sábado, julho 02, 2011
Cursos pós-laborais
Em Azurém, cursos pós-laborais podem resolver um problema imediato de falta de alunos, mas a médio prazo a qualidade dos diplomados que saem destes cursos vai implicar uma desvalorização dos cursos e um decréscimo no número de alunos resultante da fraca credibilidade dos mesmos. O problema é que os alunos que trabalham não têm tempo para cumprir as suas obrigações e os professores não têm condições para leccionar. A componente prática é prejudicada funcionando os laboratórios a meio gás, sendo sempre difícil "negociar" os horários com os técnicos. Grande parte do complexo pedagógico apresenta aspecto desolador, com poucos utentes, muitas luzes apagadas e bares fechados. O facto de ser obrigatório fazer um intervalo para os alunos jantarem, atrasa o fim da aula, terminando às 22:00 horas, o que para alguns, professores e alunos, já é difícil de suportar, com a desatenção e o cansaço a contribuir para aulas mais ligeiras e com menos substância. São comuns os trabalhos teóricos como prova de avaliação, sendo a informação da internet a base de todos os trabalhos. Raramente há referências científicas, sendo o "brasileiro" a língua dominante, o que demonstra o quanto é copiado sem qualquer tratamento. Embora este problema da internet e da aprendizagem "Wikiquicky" não seja exclusivo dos cursos nocturnos, receio que os cursos pós-laborais só venham agravar esta tendência.
terça-feira, junho 28, 2011
o CERN da questão
É altura do novo governo voltar aos antigos estatutos. O RJIES falhou no que respeita a uma maior democracia nas universidades. Reduziu a representatividade. Antes os Presidentes das Unidades Orgânicas eram eleitos por todos, agora são eleitos por um colégio eleitoral designado por Conselho de Escola. Perdeu-se imenso tempo com elaboração de estatutos para não adiantar nada nem em relação à representatividade nem em relação ao intercâmbio de ideias, uma vez que no anterior regime ao menos a Assembleia que era constituída por todos os docentes discutia os programas e as actividades da Escola. A Universidade globalmente também não se democratizou, pelo contrário enfeudou-se mais ao reitor. O Conselho Geral não é mais do que a antiga Assembleia, um órgão que elege o reitor. Poderá reunir mais vezes mas não tem a relevância que se previa, uma vez que acaba por ser um órgão consultivo do reitor, precisamente por ser o órgão que elege o reitor e de ter na sua composição a base de apoio da sua eleição. A eleição devia ser ou por outro órgão para não haver esta ligação entre eleitores e eleito. Assim tal como está é como uma espécie de Assembleia da República em relação aos deputados, em que todos se manifestam mas indo a votos, o partido com maior número de deputados, o partido do governo, é que ganha sempre. No caso das Universidade, por analogia, o "governo" é o reitor mais a sua equipa reitoral e a Assembleia da República é o Conselho Geral.
Em vez de evoluir para um sistema em que todos os corpos que constituem a Universidade tenham representatividade, houve uma menorização da representatividade de alguns corpos, por exemplo a dos funcionários. Os estudantes continuam com o poder de antigamente, podendo decidir uma votação essencial para a Universidade, como aconteceu com a votação da passagem da UM a Fundação em sede de Conselho Geral. Este novo regime, o fundacional, que não lhes fará diferença nenhuma, poderá afectar muito os outros corpos da Universidade, os professores e os fuincionários. Os investigadores dominam os Conselhos Científicos, o que seria lógico, não fosse o facto de uma fatia relevante ser composta por bolseiros que podem ter apenas um ano de casa. Antes o Conselho Científico era constituído por directores dos Centros de Investigação, agora a a sua representatividade pode ser inferior à dos outros investigadores. Poderá haver situações em que uma nomeação definitiva de um professor,por exemplo, seja decidida por bolseiros! Tudo isto tornou-se possível por uns estatutos feitos em cima do joelho, mesmo demorando o tempo que demorou.
Como diz o ditado, para pior já bastava assim, ou seja, não estávamos pior com o anterior estatuto.
Às vezes é melhor não inventar, mas como o nosso anterior ministro era um físico e não um gestor, as suas brilhantes ideias resultaram no que está á vista. Esperemos que não haja uma fusão atómica através da colisão de partículas, com uma geração de energia nunca vista, tal como ambiciona que aconteça no acelerador de partículas do Laboratório europeu de física de partículas, CERN, porque no caso de professores a colisão pode provocar o contrário, perda de energia no sistema, energia essa que é essencial ao processo de ensino e investigação.
