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domingo, dezembro 11, 2016

A Universidade Pública em perigo na UM?

Finalmente o sindicato, neste caso a FENPROF, pronuncia-se sobre a alteração do estatuto de Universidades para Fundações de direito privado. Argumenta que o Ministro era defensor da Fundação quando secretário de Estado e esteve na origem desta forma estranha e hibrida de governar as Universidades. Por isso agora como ministro incentiva essa mudança por parte das Universidades que tenham as condições para o fazer. João Cunha e Serra da FENPROF argumenta que as Universidades não podem fugir da contabilidade pública, apenas conseguindo "mexer" no imobiliário, que foi o que fez o ISCTE com negócios pouco claros no que respeita à função duma Universidade, tais como a compra de um hotel. Já aqui neste espaço foi alertada esta vertente das Fundações (último post, Universidade Aberta?) em relação ao que pode acontecer com a UM, não servindo a Fundação para muito mais do que enveredar pela especulação imobiliária. Numa cidade como Braga, conhecida pelos escândalos nesta área, esta possibilidade que agora se abre à Universidade é preocupante para a tranquilidade do ensino público. Há sinais que será uma realidade em breve, havendo muito por onde escolher: para venda, o edifício do Castelo no centro da cidade, pertencente à UM. Para obras, talvez aquelas que estão planeadas na Quinta dos Peões, que terão como cliente a Universidade (Associação dos estudantes, sala de Conferências, etc). Os milhões prometidos às instituições que passaram a Fundações, argumenta João Cunha e Serra, nunca foram transferidos. Não houve benefício para essas Universidades. Por isso não se pode argumentar que é essa a razão da passagem a Fundação. Defende João Cunha e Serra que o Conselho de Curadores, que efetivamente é quem tem a última palavra sobre a estratégia da Universidade, não defenderá o interesse público, dada a sua composição por personalidades externas à Universidade, algo que também já referi no post anterior (Universidade Aberta?). Ainda há tempo para a Academia se pronunciar sobre o caminho que já está definido e que vai a votos no Conselho Geral esta semana, aparentemente amanhã, dia 12. Fazendo com que um novo Conselho Geral com uma outra visão sobre a Universidade pública seja eleito nas próximas eleições, será um caminho possível. Será difícil motivar professores, como sempre, por diversas razões, algumas também afloradas no último post, mas com o risco que todos correm com a contratação de professores fora do Quadro que concorrem com os que cá estão, com a possibilidade de nomeações ad-hoc para os mais diversos serviços de que dependem os professores, privatizando-os efetivamente, deveria ser suficiente para motivar os professores a defenderem nomeadamente os seus direitos consagrados no ECDU, sem a concorrência de regras de contratação sem restrições que o regime Fundacional permite, e recusar um modelo híbrido público-privado que não se conhece ainda os seus contornos, mas que á partida já se sabe que em nada os beneficiará. Aliás, a Fundação vai em frente sem uma auscultação à Academia, o que devia preocupar os professores. A eleição de um Conselho Geral que defenda a Universidade Pública pode ser um primeiro passo de retrocesso neste processo aparentemente imparável de mutação do público para o privado. O atual reitor sempre fez campanha pela Fundação conseguindo o que queria. Outro reitor poderá inverter essa tendência desde que tenha a apoiá-lo um Conselho Geral que também defenda a Universidade Pública. Nunca é demais dizê-lo: Universidade Pública ! Isso é o que somos e queremos continuar a sê-lo, sem outros objetivos, sejam imobiliários ou outros, que não seja a defesa do Ensino Público.

domingo, novembro 27, 2016

Universidade Aberta?

