sábado, novembro 14, 2015

Atratividade do ensino superior em crise

Hoje uma notícia no jornal Público diz-nos que o ensino superior é menos atrativo para os jovens por o emprego estar a crescer mais, embora modestamente, para os jovens com o ensino secundário completo do que para os licenciados, citando um relatório da Comunidade Europeia(CE). Por outro lado, muitos jovens licenciados exercem empregos abaixo das suas qualificações. A CE não foge à regra com 25% de jovens nessa situação. Adianta este relatório algumas causas, sendo a das oportunidades de emprego a primeira, mas que o abandono escolar também é elevado, pelo que se conclui que os alunos chumbam muito, talvez por os cursos não serem interessantes ou relevantes para um mundo em mudança. No caso de Portugal, com o que se perdeu nos último 4 anos, em que a indústria não evoluiu, em que não houve uma re-industrialização do país, mas que pelo contrário, houve um reforço das empresas dos setores tradicionais de mão de obra barata, os têxteis e o calçado por via das exportações, as saídas para os licenciados para postos de relevo nestas ou noutras engenharias são muito pequenas. Mesmo aqueles que exercem nestas indústrias, recebem ordenados pouco acima do ordenado mínimo. É o País que não acompanha o ensino ou é o ensino que não acompanha a indústria? É um ciclo vicioso porque uma coisa precisa da outra. Se a indústria não existe, os curso para essa indústria não fazem sentido e se os cursos não existem, embora não seja tão linear, também não há incentivo para a indústria se estabelecer no país, nomeadamente por via do investimento estrangeiro. Qual a saída então? Há quem defenda que as start-ups serão a solução. Mas estas são uma gota no oceano. Poderão no entanto, quando têm origem nas universidades como spin-offs, ter um efeito catalisador dos cursos donde emanaram, por servirem de exemplo para os candidatos aos cursos de ensino superior. Estes cursos com atratividade, por sua vez, terão um efeito de incentivo para a formação de outras spin-offs e assim sucessivamente. Será um ciclo vicioso mas desta forma, com efeito positivo tanto no tecido industrial como nos cursos de ensino superior.

domingo, outubro 25, 2015

Praxes de novo

Será que alguma vez nos vamos livrar das praxes? Todos os anos as mesmas cenas. Jovens a serem humilhados em nome da integração da academia por outros jovens que já passaram por essa humilhação. Dir-se-ia que quem passou por isso, é pior que se não passasse, por ser uma espécie de vingançazinha ou uma catarse, para se livrarem da humilhação sofrida quando eram caloiros. Um psicólogo e em casos extremos de praxe um psiquiatra, conseguirá melhor que um simples observador, como é o meu caso, avaliar estas mentes que momentaneamente perdem o discernimento civilizacional, para se portarem como se fossem uns animaizinhos. Não se entende de outra forma. Já aqui de novo no ano passado discorri sobre este fenómeno tentando compreendê-lo mas sem grande sucesso. Já nem vou tentar mais entender este fenómeno. Por mim, fazia-se se uma semana ou duas de receção ao caloiro, com atividades, promovidas pelos clubes desportivos, por exemplo, e pelos alunos mais velhos, os finalistas em primeiro lugar, que promoviam atividades sobre os cursos que frequentam, com simpósios, convites a empresas e entidades que representassem a sociedade civil onde estes alunos se vão encaixar, quando acabarem o curso. Os alunos estariam assim ocupados, sem grande disponibilidade para as praxes. É o que se faz, ou pelo menos fazia-se, no Reino Unido. Porque não cá? Teremos menos imaginação que outros países para fazer singrar estas atividades de integração de estudantes caloiros? Talvez, ou talvez a praxe impeça isso, obrigando à participação de todos, por intimidação e por "tradição". As praxes foram banidas dos campi da UM? Ou foram banidas só as praxes violentas? Não se sabe onde está a linha divisória. A humilhação é uma violência. A reitoria devia banir praxes do campus, "tout court". Sejam ou não aparentemente violentas. Sejam barulhentas ou não. Divertidas ou não. Integradoras ou não, por ser muito subjetivo o que é a "integração de pessoas". Quando se discriminam aqueles que não querem a praxe, a integração mais parece uma filiação numa seita que uma integração. Quando a participação de quem é praxado deriva de uma ordem de um superior e não de iniciativa própria, não é uma integração, mas uma sujeição. Quando se "lambem as botas" aos praxantes, isso torna os praxados em súbditos e não em colegas, como seria de esperar numa integração séria. A hierarquia está sempre presente, até ao fim do curso, e isso não é próprio de uma integração numa equipa, mas mais parece uma integração numas forças armadas onde se exige um hierarquia rígida. Enfim, haverá tantas mais observações a fazer, mas mais uma vez, mais um ano passa e tudo o que se diz sobre a praxe cai em saco roto. É frustrante.