Ora aí a questão: aplicou-se em pleno o princípio de Peter ao promoverem um físico a ministro.Que esperavam?
Esperemos que um matemático, que o é o novo ministro, não vá pelo mesmo caminho, e aplique a "lógica" da matemática ás instituições universitárias, mas que aplique o bom senso, que é algo que tem faltado em quem nos tem tutelado.
Em vez de evoluir para um sistema em que todos os corpos que constituem a Universidade tenham representatividade, houve uma menorização da representatividade de alguns corpos, por exemplo a dos funcionários. Os estudantes continuam com o poder de antigamente, podendo decidir uma votação essencial para a Universidade, como aconteceu com a votação da passagem da UM a Fundação em sede de Conselho Geral. Este novo regime, o fundacional, que não lhes fará diferença nenhuma, poderá afectar muito os outros corpos da Universidade, os professores e os fuincionários. Os investigadores dominam os Conselhos Científicos, o que seria lógico, não fosse o facto de uma fatia relevante ser composta por bolseiros que podem ter apenas um ano de casa. Antes o Conselho Científico era constituído por directores dos Centros de Investigação, agora a a sua representatividade pode ser inferior à dos outros investigadores. Poderá haver situações em que uma nomeação definitiva de um professor,por exemplo, seja decidida por bolseiros! Tudo isto tornou-se possível por uns estatutos feitos em cima do joelho, mesmo demorando o tempo que demorou.
Como diz o ditado, para pior já bastava assim, ou seja, não estávamos pior com o anterior estatuto.
Às vezes é melhor não inventar, mas como o nosso anterior ministro era um físico e não um gestor, as suas brilhantes ideias resultaram no que está á vista. Esperemos que não haja uma fusão atómica através da colisão de partículas, com uma geração de energia nunca vista, tal como ambiciona que aconteça no acelerador de partículas do Laboratório europeu de física de partículas, CERN, porque no caso de professores a colisão pode provocar o contrário, perda de energia no sistema, energia essa que é essencial ao processo de ensino e investigação.
Ora aí a questão: aplicou-se em pleno o princípio de Peter ao promoverem um físico a ministro.Que esperavam?
Esperemos que um matemático, que o é o novo ministro, não vá pelo mesmo caminho, e aplique a "lógica" da matemática ás instituições universitárias, mas que aplique o bom senso, que é algo que tem faltado em quem nos tem tutelado.
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domingo, junho 19, 2011
A Justiça e a Avaliação do RAD
Pode-se dizer que a Justiça funciona mal mas pelo menos não há dúvidas de como funciona em termos de hierarquia. Na carreira dos juízes a hierarquia é respeitada porque só há um regulamento. Nas Universidade havendo dois regulamentos tudo se confunde. Um director duma sub-unidade de ensino e investigação pode anular totalmente o que vem estipulado no ECDU relativamente à hierarquia, se quiser. Pode alegar a legitimidade do voto, por ter sido eleito pela maioria dos membros do departamento ou centro, e decidir sobre assuntos que em princípio deviam ser da responsabilidade do Professor mais graduado. As disciplinas em que os professores se deveriam agrupar, podem deixar de funcionar. Basta que o Director não implemente o modelo que o ECDU prevê para que não funcionem. Os Professores Auxiliares não são nestes casos coordenados pelos seus superiores hierárquicos, sejam Professores Associados ou Catedráticos, nem os Professores Associados são coordenados pelos Professores Catedráticos. Há uma total liberdade nestes casos de actuação o que pode parecer muito democrático. No entanto todos sabemos o que a ausência de disciplina pode causar. O resultado está á vista. Na Engenharia por exemplo, basta ver quais os departamentos com piores índices de publicações, embora seja difícil avaliar departamentos e centros porque a média inclui elementos individuais com elevado número de publicações e outros sem nenhumas. Mas quem avalia sabe distinguir e nessa avaliação se for honesto e não "branquear" os maus resultados da maioria, chega infelizmente à triste conclusão que exceptuando um ou dois elementos, o nível científico é muito baixo. O nível pedagógico é mais difícil de avaliar para quem está de fora, mas normalmente acompanha o nível científico.
Nada se faz sem esforço intelectual. Esse esforço pode ser anulado se não se estabelecerem objectivos individuais para cada elemento. Não basta apontar metas e tetos globais para cada departamento ou centro de I&D, como acontece com o RAD da EEUM, e classificar segundo essas metas e testos. Seria necessário actuar antes para evitar o que pode vir a ser uma classificação geral medíocre. Seria necessário que essas metas e tetos tivessem sido implementadas há anos internamente e não se esperasse que fossem forçadas pelo exterior, neste caso pelo RAD.