Informa o Conselho Geral que vai apreciar (e votar?) no dia 12 de Dezembro a proposta de Estatutos da UM, que vem na sequência da passagem a Fundação, e que já foi analisada em 21 de Dezembro e que serão consideradas em reunião da "Comissão Especializada de Governação e Assuntos Institucionais" em 6 de Dezembro para voltar de novo ao Conselho Geral. É caso para dizer, se já houve debate e sugestões, porque não publicitam o que foi discutido em Conselho? Afinal já tivemos reuniões abertas do Conselho Geral e transmitidas na rede UM, de outras reuniões que não teriam a relevância desta. A passagem a Fundação, embora da competência do reitor e Conselho Geral, não poderá ficar nas mãos de meia dúzias de sábios, sem auscultação da Academia, ou poderá? Ficará sempre a ideia que foi tudo negociado em segredo e de acordo com a maioria vigente, afeta à reitoria também vigente e em final de mandato. Uma passagem a Fundação deveria pelo menos ter obrigatoriedade de votação com maioria absoluta, para evitar que fique de acordo com uma maioria simples que amanhã pode ser uma minoria. Quaisquer estatutos só passam com maioria absoluta. Nem isso a Academia sabe se vigorará ou não. Para que servem comunicados deste género do Conselho Geral em que nada se diz exceto sobre a data e agenda da próxima reunião? Talvez para nos dar a sensação que está tudo a correr de uma forma democrática. Mas sem informação não há democracia. A Fundação dá uma liberdade aos governantes da UM que até agora nunca tiveram no regime de instituição pública com regras iguais a outras instituições públicas. Podem fazer do dinheiro o que muito bem entendem, sem restrições de maior, a não ser uma filtragem de curadores que também são membros externos à Universidade e não pertencem a instituições públicas, por isso podem decidir a seu belo prazer, numa ótica de mercado. Nem sequer são Académicos, sendo personagens do mundo empresarial ou político. Pode não haver nada de diferente por uma questão de bom senso dos nossos governantes universitários, mas pode também haver um reitor ou Conselho Geral, ou ambos, uma vez que o reitor é eleito pela maioria do Conselho geral, que decidam pôr-se a inventar e desatar a contratar gente a mais, sem concursos, portanto permeáveis a cumplicidade, como o fizeram nos hospitais público de gestão privada, os partidos políticos vencedores da eleições não há muito tempo atrás (os boys), um regime muito parecido com o que a Universidade vai ser no que respeita ao seu governo. Tenho receio que este tipo de governo Fundacional presta-se a isso. Quem pode filtrar tais desmandos? O Conselho Geral será afeto ao reitor por defeito do RJIES, os curadores estão longe do dia a dia da UM e por natureza são permissivos, e o resto da Academia vota de quatro em quatro anos, quando o mal já está feito. Claro que contratações não podem ser revertidas facilmente. Promoções também não. Só vejo uma saída, o orçamento ser sempre escrutinado em pormenor e votado por maioria absoluta no Conselho Geral. Temos ainda o património a vender e a comprar. As instalações do Castelo, cobiçadas pela sua localização, serão vendidas por quem? Pelo Conselho Geral? Pelo reitor? Pelos curadores? Quem trata do negócio? E a quinta dos peões, finalmente perdem a vergonha e avançam com a construção dos "equipamentos" (Associação dos estudantes, sala de congressos, etc), de forma a tapar completamente a frente da UM em Gualtar? Estão muitos empreiteiros à espera destas oportunidades. A progressão na carreira dos professores será paralela à contratação de outros professores fora da carreira e que poderão auferir mais que aqueles que trabalham há anos na UM? Tudo é possível, se a UM estiver nas mãos erradas. Claro que há os aspetos positivos do regime Fundacional que se poderiam alcançar com uma equipa competente e que tenha uma visão de futuro e não temporal para a UM. Será que existe tal equipa depois de tantos anos de domínio de um grupo de professores e alunos que sempre planearam e conseguiram o poder dentro da UM? Infelizmente penso que não, que é como o eucalipto, tudo secou à volta deste grupo que se autorregenera de geração em geração.

