de empresas do que professores universitários que nunca puseram os pés numa empresa, a apregoarem os seus cursos como sendo os melhores. Afinal os jovens de hoje não vão trabalhar nas Universidades mas nas empresas! Parece que é um País fascinado pelo ensino e esquecido do mundo real. Quando os alunos finalmente entram num desses cursos com que sonharam ouvem mais do mesmo só que mais sofisticado e mais desenvolvido. No fim do curso, podem ficar saciados de tanta ciência, mas ficam desprovidos de qualquer experiência que lhes permita entrar no mundo empresarial. Poderiam ser professores se não houvesse o desemprego que já existe e existirá durante anos neste sector. Muitos continuam com o sonho, enveredando pela via da investigação que é só um adiamento do inevitável, num País que não tem lugar para doutorados nas suas empresas.
O próprio sistema de ensino está artificialmente empolado, com programas doutorais em engenharia que não servem para as empresas, porque os alunos debruçam-se sobre um assunto muito específico. Mais parece que não há qualquer estratégia nas Universidades a não ser alimentar os alunos com cursos de 2º e 3º ciclo para que não fiquem no desemprego logo após a licenciatura, e ao mesmo tempo garantir que a Universidade não perca alunos, nem que isso signifique baixar o nível.
É certo que já não há um caminho direto para o emprego via ensino superior. Acabaram com os Politécnicos e transformaram-nos em Universidades tornando esta via mais difícil. A Escola Tecnológica não responde á necessidade que as empresas têm para inovarem e darem o salto tecnológico, sendo mais uma forma de fornecer as empresas com mão-de-obra qualificada que o é mas não o suficiente. O mais dramático é que mesmo muitos destes não ingressam nas empresas portuguesas preferindo emigrar. Que fazer?
Com um governo maioritário há uma oportunidade para fazer uma reestruturação geral do ensino de ciências e engenharia e pô-lo ao serviço das indústrias exportadoras. Mas fazê-lo implica mexer em muitos interesses instalados e isso já se provou com o anterior governo que é muito impopular. Resta-nos continuar a esperar que haja bom senso por parte dos pais e alunos na escolha do cursos e por parte dos professores que pensem mais no futuro dos alunos do que no seu próprio futuro.

sexta-feira, junho 03, 2011

UM: Atrair peões ao campus

Com o aproximar do Verão, constatamos as deficiências do campus de Gualtar e mesmo o de Azurém, embora menos, no que respeita a espaços verdes. Numa altura em que os alunos e investigadores poderiam auferir desses espaços nos seus tempos livres, como acontece em países realmente desenvolvidos, vemos os alunos em ambientes confinados, em corredores e em halls sem condições, o que não abona em nada a favor da Universidade como local de convívio, que também o deve ser. Afinal estes são considerados anos marcantes na vida dos jovens. Com que memória que ficam da sua passagem pela Universidade? Como procura a Universidade atrair os alunos? Noutras Universidades que lutam por cativar os melhores alunos estas não deixam de referir e mostrar os seus espaços verdes, por onde se pode conviver e relaxar num ambiente agradável, tão importante para enfrentar mais uma aula ou mais um teste ou exame.
Infelizmente, os reitores anteriores não defenderam o espaço em frente ao campus de Gualtar, a chamada quinta dos peões, que foi desafectada do Estado (Ministério da Agricultura) por uma câmara dependente de empreiteiros, e com a passividade ou mesmo conivência da Universidade.
O actual reitor, bem podia reverter esta situação e já que fez da possibilidade de alienar património um dos argumentos da sua campanha para passagem da universidade a fundação, poderia aproveitar essa possibilidade também para "readquirir" este património ao sr. Rodrigues Névoa, que tenho ideia ser o actual proprietário da quinta dos peões. Embora em teoria a Universidade não devesse pagar por um espaço que já era do Estado, uma vez que o negócio foi feito e houve transferência de dinheiro de privados para o Estado, o que por si só é estranho e devia ser investigado, devia a Universidade pagar exactamente a mesma quantia ao sr Rodrigues Névoa para não ser mais prejudicada do que já foi em todo este negócio. E devia fazê-lo antes que se começasse a construir!