Anos de complacência podem em muitos casos ter o seu resultado espelhado no RAD. Esperemos que os culpados sejam por uma vez identificados e que dos maus resultados se tirem consequências e que se ponha a casa em ordem, pronta para próximas avaliações. Temo que já não se vá a tempo e que numa ânsia de cortes por parte da Administração Publica, esta seja uma forma de cortar nos excedentes por parte daqueles que têm essa incumbência, ou seja, os mesmos que nunca fizeram nada para evitar este estado de coisas. Esses estão e estarão sempre bem, assim reza a história. Comecei por referir a Justiça e acabo dizendo que não há Justiça para os que não fizeram por a merecer e que estiveram anos em jogos proteccionistas de si próprio e dos seus pares.
Afinal há a Justiça que o Povo diz ser a Justiça de Deus, pois Deus escreve direito por linhas tortas. Ninguém se pode queixar, porque quem os pôs lá (a estes senhores) à frente das sub-unidades (Departamentos e Centros) são aqueles que agora vão ser avaliados.
Nada se faz sem esforço intelectual. Esse esforço pode ser anulado se não se estabelecerem objectivos individuais para cada elemento. Não basta apontar metas e tetos globais para cada departamento ou centro de I&D, como acontece com o RAD da EEUM, e classificar segundo essas metas e testos. Seria necessário actuar antes para evitar o que pode vir a ser uma classificação geral medíocre. Seria necessário que essas metas e tetos tivessem sido implementadas há anos internamente e não se esperasse que fossem forçadas pelo exterior, neste caso pelo RAD.
Anos de complacência podem em muitos casos ter o seu resultado espelhado no RAD. Esperemos que os culpados sejam por uma vez identificados e que dos maus resultados se tirem consequências e que se ponha a casa em ordem, pronta para próximas avaliações. Temo que já não se vá a tempo e que numa ânsia de cortes por parte da Administração Publica, esta seja uma forma de cortar nos excedentes por parte daqueles que têm essa incumbência, ou seja, os mesmos que nunca fizeram nada para evitar este estado de coisas. Esses estão e estarão sempre bem, assim reza a história. Comecei por referir a Justiça e acabo dizendo que não há Justiça para os que não fizeram por a merecer e que estiveram anos em jogos proteccionistas de si próprio e dos seus pares.
Afinal há a Justiça que o Povo diz ser a Justiça de Deus, pois Deus escreve direito por linhas tortas. Ninguém se pode queixar, porque quem os pôs lá (a estes senhores) à frente das sub-unidades (Departamentos e Centros) são aqueles que agora vão ser avaliados.
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domingo, junho 12, 2011
Como ligar o ensino às exportações?
Ouvimos os políticos em geral a enaltecer as indústrias exportadoras como sendo o motor da Economia. Se virmos o panorama nas Universidades Portuguesas, o que vemos é que os cursos mais populares não estão ligados a indústrias exportadoras, embora se possa argumentar que os cursos de banda larga, tais como os cursos de gestão, sejam para todas as áreas incluindo a indústria. Cursos de biologia, engenharia biológica, engenharia biomédica, cursos de alguma forma conotados com as ciências da vida, muito procurados por alunos que sentem vocação ou foram incentivados pelos vários programas de Ciência Viva, verdadeiro sorvedouro de dinheiros públicos, nem sequer estão conotados com a indústria quanto mais a indústria exportadora. Um dos cursos de engenharia mais populares é o curso de Engenharia Civil. No entanto não é uma indústria exportadora, a não ser se considerarmos exportar engenheiros como fazendo parte das estatísticas de exportação.
De tempos a tempos também ouvimos alguns políticos ou jornalistas a criticarem o facto da Universidade e a indústria andarem de costas voltadas. São só palavras de circunstância porque uma política séria de planeamento do Ensino Superior no que respeita às Ciências e à Engenharia implicaria um planeamento desde o 1º ciclo, passando pelo secundário e não uma análise só da Universidade. Quando entram na Universidade já é tarde para os jovens, pois já fizeram a sua escolha. Mostrar aos jovens do ciclo e do secundário as empresas e o seu potencial existente (e o ainda não-existente), não fazê-los sonhar só com coisas interessantes divulgadas nos programas de divulgação da ciência como os pequenos truques que se fazem com a física ou a química e biologia, que não vão contribuir para o seu futuro, seria a meu ver mais útil ao futuro dos jovens. Seria mais útil que os jovens ouvissem empresários bem sucedidos de empresas do que professores universitários que nunca puseram os pés numa empresa, a apregoarem os seus cursos como sendo os melhores. Afinal os jovens de hoje não vão trabalhar nas Universidades mas nas empresas! Parece que é um País fascinado pelo ensino e esquecido do mundo real. Quando os alunos finalmente entram num desses cursos com que sonharam ouvem mais do mesmo só que mais sofisticado e mais desenvolvido. No fim do curso, podem ficar saciados de tanta ciência, mas ficam desprovidos de qualquer experiência que lhes permita entrar no mundo empresarial. Poderiam ser professores se não houvesse o desemprego que já existe e existirá durante anos neste sector. Muitos continuam com o sonho, enveredando pela via da investigação que é só um adiamento do inevitável, num País que não tem lugar para doutorados nas suas empresas.