domingo, novembro 06, 2016

Todos os Nomes

Os politécnicos querem agora chamar-se Universidades..de Ciência Aplicadas. E as engenharias da Universidade o que são, senão ciências aplicadas? Vai aqui uma confusão...Tudo porque os Politécnicos querem subir de estatuto e querem ser Universidades. Começam por acrescentar que são só de Ciências Aplicadas. Essa extensão do nome, cairá com o uso contínuo da designação e ficarão só a ser referidas como Universidades. É de facto um bom plano, sem custos, de elevação de estatuto. Não quero tirar o mérito aos politécnicos, e há politécnicos melhores em alguns cursos que algumas universidades, atrevo-me a dizer, que algumas privadas que conferem o grau de engenharia. No entanto, a divisão entre universidades públicas e privadas é bem clara. Esta diferenciação apenas num apêndice ao nome, ciências aplicadas, não me parece que distinga suficientemente entre os vários tipos de universidade públicas que agora se pretende instituir. Mas como os politécnicos querem atribuir também o grau de doutor, compreende-se que está em linha com essa pretensão. Na minha perceção sobre este assunto, demasiado sério para ser feito em cima do joelho, devia haver uma avaliação rigorosa das capacidades dos politécnicos em produzir ciência, antes de se atribuir mais funções aos politécnicos de formação superior. E se a conclusão da avaliação é que têm capacidade, então estudar-se-ia a sua promoção a universidade. Seria uma comissão de peritos que seria nomeada para o efeito, incluindo peritos estrangeiros, com curriculum científico de excelência, e não uma decisão por decreto por parte da tutela como os politécnicos pretendem. E como poderá haver politécnicos que cumprem os requisitos para o fazerem e outros não, uns passariam ao patamar superior, atribuir o grau de doutor e eventualmente também passarem a universidade, e outros não. Chamar um nome é fácil, engana e todos os que frequentem e lhes é atribuído o grau ficam satisfeitos. Mas terão sempre o rótulo de doutoramentos de segunda, se as instituições que lhes conferem o grau não percorrerem todos os passos para terem credibilidade.

terça-feira, outubro 25, 2016

Mais doutoramentos para quê ou para quem

De vez em quando os politécnicos lembram-se de reivindicar a autorização para atribuir grau de doutor, ou seja, "fazer doutoramentos". O ministro incentivou esta pretensão criando bolsas de investigação para os politécnicos. Já fazerem Mestrados é duvidoso que seja essa a sua vocação, agora doutoramentos, vai com certeza contra a diferenciação intencional entre os dois subsistemas de ensino superior. Os industriais estão sempre a queixar-se que não há pessoal habilitado para as suas indústrias e que as universidades formam "doutores" (licenciatura), mas que não lhes resolvem os problemas práticos. Os politécnicos constituiriam o sistema vocacionado para esse fim. Parece que ou não está a responder cabalmente a esta pretensão das industrias, ou já não o quer fazer. As Universidades para além dos cursos serem cada vez mais teóricos, conhecendo-se o corte em equipamento e a aversão de muitos professores às aulas práticas, aliás que é geral a todo o ensino, sendo o caso mais notório o ensino secundário, aviam Mestrados e Doutoramentos quanto podem. Alguns destes doutoramentos foram transformados em programas doutorais, o que dá jeito para dar mais horas a docentes que vão ficando com menos alunos com a crise de alunos (cíclica) para os cursos de engenharia. Embora os doutoramentos já não são o que eram, ou seja, pôr à prova as capacidades individuais de um aluno já com Mestrado fazer I&D utilizando a sua iniciativa, uma vez que para além de serem ensinados em programas doutorais também fazem, em muitas áreas nomeadamente as mais científicas, doutoramentos em conjunto, através de projetos que envolvem vários investigadores, há o problema de uma formação tão específica ter interesse para o tipo de empresa que predomina em Portugal, PMEs e indústrias transformadoras sem capacidade para dar seguimento ao percurso científico destes alunos. Muitos acabam por emigrar, tendo todo o esforço feito cá em Portugal servido para outros países que não contribuíram para esse esforço. a não ser que tenha sido através de programas europeus e o país para onde vai o aluno também tivesse feito parte desse programa. Agradecem as multinacionais esta nossa generosidade, e agradecem países como os EUA, e alguns países europeus como a Alemanha e o Reino Unido. Somos parte dos países que formam doutores, mas não fazemos parte dos que os empregam como especialistas de um determinada matéria. Há exceções claro. Mas é preciso ver mesmo nessas exceções o que o doutorado vai fazer, se não serve outros interesses da empresa como angariação de mais subsídios em projetos de I&D. O próprio doutorado tem na maior parte das vezes que "esquecer" o doutoramento e fazer outra atividade para arranjar um emprego. Não há, é verdade, no seio dos professores universitários, a perceção, que para eles é quase uma certeza embora não tenham dados em que se basear, que a investigação é para ser aplicada e muito menos em Portugal, dada a pequenez do tecido industrial tecnicamente evoluído. Por isso muita da investigação que se faz não é para ser aplicada. Mas nesse caso, é necessário formar doutores para serem eles o motor de novas indústrias e empresas de outra índole que não industrial. Porém estes doutores, numa visão de "pay-back" ao país que tanto investiu nesses alunos, devem ter uma formação excelente, com equipas de investigação excelentes, e que tenham objetivos de aplicar o que fazem, mesmo que seja a médio-longo prazo em indústrias existentes ou a formar, em Portugal. Para quem sabe o que custa arrancar com estas equipas, com reconhecimento internacional, não compreende como por decreto se pode instituir mais doutoramentos, sejam em universidades ou politécnicos. Muitos alunos fazem doutoramentos porque gostam da investigação. Outros porque pensam um dia emigrar para um daqueles países que acolhem doutorados. Outros pelo prestígio de ter um doutoramento, mas depois arranjam outro tipo de atividade. Poucos pensam que o seu doutoramento vai lhes dar um bom emprego em Portugal. Quando havia renovação e vagas no ensino superior, esse era um dos objetivos principais: ser professor universitário, e mais recentemente, do politécnico. Com tempo vai haver renovação, mas para um ínfima parte dos que se doutoram em Portugal. Por isso quando os politécnicos pedem para "fazerem" doutores, pergunto, mais doutores para quê? Ou, para Quem?