quinta-feira, maio 26, 2011

A Fundação: regime de contratações e promoções

É sabido que no nosso País funciona e funcionou sempre a cunha. Uma palavrinha, uma ligação familiar ou de amizade ou de outra natureza, e o emprego ou a promoção estão garantidas. Acontece nas empresas e acontece na função pública. Todo o País depois sofre na sua competitividade por muitas vezes não serem os melhores em cargos de chefia, ou mesmo que não sejam de chefia mas suficientemente relevantes para "atrasar toda a máquina" ou numa designação muito mais apropriada em inglês: "slow down". Os sociólogos teriam muito a estudar sobre esta apetência que os homens e mulheres têm para se sentirem poderosos ao ter nas suas mãos o destino de alguém, e de daí tirarem prazer ao decidir sobre o seu emprego e futuro profissional.Também sobre os candidatos que se sujeitam a essa arbitrariedade este estudo faria um bom "case study" em termos da aceitação de ficarem a dever favores ao seu chefe e de futuro ter que "pagá-los".
Na função pública, quando um governo introduz uma lei mais exigente de concursos para admissão ou promoção de pessoal, é com o objectivo de reconhecer o mérito na avaliação. No entanto há uma tendência recente de se confundir competitividade com agilização de processos de contratação e de promoção. É o caso da transformação da Universidade em Fundação, em que todos estes processos de contratação e de promoção serão muito mais simples e rápidos. Pode de facto haver a coincidência de se contratar alguém muito capaz que imediatamente põe as suas capacidades de trabalho ao serviço da instituição e tal como em muitas empresas de sucesso, potencia a produtividade da secção para onde foi trabalhar ou onde foi promovido e indirectamente contribuir para a produtividade da própria Universidade. Mas em muitos casos pode também funcionar a cunha ou a proximidade, familiar ou outra, uma vez que é uma condição que não desapareceu nem desaparece tão cedo da sociedade portuguesa. No caso da promoção de funcionários, já temos o exemplo do SIADAP que permite aquilo a que se designou por Opção Gestionária, mas que bem se podia designar por "opção discricionária" pelas injustiças que causa ao passar ao lado da avaliação objectiva regular. No caso dos professores, o ECDU ainda vigora com exclusividade da promoção por via duma avaliação por concurso. Com a passagem da Universidade a Fundação, vai haver também a possibilidade de passar ao lado do ECDU, o que poderá também gerar situações de injustiça. Vamos esperar para ver, porque se as dúvidas ou mesmo rejeição de muitos professores da passagem a Fundação já são muitas, então serão muitas mais nessa altura, o que poderá provocar uma alteração do sentido de voto nas próximas eleições para os cargos dirigentes da UM, uma vez que os actuais dirigentes são os protagonistas desta mudança.

domingo, maio 15, 2011

Desvalorização dos graus em Engenharia

Mestrado? Doutoramento? São palavras que em tempos eram raras no quotidiano português mas que agora são comuns, o que seria exclusivamente motivo de orgulho para o nosso País, mas que são também motivo de preocupação pela sua aparente desvalorização. Senão vejamos. Para ingressar no Mestrado já não é necessário como era antes de Bolonha nota de 14 ou 13 com um bom currículo, e na Engenharia, no caso dos Mestrados Integrados, é uma continuação dos primeiros 3 anos, que conferem o grau de licenciatura. É preciso que se recue aos primórdios de Bolonha para nos lembrarmos que as licenciaturas eram para ser por si só o grau de ingresso no mercado de trabalho, com o objectivo de encurtar esse período de aprendizagem tornando-o torná-la mais virado para Mercado. Todos sabemos o que fizemos dessa ideia: foi para o lixo porque não interessava ao Ensino Superior ter os alunos menos anos na instituição com a consequente perda de receitas para as Universidades. Assim, desvalorizando a licenciatura, sobrecarregando-a de matérias que não interessariam ao potencial empregador, forçam os alunos a continuar para Mestrado para assim poderem ter aceitação no mercado de trabalho, e facilitam também essa transição integrando o grau de licenciatura em Mestrado Integrados.
Por sua vez, esta massificação de Mestrados, para além de desvalorizar o grau, força os alunos a pensar diferenciarem-se da concorrência, pensando em prosseguir para o doutoramento. A Universidade agradece e facilita essa transição: para ingressar no programa doutoral também não é necessário nota de 14, ou Mestrado com classificação de Muito Bom como era antes de Bolonha. Os Doutoramentos são agora programas doutorais, em que, tal como no Mestrado, têm um ano com aulas em matérias de "adaptação" à àrea do doutoramento e aulas em matérias de preparação para a investigação. Tudo muito lógico, mas perde-se um ano de investigação. Portanto temos o programa doutoral com menos um ano de investigação no doutoramento.
Em termos de capacidade dos doutorandos para a investigação, como consequência dos anos iniciais da licenciatura sem aulas de preparação de prática laboratorial, substituídas que foram em muitos casos por teoria e por trabalhos em computador (com recurso a motores de busca e enciclopédias on-line), temos a má preparação laboratorial dos alunos, mesmo daqueles que entraram com notas superiores a 14, indispensável para cumprirem um doutoramento.
Será normal que os supervisores façam que tudo seja possível fazer no curto espaço de tempo que têm para cumprir o calendário, não querendo dispensar no seu currículo mais uma orientação de um doutoramento.
Exagerado este cenário? Gostava que o fosse, mas teriam que me convencer do contrário, com factos e não "pedagogia", que é o que não falta na nova realidade que é Bolonha.