sábado, outubro 17, 2015

Exposição a produtos tóxicos em Gualtar

Já lá vão dois anos desde que se deu uma explosão e incêndio nos laboratórios de Química da UM, na altura divulgado na imprensa. Foi de tal modo violenta que contam os primeiros a chegar ao local que pura e simplesmente tudo o que estava no laboratório esfumou-se: bancadas, produtos armazenados, equipamento. O que se relata é que os funcionários e professores, mas principalmente os funcionários, sofreram alergias graves, dificuldade respiratória, e até queda de cabelo, normalmente associada a produtos radioativos. Segundo os relatos ao longo desses dois anos que passaram, tomaram-se medidas para restaurar o espaço envolvente ao laboratório onde ocorreu a explosão e incêndio, pensando-se que estaria o problema resolvido. Acontece que passados dois anos, houve novamente indícios nesta últimas semanas do mesmo problema ter ocorrido aos funcionários que trabalham nas imediações do laboratório, mas mais grave que isso, de outros cujo local de trabalho está mais afastado mas que por via das condutas, supõe-se que de ar condicionado, também têm vindo a ser afetados. Pergunta-se: Porque não se substituíram as condutas? O que se fez além da limpeza? Evitou-se ou proibiu-se o uso de substâncias tóxicas e/ou radioativas nos laboratórios de química? Ou pelo contrário fez-se uma limpeza aos laboratórios, tipo lavar e pintar, e voltou tudo ao que era dantes? Este assunto é demasiado grave para ficar nas mãos de uns Serviços Técnicos que não estão habilitados a tratar com situações desta natureza, nem a responsabilidade deve cair sobre os ombros só dos responsáveis dos laboratórios de química sem um supervisão por parte de entidades externas. Há pessoas do outro lado do edifício, que recentemente se sentiram mal, o que evidencia que há uma transmissão pelas condutas. Não é preciso ser um génio para se chegar a essa conclusão. As condutas foram substituídas? Pensa-se que não. O próprio sistema que força a circulação, as bombas e outros equipamentos, deve estar contaminado. Grandes males, grandes remédios. A meu ver deveria ser tudo substituído. A saúde dos utentes desses espaços deve estar acima de tudo. É sabido como o efeito de determinados produtos tóxico não se revelam logo de início, mas que podem mais tarde causar problemas graves que mesmo não tendo a certeza da sua origem, pode-se deduzir a origem, fazendo um acompanhamento das pessoas que foram expostas e assim saber se a causa veio dessa fonte de intoxicação. Nessa altura, nem as indemnizações que a UM vai pagar, compensam o mal feito. Por favor, ponham especialistas a trabalhar numa solução definitiva, façam uma alteração profunda a todo aquele espaço, e deixem-se de remendos! Há edifícios em Gualtar que se têm erguido para isto e para aquilo, muitos deles parcialmente vazios. Seria uma solução que um desses espaços fosse para os Centros de I&D que circundam a zona do perigo, nomeadamente o de Química, e que no novo espaço não entrassem nem produtos tóxicos nem radioativos. Produtos inflamáveis deveriam ser armazenados fora do edifício num local ventilado, mesmo as pequena embalagens. Toda a parte elétrica e equipamentos de aquecimento elétrico deveriam ser novos, para evitar curtos circuitos. Investigadores não poderiam deixar experiências que envolvessem algum risco a funcionar depois de horas. Estes seriam logo os primeiros pontos a tratar, segundo a minha perspetiva. É simplesmente bom senso. As verbas para esse efeito deveriam ser da UM, uma vez que se diz que a UM tem condições para ser transformada em Fundação por gerar em receita próprias pelo menos 50% do seu orçamento. Se a UM passar a Fundação, sendo mais flexível a utilização das verbas nomeadamente para gerir o património, talvez fosse por aí. Se fosse necessário construir um edifício novo fora do campus de Gualtar, por não haver espaço, há sempre a possibilidade de utilizar o Avepark na vila das Taipas, onde está localizado o Centro de I&D da UM, os 3B's, por exemplo. Há certamente verbas para esse fim no novo quadro comunitário 2020. O Avepark, afinal, foi construído a pensar na instalação de Centros de I&D da UM e de empresas spin-off da UM, e tem sido, a meu ver, subaproveitado. Uma estrutura a 15-20 minutos de carro de distância de Gualtar não pode ser considerada longe. Gasta-se mais tempo a atravessar a cidade de Braga em horas de ponta! O transporte de autocarro dos alunos entre Gualtar e Azurém poderia facilmente fazer um desvio a meio caminho, nas Taipas, onde está localizado o Avepark. São só algumas sugestões para resolver um problema de segurança, a meu ver, grave. A propósito, existe um comissão para a segurança na UM? Uma que exerça funções regulares? Seria um começo...

