sábado, março 23, 2013

Competências e consequências nos Cursos tecnológicos da UM



A criação de competências nos vários cursos está definida pelos RAs, resultados de aprendizagem desde o processo de Bolonha. É um exercício que os professores fazem automaticamente. Sabem os professores que o fazem se por exemplo o departamento tem recursos para cumprir tais objetivos? Claro que não. Se fizessem um estudo sério, verificariam que em muitos casos não existem nem recursos humanos nem materiais para cumprir como o que está escrito nos RAs. Os departamentos mais tecnológicos por força dos cortes nos últimos anos, têm os equipamentos envelhecidos ou mesmo parados. Os próprios centros de investigação, que podiam ajudar, ou não o fazem porque os equipamentos estão alocados aos investigadores que se candidataram a projetos de investigação ou porque os projetos não financiam normalmente equipamentos. Há ainda os bravos diretores de departamentos de áreas tecnológicas que promovem os seus cursos como conferindo competências para os seus alunos contribuírem para uma indústria de futuro, quando os alunos trabalham com máquinas do passado e muitos passaram pelos cursos sem ter tido uma única aula prática da sua especialidade.

Estamos numa nova vertente do ensino, constituída maioritariamente por teoria, muita dela depois avaliada através de mini-dissertações, baseadas em informações que se obtêm através da net. A maioria dos alunos, e alguns professores, já não recorre às publicações da especialidade, mas sim a motores de busca, que só abordam generalidades.

Assim vão as competências atribuídas a muitos cursos tecnológicos. Ou o governo investe nas infraestruturas das Universidade ou bem pode dizer adeus às competências dos futuros engenheiros, químicos, físicos, médicos, farmacêuticos entre outros.

Há ainda a considerar os doutoramentos. Hoje não é difícil tirar um doutoramento em engenharia. Pode-se entrar com a nota dez no programa doutoral e a partir daí é quase tudo de nível de Mestrado, na maior parte das vezes. Ninguém controla e os júris são escolhidos a dedo, não vá haver azar. Quem decide é um órgão que é basicamente uma comissão de curso escolhida pelo diretor do centro de investigação. Transformam os doutoramentos em cursos! Talvez fosse mais honesto chamá-los doutoramentos via ensino, porque os de investigação não se encaixam em dois anos de investigação que lhes são destinados. Que preparação ou competência um doutoramento destes dá ao aluno? Será que dá para entrar na Universidade como Professor Auxiliar? É este o corpo docente do futuro?

Bom, mas mudando de assunto para responder a um colega que afirma que um ministro á frente de um ministério onde ocorreram irregularidades, não por sua culpa direta, não se deve demitir, isto a propósito da demissão de Jorge Coelho quando da queda da ponte de Entre-os-Rios Ora essa não é a ideia geral que subsiste entre os eleitores e quando a honra está em causa, que subsiste entre os próprios responsáveis pelos ministérios. Assim é em países desenvolvidos como o Japão, o Reino Unido e os próprios EUA. Se um ministro não detetou um problema grave no seu ministério e considera que não o fez ou por distração ou por impossibilidade ou mesmo incapacidade, considero que o mais correto é demitir-se. Será diferente para os ministros ou primeiro-ministros que abandonam o cargo para assumirem outros cargos mais vantajosos do ponto de vista pessoal e financeiro. José Barroso e António Guterres são disso exemplos. Será que no nosso universo a demissão não seria uma via honrada? Há centros de investigação que se afundam lentamente há anos e no entanto continua tudo como se nada fosse. Não há renovação do pessoal dirigente também não há renovação de mentalidades. Aqui a demissão seria mais por incapacidade embora em muitos casos haja responsabilidades diretas. Há centros de engenharia que enveredaram há anos por conceder doutoramentos em áreas onde não têm competências, como seja o Marketing. Houve já consequências gravosas tais como plágio que envergonhou a Universidade e em particular o Centro e departamento em causa. Houve demissões? Não. Talvez seja altura de as haver, pois são os mesmos que são responsáveis pela área de Marketing e o Centro e Departamento em causa continuam a promover este tipo de doutoramento sem ter em atenção o passado.