sábado, maio 07, 2011

A inércia do sistema perante sintomas preocupantes

Surgem ciclicamente mensagens de alguém que sente que foi marginalizado pelos seus superiores ou mesmo colegas, como foi o caso desta semana de Joaquim Sá do IE-Instituto da Educação. Conheço o Joaquim e conheço os seus problemas por alto, mas não conheço toda a história por detrás de tanta amargura. Sei que terá as suas razões, porque sendo um professor profundamente honesto , não conseguiu no entanto progredir na carreira tal como desejava. Assistiu durante anos à progressão de outros que não reconhece como tendo um currículo superior ao seu, ou pelo menos que não tem um currículo que lhe pareça em linha com as directrizes do que é normal nas Ciência de Educação. Para um leigo nesta área como eu, também fico surpreendido como currículos de biologia e áreas afins chegam a Professor Catedrático em departamentos onde supostamente “se ensina a ensinar”, havendo ainda por cima outros com currículo em áreas mais de acordo com a Educação em geral como é o Ensino de crianças, que é aparentemente a área do Joaquim, que ficam pelo caminho.
A frustração de ninguém lhe responder a estas questões, que lhe parecem anómalas, levou-o ao desespero e a tomar atitudes que muitos reprovam, como o de divulgar textos que chegam a insultar quem percorreu esses caminhos paralelos à Educação como o seu colega Nelson Lima, ele próprio eventualmente uma vítima do sistema, que como denuncia o Joaquim, “anicha” professores onde existe vaga, independentemente do seu currículo ser aquele que mais interessa ao fim em vista: neste caso a Educação. Também não aprecio esta forma de protesto que procura envolver todos os membros da comunidade académica num assunto que eventualmente não poderão julgar com isenção por não conhecerem toda a envolvente, e que por isso castiga quem não esperava tal ataque quando inocentemente divulga o que tem construído ao longo dos anos na UM, ou seja uma Micoteca, que sem dúvida tem muito interesse e mérito, embora talvez não para o Instituto de Educação, pelo menos directamente. Dito isto, também compreendo o grito de revolta do Joaquim, que entendo não como um ataque ao seu colega, mas mais um grito contra o sistema que o usou e o "cuspiu" quando ele se tornou incómodo. Infelizmente há vários casos destes nas Universidades, não só na UM como é bom de ver, e não há quem se interesse e procure resolvê-los. Para os alunos há o Procurador do aluno, mas infelizmente para os professores isso não existe.
Amigos Joaquim e Nelson, que não tenho o prazer de conhecer, como os compreendo! O Joaquim por não ter sido reconhecido o seu mérito, o Nelson que fez algo que ninguém lhe pediu para fazer, uma Micoteca, o que na Função Pública é invulgar. E se o fez por vias paralelas é porque não o poderia fazer por outras vias. Mas por favor, o vosso inimigo é o mesmo por isso não se digladiem mutuamente. Antes combatam o sistema juntos. Vejam como se originou toda esta confusão de critérios e exponham essas incongruências juntos, sugerindo rearranjos de sub-unidades orgânicas ou mesmo Unidades orgânicas de modo a que todos no futuro tenha uma vaga onde poderá correctamente se “anichar”, sem usar o nicho alheio.
É minha convicção e já a exprimi aqui neste espaço, que a UM já devia ter feito esse estudo global, reorganizar-se em novas e restruturadas unidades e sub-unidades. Não o faz para não mexer nos interesses instalados e como consequência temos casos como este, que imagino ser só a ponta do iceberg.

sábado, abril 30, 2011

A Fundação: algumas dúvidas in-funda-das?

Em que consiste a Universidade? Somos um serviço público em primeiro lugar para formar alunos ou somos uma instituição que se auto-alimenta de alunos para sobreviver? Estamos aqui para fazer investigação também, ou isso é voluntário? Tantas questões com que nos debatemos no dia a dia da nossa profissão, que ao acrescentar mais uma, ser Fundação ou não, corremos o risco de implodir! Como afecta a Fundação estes propósitos da Universidade? Será que vai incutir um espírito empresarial e adicioná-lo ao espírito de serviço público? Seríamos uma espécie de funcionários multi-tarefa, em que à Segunda seríamos empreendedores e andávamos a cativar verbas para os 50% de comparticipação que a Universidade precisa (ou não?) de apresentar como receitas próprias, à Terça dávamos umas aulas, à Quarta faziamos investigação, à Quinta tratávamos da burocracia dos papéis respeitantes a Bolonha, à Sexta tratávamos da burocracia referente à Segunda feira (projectos com empresas para captação de verbas, incluindo a deslocação em serviço e pedido de PSEC no caso de termos tido sorte com a captação de verbas) e dos papéis referentes ao I&D que precisamos de fazer na semana seguinte (ofícios ao reitor, ajustes directos para compra de matérias primas, e eventualmente tratar duma equiparação a bolseiro para uma conferência em Espanha, aqui pertinho porque as verbas não dão para muito mais). Concluindo, a burocracia só aumentaria com a Fundação, as aulas seriam entaladas com actividades que os docentes cada vez têm menos vontade de fazer, como a saída para o mundo real, o que tornaria aqueles que estão já viciados na burocracia de Bolonha em personagens ainda mais instáveis, devido ao nervosismo que essas novas exigências lhes trariam. Em cima de tudo isto há a conotação da palavra "Fundação" que em muitos docentes será qualquer coisa diferente daquilo para o qual eles entraram e que lhes daria um emprego seguro para toda a vida, uma vez que as Fundações que existem são mais "hobbies" que coisas sérias, como o é, aos seus olhos a "coisa" pública.

