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domingo, julho 05, 2015

Bolonha e doutoramentos

A propósito de Bolonha, vem a talhe de foice falar de Miguel Relvas. O caso é conhecido: alguém que conseguiu uma licenciatura, em Ciências Políticas, numa universidade portuguesa, a Lusófona, por lhe ter sido atribuídas equivalência a grande parte das UCs (disciplinas) com base no seu currículo de político. Diz o Professor Alberto Amaral que se a moda pegasse bastava a alguém trabalhar num stand da Renault para obter a licenciatura de engenheiro mecânico. Está bem visto. Bastaria a alguém trabalhar numa empresa têxtil para ter uma licenciatura em engenharia têxtil? Talvez. Os exemplos seriam muitos. O caso de Relvas está em tribunal para se averiguar da sua legalidade. Mas independentemente da sua legalidade, há alguém que aceita este estado de coisas? De que serve a legalidade formal de um diploma se o diploma não vale nada? E se não vale nada pode-se concluir que as outras licenciaturas da Universidade Lusófona também não valem nada? Com certeza que não! Onde eu quero chegar é à generalização que se pode fazer de casos tristes em que a Universidade facilita, ou para ganhar alunos, ou compensações de outra ordem. Preocupa-me um pouco o facilitismo que se apoderou das Universidades desde que as licenciaturas e doutoramentos de Bolonha passaram a vigorar. E não se pode atribuir tudo a Bolonha. Mas uma vez que o facilitismo se instala, já não se distingue se é de Bolonha ou não. Por exemplo, doutoramentos em conjunto com outras Universidades que por não terem uma especialidade numa determinada área, formam os seus docentes nessa área através de um doutoramento em conjunto, mas que será atribuído pela UM. Não sei se existem outros casos, mas conheço o do Centro de Ciência e tecnologia Têxtil da Escola de Engenharia, o 2C2T. É um doutoramento pago, à Universidade e aos docentes. Põe-se logo a questão: se é pago, admite que algum dos seus doutorandos não obtenha o título de doutorado? A universidade de Maringá, Brasil, neste caso específico, espera que alguns dos seus professores voltem sem doutoramento depois de pagar? Há uma outra questão que se coloca e que há muito que eu ponho em causa: a formação de base dos alunos. Não sei como é nos outros centros, mas no caso do 2C2T entram alunos com os mais diversos currículos para o doutoramento em Engenharia têxtil, desde design a gestão. Deu-se o caso de há uns anos admitirem um aluno com contabilidade como área principal do seu currículo. Como me demiti nessa altura do Conselho de Cursos do PDET, Programa de Doutoramento em Engenharia Têxtil, considerando que esta era a gota de água, não sei que outros CVs têm sido admitidos. Sei que o Design tem sido admitido como currículo até porque houve recentemente doutoramentos na área do design que foram admitidos como doutoramentos em Engenharia Têxtil. A justificação é que não existe doutoramento em Design Têxtil. Depois do escândalo do doutoramento em Engenharia Têxtil que foi plagiado, também por ser numa área que se prestava a isso, Marketing, mais uma que se admite como Engenharia Têxtil, pensar-se-ia que no 2C2T se "navegaria" com mais cuidado. A questão é que no caso do doutoramento plagiado, não houve qualquer sanção aos envolvidos, nem qualquer demissão. Os mesmos continuam à frente do centro e os professores envolvidos continuaram a distribuir diplomas, em tudo igual, baseados em estudos de mercado, estatísticas e outras ferramentas que de originalidade não têm nada(veja-se o artigo de opinião de Vasco Eiriz em Empreender). Na altura o reitor e presidente de Escola afirmaram que iriam atuar. Ficou-lhes bem. Mas o tempo tratou de fazer esquecer e o risco de acontecer outra vez continua. É o que acontece quando se facilita. E voltamos ao assunto de início: facilitar, ajuda quem? O próprio é evidente. Mas a instituição em causa, e por último a imagem do ensino superior e do País? Com a ideia que os países do norte da Europa já têm dos portugueses que acham pouco gostam de trabalhar, muito por causa da dívida que acumulámos, este tipo de atitude vem mesmo a calhar para provar a sua teoria.

segunda-feira, junho 22, 2015

Subsídio de exclusividade

Num artigo de opinião, um professor da Universidade Católica de Lisboa, sugere que se retire o subsídio de exclusividade a quem não faz investigação. Para além da questão óbvia da designação de "exclusividade" não ter muito a ver com a "investigação", não sendo líquido que um exclua o outro, há ainda a questão de saber se aqueles professores que não fazem investigação não terão outras funções uteis na instituição? E os funcionários que não trabalham como deveriam ser tratados? Também perderiam uma parte do ordenado? Alega que seria uma forma simples de aumentar a contratação de mais professores sem gastar dinheiro. E esses novos professores fariam investigação? Também não é seguro que o façam uma vez que alcançam a segurança do emprego. Penso que o mecanismo de avaliação dos professores, RAD, se fosse feito duma forma honesta, seria o suficiente para fornecer o incentivo necessário para os professores fazerem investigação e "assustar" aqueles que não a fazem. Não tem sido eficaz, por razões muito próprias da função pública, em que o fator de subjetividade prevalece, relacionado em parte com o receio de penalizar colegas. O sistema que o colega da Universidade Católica propõe também não deixa de ter os seus riscos de arbitrariedade. Quem é que decide se o professor faz investigação ou não faz? O Presidente (Direção) da Escola. Como é possível ter tal avaliação? Não seria melhor aproveitar o RAD que foi feito a pensar na objetividade do que estar sujeito a uma avaliação que não tem parâmetros seguros para comparação entre CVs? Seria aliás uma dependência perigosa dos professores da vontade unilateral de um só indivíduo. O atual estatuto RJIES já incentiva a investigação através da promoção no escalão, uma vez descongelados os escalões, e aponta para soluções para os casos de professores que não fazem investigação, permitindo que façam atividades alternativas, dedicando-se mais à componente pedagógica, por exemplo. Basta pôr o ECDU, o RAD e o RJIES a funcionar como deve ser para resolver este problema. Só é preciso haver força de vontade dos professores para que isso aconteça, e essa é a parte mais difícil, mas deve-se chegar lá motivando e não penalizando, na minha perspetiva. Promovendo os melhores na investigação, deixando por defeito os piores para trás. Esta seria uma forte mensagem para os que ficassem para trás alterarem a sua atitude.

domingo, maio 17, 2015

A ciência é para ser aplicada?