domingo, outubro 09, 2016

PIPs e tiques no urbanismo de Braga

As quintas de Braga, originalmente a serem destinadas a espaços verdes, já têm outro destino: o imobiliário. No caso da Quinta dos Peões, já neste espaço discutida, está destinada a "equipamentos" que incluem uma Associação do estudantes, um centro de conferências, entre outros, todos edifícios obviamente imponentes em aspeto e com certeza em tamanho, a julgar pelos últimos que têm sido construídos no campus de Gualtar, também com designações interessantes para não haver muita contestação. Agora é a vez da Quinta das Portas. A julgar pela descrição do que foi decidido e apresentado à Assembleia Municipal, pelos vistos já depois de se terem iniciado as obras, este espaço à entrada de Braga, quem vem do Porto pela estrada nacional, será ocupado por um espaço comercial (mais um!) neste caso do Continente. A acreditar na notícia no Correio do Minho, este projeto tinha tido um parecer desfavorável dos técnicos da Câmara que têm essa função, mas foi ignorada pelo vereador Miguel Bandeira, também professor da UM, que detém o pelouro do urbanismo. Argumenta M.B. numa longa justificação, que os proprietários têm a prerrogativa de decidir para que fim se destina estes terrenos, interpondo um PIP (?) ao PDM aprovado, e se a Câmara não o fizesse teria de pagar dezenas de milhares de euros aos proprietários. Aliás, argumenta, como é habitual a Câmara fazer, que esteve acessível ao público o que sanciona a seu ver qualquer decisão que se tome, mesmo que seja contrária às promessas eleitorais nas últimas eleições autárquicas, em sentido contrário, que é na realidade a única consulta que é válida. Em primeiro lugar, quem são estes proprietários? Adianta que muitos proprietários não usam estes PIPs mas este usaram. Serão os originais donos de um quinta agrícola e portanto alheios a este tipo de jogadas, ou entretanto passaram a ser outros com capacidade para este tipo de pressão? Tal como argumenta a oposição, este executivo já ultrapassou o anterior com concessões em lugares nobres da cidade o anterior, como se constatou ao vermos o LeRoy Merlin surgir numa avenida ladeada por zonas verdes, muito apreciada pelos bracarenses que percorrem aquela avenida nos seus períodos de lazer, fazendo jogging ou pura e simplesmente andando a pé. Agora, para além deste enorme pavilhão com um parque ladeando o passeio desta avenida, têm ainda um outro espaço, que deve estar para breve a sua adjudicação para mais um destes pavilhões substitutos do campo agrícola adjacente, nascer e tapar esse campo com cimento para estacionar carros, e em altura tapar o horizonte e a vista sobre a cidade. Para já, estão lá uns montes de terra, e o espaço está vedado por uma vedação metálica, que em nada condiz com o que ainda há de agradável naquela via. Não se entende como isto é permitido por um Câmara que originou de um panfleto de crítica a uma anterior equipa que geriu a Câmara durante muitos anos, mas que no fim do mandato vinha corrigindo e até fazendo menos, em construção, que era o que se pedia, e melhor. O último centro comercial construído na vigência do anterior executivo, foi fora da cidade, a Nova Arcada. Estes são na cidade, trazendo pressão nos acessos viários, que já de si estão congestionados em períodos de compras (fins de semana e fim da tarde). Soa a uma fraca desculpa o que se vem agora dizer sobre este assunto, quando muito mais do que se diz que se teria pagar aos proprietários da quinta das portas, seria necessário para aliviar a envolvente com novas vias para descongestionar o tráfego. Claro que não se fazendo estas vias, os bracarenses que aguentem, e sendo novidade, até aguentam na fila para visitar mais um espaço apetecível para os consumidores "de montra" nos seus passeios de fim de semana. Muitos vem dos arredores e não têm que suportar estes inconvenientes e esta vista estragada diariamente como muitos habitantes de Braga. E nós a pensar que nos tínhamos livrado destes "tiques" urbanísticos com a saída do anterior executivo e a entrada deste no governo da Câmara de Braga. Só em sonhos....