O próprio sistema de ensino está artificialmente empolado, com programas doutorais em engenharia que não servem para as empresas, porque os alunos debruçam-se sobre um assunto muito específico. Mais parece que não há qualquer estratégia nas Universidades a não ser alimentar os alunos com cursos de 2º e 3º ciclo para que não fiquem no desemprego logo após a licenciatura, e ao mesmo tempo garantir que a Universidade não perca alunos, nem que isso signifique baixar o nível.
É certo que já não há um caminho direto para o emprego via ensino superior. Acabaram com os Politécnicos e transformaram-nos em Universidades tornando esta via mais difícil. A Escola Tecnológica não responde á necessidade que as empresas têm para inovarem e darem o salto tecnológico, sendo mais uma forma de fornecer as empresas com mão-de-obra qualificada que o é mas não o suficiente. O mais dramático é que mesmo muitos destes não ingressam nas empresas portuguesas preferindo emigrar. Que fazer?
Com um governo maioritário há uma oportunidade para fazer uma reestruturação geral do ensino de ciências e engenharia e pô-lo ao serviço das indústrias exportadoras. Mas fazê-lo implica mexer em muitos interesses instalados e isso já se provou com o anterior governo que é muito impopular. Resta-nos continuar a esperar que haja bom senso por parte dos pais e alunos na escolha do cursos e por parte dos professores que pensem mais no futuro dos alunos do que no seu próprio futuro.
De tempos a tempos também ouvimos alguns políticos ou jornalistas a criticarem o facto da Universidade e a indústria andarem de costas voltadas. São só palavras de circunstância porque uma política séria de planeamento do Ensino Superior no que respeita às Ciências e à Engenharia implicaria um planeamento desde o 1º ciclo, passando pelo secundário e não uma análise só da Universidade. Quando entram na Universidade já é tarde para os jovens, pois já fizeram a sua escolha. Mostrar aos jovens do ciclo e do secundário as empresas e o seu potencial existente (e o ainda não-existente), não fazê-los sonhar só com coisas interessantes divulgadas nos programas de divulgação da ciência como os pequenos truques que se fazem com a física ou a química e biologia, que não vão contribuir para o seu futuro, seria a meu ver mais útil ao futuro dos jovens. Seria mais útil que os jovens ouvissem empresários bem sucedidos de empresas do que professores universitários que nunca puseram os pés numa empresa, a apregoarem os seus cursos como sendo os melhores. Afinal os jovens de hoje não vão trabalhar nas Universidades mas nas empresas! Parece que é um País fascinado pelo ensino e esquecido do mundo real. Quando os alunos finalmente entram num desses cursos com que sonharam ouvem mais do mesmo só que mais sofisticado e mais desenvolvido. No fim do curso, podem ficar saciados de tanta ciência, mas ficam desprovidos de qualquer experiência que lhes permita entrar no mundo empresarial. Poderiam ser professores se não houvesse o desemprego que já existe e existirá durante anos neste sector. Muitos continuam com o sonho, enveredando pela via da investigação que é só um adiamento do inevitável, num País que não tem lugar para doutorados nas suas empresas.
O próprio sistema de ensino está artificialmente empolado, com programas doutorais em engenharia que não servem para as empresas, porque os alunos debruçam-se sobre um assunto muito específico. Mais parece que não há qualquer estratégia nas Universidades a não ser alimentar os alunos com cursos de 2º e 3º ciclo para que não fiquem no desemprego logo após a licenciatura, e ao mesmo tempo garantir que a Universidade não perca alunos, nem que isso signifique baixar o nível.
É certo que já não há um caminho direto para o emprego via ensino superior. Acabaram com os Politécnicos e transformaram-nos em Universidades tornando esta via mais difícil. A Escola Tecnológica não responde á necessidade que as empresas têm para inovarem e darem o salto tecnológico, sendo mais uma forma de fornecer as empresas com mão-de-obra qualificada que o é mas não o suficiente. O mais dramático é que mesmo muitos destes não ingressam nas empresas portuguesas preferindo emigrar. Que fazer?