Discute-se mais uma vez nos fóruns sobre ciência se esta deve ser fundamental ou aplicada. Durante os últimos anos investiu-se muito na ciência fundamental e supostamente na ciência aplicada. Mas os resultados são mais evidentes no que se investiu em ciência fundamental, com o número de doutorados e de publicações científicas a crescer exponencialmente nas últimas 2 décadas, mas o que se investiu em ciência aplicada não surtiu o efeito desejado, segundo Daniel Bessa no jornal Expresso deste sábado dia 16, só se tendo registado 18% das patentes da média europeia em Portugal. Há algo que não está certo, uma vez que o investimento em investigação e desenvolvimentos está a 82% da média europeia, muito superior portanto ao que se investe na maioria dos países europeus. No caso das patentes, nunca houve no passado incentivo científico ao seu registo, não se considerando no mesmo nível que os artigos científicos e não havia nem há incentivo financeiro para o se registo, que estará fora do alcance de qualquer inventor individual. Além do mais, quem regista patentes em Portugal tem pela frente examinadores que são mais papistas que o papa, chegando a ser mais fácil obter a sua aprovação noutros países europeus do que em Portugal. Há uma atitude de chumbo fácil, de uma forma leviana em que se faz uma análise negativa da patente sem o cuidado de analisar exaustivamente o seu mérito, tal como fazem os EUA no que respeita à patentes submetidas pelos seus cidadãos e empresas. Eles protegem a nossa tecnologia, nós penalizamos a nossa. E mesmo das patentes aprovadas só 3% da média dessas patentes contribuíram para as exportações, através do seu licenciamento ou venda. O mal não pode estar só nos investigadores, mas no desajuste dessas patentes ao tipo de empresas existentes em Portugal. Com algumas exceções, são pequenas e médias empresas sem estrutura para poder tirar partido de novos desenvolvimentos ou novos produtos. Os setores de atividade também são setores de grande imobilidade tecnológica, que mesmo modernizando-se, fazem-no através da importação, e não através de inovação obtida no país. É sem dúvida um problema complexo. Mas sem descomplexá-lo não se resolve. Vamos por partes: se os setores são de baixa tecnologia, há quem defenda que deviam-se substituí-los por outros mais sofisticados e mais produtivos. Como exemplo, o setor têxtil, que de momento está bem e exporta a maior parte da sua produção. Como vai uma indústria deste teor contratar doutorados? A sobrevivência faz com que não faça planos para alterar o seu paradigma: exporta mas não evolui. Outras indústrias como o calçado, também não têm necessidade de doutorados, por serem também de baixa tecnologia, e mais focados no design e no branding. Falou-se muito da Bosch a contratar engenheiros e possivelmente doutorados. Mas a Bosch é estrangeira e à primeira oportunidade de cortar nos custos, deslocaliza para países onde os salários e energia mais baixos, tais como os países de Leste. E mesmo que fique, é uma gota no Oceano. É necessário fazer um pausa para pensar, mesmo que isso signifique diminuir os número de bolseiros nas universidades. Talvez esperar uma década para o cenário industrial mudar para um de mais alto nível tecnológico e consequentemente mais apelativo para os doutorados e vice-versa, que precise de doutorados. Até porque temos 9,2 doutorados por cada 1000 habitantes quando a média da UE é de 6,2, segundo o mesmo artigo de Daniel Bessa. Entretanto faça-se ciência mas com dinheiro de fora, sejam projetos europeus ou internacionais, e que não necessitem de comparticipação nacional. Porque fazer ciência é sempre necessário, para o futuro das universidades e da própria ciência, que todos os países têm que ter, em maior ou menor grau. Mas não com os escassos recursos que temos. É a única via, a meu ver. Pelo menos a mais lógica e pragmática.

sexta-feira, maio 08, 2015

Consórcios em risco-2

Devem as universidades fundir-se? A fusão traz mais-valias às universidades? A opinião da EUA, Associação Europeia das Universidades, divulgada em notícia do jornal "Público" em 3 de Maio, diz que não. Na verdade pode ser uma forma de atingir maior dimensão mas não traz sinergias. Cortes, talvez, nomeadamente quando os cursos se sobrepõem. E os centros de investigação ganham com o aumento da sua dimensão? Penso que não. Por muito que se tente juntar professores, o ADN do investigador-professor típico faz com que ele não ceda a sua autonomia. Haverá sempre colaboração entre equipas complementares, mas não será esse o cenário provável entre equipas da mesma área de investigação. No caso das universidades do norte, Minho, Porto e Vila Real, que formaram o primeiro consórcio existente, elas são réplicas uma das outras, apresentado basicamente os mesmos cursos, e os mesmos centros de investigação, à exceção de alguns pequenos cursos e centros de setores específicos da região, mais ligado à agricultura no caso de Vila Real e cursos ligados ao setor têxtil na Universidade do Minho. É uma situação muito diferente daquela das faculdades existentes em Lisboa, o Técnico, centrado nas engenharias, e a Universidade de Lisboa, lecionando principalmente cursos de humanidades e ciências. Não havia portanto duplicação de especialidades por isso não se prevê um processo de "otimização" de recursos, um eufemismo par "cortes" de recursos. Mas no caso das universidades a norte, que a ideia do consórcio destas universidades não foi suficientemente ponderado nem pelo governo nem pelas partes interveniente, é mais que óbvio. Como os responsáveis por este consórcio vão descalçar esta bota que se tornou incómoda para todos, não sei. Se esta ideia for para a frente, poderá haver uma subalternalização das universidades da periferia, em relação às do litoral, nomeadamente a universidade à do Porto, no caso do consórcio a norte, devido à maior população estudantil no litoral. Até pode implicar um maior fosso entre estas universidades. Receando este cenário, as universidades mais periféricas, matam o consórcio à nascença. Veja-se a mais recentes tomada de posição do presidente do CRUP e reitor da UM que já é um passo nesse sentido.

