domingo, fevereiro 17, 2013

Fund-raising


Com a crise e cortes no orçamento das universidades vem o reitor sugerir em entrevista à televisão o "fund-raising", ou seja a angariação de financiamento junto de mecenas. É uma prática que se faz lá fora, nomeadamente os EUA e Reino Unido segundo o reitor. É uma verdade que existem laboratórios inteiros, bibliotecas e salas de operações financiadas por mecenas desses países. Normalmente os mecenas fazem parte do "board", uma espécie de Conselho Geral das universidades portuguesas, talvez com um poder semelhante. A questão põe-se então, se não seria de angariar membros co-optáveis para o Conselho Geral com base nas suas contribuições financeiras para a Universidade, ou pelo menos sendo esse um dos critérios de seleção? Afinal esses membros externos vêm maioritariamente de empresas e bancos, e alguns foram alunos da UM. Pode-se argumentar que a Universidade estaria a pôr nas mãos de empresários o seu futuro, o que subverte o princípio do ensino público. No entanto, os membros externos, mesmo sem qualquer contribuição para a Universidade, a não ser a sua "experiência", já fazem parte do Conselho Geral e embora em minoria, juntos com os Professores que os co-optaram e seguindo as suas orientações, já influenciam bastante as decisões tomadas por este órgão que define a estratégia da UM. Talvez se tivessem contribuído financeiramente, e fosse esse o critério de co-optação e não o facto de serem conhecidos e porventura "acquaintances" dos professores que os co-optaram, seriam mais independentes quando na tomada de posição sobre a instituição para a qual contribuiram de alguma forma, fosse muito ou pouco. De outra forma, sentem-se agradecidos pela honra de terem sido convidados, e, sem qualquer força de alavancagem ("leverage" - mais um anglicismo !), não se opõem àqueles que os convidaram e que lhes permite passearem o seu cartão de membros do Conselho Geral nas suas múltiplas funções sociais. Se o reitor quer imitar os sistemas capitalistas que refere, ao menos que o faça como deve ser, oferecendo algo em troca, e não uma coisa tão vaga como "missão" da Universidade, porque isso não tem valor para um investidor, por muito "mecenas" que seja.

 

1 comentário:

Rui Ramos disse...

Como é referido,surgiu a notícia de que “UMinho vai pedir dinheiro à sociedade - RTP 1, 16 fev'13” / “Universidade do Minho reforça orçamento com verbas angariadas junto de ex-alunos - Público, 15fev'13”. Esta investida refere a possibilidade de atingir a meta de “conseguir angariar cinco milhões de euros por ano em 2020. No primeiro ano, o retorno deverá ficar um pouco abaixo do milhão de euros.”.
Parece ser uma medida de “tiro nos pés”, pois dá argumentos ao governo central para este reduzir ainda mais ao orçamento da UM, mantendo os impostos sobre as empresas e os cidadãos da região!
Mas, claro que “não há fumo sem fogo”, isto é, certos Centros de Investigação possuem uma estratégia de angariar verbas através de mecenato, que corresponde à estratégia agora apresentada, mas não para a UM e sim para esse conjunto restrito de Laboratórios de Investigadores. As empresas e os indivíduos só são mecenas se tiverem retorno (loobies, no bom sentido), pois aqui não está em causa a sustentabilidade social ou ambiental.
Daqui a quanto tempo se irá perguntar à comunidade académica onde está à sustentabilidade da medida para a UM como um todo?!