Com um governo maioritário há uma oportunidade para fazer uma reestruturação geral do ensino de ciências e engenharia e pô-lo ao serviço das indústrias exportadoras. Mas fazê-lo implica mexer em muitos interesses instalados e isso já se provou com o anterior governo que é muito impopular. Resta-nos continuar a esperar que haja bom senso por parte dos pais e alunos na escolha do cursos e por parte dos professores que pensem mais no futuro dos alunos do que no seu próprio futuro.
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sexta-feira, junho 03, 2011
UM: Atrair peões ao campus
Com o aproximar do Verão, constatamos as deficiências do campus de Gualtar e mesmo o de Azurém, embora menos, no que respeita a espaços verdes. Numa altura em que os alunos e investigadores poderiam auferir desses espaços nos seus tempos livres, como acontece em países realmente desenvolvidos, vemos os alunos em ambientes confinados, em corredores e em halls sem condições, o que não abona em nada a favor da Universidade como local de convívio, que também o deve ser. Afinal estes são considerados anos marcantes na vida dos jovens. Com que memória que ficam da sua passagem pela Universidade? Como procura a Universidade atrair os alunos? Noutras Universidades que lutam por cativar os melhores alunos estas não deixam de referir e mostrar os seus espaços verdes, por onde se pode conviver e relaxar num ambiente agradável, tão importante para enfrentar mais uma aula ou mais um teste ou exame.
Infelizmente, os reitores anteriores não defenderam o espaço em frente ao campus de Gualtar, a chamada quinta dos peões, que foi desafectada do Estado (Ministério da Agricultura) por uma câmara dependente de empreiteiros, e com a passividade ou mesmo conivência da Universidade.
O actual reitor, bem podia reverter esta situação e já que fez da possibilidade de alienar património um dos argumentos da sua campanha para passagem da universidade a fundação, poderia aproveitar essa possibilidade também para "readquirir" este património ao sr. Rodrigues Névoa, que tenho ideia ser o actual proprietário da quinta dos peões. Embora em teoria a Universidade não devesse pagar por um espaço que já era do Estado, uma vez que o negócio foi feito e houve transferência de dinheiro de privados para o Estado, o que por si só é estranho e devia ser investigado, devia a Universidade pagar exactamente a mesma quantia ao sr Rodrigues Névoa para não ser mais prejudicada do que já foi em todo este negócio. E devia fazê-lo antes que se começasse a construir!
Infelizmente, os reitores anteriores não defenderam o espaço em frente ao campus de Gualtar, a chamada quinta dos peões, que foi desafectada do Estado (Ministério da Agricultura) por uma câmara dependente de empreiteiros, e com a passividade ou mesmo conivência da Universidade.
O actual reitor, bem podia reverter esta situação e já que fez da possibilidade de alienar património um dos argumentos da sua campanha para passagem da universidade a fundação, poderia aproveitar essa possibilidade também para "readquirir" este património ao sr. Rodrigues Névoa, que tenho ideia ser o actual proprietário da quinta dos peões. Embora em teoria a Universidade não devesse pagar por um espaço que já era do Estado, uma vez que o negócio foi feito e houve transferência de dinheiro de privados para o Estado, o que por si só é estranho e devia ser investigado, devia a Universidade pagar exactamente a mesma quantia ao sr Rodrigues Névoa para não ser mais prejudicada do que já foi em todo este negócio. E devia fazê-lo antes que se começasse a construir!
quinta-feira, maio 26, 2011
A Fundação: regime de contratações e promoções
É sabido que no nosso País funciona e funcionou sempre a cunha. Uma palavrinha, uma ligação familiar ou de amizade ou de outra natureza, e o emprego ou a promoção estão garantidas. Acontece nas empresas e acontece na função pública. Todo o País depois sofre na sua competitividade por muitas vezes não serem os melhores em cargos de chefia, ou mesmo que não sejam de chefia mas suficientemente relevantes para "atrasar toda a máquina" ou numa designação muito mais apropriada em inglês: "slow down". Os sociólogos teriam muito a estudar sobre esta apetência que os homens e mulheres têm para se sentirem poderosos ao ter nas suas mãos o destino de alguém, e de daí tirarem prazer ao decidir sobre o seu emprego e futuro profissional.Também sobre os candidatos que se sujeitam a essa arbitrariedade este estudo faria um bom "case study" em termos da aceitação de ficarem a dever favores ao seu chefe e de futuro ter que "pagá-los".