segunda-feira, março 02, 2015

A carreira docente estagnada

Quando o Estatuto da Carreira docente foi escrito, em 1979, na sua forma essencial, estava-se numa situação de crescimento, em que as universidades precisavam de professores de uma estrutura em pirâmide, com catedráticos, associados e auxiliares. Com o estabelecimentos da pirâmide veio a promoção dos professores ao longo dos anos, preenchendo os lugares vagos da pirâmide e culminando com o preenchimento dos lugares de catedrático. Nos últimos anos, com o congelamento das contratações de funcionários públicos, não houve entrada de doutorados, uma vez que com as alterações ao ECDU de 2009, tornou-se obrigatório o doutoramento para entrada nas universidades, para o lugar de professor auxiliar. Mas curiosamente houve entrada de novos professores diretamente para o lugar de Professor Associado, pela via do concurso público. Também têm diminuído os concursos para professores associados e catedráticos, devido aos cortes nos orçamentos das universidades. Na UM houve uma ligação da abertura de concursos ao número de alunos dos cursos e consequentemente dos departamentos responsáveis por esses cursos. Parece justa esta ligação mas também tem efeitos perversos, sendo o mais óbvio a desmotivação dos professores auxiliares nesses departamentos. A desmotivação leva a que os professores não façam I&D por não acharem que vão precisar de currículo para o resto da sua carreira académica, uma vez que a maior parte já ultrapassou os 45 anos, e por outro lado, não tendo a veia de investigador, também não fazem investigação porque não sentem prazer profissional nisso. O que acaba por acontecer é uma boa parte do pessoal docente, e são muitos os departamentos onde isto acontece, só dá aulas e gere o resto do tempo da melhor maneira que entender. Não sendo obrigatório picar o ponto, podem até fazer outras atividades ou pura e simplesmente não fazer nada, ou seja, nada relacionado com a I&D. Se ao menos tivessem atividades relacionadas com a sua especialidade, no caso das engenharias formassem empresas spin-off, ou fizessem consultoria para empresas do seu setor, através de projetos de prestação de serviços ao exterior, PSECS (que quase desapareceram), seria algo de que a Universidade beneficiaria, até seria aquilo que muitos pretendem como sendo uma relação entre o tecido empresarial e as empresas. Mas o que acontece é que mais parecem professores do ensino secundário ou mesmo ensino primário, que vão para casa quando não estão a dar aulas, mas com a agravante de terem menos de 1/3 de horas que estes profissionais. Como é possível uma universidade crescer na sua produção científica e consequentemente no seu valor, com uma estagnação desta ordem? Penso que o que deve ser feito e com urgência será de alterar totalmente o regulamento universitário. Uma hipótese seria de considerar que só os professores associados seriam do quadro e abrir concursos para todos os lugares docentes existentes como lugares de professores associados. Assim, os atuais professores auxiliares teriam que concorrer para o lugar de Professor Associado, juntamente com doutorados externos. Dar-se-ia um prazo de 2 a 3 anos para prepararem as candidaturas. Haverá outra formas semelhantes de resolver esta estagnação, mas a meu ver todas devem ter como objetivo o preenchimento de um lugar acima do que ocupa, como incentivo. Como qualquer concurso alguém ficará de fora, e espera-se que serão os melhores e mais motivados os que preencheriam esses lugares. Assim a Universidade terá futuro.

quinta-feira, janeiro 15, 2015

Doutorados

O novo programa do governo de introdução de doutorados nas empresas vem na sequência de uma análise do número de doutorados que em Portugal subiu de há uns anos a esta parte mais do que nos outros países europeus, e a constatação de que este crescimento exponencial cingiu-se quase só às Universidades e institutos públicos, ou seja no Estado. Mas alguém fica admirado com isto? Só quem não anda atento à evolução, ou não, das empresas. O que é notório é que nem o tecido empresarial evoluiu, nem os doutorados se especializaram no que as (poucas) empresas querem no que se refere a novas tecnologias, novos processos, novos produtos. Faz pensar no ouro do Brasil do século 16. É outra oportunidade perdida. Não há planeamento, não há objetivos, gasta-se o dinheiro de Bruxelas como se gastou o dinheiro do Brasil que foi desperdiçado na corte e desviado para o estrangeiro, em vez de ser investido em infraestruturas e indústria (na altura indústria têxtil, uma vez que as sedas vinham da Flandres). Mas ao reagir já tarde, embora seja elogiável, não vai resolver nada. As especialidades dos doutorados continuam a não se enquadrar nos desígnios das empresas, pela simples razão que são os mesmos doutorados que já não tinham lugar quando fizeram a sua investigação, por ser desadequada à assimilação pelas empresas, desde o início da sua formação. Só se passarem por uma adaptação à realidade, o que não será fácil de fazer nem há quem o faça, ou seja, desde que passem por um estágio, mas as empresas não querem estagiários, mas sim mão-de-obra. Estamos perante um ciclo vicioso, ou uma pescadinha de rabo na boca, e a pescada é o peixe que antes de ser já o era, o que também se aplica aos doutoramentos dissonantes das empresas. Ou por outras palavras, o que nasce torto não mais se endireita.

quinta-feira, janeiro 01, 2015

Um ano de I&D a começar com boas notícias para alguns

Inicia-se hoje mais um ano, o de 2015. Em 2014, ao cair do pano, houve um anúncio de verbas que centros de I&D classificados por excelentes ou excecionais irão receber. É pouco ainda, mas já é um bom começo para 2015. Os centros com Bom ou menos, não terão verbas relevantes ou mesmo nenhum investimento, sendo o sue futuro incerto. Se esses centros estão indignados, há outros que estão admirados, uma vez que nem todos os centros excelentes são de facto excelentes no que respeita a número de publicações e citações dessas publicações Só se entende essa classificação com a sua atividade mais relacionada com o mundo empresarial, nomeadamente em número de patentes e empresas spin-off que emanaram desses centros. Esta relação de facto transparece nos relatórios efetuados pelos avaliadores. Sejam quais foram as razões, não será no relatório do seu centro que encontrarão a explicação, uma vez que os relatórios tendem só a referir os aspetos bons, mesmo que não sejam suficientes para a sua aprovação. Ninguém gosta de pôr o dedo na ferida. Aconselha-se os centros que não foram bem classificados a lerem os relatórios dos que foram bem classificados, para poderem entender as razões pelas quais não foram também selecionados para uma segunda fase, o que garantiria a sua classificação pelo menos com Muito Bom. Também abriu o concurso para I&D em todos os domínios. Também se lê nas entrelinhas que a aplicabilidade dos resultados obtidos. Parece que finalmente se percebeu que ao I&D fundamental cresceu demasiado sem qualquer efeito no tecido empresarial português. Quem quer fazer I&D fundamental terá que o fazer com fundos comunitários, o que me parece razoável, uma vez que os resultados serão só absorvidos por grandes empresas europeias, uma vez que as nossas não têm capacidade, ou interesse, em o fazer.