sábado, outubro 10, 2015

Então e a Fundação?

O Governo terminou funções, tendo terminado a sua legislatura, e ficaram por fazer algumas medidas anunciadas, nomeadamente a passagem a Fundação da Universidade do Minho. É caricato que por duas vezes isto acontece. Primeiro foi quando caiu o governo do partido socialista e o processo de passagem a Fundação estava em curso, com o então ministro da Educação entretanto falecido, Mariano Gago, ficou suspenso. Com a entrada em funções de novo governo, o ministro da Educação e Ciência Nuno Crato, abandonou essa ideia de novas Universidades-Fundação, sendo a sua nova política virada para outra forma de autonomia através de uma prometida reforma do ensino superior, que não se chegou a concretizar. Talvez por essa razão, à última hora o ministro decidiu dar o dito por não dito e voltar ao processo de transformação em Fundação dos processos em curso, nomeadamente o da Universidade do Minho. Só que, mesmo com a pressa e de se reiniciar o processo durante o período de férias, o que apanhou muita gente desprevenida, a Universidade do Minho não conseguiu que o ministério fosse a tempo de concretizar essa medida. É caso para dizer, que não há duas sem três, pois adivinha-se que o governo não vai ter a anuência do PS para esse fim, ou pior, o novo governo será outro, formado entre PS e partidos de esquerda, e então é que não vai mesmo para a frente a Fundação, a julgar pelas declarações desses partidos sobre este assunto mesmo antes das eleições. O reitor, atual ou futuro, bem pode esperar por mais uma legislatura, sem pressas, estudar e divulgar bem os prós e contras da passagem a Fundação, e nessa altura se a UM passar a Fundação que seja com a aprovação de uma larga maioria da academia.