sábado, abril 23, 2011

Burocracia

Todos ou quase todos nós já nos deparámos pelo menos uma vez na nossa vida com atrasos com qualquer requerimento devido à burocracia de instituições públicas. Mas enquanto que no dia a dia a burocracia tem sido parcialmente eliminada, com a introdução do programa Simplex (empresa na hora, casa na hora, registos de carros, etc), na Universidade e em tudo o que tem a ver com inovação ou I&D continua a burocracia. Relativamente ao I&D não se entende como pode haver tanta burocracia. Uma das razões para os atrasos são as muitas barreiras que se interpõem no percurso dos documentos(nem documentos devia haver nesta era informática !). Mesmo aqueles que se pensaria à partida que não haveria mais que fazer uma transferência entre centros de custos, necessitam de passar por inúmeras funcionárias, andam em ping-pong de uns gabinetes para outros, da reitoria para os vários pelouros da reitoria, para a Divisão Financeira e lá dentro de umas funcionárias para outras. Claro que qualquer acção por parte dos órgãos que decidem, deve haver um requerimento, muitas vezes dirigido ao sr. Reitor, que terá que passar por todos os controlos durante o seu percurso, começando pela sub-unidade, passando pela Escola, e se houver mais algum órgão intermédio que se lembre de exigir de verificar e validar o requerimento, ainda tem que fazer um desvio por ali também. Numa era de informatização não se entende porquê que ainda se usa tanto este "meio de transporte" (papel).No entanto o que achei curioso é que ninguém quer depois ficar com o papel. Ele volta á base e é o infeliz do docente/investigador que o tem que armazenar, pelo menos no caso de projectos (se isto continua assim os gabinetes dos docentes com projectos, transformar-se-ão nos arquivos da UM no que respeita a projectos).
Este ano ainda não tenho experiência de fazer um documento de despesa, pois com tantos passos que o antecedem, desde que abriu o programa de gestão de verbas, ainda não chegou a hora (já lá vão quase 3 meses). Dizem-me que uma vez chegado a este ponto, agora até é mais rápido que com o anterior programa. Oxalá. Mas melhorando uma etapa, não adianta muito, se tudo o resto está mais lento.
Devo dizer que se a Fundação eliminasse esta burocracia, eu seria o primeiro a apoiá-la. Mas será que os passos intermédios e o ping-pong que os documentos sofrem, serão eliminados? A não ser que haja uma mudança de mentalidade e que se deixe de duvidar de quem faz projectos como se de falsários se tratassem, obrigando-os a passar por todos estes controlos, receio que o novo regime fundacional não fará grande diferença ao dia a dia pantanoso do professor/investigador.

domingo, abril 17, 2011

Fórum Fundação

No Fórum promovido pelo reitor em Azurém na Quarta-feria dia 13, constatou-se mais uma vez o desinteresse da comunidade académica pelo tema Fundação (havia talvez umas 20 pessoas na sala). A apresentação do reitor foi longa e mais completa do que a da primeira vez, abordando em mais pormenor aspectos que não estavam claros, pelo menos para mim. Mesmo assim, como não tenho conhecimento do que tem sido a experiência de outras Universidades e sendo essa experiência curta, conto-me entre aqueles que não apoiando a Fundação também não a negam. Não havendo defensores da "não passagem" a Fundação que se tivessem manifestado no Fórum, não houve oportunidade para um ouvinte atento como eu de duvidar dos argumentos apresentados a favor da Fundação. Houve uma pergunta que coloquei sobre os empréstimos: Que regras havia (se algumas) para esses empréstimos, se não haveria o perigo de seguirmos o rumo que os demais organismos Públicos que podem recorrer a empréstimos, como autarquias e parcerias público-privadas, tinham seguido com endividamentos que dificilmente poderiam pagar. Foi respondido que não que este assunto estava regulamentado por decreto-lei e que também o reitor e demais órgãos (Conselho Geral?) teriam que seguir as directivas de defesa da instituição pública, havendo uma obrigação ética nesse sentido. Posta a questão por dois outros membros da Academia também presentes na sala se outros reitores no futuro o fariam a resposta foi de que o Conselho de Curadores não permitiria empréstimos que não fossem sustentáveis. Também foi referido que os empréstimos seriam mais para auxiliar a tesouraria de projectos de investigação e não para obras de raiz porque para esses haveria outros mecanismos de financiamento.
Como ouvinte pareceu-me que o reitor estava muito seguro e confiante no "projecto" Fundação, eu diria, demasiado seguro. Pode-se interpretar isto de várias maneiras que deixo à consideração e imaginação de cada um, mas para mim foi em parte consequência do fracasso relativo da petição para um referendo com aproximadamente 200 pessoas a assinar. Não o beliscou nem um pouco, pelo contrário, tal como eu previa deu-lhe força para, podendo socorrer-se dos números, alegar que só uma minoria o contraria. Já o inquérito (1º) promovido pelos funcionários mas dirigido também a docentes, e muito menos divulgado, tendo sido quase só exposto no blogue UM Para Todos, conseguiu resultados mais representativos, sendo que a maior parte das respostas foram no sentido de que os inquiridos não dispunham de dados suficientes para se pronunciarem. Até parece que estes estão a seguir o lema de uma astróloga da praça pública que diz sobre o seu método de previsão do futuro: "Não negue à partida uma ciência que desconhece". Assim é, e sem experimentar nunca se saberá. Afinal, pode-se sempre recuar após as próximas eleições para os órgãos da UM daqui a pouco mais de dois anos se a maioria o quiser.