domingo, novembro 30, 2014

Assim vai o ensino superior na transição para 2015

Aproxima-se mais o fim de um ano em que as contas das Universidades chegam ao fim e mais um orçamento entra em vigor em 2015. Pelo que sabemos do que é divulgado que resta do orçamento deste ano, não chega para mais que uns consumíveis. Longe vai o tempo em que tínhamos o desafio de gastar mais do que tínhamos tempo para o fazer, a cumprir todas as regras, claro. Que o governo cortou no ensino superior já sabemos, mas que cortou ao ponto de cortar no futuro das universidades e do I&D é menos claro para os mais distraídos. Mas quando vemos que os cursos perdem professores, convidados e leitores, despedidos só por não terem vínculo, por muito bons professores que sejam, e quando bolseiros perdem a bolsa só porque a FCT decide cortar nas bolsas aliatoriamente e alterar a forma de avaliar os centros, atribuindo a uns que mal têm publicações a classificação de excelência a e a outros com mais que reconhecido nome internacional uma classificação menor, então perde-se o rumo, não se sabendo mais qual o objetivo da Universidade. O Governo humilhou muitos, fez perder a muitos aquilo que mais gostavam, a sua profissão, e ainda vai ficar mais um ano para terminar de enterrar definitivamente a esperança de muitos mais professores e investigadores. Com os cortes vêm também os despedimentos, com consequências para a qualidade que tinha como base no mérito dos seus professores. A meritocracia sai muito prejudicada e o que prevalece é aquilo que durante muitos anos andou a sondar o ensino superior, o corporativismo por um lado, e o "salve-se quem puder" de outros, eliminando os mais fracos e procurando salvar a pele sem olhar a critérios de mérito. É a promoção dos mais baixos instintos profissionais, que vem de cima. Leitores e bolseiros, os elos mais fracos, são as vítimas nas Humanidades, e os professores convidados, nas Engenharias. Precisamente aqueles que poderiam construir o futuro do ensino superior mais ligado à I&D e à sociedade. Tudo feito por colegas em reuniões departamentais, sem qualquer critério de mérito. O corporativismo vem de jogadas auto-protetoras por parte daqueles que constituem a maioria, normalmente os menos competentes, normalmente instigados por um líder eleito por eles, o que é uma deturpação da democracia e um atentado à meritocracia. O salve-se quem puder é normalmente típico de outros espíritos fracos e muitas vezes incompetentes que se juntam ao grupo da matilha, para não serem eles próprios sacrificados.

domingo, novembro 02, 2014

Ranking das Escolas de Engenharia das universidades portuguesas

Mais um ranking em notícia do público e desta vez a Universidade do Minho não figura nas eleitas. Foi um ranking sobre as unidades de engenharia, em que das universidades portuguesas a Universidade de Lisboa lidera no 15ºº lugar das universidades europeias. A Universidade do Porto está em 26º lugar. Seria de esperar que estas duas universidades liderassem as universidades portuguesas, mas acontece que Coimbra e Aveiro também figuram na lista. Quem está ausente neste ranking das engenharias é a Universidade do Minho. Não é por isso de admirar que os alunos escolham mais estas universidades que a UM para as engenharias. Os rankings valem o que valem, havendo rankings para todos os gostos, o que é certo é que há uns de maior reconhecimento ou com maior visibilidade que outros, como este da US News, e nesses pelos vistos nós na UM não estamos. Embora não concorde que uma Escola/Faculdade de Engenharia não devia só ser avaliada pelos artigos científicos, mas também pelas patentes e nas spin-off's que gerou, entre outras projeções para a sociedade, uma vez que segundo a notícia o ranking foi precisamente baseado no número de publicações e citações de artigos científicos, depressa se percebe porque ficámos em último lugar, sem figurar sequer na lista. Desde que na última eleição do Presidente da Escola de Engenharia, o Presidente cessante, o Paulo Pereira, fez um esforço junto com o seu vice Eugénio Ferreira na implementação de um sistema de avaliação de docentes, o RAD-EEUM, baseado precisamente nos artigos científicos e citações, que houve um movimento contrário que culminou na sua derrota nas eleições. Portanto está tudo dito: quando os próprios docentes não querem ser avaliados pelos parâmetros internacionais, o caminho é para o facilitismo, a imobilidade e finalmente, a perda de prestígio internacional. Não se podem queixar depois de não figurarem na lista das melhores universidade na área das engenharias, o que se repercutirá mais cedo ou mais tarde, na perda de alunos que também se guiam pelo que leem ou ouvem nos media. Faz lembrar um pouco, os professores do ensino secundário, com as devidas diferenças de nível, com a sua recusa em serem avaliados. Mas estes fazem-no através do sindicato, enquanto que os professores da Escola de engenharia fizeram-no numa eleição institucional em que o corporativismo da classe não deveria se espelhar neste tipo de eleição, em que a qualidade deve ser e é normalmente o lema de campanha dos candidatos, tendo em vista a vontade dos eleitores em melhorarem a qualidade da usa instituição. Pelos vistos não é um tema prioritário na Engenharia, o que lamentamos, porque somos todos envolvidos depois pelo ranking, mesmo não tendo participado na queda da proposta do RAD-EEUM tal como ele era proposto no início. Neste momento o RAD-EEUM não serve para nada, não decide sobre promoções, nem que seja de escalão, como seria de esperar, nem amedronta aqueles que não investigam, mas que só dão aulas, acabando por os premiar. De facto, a avaliação está de tal forma enviesada que a componente pedagógica pode suplantar a produção científica na pontuação, chegando ao ponto de alguém com quase nada de publicações científicas reconhecidas pelos pares, ter a mesma classificação de outro com bastantes artigos científicos de qualidade, na web of knowledge, ISI ou SCOPUS.