Na função pública, quando um governo introduz uma lei mais exigente de concursos para admissão ou promoção de pessoal, é com o objectivo de reconhecer o mérito na avaliação. No entanto há uma tendência recente de se confundir competitividade com agilização de processos de contratação e de promoção. É o caso da transformação da Universidade em Fundação, em que todos estes processos de contratação e de promoção serão muito mais simples e rápidos. Pode de facto haver a coincidência de se contratar alguém muito capaz que imediatamente põe as suas capacidades de trabalho ao serviço da instituição e tal como em muitas empresas de sucesso, potencia a produtividade da secção para onde foi trabalhar ou onde foi promovido e indirectamente contribuir para a produtividade da própria Universidade. Mas em muitos casos pode também funcionar a cunha ou a proximidade, familiar ou outra, uma vez que é uma condição que não desapareceu nem desaparece tão cedo da sociedade portuguesa. No caso da promoção de funcionários, já temos o exemplo do SIADAP que permite aquilo a que se designou por Opção Gestionária, mas que bem se podia designar por "opção discricionária" pelas injustiças que causa ao passar ao lado da avaliação objectiva regular. No caso dos professores, o ECDU ainda vigora com exclusividade da promoção por via duma avaliação por concurso. Com a passagem da Universidade a Fundação, vai haver também a possibilidade de passar ao lado do ECDU, o que poderá também gerar situações de injustiça. Vamos esperar para ver, porque se as dúvidas ou mesmo rejeição de muitos professores da passagem a Fundação já são muitas, então serão muitas mais nessa altura, o que poderá provocar uma alteração do sentido de voto nas próximas eleições para os cargos dirigentes da UM, uma vez que os actuais dirigentes são os protagonistas desta mudança.
Na função pública, quando um governo introduz uma lei mais exigente de concursos para admissão ou promoção de pessoal, é com o objectivo de reconhecer o mérito na avaliação. No entanto há uma tendência recente de se confundir competitividade com agilização de processos de contratação e de promoção. É o caso da transformação da Universidade em Fundação, em que todos estes processos de contratação e de promoção serão muito mais simples e rápidos. Pode de facto haver a coincidência de se contratar alguém muito capaz que imediatamente põe as suas capacidades de trabalho ao serviço da instituição e tal como em muitas empresas de sucesso, potencia a produtividade da secção para onde foi trabalhar ou onde foi promovido e indirectamente contribuir para a produtividade da própria Universidade. Mas em muitos casos pode também funcionar a cunha ou a proximidade, familiar ou outra, uma vez que é uma condição que não desapareceu nem desaparece tão cedo da sociedade portuguesa. No caso da promoção de funcionários, já temos o exemplo do SIADAP que permite aquilo a que se designou por Opção Gestionária, mas que bem se podia designar por "opção discricionária" pelas injustiças que causa ao passar ao lado da avaliação objectiva regular. No caso dos professores, o ECDU ainda vigora com exclusividade da promoção por via duma avaliação por concurso. Com a passagem da Universidade a Fundação, vai haver também a possibilidade de passar ao lado do ECDU, o que poderá também gerar situações de injustiça. Vamos esperar para ver, porque se as dúvidas ou mesmo rejeição de muitos professores da passagem a Fundação já são muitas, então serão muitas mais nessa altura, o que poderá provocar uma alteração do sentido de voto nas próximas eleições para os cargos dirigentes da UM, uma vez que os actuais dirigentes são os protagonistas desta mudança.
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domingo, maio 15, 2011
Desvalorização dos graus em Engenharia
Mestrado? Doutoramento? São palavras que em tempos eram raras no quotidiano português mas que agora são comuns, o que seria exclusivamente motivo de orgulho para o nosso País, mas que são também motivo de preocupação pela sua aparente desvalorização. Senão vejamos. Para ingressar no Mestrado já não é necessário como era antes de Bolonha nota de 14 ou 13 com um bom currículo, e na Engenharia, no caso dos Mestrados Integrados, é uma continuação dos primeiros 3 anos, que conferem o grau de licenciatura. É preciso que se recue aos primórdios de Bolonha para nos lembrarmos que as licenciaturas eram para ser por si só o grau de ingresso no mercado de trabalho, com o objectivo de encurtar esse período de aprendizagem tornando-o torná-la mais virado para Mercado. Todos sabemos o que fizemos dessa ideia: foi para o lixo porque não interessava ao Ensino Superior ter os alunos menos anos na instituição com a consequente perda de receitas para as Universidades. Assim, desvalorizando a licenciatura, sobrecarregando-a de matérias que não interessariam ao potencial empregador, forçam os alunos a continuar para Mestrado para assim poderem ter aceitação no mercado de trabalho, e facilitam também essa transição integrando o grau de licenciatura em Mestrado Integrados.