Inquérito sobre Fundação

Divulgam-se os resultados dum inquérito dirigido a toda a Academia, efectuado pela equipa do blogue "UM para todos":

"O UMPARATODOS conclui hoje a 1ª fase do Inquérito promovido para auscultar a opinião da comunidade académica sobre o processo em curso, desencadeado pela apresentação da proposta do Reitor ao Conselho Geral de alteração do regime jurídico da UMinho.
O número de registos efectuados na consulta foi de 1 251.
Apenas um número relativamente reduzido de inquiridos tem uma opinião conclusiva, quando confrontado com a concordância da passagem a fundação. De estes, apenas 62 (4.94%) emite opinião favorável. Já 203 (16.16%) são inequivocamente contra .
A grande maioria dos inquiridos continua a considerar que não tem informação suficiente, não se tendo registado qualquer alteração, no essencial, no número de respostas dadas face aos resultados apurados na passada semana..
Assim, 396 pessoas (31,53%) referem que não têm informação suficiente, sendo ainda esta a opção dominante.
Segue-se, novamente, a que manifesta que “Talvez, mas não tenho informação suficiente” – 356 pessoas, perfazendo 28.34% dos inquiridos.
O número dos que acha que "a informação que têm indica que é uma má opção" mantém-se inalterado em 115 (9.16%)
O mesmo acontece com aqueles que têm reservas, acham que o momento não é oportuno 28 (2,23%) , e os que não têm opinião 32 (2,55
%)."

domingo, abril 10, 2011

Avaliação na Escola de Engenharia-documento final

O regulamento de avaliação de professores da Escola de Engenharia, o RAD-EEUM, entrará em vigor brevemente. Da discussão entre os vários departamentos e centros, resultou um regulamento de compromisso que tem a particularidade de ser efectuado através de um programa informático que facilitará a auto-avaliação e a própria avalaliação pelos avaliadores nomeados pela Escola, como por exemplo por facilitar a avaliação dos artigos científicos através ter uma ligação imediata ao ISO web-of-knowledge (wok), confirmando ou não a presença da revista nesse catálogo de prestígio que é o ISI-wok. O factor de impacto varia de área para àrea, sendo aquelas àreas com maior volume de publicações, as que têm maior factor de impacto e também maior número de citações, outro factor de avaliação. No entanto, penso que estas discrepâncias foram tidas em conta pela introdução de diferentes metas para os váris departamentos.
No entanto alguns aspectos são preocupantes, noneadamente a equivalência de proceedings de conferências a revistas científicas, só pelo facto de figurarem no ISI-wok. Uma coisa são artigos que são muito consultados e citados, e por isso têm um grande factor de impacto, outra coisa são conferências em que não se indica o factor de impacto e que podem só fazer parte do ISI-wok porque houve um número grande de atendimento nessas conferências e em que algumas apresentações que figuram nos proceedings foram citadas por essa razão em revistas científicas ou mais provavelmente em compilações ou "reviews". Aliás, os proceedings no ISI-wok tal como acontece nas publicações, têm um factor de impacto muito dependente da quantidade de investigadores que a "frequentam". Quanto mais abrangente a àrea de investigação maior o impacto e no entanto em algumas áreas muito específicas, há conferências que não figuram no ISI-wok por serem muito restritas, e que têm os melhores especialistas a apresentar trabalhos de I&D de grande relevo.
A pontuação duma comunicação numa conferência pode assim ser equiparada a um artigo científico e obter a mesma pontuação, bastando para isso que tenha sido recomendada pelo Centro de Investigação respectivo e figure no ISI-wok. Esta equivalência, tanto como me foi possível aperceber, originou de uma proposta por parte do departamento de Informática, por argumentar que no caso da sua área muito específica, eram mais importantes os proceedings de conferências e a base de dados SCOPUS que artigos científicos e que o ISI-wok. Sabemos que a Informática é um caso à parte, mas daí a imporem o seu sistema de avaliação ao resto da Escola de Engenharia é no mínimo estranho, uma vez que a informática não é representativa em termos científicos do resto da Engenharia. Seria interessante saber se noutras Escolas de Engenharia do País, também foi feita a equivalência entre proceedings de conferências e artigos científicos, numa confusão de critérios que confunde o que à partida era uma óptima ferramenta de avaliação.

domingo, abril 03, 2011

Fundação: carne ou peixe?

O regime fundacional para as Universidades é algo que ninguém sabe muito bem o que é. Parece que é um misto de privado e público, isto é, como o povo diz, "Nem é carne nem é peixe". Têm-se multiplicado intervenções na UM sobre os benefícios ou os malefícios do regime fundacional. Normalmente os benefícios estão relacionados com os méritos das instituições privadas, ou seja, menos burocracia e mais flexibilidade na gestão de verbas. Os malefícios são também associados aos das empresas, ou seja, mais facilidade de despedimentos, maior diferença de salários entre os de topo e os outros. A maior autonomia serve para ambos os lados: menos dependente do Estado, gostam os que preferem menos Estado, não gostam os que privilegiam a segurança do emprego e os benefícios que ainda existem (ADSE, por exemplo).
Embora a curto prazo a componente privada seja muito pequena, depressa se desenvolverá e em 10 ou 20 anos será a predominante, uma vez que á medida que os docentes e funcionários se reformam, os que os vão substituir já entram com o novo regime, o que em alguns casos não será muito diferente do que já acontece (contrato por tempo indeterminado) mas noutros casos poderá ser um contrato a prazo. Assim, podemos dizer que este processo é um processo de privatização de médio-longo prazo, ou não podemos?
O que é um facto é que não há certezas em relação ao regime fundacional. Por isso na UM surgem abaixo assinados a pedir um referendo, o que é natural, dada a incerteza que paira sobre todos nós. Embora não creio que seja um abaixo assinado a pedir um referendo que seja a solução, uma vez que penso que quase ninguém está suficientemente esclarecido para votar sim ou não à Fundação, só o facto dele existir deveria dar que pensar ao reitor e ao Conselho Geral, que é a quem é dirigido o abaixo assinado. Se eles (reitor e Conselho Geral) realmente acreditam na Fundação, devem esclarecer os membros da Academia, devem apostar o seu lugar nesta proposta, e se não forem eleitos nas próximas eleições (afinal faltará pouco mais de dois anos), pelo menos os membros do CG que restarem para se candidatarem de novo, devem-no fazer com base na experiência entretanto adquirida. Talvez assim nas próximas eleições os eleitores estejam finalmente esclarecidos para votarem Fundação ou não. Afinal todos dizem que se pode voltar atrás, o que neste caso seria recuar, porque a experiência seria só o arranque.