terça-feira, agosto 30, 2016

O Turismo no seu pior

Findas as férias de verão, ficam imagens de um país encostado ao litoral, com a enchente de turistas e dos trabalhadores que servem esses turistas. Com cidades e o interior esvaziado de população, temos um país desequilibrado, como que inclinado. Já com os prédios contruídos no Algarve nos últimos anos, se fosse um barco, o país teria já capotado! Assim, temos só na realidade uma barreira de cimento constituída por esses prédios, que não se resume ao Algarve, abrangendo também a costa de Lisboa e Norte de Portugal, sendo as praias da Póvoa de Varzim e Vila do Conde os piores exemplos, para não falar das torres de Ofir, ainda de pé. Falando do pior do turismo, não podemos deixar de falar da nova tendência dos alugueres selvagens, que retiram a possibilidade do arrendamento a jovens casas que precisam de casa nas grandes cidades ou outros arrendatários para habitação permanente, para não falar dos despejos de idosos dessas casa, uma tendência baseada na especulação dos senhorios e proporcionada por imobiliárias virtuais como o airbnb. Como se tem discutido ultimamente, este é um problema dos centros históricos das cidades como Lisboa e Porto, como já o foi para Barcelona e Berlim, por exemplo. Podia-se aprender como o que de negativo ocorreu com este fenómeno nestas cidades, mas pelos vistos somos lentos a aprender e a atuar. A voracidade da ganância dos especuladores e dos futuros senhorios estrangeiros em ocupar casas em bairros históricos, inicialmente para se reformarem ou passarem férias mas agora para alugar e ganhar dinheiro fácil no aluguer a outros turistas, ainda por cima quando são apoiados generosamente com fundos para a reconstrução das casas, fundos esses que provêm do erário público, é uma realidade assustadora. Teremos as nossas principais cidades transformadas na Disneylândia ou parques temáticos históricos, sem alma nem habitantes residentes? Veremos até onde vai o desleixo das autoridades locais e do governo nesse sentido. Temos ainda o fenómeno dos "bagpackers", que viajam só com um mochila como o nome indica em voos low-cost e se albergam em hostels que crescem que nem cogumelos por essas cidades costeiras portuguesas, abrangendo aos poucos as outras cidades mais pequenas também com património histórico rico; hostels e hotéis também convertidos de antigas moradias ou pura e simplesmente que foram deitadas abaixo, e que pouco ou nada contribuem para a riqueza nacional. Não frequentam restaurantes mas comem fast-foods ou sandes que preparam nos hostels ou quartos alugados, pouco gastam em cafés, nada compram nas lojas de artesanato local e muito menos nas outras, visitam locais para tirarem fotos nos seus telemóveis, muitos de uma forma automática e sem outro objetivo que não seja o de as colocarem nas redes sociais, e de uma forma geral invadem espaços como museus e outros locais de acesso limitado e ruas estreitas de sítios históricos como Alfama em Lisboa, tornando o percurso e o acesso a estes locais cada vez mais difícil e menos apelativo. Há ainda os tuc-tuc, veículos que invadem ruas antes só de acesso aos peões. A voracidade dos bagpackers não tem limites! Antes, estes bagpackers eram jovens e contavam-se por os dedos de uma mão os que encontrávamos e até achávamos piada. Eram os chamados turistas de pé-descalço. Talvez por serem jovens em digressão pré-universitária. Agora, são pessoas de todas as idades, que têm os seus empregos mas que gostam de poupar, e mais, de apregoar o que pouparam (à nossa custa!). Dito isto, também fiz parte dos que rumaram à costa, só por uns dias, como todos os anos, mas não me revejo em qualquer aspeto do que referi nestes apontamentos: não construi nem comprei apartamentos em frente à costa, não fiquei em hostels só com um mochila, não viajo aliás com mochila porque acho que incomoda os outros cidadãos ao entrar em lugares apertados, não apregoo que poupei dinheiro à custa de outros, nem como fast-foods, mas antes vou a restaurantes ou como comida cozinhada em casa (às vezes confesso que faço sandes...).