terça-feira, outubro 07, 2014

Prós sem contras

No programa "prós e contras" de ontem, no Teatro Circo de Braga, tivemos a ocasião de ouvir dos vários intervenientes os prós de Braga e da UM em várias frentes, centrada nos jovens de Braga, e no sucesso da intervenção da UM na sociedade. Foram passando os minutos e os membros da "mesa", desde o Presidente da Câmara ao ex-secretário de Estado, agora responsável pela mais recente incubadora de empresas de Braga, a investBraga, falaram de uma realidade que dificilmente se pode imaginar como sendo aquela da cidade de Braga. O que é certo é que faltaram exemplos de todo esse dinamismo que foi referido, sendo que quase a única foi a Primavera que da plateia fez um relato que deve ter posto muita gente a dormir. Aliás,entre o enfado que as várias intervenções provocavam, ao enjôo de tantos elogios à cidade e à UM, faltou algum discernimento sobre a nossa realidade. Que a cidade é a mais jovem, refira-se como jovem o facto de ter a população mais jovem, é o que temos ouvido há mais de 20 anos. Será que ainda é? A emigração de jovens para a Suíça, França e Reino Unido, parte principalmente do norte do país e o distrito de Braga deve ser o epicentro dessa emigração. O norte do país deve ser a região do país com mais pobres. Tem talvez o maior desemprego. No entanto só o arcebispo referiu timidamente estes dados, não fosse destoar do otimismo e autoelogio de todos os outros presentes. Não se coibiu no entanto de regogizar-se com o trabalho que a igreja tem feito junto desses setores da população mais desfavorecida. A moderadora Fátima Campos Ferreira, parecia que dançava num mar de rosas, incentivando à enaltação por parte dos presentes dos feitos que fizeram para Braga ser a cidade que pintou quando da apresentação do programa. Não destoou em nada, não havendo lugar aos "contras" normalmente presente no seu programa. O reitor fez o que lhe competia, referindo a Universidade como uma "research University", e até pecou por ser parco nas palavras, não deixando no entanto de referir mais um ranking onde a UM figura à frente das outras universidades portuguesas. Não disse no entanto o óbvio, que os rankings são baseados em critérios que nem sempre são objetivos. O discurso de quase euforia teve um pequeno solavanco com a intervenção de José Mendes que se queixou que a região merecia receber mais investimento por parte do poder central, considerando ser uma região exportadora e que muito contribui para a riqueza do país por esta via. Esqueceu-se da auto-europa e da Galp, as maiores exportadoras, situadas perto de Lisboa. Ainda houve lugar ao protesto do reitor sobre o financiamento dos centros por parte da FCT não ter contemplado um centro de I&D que tem no seu seio um investigador que fez parte da equipa de um nobel da física, com trabalho na área do grafeno. António Murta fez o discurso de exaltação deste investigador. Quase que estávamos ombro a ombro com os prémio nobel com tal exaltação! Foi o ponto alto da noite. Foi uma noite surrealista em que Braga se elevou acima das nuvens, o que ao menos já é uma melhoria para Braga, habitualmente debaixo de nuvens.

segunda-feira, julho 28, 2014

Avaliação dos centros de I&D

Agora que se aproximam as férias, não se esperam grandes novidades. Acaba o ano com a polémica  causada pelos centros que não passaram à segunda fase. O centro de física da UM  e o centro de química apareceram na imprensa a reclamar a sua não passagem à segunda fase, pelo que foram secundados por vários comentadores que depressa passaram ao pedido de impugnação de todo o processo de avaliação. Independentemente da justeza ou não destas reclamações, há algumas questões que se nos ocorrem. Tendo sido a avaliação pela primeira vez feita totalmente por avaliadores estrangeiros, seria de esperar que num país pequeno como Portugal, onde quase todos os cientistas do mesmo ramo se conhecem, esta teria sido um boa medida para evitar compadrios, que têm assolado o nosso meio científico durante décadas. Pelos visto já não basta só o número de "papers" e citações para se ser considerado um centro de excelência. É talvez um ponto de viragem que se impunha há algum tempo, não havendo qualquer benefício para o tecido empresarial português ou mesmo para o Estado Social o aumento exponencial que se tem verificado de produção científica. Houve nos últimos anos uma proliferação de publicações para inflacionar o ego dos responsáveis dos institutos de I&D e de alguns responsáveis de equipas e I&D que são autenticas fábricas de produção de "papel". Também não ajuda a comunicação social contabilizar a excelência científica a metro, contabilizando o número de papers e citações sem olhar às causas de tais resultados. Uma delas é a globalização da I&D e a proliferação de "journals" na última década, um negócio das editoras como a Elsevier entre outras. Temos pois que enveredar por uma autoanálise do que tem sido o financiamento da I&D em Portugal e só depois criticar as novas orientações, que não são este governo, mas são da Europa, que financia a I&D e exige mudanças, no sentido de ligar mais a I&D ao tecido empresarial e industrial regional, que diga-se de passagem, não é má ideia.

sábado, julho 12, 2014

A ciência sem consequência



Têm vindo a ser frequentes as críticas ao financiamento por parte de institutos de I&D dos cortes de financiamento para a investigação fundamental. São de facto lamentáveis os cortes cegos nas bolsas que a FCT fez sem qualquer estratégia alternativa que concedesse financiamento alternativo à ciência, a não ser a promessa dos centros que passaram à segunda fase da avaliação serem financiados.

Mas quem mais se queixa?

 É quem mais recebeu nos últimos anos. Não é quem tem recebido pouco ou nada, que tem sido preterido ano após no financiamento, mas são aqueles que se pode dizer estava mal habituados. Muitos foram beneficiados através de programas especiais de financiamento "por atacado" a laboratórios associados e a institutos de I&D. O Centro de I&D que não estivesse integrado em laboratórios associados, não teria a garantia dos 10 anos de financiamento, mas teria 3 anos.

Claro que os centros de I&D tinham que estar sempre a candidatar-se a financiamento enquanto que os laboratórios associados não precisassem, sendo os seus orçamentos renovados quase automaticamente, não se conhecendo um laboratório associado que não tivesse o seu orçamento aprovado. Claro que nem todos os laboratórios associados eram de I&D fundamental e por não o serem não se queixam porque têm projetos com empresas como alternativa. Os outros, de I&D fundamental, sem outros recursos agora gemem. A questão é se um país como Portugal pode-se dar ao luxo de ter laboratórios de I&D fundamental, sejam institutos ou centros de I&D, totalmente ou quase totalmente financiados pelo Estado, na situação em que o País se encontra. Por muito que custe a estes “opinion makers” da ciência, constantemente convidados para programas sobre ciência, o que fazem pode ser muito interessante, mas o que o país agora precisa não é de “papers”, mas sim de ideias e de quem as ponha em prática. Biólogos às centenas a fazer I&D não vai resolver os problemas do país, por muito interessante que a genética seja. Desde que o genoma humano foi descoberto que não têm parado os cursos "bio" de se multiplicarem, ou de aumentarem s numeros cláusus, Depois vêm os doutoramentos nas áreas "bio" que tornaram o país num oásis para os "cocabichinhos". Não se esqueçam do que os rodeia, que é um país real com necessidades reais e muito mais básicas!  Portugal não é um país com capacidade de absorver as suas experiência, como os países das multinacionais, EUA, Suíça Alemanha, Reino Unido e França. Não, é um país pequeno e sem essa capacidade como é o nosso.