 

sábado, março 16, 2013

As contradições do sistema eleitoral das Universidades


As eleições para o Conselho Geral já foram e ficou tudo como dantes. A Universidade não se renova, continua. Não porque a maioria esteja satisfeita com a equipa atual, mas talvez porque não há alternativas que tivessem sido reconhecidas como tal. Há que reconhecê-lo. Um empate técnico no corpo dos professores e investigadores é disso um sintoma. Tanto assim é que nenhuma das listas alternativas tinha um nome para reitor. Embora não tenha sido esse o objetivo das eleições, será esse o corolário principal do resultado das eleições, ou não fosse o reitor com a maioria do CG do seu lado, o absoluto senhor das suas decisões. Uma minoria no Conselho Geral não será impedimento de qualquer decisão por parte do reitor, será mais uma voz, só isso. Penso que isso é claro para todos. O mais caricato é que a maioria é decidida pelos estudantes. Devia haver no regulamento uma norma que impedisse isso de acontecer. Afinal não são os Professores e os Investigadores aqueles que decidem sobre o ensino e a investigação, os pilares da instituição universitária? Os alunos, devem ter um dizer nestes assuntos mas não deviam ser o fiel da balança como estão de novo a ser (já o foram nas últimas eleições). Para além do facto de a votação ter tido mais de 90% de abstenção entre os estudantes, não sendo por isso representativa desse corpo, á ainda a questão da própria Associação estar por detrás da lista vencedora. Pode-se dizer que houve uma intenção concertada por parte da Associação em ter uma posição importante no CG e daí tirar dividendos. Por outro lado teremos os cooptados também com um peso importante nas decisões, talvez demasiado importante para quem tem outras prioridades na sua vida profissional.

Mas o pior não será esta situação de continuidade no topo. O pior é a continuidade nas Escolas e nas sub-unidades orgânicas, Centros e Departamentos, duma política de imobilidade, e isso não se resolve com eleições, uma vez que os protagonistas estão demasiado próximo de eleitores, havendo um jogo de interesses contínuo entre eleitores e eleitos.

domingo, fevereiro 17, 2013

Fund-raising


Com a crise e cortes no orçamento das universidades vem o reitor sugerir em entrevista à televisão o "fund-raising", ou seja a angariação de financiamento junto de mecenas. É uma prática que se faz lá fora, nomeadamente os EUA e Reino Unido segundo o reitor. É uma verdade que existem laboratórios inteiros, bibliotecas e salas de operações financiadas por mecenas desses países. Normalmente os mecenas fazem parte do "board", uma espécie de Conselho Geral das universidades portuguesas, talvez com um poder semelhante. A questão põe-se então, se não seria de angariar membros co-optáveis para o Conselho Geral com base nas suas contribuições financeiras para a Universidade, ou pelo menos sendo esse um dos critérios de seleção? Afinal esses membros externos vêm maioritariamente de empresas e bancos, e alguns foram alunos da UM. Pode-se argumentar que a Universidade estaria a pôr nas mãos de empresários o seu futuro, o que subverte o princípio do ensino público. No entanto, os membros externos, mesmo sem qualquer contribuição para a Universidade, a não ser a sua "experiência", já fazem parte do Conselho Geral e embora em minoria, juntos com os Professores que os co-optaram e seguindo as suas orientações, já influenciam bastante as decisões tomadas por este órgão que define a estratégia da UM. Talvez se tivessem contribuído financeiramente, e fosse esse o critério de co-optação e não o facto de serem conhecidos e porventura "acquaintances" dos professores que os co-optaram, seriam mais independentes quando na tomada de posição sobre a instituição para a qual contribuiram de alguma forma, fosse muito ou pouco. De outra forma, sentem-se agradecidos pela honra de terem sido convidados, e, sem qualquer força de alavancagem ("leverage" - mais um anglicismo !), não se opõem àqueles que os convidaram e que lhes permite passearem o seu cartão de membros do Conselho Geral nas suas múltiplas funções sociais. Se o reitor quer imitar os sistemas capitalistas que refere, ao menos que o faça como deve ser, oferecendo algo em troca, e não uma coisa tão vaga como "missão" da Universidade, porque isso não tem valor para um investidor, por muito "mecenas" que seja.

 

sábado, fevereiro 09, 2013

Eleições para o Conselho Geral, para que servem?

As eleições para o Conselho Geral estão aí à porta. Há já 3 listas, sendo uma delas afeta à reitoria, como se percebe pelos elementos que a constituem, e as outras são as mesmas que já se candidataram nas últimas eleições. A campanha vai começar e ficamos com a sensação que há uma outra realidade paralela que não esta e que preocupa mais os potenciais eleitores. São os cortes que já se fizeram, na FCT e nas bolsas dos alunos, e serão agora os cortes gerais de 900 milhões no ensino  que serão em grande parte no ensino superior. Mas estas questões que obviamente preocupam os eleitores não deveriam estar totalmente desligadas das eleições para o Conselho Geral, uma vez que tudo conta. Se tivermos no Conselho Geral um conjunto de pessoas que lutam contra este estado de coisas já ajuda. Se este grupo de pessoas for maioritário e eleger um reitor que também tem o sentido de defesa dos superiores interesses da instituição, também ajudará. Mas o que mais ajudaria seria haver uma maioria para eleger um reitor que trouxesse à instituição uma atitude de humildade perante a Academia, e os ouvisse constantemente, ouvisse os seus receios, as injustiças de que se queixam, e depois se empenhasse num sistema justo de avalição tanto e funcionários como de professores. Sem incentivos económicos, ao menos que haja incentivos no reconhecimento do mérito daqueles que mais se esforçam.

quarta-feira, janeiro 09, 2013

Horários pós-laborais, quem os quer?