domingo, março 27, 2011

Contrato de Confiança: possíveis consequências na progressão da carreira

Assistimos no ensino secundário ao facilitismo, tanto para os professores como para os alunos. Para os professores do ensino secundário, com a queda no Parlamento do modelo de avaliação em vigor e a fraca probabilidade de outro modelo credível ser implementado no curto/médio prazo, vai ser possível progredir na carreira sem qualquer controlo, tal como o fizeram no passado, somente com base na antiguidade. No caso dos alunos, não há provas de aferição até ao 9º ano. Veja-se o caso do aluno que apareceu numa reportagem que só sabia escrever o seu nome e nem sabia a data em que fazia anos, algures no interior do País, e que frequentava o 8º ano.
No caso do Ensino Superior, com o novo contrato de confiança entre Governo e Universidades, multiplicam-se nas Universidades os cursos, nomeadamente os noturnos, para conseguirem novos alunos e assim justificarem as verbas que recebem do Ministério. Serve a declaração de voto que sustenta a posição que defendi em reunião do meu departamento (Engenharia Têxtil), para exprimir o que penso serão os riscos desta multiplicação de cursos. Embora se reporte a um curso em particular e possa não representar outras situações de outros cursos a serem propostos por outros departamentos da Escola de Engenharia ou de outra Escolas, é obviamente uma situação que me preocupa em relação ao meu departamento mas também ao que possa estar a acontecer na Universidade do Minho e noutras Universidades, fruto da pressão a que estarão sujeitas com as regras do Contrato de Confiança Governo-Universidades. È caso para perguntar: contrato de Confiança ou de Desconfiança (na Qualidade futura da Universidade)?

Declaração de voto Reunião dia 24 de Abril 2011


Venho explicitar a minha declaração de voto ao votar NÂO à proposta de um curso pós-laboral idêntico ao curso diurno de Design e Marketing de Moda:

1) O número de designers "puros" no departamento é oficialmente de 1 e não é doutorado.

2) O número de docentes que fizeram doutoramentos em Design e Marketing não o fizeram na componente de Design e Marketing de Moda

3) Mesmo considerando os docentes mencionados em 1 e 2 e juntar todos os outros que se "converteram ao Design" com cursos curtos intensivos , verifica-se que o número de horas para cada docente é suficientemente elevado para não ser necessário mais horas para estes docentes

4) Ao trazer outros docentes de outras áreas para o Design, mesmo com a conversão referida em 3), iludem-se os alunos que esperavam que o curso fosse de realmente de Design e Marketing de Moda e não de Tecnologia Têxtil, nome que aliás não consta do título do curso.

5) É claro que deriva dos pontos anteriores que os outros docentes que não são da área do Design beneficiarão muito pouco deste curso, e são os que menos horas têm neste momento (Química Têxtil por exemplo)

6) A competência científica, que deveria estar associada à componente pedagógica, pelo menos nos casos das Research Universities, deve estar em sintonia. No caso do Designers basta analisar os últimos relatórios do Centro para verificar que a componente científica dos Designers mencionados em 1 e 2 está muito pobre. Os outros de outras áreas que têm vindo a cumprir as tarefas burocráticas deste curso também são penalizados. Será difícil esta situação se inverter carregando-os com mais um curso. Em termos científicos o Departamento será penalizado. Os docentes serão penalizados na progressão na carreira. Por outro lado os docentes com menos aulas das outras áreas, terão mais tempo para se dedicarem à investigação. Teremos assim, um conjunto de docentes que progride mais rapidamente que outros ou por opção ou por incapacidade. Resta saber se alguns docentes se refugiam nas aulas e funções administrativas para não fazerem investigação.

7) Há nitidamente uma tendência para a Moda e o Design, e cada vez a concorrência de outras Universidades e Institutos será maior. As empresas por outro lado saturarão, por serem na sua grande maioria só algumas com dimensão suficiente para terem um designer, sendo a maior parte PMEs. Haverá no futuro próximo, não tenho dúvidas, uma componente de empregabilidade na avaliação dos números clausus dos cursos. Poderá portanto ser um projecto só para o curto/médio prazo.