sábado, julho 09, 2016

A festa têxtil e os elefantes brancos

Decorreu esta semana no dia 7, no Instituto de Design em Guimarães, uma atividade que se designou por festa têxtil, organizada pelo departamento de Engenharia têxtil da UM e a Câmara de Guimarães. Neste certame o departamento de engenharia têxtil junto com algumas empresas, expuseram os seus produtos como forma de demonstrar o que de melhor se faz nestas entidades. Por parte do departamento, foram expostos protótipos de equipamentos e os visitantes, principalmente alunos de escolas profissionais locais que frequentam cursos têxteis, foram incentivados a aprender ciência com os protótipos. Como já é hábito em eventos organizados pelo departamento de engenharia têxtil ou o centro de investigação têxtil, 2C2T, não houve uma grande adesão por parte das indústrias têxteis ao evento. No entanto, houve uma mostra muito profissional das empresas que lá estavam com os seus produtos, e por parte do departamento, considerando os recursos limitados do departamento/Centro 2C2T. Houve ainda uma tertúlia que contou com a presença do presidente da câmara de Guimarães, do reitor da UM, do presidente da Escola de engenharia e de convidados. A plateia também participou. Um dos temas apresentados pelo moderador incidiu sobre o equipamento científico disponível para apoiar o desenvolvimento da indústria, argumentando que já se justifica um centro de investigação, apoiado pela indústria, que confira ao setor a importância que ele merece. Houve por parte do presidente da câmara um apoio a esta ideia, mas por parte do reitor e de Mário Araújo, ex-professor catedrático do departamento e convidado para o painel, houve uma recetividade um pouco fria. Mário Araújo considera que já existem alguns elefantes brancos, não especificando quais mas não foi difícil adivinhar quais os institutos que apoiam a indústria têxtil que poderia ser classificados desta forma por M.A. Argumentou que um centro com equipamentos, de topo, mas sem massa cinzenta seria um desperdício. Considera que se pode organizar consultas em rede aos institutos europeus existentes, sem necessidade de fundar mais um. Não explicou no entanto como, ficando no ar uma indefinição que sugere que esta forma de resolver o apoio ao setor também não seria procedente. O reitor também alinhou por uma opinião semelhante, embora defendendo o que já existe nessa área na região, e nomeadamente na Universidade. Também houve por parte da assistência, na pessoa do diretor do centro de investigação têxtil da UM, 2C2T, a defesa deste centro argumentando que serve este propósito. Não foi tida em conta esta intervenção, considerando-se que o centro está mal apetrechado, continuando o representante da indústria a insistir na fundação de um centro de alto nível apoiado pela indústria. O problema é que não sendo esta indústria, têxtil, como outros setores que apostam em projetos de I&D, pelo menos o passado o tem demonstrado, não vejo como de repente pode desatar a comprar equipamentos sofisticados sem um plano bem definido de como e em quem investe, sem recursos humanos à altura de tão grandes ambições, sem capital, uma vez que se dia que a indústria está descapitalizada, e sem uma atitude de investimento na sua própria indústria em quadros altamente qualificados (numa escala já de si modesta), antes optando por técnicos intermédios ou querendo pagar aos engenheiros saídos da universidade o mesmo que a um técnico saído de uma escola profissional. É de facto sonhar alto e também já agora, falar alto. Houve no entanto algo que poderia ser aproveitado desta discussão pelo senhor reitor, que ele próprio aceita, que é aceitar o facto das instalações do centro de ciência e tecnologia têxtil e do departamento de engenharia têxtil, estarem degradadas, muitos equipamentos a precisarem de reforma. Também concordo que a indústria deve ser convidada a dar opiniões, já que investimento em I&D não é com a indústria, a não ser que seja comparticipada a 100% pelo Estado, seja diretamente ou indiretamente, como tem sido habitual com os programas de investimento PEDIP, QREN e agora Portugal 2020. O reitor até concordou em não se fazerem mais elefantes brancos, como argumentou Mário Araújo. Esqueceu-se no entanto que noutras áreas continua a promovê-los, como recentemente o fez em parceria com um elefante branco já existente. Desde que seja Física podemos pelos vistos ter elefantes brancos, em áreas tecnológicas essenciais à região, já será um desperdício.