domingo, setembro 27, 2015

Os Centros de Investigação coibidos pelos Estatutos

Os estatutos da Universidade do Minho mostram que provocam constrições ao sistema científico. A situação dos Centros de Investigação das Escolas, que antes era flexível no que respeita à independência e multidisciplinaridade, tornou-se após a introdução dos novos estatutos muito rígida, obrigando os Centros a pertencerem a uma Escola. Esta observação vem a propósito de um e-mail enviado por um centro de investigação, aprovado na última avaliação da FCT com Excelência, não ser aprovado pela Unidade orgânica da qual os seus docentes fazem parte, no caso, a Escola de Engenharia. Este Centro designado por MEMS, Microssistemas EletroMecânicos, é um exemplo típico de um centro que poderia abranger outros elementos de outras escolas, nomeadamente a de Ciências, com incidência na Física e eventualmente nas Ciências da Saúde. Desta forma, ao ser chumbado pela Escola de Engenharia, vê-se privado de funcionar. Para além do insólito da questão, ou seja um centro com classificação de excelente dada pela instituição que mais penalizações tem atribuído a centros e por isso seria também de esperar que os poucos centros com excelente fossem acarinhados por todos os responsáveis pela sua viabilidade, há ainda a questão se uma Escola tem o direito de impedir o funcionamento de um centro que para além do seu interesse a nível de Escola, tem obviamente interesse para a instituição como um todo, por abranger na área dos materiais outras especialidades, como s Física, e eventualmente as Ciências da Saúde, na área da aplicação destes sistemas e materiais. É evidente que não sabendo as causas deste chumbo, não me posso pronunciar sobre o que estará por detrás dele, mas que deve haver um intervenção ao mais alto nível, nomeadamente do Conselho Geral para arbitrar esta situação e pôr algum bom senso nas partes em disputa para chegarem a bom porto, isso deve ser uma exigência de todos os que prezam a UM como uma instituição de excelência em investigação, sob pena de passarmos a ser um a instituição provinciana com guerras intestinas que em nada ajudam ao seu bom nome. De futuro, esperamos todos que o que está mal nos estatutos da UM, nomeadamente este constrangimento que impuseram aos Centros, seja alterado.

sábado, setembro 12, 2015

A caravana passa

Foi aprovado na última reunião do Conselho Geral da Universidade do Minho a passagem a Fundação. Tal como previ neste sítio há duas semanas atrás era isso que iria acontecer. Por acaso surpreendeu-me a margem mínima de vantagem, 12 votos a favor e 8 contra, o que já pode ser um sinal de que, feitas as contas do número de fiéis da lista de professores que apoiou António Cunha para reitor presentes no CG, poucos mais votaram a favor: nem o membros cooptados, nem os alunos nem a representante dos funcionários. É um sinal muito significativo do descontentamento de muitos membros da Academia, principalmente representados pela outras duas listas que estão representadas no CG, com destaque para o movimento NDNR, Novos Desafios Novos Rumos,que se insurgiu na UM-net contra a forma como todo o processo foi conduzido, à última hora e à pressa sem consulta prévia à Academia mas também contra a passagem da UM a Fundação, uma forma de governo da universidade que também eventualmente não agrada à maioria dos membros da Academia. Talvez seja esta posição da Academia que fez com que o reitor não tivesse hà mais tempo colocado à Academia esta questão, tão importante para o futuro da UM, com receio que viesse reprovada. Pode o reitor refugiar-se nos estatutos da UM que não prevêem "referendos", mas haveria outras formas de consultar a Academia. Por exemplo através de votação mo Senado, nos Conselhos de Escola, nas próprias sub-unidades (Conselhos de departamento, Centros de Investigação). Haveria muito por onde escolher. O que é certo é que após tantas mensagens de rejeição da passagem a Fundação e da forma como o foi feito, da parte de movimentos representativos dos docentes e funcionários, do sindicato do ensino superior, entre outros, o reitor enviou uma mensagem curta e factual: que já tinha sido discutido no Conselho Geral há muito e que por isso não havia mais nada a dizer. Quero, posso e mando ou seja, como quem diz: "os cães ladram, mas a caravana passa".