Quem dá aulas práticas em cursos pós-laborais em Azurém, como é o meu caso, depara-se com situações que muitas vezes rondam o caricato. Já não basta não ter as mesmas condições que de dia, muitas vezes pela ausência do técnico, que nem sempre está disposto a trabalhar à noite (até às dez), há também a questão dos acessos a partir de uma determinada hora. Imagine-se que deixa o computador no gabinete porque não o necessita para a aula prática e por volta das 9:30 vai buscá-lo. Não recomendo. Ontem fiz exatamente isso e quando estava para voltar para o laboratório estavam todas as portas de acesso ao edifício B, onde fica o gabinete, encerradas. Como nunca telefonei para o segurança não sabia o número de telefone. Por sorte a técnica ainda estava no laboratório pelo que lhe pedi que telefonasse. O mais caricato é que o segurança não queria vir abrir a porta e a técnica teve que ir ao seu gabinete insistir. Finalmente veio, abriu a porta e resmungou qualquer coisa como "o meu colega é que não queria..". Ainda lhe disse se as aulas são até às 10:00 horas da noite então todos os acessos devem estar abertos e não fechá-los às 9:30 horas como aconteceu. São estes e outros contratempos que fazem com que os professores não queiram dar aulas pós-laborais. Desconfio que só dá essas aulas quem tem esse sentido da responsabilidade ,,,e quem não se pode esquivar.

 

terça-feira, janeiro 01, 2013

Fim do ano com mais notícias a alimentar cortes no Ensino Superior e princípio de outro com esperança


Acabou mais um ano e com o cair do pano ficámos a saber pelo Expresso mais sobre o BPN e a corrupção que lavrou naquele banco durante o mandato duns senhores que agora se passeiam com os seus iates e outros luxos provenientes de empresas off-shore onde colocaram o dinheiro obtido através de empréstimos fraudulentos. Só o Oliveira e Costa está preso e mesmo assim em prisão domiciliária. A grande maioria desses senhores eram do PSD, com cargos importantes, desde ministros a dirigentes do partido. Poderiam ser de outro partido, sim porque em corrupção não há exclusividade, mas a verdade é que não; eram do PSD e ainda por cima do governo do Cavaco Silva. Onde está a vergonha? Mais de 4 mil milhões é quanto se estima que já vai o prejuízo para o Estado, quantia que agora o governo quer cortar no serviço nacional de saúde e na educação. Há ainda os 3 mil milhões dos submarinos que o dr. Paulo Portas, membro do governo, não nos esqueçamos, comprou e que estão envoltos também em corrupção.

Já se sabe que o ensino superior vai ser dos mais prejudicados, uma vez que não é um sector que para a população seja tão importante como o ensino básico e mesmo o secundário. Preparemo-nos para arcar com parte deste prejuízo. O pior é que já não há onde cortar a não ser nos salários e aí só se for por reformas ou despedimentos. Ninguém se lembrará do Oliveira e Costa e dos seus capangas quando colegas seus forem para a rua. Provavelmente falarão de termos vivido acima das nossas posses durante os governos socialistas, com a construção de autoestradas desnecessárias e de gastos sumptuosos na reabilitação das escolas. A imprensa, pertencente a grandes grupos económicos, tratou de meter na cabeça de todos que essa é a verdadeira razão. Mas se também contribuiu para o descalabro, ao menos sabemos que as escolas têm melhores condições e que as autoestradas existem e sem elas o interior ficaria mais isolado, mas os submarinos levam-nos aonde? Só se for para o fundo.

Com este cenário, só resta termos esperança na justiça, para que se prendam os responsáveis e se recupere algum do dinheiro, e esse é o meu desejo político para o próximo ano.

Os meus desejos humanistas, são mais para a saúde e bem-estar de todos, e quando falo em bem-estar gostaria de pensar mais naqueles que perderam seu emprego e que se vêm aflitos para manter a vida, pelo menos digna, a que estavam habituados. A minha esperança é que é nestas alturas que o engenho humano vem ao de cima e contra tudo e todos consegue vingar e tornar a sociedade mais produtiva e mais justa.