quarta-feira, janeiro 01, 2014

Mensagens de ano novo

Já nos habituámos a receber mensagens de Natal e Ano Novo em formato eletrónico, e-mail ou telemóvel, e de muito mais gente do que acontecia há uns anos atrás, devido à facilidade que as novas tecnologias permitem que isso aconteça. Recebemos na UM-net mensagens até de pessoas que não conhecemos, por essas mensagens serem enviadas para listas, do género todos@. Quando se trata de um diretor de departamento ou Escola ou da reitoria, é natural. Pensamos que os que estão nesses lugares querem nos dar algum conforto sobre o ano que se adivinha. Quando são colegas do mesmo departamento aceita-se que esses votos são sinceros, por convivermos com eles no dia a dia. Mas quando são colegas de outros departamentos que mal conhecemos seja pelo nome ou pessoalmente? Mas quando são colegas que não detêm qualquer posto de gestão no momento em que envia a mensagem? Que dizer de mensagens que não só são universais, dirigindo-se a todos, mas que divulgam nomes de colegas que o autor da mensagem acha que merecem particularmente ser mencionados, pelo que têm alcançado em I&D, desejando-lhes a eles em particular mais sucessos no futuro ano? Que dizer se essas mensagens são de alguém que não detém um cargo de gestão mas que já a ocupou e que escolheu o momento depois de o deixar em vez de o ter feito durante? É conhecida a atitude de alguns envolvidos na gestão ou em equipas de investigação, o seu pudor compreensivo, quando não querem particularizar ninguém de um grupo, sob pena de ser injusto e deixar alguém de fora. Ora, parece que esse pudor desapareceu. Parece que não existe etiqueta ou boas maneiras neste capítulo. Nestes casos, percebe-se a falta de homens com um sentido de Estado, sentido do dever, mesmo que o "estado" seja só uma parcela desse estado, como por exemplo uma universidade, e só transmite para o exterior uma imagem de uma instituição de província que não consegue preencher esses lugares do topo com gente com o sentido do dever e da contenção, mas que só o consegue com gente com o instinto do que pode lucrar pessoalmente por via da sua posição no topo da hierarquia académica. Muitas vezes esses cargos de gestão, tal como cargos políticos, permitem os detentores desses cargos de conseguirem contactos que mais tarde lhes serão úteis para ocuparem cargos muitas vezes designados por "tachos". E esse trabalho de autopromoção pode continuar mesmo depois de deixar o "governo", entrando pelo novo ano adentro, com mensagens que muitos de nós dispensaríamos. Eu falo por mim e espero que esses auto-convencidos "opinion makers" me tirem da lista quando as enviarem para todos@ !

sexta-feira, outubro 18, 2013

A repetição de mais um mandato

O reitor foi eleito pelo Conselho Geral por 13 votos a favor e 9 em branco. Foi uma votação em branco que vai para além das fações da "oposição" que compõem o Conselho Geral, o que pode significar um certo desgaste da sua imagem. Não deixa de ser uma vitória, mas que não cria grandes expetativas. O mandato anterior, passou sem grandes sobressaltos, não sem algumas pequenas ações derivado dos cortes orçamentais, como o despedimento dos professores convidados que ainda restavam e de leitores, nas humanidades.  A implementação de um curso de Design do produto surgiu no início do seu mandato, sendo algo de novo que pode vir a dar frutos e que potencia as relações entre a UM e a Câmara de Guimarães, o que é positivo. Mas para quem está fora dos órgãos que acompanham o que se passa nas Escolas, já que é aí que ocorrem estas e outras ações,  não se apercebe das mudanças que vão tendo lugar aos poucos nas estruturas e nas cúpulas nas Escolas e que influência isso tem tido no dia a dia dos Professores. Quanto à I&D, sem financiamento também não há milagres, mas espera-se sempre que quando há uma mudança que haja novidades. Na Escola de Engenharia, por exemplo, houve uma mudança de Presidente e espera-se para ver que novidades surgirão. Na reitoria, não tendo havido mudança de reitor, não se esperam grandes mudanças. Aliás a equipa reitoral quase se manteve inalterável, o que já indica alguma coisa. Talvez a maior novidade tenha sido a entrada de Rui Reis, que dará uma esperança aos que anseiam por um apoio à componente de I&D da UM. Mais uma vez, digo, não se fazem omeletes sem ovos, e sem recursos, é provável que não haja resultados. Não queria deixar de referir como positivo que no Conselho Geral estará (?) o António Murta, um homem formado na UM e que já demonstrou como é possível a alguém que, mostrou como se pode ter influencia para além das fronteiras restritas do Minho, com base no conhecimento, na força de vontade e sobretudo pragmatismo, algo que talvez precisemos para suportar o marketing de imagem da UM que tem sido um dos vértices da política do último mandato do reitor.

domingo, agosto 04, 2013

O mérito a quem o merece: colaboração com a indúsria e spin-offs da UM

A UM é das Universidades portuguesas a que mais contribui para o tecido industrial do País, Quem o afirma é a Reitoria e a vice-reitoria, conforme veio publicado no Público hoje e no Correio e no Diário do Minho ontem. No Publico dá-se como principal exemplo a empresa DST e referem-se alguns exemplos de novidades em empresas têxteis, transferidas pela Universidade, como por exemplo um fato de bombeiro que transmite sinais de perigo pro intermédio de sensores. Há no entanto dois exemplos que figuram no artigo do público que não tiveram origem na Universidade, sendo um do CeNTI -Centro de Nanotecnologias de Famalicão e outro na TMG automotive também há dúvidas se originou na UM. Com tantos exemplos de projetos e empresas bem sucedidas com origem na UM, não precisavam os repórteres de andar à pesca de projetos e empresas. Há a Impetus, empresa de prestígio de "underwear" que desenvolveu uma solução para incontinentes; há a Locatoni que fabrica equipamento de desporto para a equipa do Guimarães com propriedades de dry-release, mantendo o corpo seco; há a Endutex que produz revestimentos para outdoors e outras aplicações que inovou em alguns destes produtos em parceria com a UM. Quanto a empresas, não foram mencionadas spin-offs da UM, que embora não faturem tanto como a DST, são no entanto fruto do empreendedorismo de investigadores da UM. Não como a DST que já existia muito antes, sendo um negócio de família, não obstante com todo o mérito que merece um dos seus filhos por se ter formado na UM e ter uma visão de expansão correta, colaborando com a UM e alavancando a imagem da sua empresa desta forma.
A primeira spin-off de base Tecnológica da UM foi a Micropolis, fundada em 2001, agora Devan-Micropolis por ter sido vendida a uma empresa belga /(Devan), mas que continua a laborar em Portugal, no TecMaia, comercializando um produto inovador de acabamento funcional que garante uma temperatura constante de conforto junto ao corpo. Na venda a Universidade vendeu a patente que suportava a tecnologia, sendo a primeira transação do género efetuada pela UM. Foi um caso de sucesso em empreendedorismo com a empresa de capitais de risco, a PME Capital, a vender a sua participação, largamente maioritária, com lucro.
Há uma lista de spin-offs no site da Tecminho que vale a pena visitar para constatar que a vocação dos empreendedores da UM continua, com um número apreciável de spin-offs formadas nos últimos anos que procuram transformar o tecido empresenrial e industrial do Minho com uma maioria de empresas têxteis, metalomecânicas e de construção civil em empresas biotecnologia, química verde, materiais, software (onde a UM já tem tradição em empresas como a Primavera fundadas por ex-alunos), eletrónica, entre outras.
São estes os exemplos que nos devemos orgulhar, totalmente nascidos na UM !