sábado, julho 02, 2016

O Brexit e nós

O referendo no Reino Unido que resultou numa saída da Comunidade Europeia, o chamado BREXIT, devia dar que pensar a Portugal e aos restantes europeus, sobre o papel dos britânicos na história da Europa, no deve e haver. A Inglaterra jogou tudo neste referendo nas suas relações com a Europa, arriscando-se ainda a perder a sua ligação à Escócia e ao desmembramento do Reino Unido. Não o fez de ânimo leve, mas após anos de insatisfação com as políticas europeias de controlo da aspetos que considera dizerem só respeito aos ingleses. São inúmeras as ingerências da CE nos estados membros, algumas bem intencionadas, como a dos refugiados, outras menos bem intencionadas e mais focada nos interesses dos estados fundadores, como por exemplo a PAC, política agrícola comum. Se os países como Portugal ganharam muito com o investimento da CE, foi também graças à comparticipação nesse investimento por parte do Reino Unido. Não temos que alinhar com a Alemanha na condenação ao Reino Unido, uma vez que a Alemanha é quem mais nos controla e humilha. O reino Unido não fazendo parte do euro, manteve-se sempre à distância. Veja-se recentemente as declarações do ministro das finanças da Alemanha, o sr. Shauble! A provocar um efeito internacional de desconfiança ao afirmar que Portugal vai ter um novo resgate. Não sei se devemos alinhar com um país com um ministro que constantemente nos ataca ou se devemos alinhar com o nosso mais antigo aliado e que nunca pôs em causa a nossa soberania. A Alemanha esteve por detrás da troika que com a aliança do governo de Passos Coelho nos forçou a comer o pão que o diabo amassou durante 4 anos. E agora vem dizer, pela boca do seu ministro das finanças, que temos que ter um resgate! É caso para dizer, levaram-nos a esta situação para nos condenarem. A Inglaterra foi nossa aliada desde a batalha de Aljubarrota, assegurando a nossa independência de Castela, nossa aliada contra Napoleão, assegurando a nossa independência novamente, na primeira grande guerra, não nos atacando na segunda grande guerra mesmo quando Salazar fornecia volfrâmio aos alemães. Agora que precisa de alguma consideração por parte de Portugal e de países europeus, que beneficiaram muito da sua aliança na grande guerra, aliás dos próprios alemães que queriam se libertar do jugo dos nazis na sua própria terra, depara-se com um coro de ataques por parte do sr. Hollande primeiro ministro da França, país que a Inglaterra juntamente com os americanos libertou dos nazis na II grande guerra, e de países como a Polónia que tinha uma força de libertação aquartelada em Inglaterra também durante a querra. De Gaulle não queria a Inglaterra na CE, e boicotou a sua entrada nos anos 60, numa atitude que na altura foi considerada de quase traição pelos ingleses que o abrigaram , tal como aos polacos, durante a guerra. Agora François Hollande faz coro com a Alemanha para o Reino Unido fazer as malas e saír depressa, como quem diz, vai-te que nunca te quisemos cá. Menos mal a postura da senhora Merkel que tenta acalmar os mais intolerantes. A decisão de sair pode não agradar a muita gente, e não me agrada a mim tampouco. Mas a democracia é assim, e temos que respeitá-la. Estão no seu direito. E acima de tudo respeitar a história que temos em comum com o Reino Unido que foi em grande parte o leito do País independente que somos hoje.