 

sábado, dezembro 29, 2012

A estratégia da UM: 2-contribuir para a economia e industrialização do País


O ano que passou, como já tinha constatado anteriormente, até que não foi muito mau para o ensino superior, nomeadamente para a UM, por haver uma entrada de alunos sensivelmente igual aos anos anteriores e segundo o seu plano os alunos poderão até aumentar. Como já referi anteriormente, quantidade não tem nada a ver com qualidade e no que refere à qualificação dos alunos na sua vertente prática, por exemplo, o problema já vem de trás. Há anos que o orçamento para verbas de capital, por exemplo, são tão exíguas que os laboratórios dos departamentos de base tecnológica, os da Engenharia e os das Ciências por exemplo, não têm renovação e muitos nem sequer têm manutenção. Há um outro aspeto que corre paralelo a este, que é o das aulas experimentais (práticas) terem diminuído muito por opção dos departamentos que não querem desperdiçar professores com esse tipo de aulas desde que o regulamento não autoriza o desdobramento de turmas e portanto a contabilização de horas. Há ainda a bolonhização do ensino nas engenharias que privilegia os trabalhos teóricos em grupo, através dos projetos integrados sem exigir a componente experimental desses trabalhos. Assim, temos os alunos a saírem dos cursos de Ciências e Tecnologia com cada vez menos capacidade (skills) de atuar na prática e muito mais de teoria. Será que é também analisado como se gastou o dinheiro nos anos anteriores quando se faz uma retrospetiva necessária a qualquer plano estratégico, no nosso caso, um plano estratégico para a UM? No passado foi um esbanjar de recursos que vão ainda por cima constituir custos fixos para sempre, como por exemplo ordenados de diretores promovidos através de dotações para os Serviços, como aconteceu por exemplo nos Serviços Sociais, cujos pesados orçamentos transitaram do anterior reitor para o atual, a formação de divisões com uma ou duas pessoas só com o intuito de promover alguém a chefe de Divisão, o recurso constante pelos Serviços Técnicos à subcontratação quando têm pessoal que então não se sabe para que serve. O dinheiro vem todo do mesmo bolo e penso que tendo a Universidade Autonomia tanto pode gastá-la desta forma como em verbas de capital ou de manutenção. Mas mesmo que não pudesse, e se estivessem só s a considerar salários, já houve a necessidade da Universidade despedir professores convidados ou reduzir-lhes o salário para 60 ou mesmo 30%. Alguns desses professores lecionavam precisamente as aulas práticas, fosse das Ciências ou Engenharias ou mesmo das humanidades, dado que são muitas vezes profissionais com experiência profissional que lhes permite transmitir essa componente melhor do que colegas seus que nunca tiveram essa experiência. Por todas estas razões, os alunos da UM saem com menos valências do que seria desejável para enfrentarem os desafios que se colocam quando integrarem o mundo real das empresas. A estratégia do reitor para a UM deveria contemplar um correção deste caminho se quiser melhor contribuir para o tecido industrial, quando afirma que o País e a Europa deveria contribuir para a economia apostando na industrialização.

 


 

sábado, dezembro 22, 2012

Estratégia da UM: 1- aumento de alunos

Agora que estamos a chegar ao fim do ano, olhamos para trás e vemos que o ano até não foi tão mau como se esperava para o ensino superior. Os cortes foram minimizados à última hora, fruto da pressão que os reitores fizeram junto do ministro Crato, e o número de alunos e a nota de entrada manteve-se. A Universidade do Minho entretanto pela mão do reitor apresenta um plano estratégico otimista, em que um dos pontos fortes é o do que número de alunos que aumenta. Como? Principalmente com alunos estrangeiros do segundo e terceiro ciclo, referindo-se como prioridade os alunos dos países de língua portuguesa. Já é aliás uma realidade a presença de alunos provenientes dos países de países da CPLP, Brasil com o maior número. Os alunos que cá vêm, de várias origens académicas, têm como objetivo obter um diploma que lhes vai valer bastante no país de origem, sendo certo que têm a noção que isso é quase garantido. Quem lhes confere essa noção não sei. Talvez seja do que já ouviram de colegas que já obtiveram o diploma ou se são os professores que lhes transmitem esse facilitismo. Penso que será um risco para a imagem da Universidade transmitir essa mensagem de facilitismo, porque a mensagem a médio prazo para o exterior, seja no país de origem ou seja no estrangeiro em geral, vai mais tarde provocar danos no recrutamento demais aluno desses países, por os futuros alunos e as instituições que os subsidiam não considerarem o nosso ensino suficientemente exigente. Nós próprios que também não tinhamos condições na altura para fazer cá o doutoramento, quando procurávamos locais para doutoramento no estrangeiro, procurávamos as melhores instituições, conscientes que o seu nome iria ficar colado para sempre ao nosso currículo.
Concluindo, quando se fala em quantidade, neste caso de alunos estrangeiros mas que se aplica também aos alunos nacionais, fico sempre preocupado com a qualidade.