sábado, maio 07, 2011

A inércia do sistema perante sintomas preocupantes

Surgem ciclicamente mensagens de alguém que sente que foi marginalizado pelos seus superiores ou mesmo colegas, como foi o caso desta semana de Joaquim Sá do IE-Instituto da Educação. Conheço o Joaquim e conheço os seus problemas por alto, mas não conheço toda a história por detrás de tanta amargura. Sei que terá as suas razões, porque sendo um professor profundamente honesto , não conseguiu no entanto progredir na carreira tal como desejava. Assistiu durante anos à progressão de outros que não reconhece como tendo um currículo superior ao seu, ou pelo menos que não tem um currículo que lhe pareça em linha com as directrizes do que é normal nas Ciência de Educação. Para um leigo nesta área como eu, também fico surpreendido como currículos de biologia e áreas afins chegam a Professor Catedrático em departamentos onde supostamente “se ensina a ensinar”, havendo ainda por cima outros com currículo em áreas mais de acordo com a Educação em geral como é o Ensino de crianças, que é aparentemente a área do Joaquim, que ficam pelo caminho.
A frustração de ninguém lhe responder a estas questões, que lhe parecem anómalas, levou-o ao desespero e a tomar atitudes que muitos reprovam, como o de divulgar textos que chegam a insultar quem percorreu esses caminhos paralelos à Educação como o seu colega Nelson Lima, ele próprio eventualmente uma vítima do sistema, que como denuncia o Joaquim, “anicha” professores onde existe vaga, independentemente do seu currículo ser aquele que mais interessa ao fim em vista: neste caso a Educação. Também não aprecio esta forma de protesto que procura envolver todos os membros da comunidade académica num assunto que eventualmente não poderão julgar com isenção por não conhecerem toda a envolvente, e que por isso castiga quem não esperava tal ataque quando inocentemente divulga o que tem construído ao longo dos anos na UM, ou seja uma Micoteca, que sem dúvida tem muito interesse e mérito, embora talvez não para o Instituto de Educação, pelo menos directamente. Dito isto, também compreendo o grito de revolta do Joaquim, que entendo não como um ataque ao seu colega, mas mais um grito contra o sistema que o usou e o "cuspiu" quando ele se tornou incómodo. Infelizmente há vários casos destes nas Universidades, não só na UM como é bom de ver, e não há quem se interesse e procure resolvê-los. Para os alunos há o Procurador do aluno, mas infelizmente para os professores isso não existe.
Amigos Joaquim e Nelson, que não tenho o prazer de conhecer, como os compreendo! O Joaquim por não ter sido reconhecido o seu mérito, o Nelson que fez algo que ninguém lhe pediu para fazer, uma Micoteca, o que na Função Pública é invulgar. E se o fez por vias paralelas é porque não o poderia fazer por outras vias. Mas por favor, o vosso inimigo é o mesmo por isso não se digladiem mutuamente. Antes combatam o sistema juntos. Vejam como se originou toda esta confusão de critérios e exponham essas incongruências juntos, sugerindo rearranjos de sub-unidades orgânicas ou mesmo Unidades orgânicas de modo a que todos no futuro tenha uma vaga onde poderá correctamente se “anichar”, sem usar o nicho alheio.
É minha convicção e já a exprimi aqui neste espaço, que a UM já devia ter feito esse estudo global, reorganizar-se em novas e restruturadas unidades e sub-unidades. Não o faz para não mexer nos interesses instalados e como consequência temos casos como este, que imagino ser só a ponta do iceberg.