Guimarães, 24 de Abril de 2011


Jaime I. N. Rocha Gomes

domingo, março 20, 2011

Geração à rasca

Nas manifestações de rua da auto-denominada "geração à rasca", ouvimos entrevistas de rua em que muitos dos entrevistados não só tinham a licenciatura mas tinham doutoramento e não arranjavam emprego. A manifestação que envolveu mais de cem mil pessoas, é um grito de revolta. No entanto fica também a ideia que o governo é responsável e poderá resolver-lhes a vida. Infelizmente o governo não pode dar emprego a quase ninguém por ter decidido congelar as contratações para a Função Pública, ao invés, continua a dispensar pessoal da Função Publica, seja por reformas antecipadas seja por outros meios. Quem pode empregar obviamente são as empresas. Mas as empresas e os empresários são um alvo difícil de identificar e não é popular culparem a falta de inovação e crescimento das empresa nos empresários. Os empresários, deviam por exemplo ser obrigados a contratarem x licenciados, y mestres e até alguns doutores, dependendo da sua dimensão, e não se permitir que lucrem com base em salários baixos de trabalhadores indiferenciados. Quem pode exigir? O governo. E a que empresas? Às que recebem subsídios do governo obviamente. Mas como este tipo de ideias é demasiado arrojado para qualquer governo, é melhor esquecer.
A ingenuidade da juventude e o desespero leva-os a culparem o óbvio e mais distante, e a não analisarem aqueles com quem mais de perto conviveram durante as sua vida de estudante: os seus pais e os seus professores e os que lhes concederam as bolsas para estudarem e os lugares para investigarem. Infelizmente os pais com as melhores das intenções, muitas vezes cederam à ambição de terem filhos doutores, não interessava muito em quê, desde que pudessem dizer à família, vizinhos e colegas que os filhos eram doutores. Muitas destas famílias viviam, e vivem, com dificuldades e trabalharam uma vida inteira para que não faltasse aos filhos o que lhes faltou a eles e em contrapartida os jovens esforçam-se e entram no Ensino Superior ou mediante um sistema de facilitismo, mesmo sem esforço entram para as Universidades, Politécnicos ou Institutos. No pico desta enchente até entravam com notas negativas. Agora entram com notas positivas mas inflacionadas porque as estatisticas assim o exigem. Assim muitos avançam pelos cursos. Os melhores continuam para mestrados, doutoramentos e pós-doutoramentos, candidatando-se a bolsas de Universidades e Institutos que muitas vezes são até reconhecidos como excelentes. O problema é que estes institutos funcionam em circuito fechado. Alimentam-se dos trabalhos dos estudantes para com esse trabalho científico terem verbas para sobreviverem e até crescerem. Não há dúvida que alguns produzem trabalho científico de qualidade com estes bolseiros, e que é divulgado e até pavoneado pelos seus superiores nos media. Mas uma vez acabada a bolsa são descartados e os seus superiores continuam com outros bolseiros na mesma senda do auto elogio e do percurso mediático que alimenta o seu ego. Estes empregadores que pagam bolsas e recibos verdes deviam, a meu ver, ser honestos para com os candidatos e avisarem-nos que uma bolsa de pós-doutoramento, e mesmo de doutoramento, não dá emprego, pelo contrário só dificulta.
A outra frase muito vulgar nas entrevistas e já gasta é a de emigrarem para outro País onde as probabilidades de emprego são melhores. Mais uma falácia. Países onde as probabilidades são melhores, tais como os Estados unidos, também são os Países onde há mais concorrência. Há milhares de indianos e chineses com excelentes currículos a candidatarem-se a esses lugares. Mas mesmo que se consiga um bom lugar permanente numa Universidade ou mesmo numa grande empresa, não é a mesma coisa (anúncio da zon…podia mas não era a mesma coisa). Fica a família para trás, ficam os amigos. Por outro lado, os jovens com boas qualificações que foram formados em Portugal têm uma dívida para com o País. Gastou-se dinheiro, criaram-se expectativas para o País, reveladas em estatísticas emanadas constantemente pelo Ministério de Mariano Gago, em nº de doutoramentos obtidos (sempre a crescer). Seria interessante se o Ministério fizesse um apanhado sobre o percurso desses doutorados nos anos subsequentes ao doutoramento! Talvez fosse menos triunfalista em relação a estes números!
Há males que vêm por bem. Talvez a crise nas finanças dos ministérios, inclua o abrandamento neste frenesim e nesta corrida sem fim á vista.
Financiar estágios remunerados acompanhados pelas Universidades em vez de bolsas seria um começo. E não só mil estágios como já o fizeram nos dois últimos anos. Vinte, trinta, quarenta mil, gastando tanto como têm gasto com os Institutos de investigação em actividades que muitas vezes são notícia mas não dão emprego a ninguém!