sábado, setembro 05, 2015

Catch 22 situation

A Universidade do Minho passará a Fundação muito em breve, de acordo com as últimas informações, uma das quais do reitor. Não seria tão mau assim, se não fosse o facto da instituição estar há muitos anos nas mãos de uma "dinastia" que atua como se a UM fosse a sua quinta. Começando pelo topo, o reitor atual foi sancionado e apoiado pelo seu antecessor. O anterior já o tinha sido pelo seu antecessor e assim sucessivamente. Pode-se dizer que é o que a distingue das outras Universidade mais antigas e maiores, que se regem pelas regras da alternativa. Com a Fundação, a mesma "gente", desde os órgãos dominados pelos professores, começando pela reitoria e Conselho Geral e acabando nas Escolas e sub-unidades orgânicas, e os órgãos dominados pelos funcionários do "regime", nomeadamente os SASUM e os diretores dos serviços, muitos nomeados pelo reitor, atuarão da mesma forma, promovendo os do seu grupo restrito, e deixando para trás os outros. Como se chegou a este ponto? Principalmente devido à inércia dos membros da Academia ao longo dos anos. Deixam para um grupo muito ativo de pessoas, conhecidas aliás por todos, a "política", porque estão ou apáticos ou demasiado envolvidos nas suas atividades letivas e de investigação. Também durante muito tempo não havendo o risco de casos mais graves para os professores, tais como despedimento, ninguém se incomodou com essa situação. Agora que se desenha no horizonte um maior risco para os próprios, como o despedimento ou a possibilidade de ficarem para trás irreversivelmente, não sendo promovidos, já soam as campaínhas de alarme. O reitor já iniciou o "emagrecimento" da instituição, forçando o despedimento ou a diminuição de horas até ao insignificante, a professores sem vínculo, em unidades orgânicas onde os há em maior número, como sejam os leitores nas humanidades. O RJIES permite extinguir serviços deixando em aberto o que acontecerá aos professores. No caso dos funcionários, é certo que os funcionários públicos não podem ser despedidos, e continuarão a manter esse estatuto mesmo com a Fundação. Mas há a possibilidade da mobilidade para aqueles que não tiveram excelente ou muito bom, e como muitos funcionários tiveram excelente na avaliação do SIADAP não devido às suas qualidades mas devido à fragilidade do sistema que permite que um júri, controlado por membros nomeados pelos do "regime", premeie os funcionários que entender e arranjam as justificações de acordo com os objetivos que eles próprios delinearam, os mais expostos à mobilidade serão os outros mesmo que sejam competentes. Assim é e sempre será no funcionalismo publico quando minado por uma hierarquia instalada demasiado tempo nos lugares de topo. Em democracia parlamentar, pelo menos há um votação direta para acabar com esta situação. No Ensino superior houve quase sempre um filtro, e agora há mesmo um colégio eleitoral, o Conselho geral. Voltando ao princípio, se quem participa nas eleições para o Conselho geral estivesse atento e fosse mais empenhado, poderia votar numa maioria que seria uma verdadeira alternativa. Aqui também se deparam com a falta de candidatos em que se revêem, ou que consideram capazes, porque muitas vezes os melhores, como já referido atrás, por que estão muito envolvidos noutras atividades não se envolvem ou não se querem envolver. E assim repete-se o ciclo dos mais interessado em manter o poder conseguirem alcançar a maioria no CG e eleger o reitor, que estará de qualquer forma já predeterminado. Não será este reitor especificamente, porque ele é também a consequência de toda uma máquina montada por uma pequena minoria muito ativa, que o quis lá, para poder manter os seus privilégios. Assim, sem uma mudança de atitude dos professores quando for da próxima eleição para o Conselho Geral, será com o próximo. Assim, não há volta a dar, sendo o que Joseph Heller designou por "catch 22" situation, ou como em bom português, pescadinha-de-rabo-na-boca.