Por sua vez, esta massificação de Mestrados, para além de desvalorizar o grau, força os alunos a pensar diferenciarem-se da concorrência, pensando em prosseguir para o doutoramento. A Universidade agradece e facilita essa transição: para ingressar no programa doutoral também não é necessário nota de 14, ou Mestrado com classificação de Muito Bom como era antes de Bolonha. Os Doutoramentos são agora programas doutorais, em que, tal como no Mestrado, têm um ano com aulas em matérias de "adaptação" à àrea do doutoramento e aulas em matérias de preparação para a investigação. Tudo muito lógico, mas perde-se um ano de investigação. Portanto temos o programa doutoral com menos um ano de investigação no doutoramento.
Em termos de capacidade dos doutorandos para a investigação, como consequência dos anos iniciais da licenciatura sem aulas de preparação de prática laboratorial, substituídas que foram em muitos casos por teoria e por trabalhos em computador (com recurso a motores de busca e enciclopédias on-line), temos a má preparação laboratorial dos alunos, mesmo daqueles que entraram com notas superiores a 14, indispensável para cumprirem um doutoramento.
Será normal que os supervisores façam que tudo seja possível fazer no curto espaço de tempo que têm para cumprir o calendário, não querendo dispensar no seu currículo mais uma orientação de um doutoramento.
Exagerado este cenário? Gostava que o fosse, mas teriam que me convencer do contrário, com factos e não "pedagogia", que é o que não falta na nova realidade que é Bolonha.
Por sua vez, esta massificação de Mestrados, para além de desvalorizar o grau, força os alunos a pensar diferenciarem-se da concorrência, pensando em prosseguir para o doutoramento. A Universidade agradece e facilita essa transição: para ingressar no programa doutoral também não é necessário nota de 14, ou Mestrado com classificação de Muito Bom como era antes de Bolonha. Os Doutoramentos são agora programas doutorais, em que, tal como no Mestrado, têm um ano com aulas em matérias de "adaptação" à àrea do doutoramento e aulas em matérias de preparação para a investigação. Tudo muito lógico, mas perde-se um ano de investigação. Portanto temos o programa doutoral com menos um ano de investigação no doutoramento.
Em termos de capacidade dos doutorandos para a investigação, como consequência dos anos iniciais da licenciatura sem aulas de preparação de prática laboratorial, substituídas que foram em muitos casos por teoria e por trabalhos em computador (com recurso a motores de busca e enciclopédias on-line), temos a má preparação laboratorial dos alunos, mesmo daqueles que entraram com notas superiores a 14, indispensável para cumprirem um doutoramento.
Será normal que os supervisores façam que tudo seja possível fazer no curto espaço de tempo que têm para cumprir o calendário, não querendo dispensar no seu currículo mais uma orientação de um doutoramento.
Exagerado este cenário? Gostava que o fosse, mas teriam que me convencer do contrário, com factos e não "pedagogia", que é o que não falta na nova realidade que é Bolonha.
sábado, maio 07, 2011
A inércia do sistema perante sintomas preocupantes
Surgem ciclicamente mensagens de alguém que sente que foi marginalizado pelos seus superiores ou mesmo colegas, como foi o caso desta semana de Joaquim Sá do IE-Instituto da Educação. Conheço o Joaquim e conheço os seus problemas por alto, mas não conheço toda a história por detrás de tanta amargura. Sei que terá as suas razões, porque sendo um professor profundamente honesto , não conseguiu no entanto progredir na carreira tal como desejava. Assistiu durante anos à progressão de outros que não reconhece como tendo um currículo superior ao seu, ou pelo menos que não tem um currículo que lhe pareça em linha com as directrizes do que é normal nas Ciência de Educação. Para um leigo nesta área como eu, também fico surpreendido como currículos de biologia e áreas afins chegam a Professor Catedrático em departamentos onde supostamente “se ensina a ensinar”, havendo ainda por cima outros com currículo em áreas mais de acordo com a Educação em geral como é o Ensino de crianças, que é aparentemente a área do Joaquim, que ficam pelo caminho.