sábado, março 12, 2011

Fundação: o último debate

Mais um debate, o último, sobre a Fundação. Mais do mesmo a acreditar nos relatos disponíveis. De um lado a defesa de maior autonomia; do outro, a falta de confiança nas promessas vindas dos defensores do regime fundacional. Só tive ocasião de ver dois interveniente, Machado dos Santos e Jorge Pedrosa. Como moderador Machado dos Santos com uma intervenção pouco elucidativa, falando mais do passado que do presente. Jorge Pedrosa não trouxe também nada de novo ao debate. E esse é o problema nos debates. Não há nova informação que permita que se faça um juízo sobre o assunto. Não vale a pena falar em mais autonomia sem dizer como, nem falar em mais verbas se não se disser como as vão investir. Não há qualquer plano. É como ir ao banco, pedir um empréstimo e não dizer como vai haver retorno do dinheiro emprestado. Porque se a Universidade pedir empréstimo, outras das vantagens anunciadas, terá que o pagar de volta e para isso terá que ter um plano, coisa que o reitor não apresentou nem sequer referiu nos debates.
Também não é razoável estar totalmente contra o regime fundacional sem saber exactamente o que isso implica. Não basta dizer que isso implica a politização da Universidade através dum Conselho de Curadores. A Universidade já está dependente do Ministério por depender da tutela para o seu financiamento. Com a Fundação não me parece que mude algo nesse sentido. Os curadores são propostos pelo reitor e não pelo governo. Por sua vez o reitor continua a ser eleito pelo Conselho Geral.
O que me parece é que em todo este processo, tem havido muita pressa em avançar para este regime, como se o fim em vista fosse mais importante que os meios para o alcançar. Os debates mais parecem uma forma de legitimar todo o processo. No fim dir-se-á que afinal o assunto foi amplamente debatido.

sábado, março 05, 2011

Em que nos vamos (vão) meter?

Os debates sucedem-se sobre a Fundação. É um desfilar de personagens que vêm testemunhar sobre o regime fundacional, principalmente a favor. Uma excepção foi o então reitor da Universidade de Coimbra, o Seabra Santos, que em Azurém fez alguns comentários que poderiam ser interpretados como críticas ao processo, como por exemplo: "Não vão em modas".
Eu tive alguma incerteza na interpretação deste comentário mas percebi o seu alcance. Se é moda, é passageira. Também foi referido pelo mesmo, que uma Fundação não se pode desfazer depois de feita com a facilidade que alguns defensores do regime fundacional têm afirmado, nomeadamente o reitor e o Vital Moreira. Portanto há que ter muito cuidado porque uma vez que se entra neste regime, ele é para durar.
Por esta razão, devem os responsáveis por esta iniciativa, nomeadamente o reitor, pôr em cima da mesa todos os dados de que dispõem sobre este regime e também as suas intenções, ou seja um plano, de como tencionam investir as verbas recebidas do ministério para a instalação do novo regime e das verbas conseguidas com a alienação do património. Se não o fizerem, que garantia temos nós que essas verbas não serão desperdiçadas? Um novo regime implicaria um novo fôlego para a UM, segundo o que tem vindo a ser afirmado. Como? Isso é o que queremos saber!

sábado, fevereiro 19, 2011

Spin-offs ou show-offs?

Na cerimónia do dia da UM, na qual não particiei, por razões que não consigo explicar (desinteresse, desenquadramento, falta de paciência para "show-off", incómodo de estar sentado por mais de duas horas em cadeiras pouco confortáveis?), soube que a oração de sapiência incidiu sobre o tema da inovação, empreendedorismo e principalmente spin-offs. Na realidade, antes de ler o conteúdo da mesma, fiquei a pensar que finalmente a instituição iria enveredar por um apoio à formação e sobrevivência nos primeiros tempos de spin-offs, através de uma apologia por parte da oradora nesse sentido. Puro engano. Ao ler a apresentação, constatei uma vez mais que se fala muito e pouco se faz neste sentido. O historial e a análise da situação actual de spin-offs será um estudo interessante, mas académico. Talvez sirva para dar umas aulas sobre o assunto. Mas em que ajuda aos académicos que pretendem enveredar por essa via? Quais os apoios? Nem o novo estatuto das Universidades, o RJIES, nem o novo ECDU, nem o regulamento da própria UM ou das suas Escolas ou interfaces, encorajam a formação de spin-offs. No entanto discursa-se como se de facto houvesse qualquer intenção de mudar este estado de inércia institucional. No caso do RJIES, permite-se por exemplo que um docente, por um determinado período de tempo, em vez de leccionar se dedique a outras actividades, nomeadamente à investigação, desde que tenha a autorização institucional, mas no entanto não incentiva no sentido específico de formação de spin-offs, nem com condições financeiras, como o faz por exemplo aos directores de Unidades Orgânicas e mesmo de sub-unidades, nem com outras. Podia por exemplo atribuir o estatuto a um docente que pretendesse enveredar por esse caminho, equivalente a de um director de uma sub-unidade, com autoridade para escolher outros membros do sua sub-unidade orgânica para o acompanharem nesse empreendimento. O ECDU também não ajuda, valorizando mais as comunicações e os artigos científicos do que este tipo de actividade. Pelo contrário, impede que por exemplo o docente acumule vencimentos de eventuais salários na spin-off com o seu salário da Universidade, e mais ainda impede trabalho mesmo que não seja remunerado, como sendo por exemplo a gerência da spin-off, por via da cláusula da exclusividade. O regulamento da UM também não adianta nada ao RJIES nesta área e podia tê-lo feito.
Agora que o reitor propõe a mudança para o regime fundacional, ele e os seus defensores apresentam argumentos como a maior autonomia financeira e com a maior captação de fundos, através de empréstimos e venda de património. Mas nem uma palavra para o empreendedorismo e criação de spin-offs, e muito menos de apoios financeiros nesse sentido. Para quê então captar essa verba inicial se não é para permitir algo diferenciador? Se é para gastar no habitual como seja mais contratações, mais obras, mais show-off, então é melhor não gastarem energias (as deles e as dos opositores ao regime fundacional), nem esgotarem a paciência de quem já viu este show-off demasiadas vezes!