segunda-feira, agosto 31, 2015

A Fundação aí está

A Fundação parece que vai mesmo para frente, a julgar pela pressa com que o reitor submeteu ao Conselho Geral a proposta. Esta iniciativa juntamente com a coincidência do governo estar a finalizar o seu mandato, levam-nos a crer que há conjugação de interesses, entre a reitoria e o governo. Claro que passa no C.G. sem grande oposição, por este ser o nosso sistema: Um Conselho Geral eleito pela lista que apoia o reitor. Não sei se o Conselho Geral se mantém com a Fundação, mas nestes moldes não faz muita diferença. Podemos dizer que neste esquema instaurado pelo RJIES só o Presidentes de Escola, devido ao estatuto de autonomia das escolas, têm alguma independência relativamente ao reitor. A Fundação, segundo o RJIES, tem a tutela de um conselho de curadores, em número de 5, nomeados pelo governo. Estes curadores seguem pelos vistos as decisões do Conselho Geral, incluindo a destituição do reitor,visto de uma maneira simplista. Claro que devido á composição do Conselho geral, já referida, esse cenário é muito pouco provável. mas de qualquer modo, talvez com a Fundação o Conselho Geral ganhe importância. Vamos ver. Quanto a outros aspetos diferenciadores, há um curioso que aparece à cabeça: a Fundação é dona e gere o seu património,o que quer dizer que vamos ter vendas (e compras) brevemente de imóveis na UM? Eu sugeria que se vendesse a reitoria, no centro da cidade. Está num lugar muito apetecido por outros e com certeza que haverá um empreiteiro disposto a trocar por uns hectares para construir mais prédios quadrados para albergar mais salões de congressos, mais espaços para a Associação dos estudantes, mais parafarmácias, campos de golfe, ginásios, e tudo o mais que entusiasma os SASUM, à semelhança do negócio da quinta dos peões. O que vai acontecer é que a arbitrariedade nas contratações (e despedimentos?) e promoções vai continuar ou vai-se agravar. Só pode, como dizem os nossos amigos brasileiros!

sábado, agosto 22, 2015

Férias e livros

As férias são para relaxar: ir a banhos, ler um livro (ou dois) e passear.Pelo menos era assim. Procuro ainda manter os mínimos destes parâmetros. No meu caso, ir a banhos no Algarve, ler um livro de um escritor conceituado, já que leio poucos ao menos que sejam bons. Ir passear só em Portugal e eventualmente Espanha, evitando os aeroportos. O Algarve esteve como sempre, cheio de gente por isso quem gosta de algum sossego para poder relaxar, deve ir a sítios menos concorridos, praias com acessos mais difíceis e hotéis perto dessas praias. O livro escolhido foi de Don de Lillo, um conceituado escritor americano que ficou conhecido pelo seu livro "Libra", sobre o assassinato de John Kennedy, um livro extraordinário. Desta vez li "Mao II", um livro muito diferente do seu estilo habitual de relato de personagens violentas e cheios de ação, como no caso de Libra e de outro livro, Underworld. Neste livro trata-se da vida de um escritor relatado por uma fotógrafa conhecida que quer publicar fotografias suas, e que vive escondido há anos desde que publicou a sua obra prima, a escrever um novo livro que nunca considera que está pronto para ir para a editora. A segunda parte do livro perde um pouco esta mística de um escritor solitário, e avança para reportagens de guerra no Líbano, centrada em redor de um rapto de um escritor, como que a lembrar-nos que afinal é De Lillo o autor e não um escritor romântico enternecido por uma vida solitária de um outro escritor que eventualmente reflete a sua própria vida. Outro livro interessante que comecei a ler, é o "Lágrimas do meu pai", de John Updike, autor da trilogia da família Coelho (Rabbit), mas este lido em português. Devo dizer que não perde muito na tradução, que a meu ver está muito bem conseguida. Os da trilogia da família Rabbit, lidos em inglês tal como os de De Lillo, pela razão que não havia na altura tradução em português, são ricos na descrição das personagens e do ambiente que envolve essas personagens, indo ao pormenor, como é típico de Updike, de descrever plantas, árvores, ruas e casas que constituem o habitat destes americanos do sudeste os EUA, as Carolinas e a Virgínia, estados conservadores e que mais espelham a meu ver o americano típico da província, se é que existe um estereótipo americano, nação tão díspare entre norte e sul, este e oeste, cidade e província. Updike, mais próximo da sua morte em 2009, através de "short stories", talvez por essa razão centra-se muito na idade já avançada dos seus protagonistas dessas estórias, o que não é para qualquer um, especialmente alguém jovem. Os últimos livros de outro escritor conceituado, Philip Roth, lidos em férias anteriores, também seguem esta tendência. Mas como quem lê livros é cada vez mais a geração mais velha, talvez estes escritores estejam a acompanhar não só a evolução da sua idade, mas também, infelizmente, a tendência da era pós-internet e do facebook, You tube e twitter, para mencionar algumas redes sociais tão viciantes que absorvem todo o tempo livre antes dedicado, em parte, aos livros.