A frustração de ninguém lhe responder a estas questões, que lhe parecem anómalas, levou-o ao desespero e a tomar atitudes que muitos reprovam, como o de divulgar textos que chegam a insultar quem percorreu esses caminhos paralelos à Educação como o seu colega Nelson Lima, ele próprio eventualmente uma vítima do sistema, que como denuncia o Joaquim, “anicha” professores onde existe vaga, independentemente do seu currículo ser aquele que mais interessa ao fim em vista: neste caso a Educação. Também não aprecio esta forma de protesto que procura envolver todos os membros da comunidade académica num assunto que eventualmente não poderão julgar com isenção por não conhecerem toda a envolvente, e que por isso castiga quem não esperava tal ataque quando inocentemente divulga o que tem construído ao longo dos anos na UM, ou seja uma Micoteca, que sem dúvida tem muito interesse e mérito, embora talvez não para o Instituto de Educação, pelo menos directamente. Dito isto, também compreendo o grito de revolta do Joaquim, que entendo não como um ataque ao seu colega, mas mais um grito contra o sistema que o usou e o "cuspiu" quando ele se tornou incómodo. Infelizmente há vários casos destes nas Universidades, não só na UM como é bom de ver, e não há quem se interesse e procure resolvê-los. Para os alunos há o Procurador do aluno, mas infelizmente para os professores isso não existe.
Amigos Joaquim e Nelson, que não tenho o prazer de conhecer, como os compreendo! O Joaquim por não ter sido reconhecido o seu mérito, o Nelson que fez algo que ninguém lhe pediu para fazer, uma Micoteca, o que na Função Pública é invulgar. E se o fez por vias paralelas é porque não o poderia fazer por outras vias. Mas por favor, o vosso inimigo é o mesmo por isso não se digladiem mutuamente. Antes combatam o sistema juntos. Vejam como se originou toda esta confusão de critérios e exponham essas incongruências juntos, sugerindo rearranjos de sub-unidades orgânicas ou mesmo Unidades orgânicas de modo a que todos no futuro tenha uma vaga onde poderá correctamente se “anichar”, sem usar o nicho alheio.
É minha convicção e já a exprimi aqui neste espaço, que a UM já devia ter feito esse estudo global, reorganizar-se em novas e restruturadas unidades e sub-unidades. Não o faz para não mexer nos interesses instalados e como consequência temos casos como este, que imagino ser só a ponta do iceberg.
A frustração de ninguém lhe responder a estas questões, que lhe parecem anómalas, levou-o ao desespero e a tomar atitudes que muitos reprovam, como o de divulgar textos que chegam a insultar quem percorreu esses caminhos paralelos à Educação como o seu colega Nelson Lima, ele próprio eventualmente uma vítima do sistema, que como denuncia o Joaquim, “anicha” professores onde existe vaga, independentemente do seu currículo ser aquele que mais interessa ao fim em vista: neste caso a Educação. Também não aprecio esta forma de protesto que procura envolver todos os membros da comunidade académica num assunto que eventualmente não poderão julgar com isenção por não conhecerem toda a envolvente, e que por isso castiga quem não esperava tal ataque quando inocentemente divulga o que tem construído ao longo dos anos na UM, ou seja uma Micoteca, que sem dúvida tem muito interesse e mérito, embora talvez não para o Instituto de Educação, pelo menos directamente. Dito isto, também compreendo o grito de revolta do Joaquim, que entendo não como um ataque ao seu colega, mas mais um grito contra o sistema que o usou e o "cuspiu" quando ele se tornou incómodo. Infelizmente há vários casos destes nas Universidades, não só na UM como é bom de ver, e não há quem se interesse e procure resolvê-los. Para os alunos há o Procurador do aluno, mas infelizmente para os professores isso não existe.
Amigos Joaquim e Nelson, que não tenho o prazer de conhecer, como os compreendo! O Joaquim por não ter sido reconhecido o seu mérito, o Nelson que fez algo que ninguém lhe pediu para fazer, uma Micoteca, o que na Função Pública é invulgar. E se o fez por vias paralelas é porque não o poderia fazer por outras vias. Mas por favor, o vosso inimigo é o mesmo por isso não se digladiem mutuamente. Antes combatam o sistema juntos. Vejam como se originou toda esta confusão de critérios e exponham essas incongruências juntos, sugerindo rearranjos de sub-unidades orgânicas ou mesmo Unidades orgânicas de modo a que todos no futuro tenha uma vaga onde poderá correctamente se “anichar”, sem usar o nicho alheio.
É minha convicção e já a exprimi aqui neste espaço, que a UM já devia ter feito esse estudo global, reorganizar-se em novas e restruturadas unidades e sub-unidades. Não o faz para não mexer nos interesses instalados e como consequência temos casos como este, que imagino ser só a ponta do iceberg.
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