domingo, março 20, 2011

Geração à rasca

Nas manifestações de rua da auto-denominada "geração à rasca", ouvimos entrevistas de rua em que muitos dos entrevistados não só tinham a licenciatura mas tinham doutoramento e não arranjavam emprego. A manifestação que envolveu mais de cem mil pessoas, é um grito de revolta. No entanto fica também a ideia que o governo é responsável e poderá resolver-lhes a vida. Infelizmente o governo não pode dar emprego a quase ninguém por ter decidido congelar as contratações para a Função Pública, ao invés, continua a dispensar pessoal da Função Publica, seja por reformas antecipadas seja por outros meios. Quem pode empregar obviamente são as empresas. Mas as empresas e os empresários são um alvo difícil de identificar e não é popular culparem a falta de inovação e crescimento das empresa nos empresários. Os empresários, deviam por exemplo ser obrigados a contratarem x licenciados, y mestres e até alguns doutores, dependendo da sua dimensão, e não se permitir que lucrem com base em salários baixos de trabalhadores indiferenciados. Quem pode exigir? O governo. E a que empresas? Às que recebem subsídios do governo obviamente. Mas como este tipo de ideias é demasiado arrojado para qualquer governo, é melhor esquecer.
A ingenuidade da juventude e o desespero leva-os a culparem o óbvio e mais distante, e a não analisarem aqueles com quem mais de perto conviveram durante as sua vida de estudante: os seus pais e os seus professores e os que lhes concederam as bolsas para estudarem e os lugares para investigarem. Infelizmente os pais com as melhores das intenções, muitas vezes cederam à ambição de terem filhos doutores, não interessava muito em quê, desde que pudessem dizer à família, vizinhos e colegas que os filhos eram doutores. Muitas destas famílias viviam, e vivem, com dificuldades e trabalharam uma vida inteira para que não faltasse aos filhos o que lhes faltou a eles e em contrapartida os jovens esforçam-se e entram no Ensino Superior ou mediante um sistema de facilitismo, mesmo sem esforço entram para as Universidades, Politécnicos ou Institutos. No pico desta enchente até entravam com notas negativas. Agora entram com notas positivas mas inflacionadas porque as estatisticas assim o exigem. Assim muitos avançam pelos cursos. Os melhores continuam para mestrados, doutoramentos e pós-doutoramentos, candidatando-se a bolsas de Universidades e Institutos que muitas vezes são até reconhecidos como excelentes. O problema é que estes institutos funcionam em circuito fechado. Alimentam-se dos trabalhos dos estudantes para com esse trabalho científico terem verbas para sobreviverem e até crescerem. Não há dúvida que alguns produzem trabalho científico de qualidade com estes bolseiros, e que é divulgado e até pavoneado pelos seus superiores nos media. Mas uma vez acabada a bolsa são descartados e os seus superiores continuam com outros bolseiros na mesma senda do auto elogio e do percurso mediático que alimenta o seu ego. Estes empregadores que pagam bolsas e recibos verdes deviam, a meu ver, ser honestos para com os candidatos e avisarem-nos que uma bolsa de pós-doutoramento, e mesmo de doutoramento, não dá emprego, pelo contrário só dificulta.
A outra frase muito vulgar nas entrevistas e já gasta é a de emigrarem para outro País onde as probabilidades de emprego são melhores. Mais uma falácia. Países onde as probabilidades são melhores, tais como os Estados unidos, também são os Países onde há mais concorrência. Há milhares de indianos e chineses com excelentes currículos a candidatarem-se a esses lugares. Mas mesmo que se consiga um bom lugar permanente numa Universidade ou mesmo numa grande empresa, não é a mesma coisa (anúncio da zon…podia mas não era a mesma coisa). Fica a família para trás, ficam os amigos. Por outro lado, os jovens com boas qualificações que foram formados em Portugal têm uma dívida para com o País. Gastou-se dinheiro, criaram-se expectativas para o País, reveladas em estatísticas emanadas constantemente pelo Ministério de Mariano Gago, em nº de doutoramentos obtidos (sempre a crescer). Seria interessante se o Ministério fizesse um apanhado sobre o percurso desses doutorados nos anos subsequentes ao doutoramento! Talvez fosse menos triunfalista em relação a estes números!
Há males que vêm por bem. Talvez a crise nas finanças dos ministérios, inclua o abrandamento neste frenesim e nesta corrida sem fim á vista.
Financiar estágios remunerados acompanhados pelas Universidades em vez de bolsas seria um começo. E não só mil estágios como já o fizeram nos dois últimos anos. Vinte, trinta, quarenta mil, gastando tanto como têm gasto com os Institutos de investigação em actividades que muitas vezes são notícia mas não dão emprego a ninguém!

domingo, janeiro 02, 2011

A Ciência em números- um passado recente de abundância..sem retorno?

Podemos ler na revista do DN de hoje, os avanços de Portugal em números nos últimos anos: mais de 1534 novos doutoramentos, mais de 4500 bolsas de formação avançada no estrangeiro, 8,2 investigadores por mil pessoas activas em 2009 (valor superior à média europeia), 3310 projectos da FCT. Em valor a FCT beneficiou de 60 milhões de euros, 5 vezes o que se investiu em 2000, sendo o total do investimento em I&D de 1,7% do PIB nacional, muito acima dos 1% que se falava como sendo o mínimo há uns anos atrás. Só em patentes registadas é que não nos aproximámos da média Europeia, sendo de 83 o total anual de pedidos, uma mísera percentagem de 0,05% do total dos pedidos na União Europeia com um total de 150 000 pedidos. Que conclusões podemos tirar destes números? Porquê que todo este investimento não se repercute no número de patentes registadas? Talvez seja sintomático o valor investido na Agência Espacial Europeia: 111,5 milhões! Com que resultado? Parece que de facto investiu-se muito na Ciência mas passados 10 anos não se vêm resultados palpáveis. As patentes não são o único indício, mas até quando se continua na I&D sem objectivos? E quando pensamos em objectivos, pensamos nos nossos objectivos como Nação, não nos objectivos de fachada, em que se enaltece o número de investigadores estrangeiros que decidiram vir para Portugal investigar e não se põe no outro prato da balança os portugueses que tiveram que ir para o estrangeiro porque depois de um primeiro projecto de investigação em Portugal, não têm forma de prosseguir a sua investigação no seu País e muito menos emprego. A razão é que não temos indústria à altura da sua investigação ou que possa aproveitá-la. Porque então se prossegue nesta política de troféus de I&D (nº de doutorados, nº de "papers", nº de investigadores, prémios obtidos, etc)? Talvez por uma questão de auto-estima? Nós temos dos melhores laboratórios bio- mas não temos mais que uma empresa nacional farmacêutica que detenha know-how próprio, e mesmo essa, a Bial, só tem uma patente internacional de um medicamento relevante. Este desajuste entre a oferta de I&D e a procura de investigadores já formados tem origem em quê? Talvez no facto de termos um Ministério da I&D e do Ensino Superior desligado do Ministério da Economia. Como se a I&D fosse algo que não tem que ter consequências...como se fosse um hobby. Mas se em tempos idos a I&D em países como o Reino Unido era só para alguns e muito como é agora em Portugal só para engrossar estatísticas, nas últimas décadas tem sido muito mais orientada para a indústria, muito como nos EUA. Mas dirão alguns como também já referi em cima, que não temos indústria à altura de absorver a investigação de topo que já se faz em Portugal,é caso para perguntar: o que vem primeiro, o ovo ou a galinha? Começar com a I&D e esperar aque a indústria se desenvolva, ou começar pela indústria? Talvez agora com a crise económica se comece pelo menos a ser mais pragmático e se pense em conciliar estes dois mundos, o da ciência e o da indústria, sem começar um sem o outro. Mas a começar por um deles, seria a indústria e não como se tem feito até agora, começar pela I&D. Como, não sei, mas talvez os 116 milhões que irão nos próximos dez anos para a agência espacial europeia pudesse servir para criar pelo menos indústrias que absorvessem uma parte dos investigadores, nem que se pagasse a essas indústrias que estão lá fora licenças para produzirem cá os produtos de topo que produzem em países desenvolvidos, sob pena dos nossos investigadores, com quem se gastou mais de 60 milhões de euros no ano passado, emigrarem para esses países onde estão essas indústrias. Quanto à Agência Espacial Europeia, penso que sobreviverá sem a nossa participação.!