domingo, julho 26, 2015

Os manuais escolares e os cheques-ensino

O escândalo dos manuais escolares está de volta. Num artigo no jornal Público, é relatado uma situação das famílias que gastam uma média de 200 euros em manuais escolares por filho a partir do 5º ano de escolaridade. Depois de em 2006 ter saído uma lei que determina que os manuais escolares têm 6 anos de duração, esta regra podendo ser quebrada desde que o Ministério da Educação faça revisões de programa ou metas curriculares. O governo fez esta revisão todos os anos nos últimos 3 anos! Também ficamos a saber a partir da leitura deste artigo que o Ministério estabeleceu bolsas de manuais escolares nas escolas para famílias que até então recebiam comparticipações para adquirir manuais. Sé têm direito a esta bolsa quem receba o salário mínimo. No entanto, o ensino é obrigatório, tal como lembra a jornalista. Noutros países da Europa por essa razão os manuais são gratuitos para todos. Aqui e agora, só os pobres têm direito a esta bolsa e à comparticipação na compra de livros que não façam parte dessa bolsa. O que alegam alguns pais entrevistados e a Confap, confederação da associação de pais, é que esta bolsa discrimina de duas formas: primeiro porque aqueles que ganham mais que o salário mínimo não têm acesso; por outro lado, aqueles que a recebam da escola e não diretamente em casa como antes, são estigmatizados na escola por serem pobres. Parece que estamos a voltar à caridadezinha do Estado Novo com os alunos pobres a evidenciarem a sua pobreza perante os outros alunos. Outra medida neste sentido, será a dos cheques-ensino pretendido por este governo para os alunos mais pobres poderem frequentar as escolas privadas. Nestes últimos 3 anos, segundo a Fenprof, tem havido uma transferência de recursos para os privados e em algumas zonas não há alternativa de ensino público. Os cheques-ensino a serem instituídos, eventualmente se o governo ganhar de novo as eleições, será também mais uma medida nesse sentido, além de evidenciarem que o aluno que os recebe e os "carrega" na sua identidade durante todo o período da sua educação nestes colégios. Não é que estes alunos não sejam provavelmente mais bem sucedidos do que se tivessem seguido para o ensino público. Esse é um facto com alguns colégios privados. Mas no ensino, seja público ou privado, não se "apreende" só o que vem nos programas, mas também se recebe uma lição de como ser um ser humano decente e orgulhoso. Ou quererá o governo que o aluno tenha outras qualidades normalmente consideradas importantes pela sociedade católica e submissa do Estado Novo, a submissão, e outros aspetos da personalidade dos jovens, também realçada por poetas de outros tempos: o perdão a quem o humilha, tal como as descreve Rudyard Kipling no poema If (Se) de um pai para um filho. Mas R.K. é de outros tempos, o do imperialismo britânico, e defendia com certeza a abnegação dos mais pobres e mais fracos para que a ordem "natural" das coisas de então se mantivesse a bem do Império.