domingo, maio 22, 2016

O ensino privado e o público, comentados por liberais

A guerra entre colégios privados e o Estado, sobre o financiamento de turmas aos colégios privados, teve o condão de despertar em muita gente os sentimentos liberais em relação ao ensino de uma maneira geral. Os argumentos liberais são centrados na liberdade de escolha dos pais e alunos, um argumento que se aceita em democracia. Mas não refere que esse ensino é pago por todos nós para alimentar um negócio que são os colégios privados. Esconde a verdade dos factos e propagandeiam uma ideologia de "liberdade". Os meios de comunicação, na maioria simpatizantes de ideias liberais, ajudam na mistificação. Tudo isto seria de esperar, uma vez que sendo algo que lhes foi oferecido, por uma governo liberal , de Passos e Portas, agora vêm o seu presente lhes ser retirado. Já tinha tentado com o cheque-ensino, outra aberração. É normal que se sintam frustrados. O governo contrapõe que o dinheiro dos contribuintes é para a escola pública e que só quando a escola pública não pode responder, ou porque não tem oferta de ensino nas proximidades dos alunos ou porque é um ensino especial, é que abre uma exceção. Este problema também teve o condão de revelar uma faceta de certos comentadores que normalmente não é divulgada pelos próprios. Veja-se por exemplo Miguel Sousa Tavares do Expresso, na sua coluna de opinião dessa semana. Conclui a sua crónica. dizendo que o Estado é gastador porque vai utilizar o dinheiro retirado aos colégios privados para distribuir manuais escolares a todos! Para já não é sério dizer que é para todos, porque será só para o ensino primário, segundo li em artigos sobre este assunto. Depois os manuais escolares gratuitos vão beneficiar aquelas famílias que não têm dinheiro para os comprar. Não serão as famílias de classe média ou alta que terão problemas em pagar 200 ou 300 euros.Dizer que dinheiro retirado colégios de meninos que têm a sorte de pertencer a estas famílias, ou que não têm outros problemas que os travam de entrar no colégio, deficiência ou outros problemas de educação, e que é utilizado para manuais de suporte aos pais de meninos e meninas que não tem sequer dinheiro para comer decentemente quanto mais pagar manuais de que precisam para "terem a tal liberdade de escolha" no seu futuro profissional, dizer que é um desperdício de dinheiro e que o "Estado" está rico, é de facto extraordinário quando vem de alguém que nos habituou a ter um sentido crítico sem cor política e normalmente consensual.

quarta-feira, dezembro 16, 2015

Abaixo de Braga

Veio a lume no jornal público, uma notícia caricata de um episódio em Braga. Trata-se de um derrame de efluentes domésticos, diga-se de esgotos, que inundou o rio Este por a conduta de esgotos ter ficado entupida com um cabo de fibra ótica. Isto junto à Universidade e ao INL, Instituto de Nanotecnologias. O cabo de fibra ótica aparentemente estava esquecido dentro da conduta de esgotos, acumulando os dejetos e acabando por entupir, provocando o derrame desses dejetos par o rio. O cabo foi colocado pela Associação Braga Digital, aparentemente sem autorização por parte da empresa municipal AGERE, uma iniciativa muito badalada e que arrancou com o anterior executivo da câmara, tendo se extinguido há pouco, depois de se terem gasto 10 milhões de euros, segundo o artigo. É caso para dizer, mas onde está a porcaria, no rio Este ou na política? O que provocou tamanho desleixo das autoridades que primeiro diziam desconhecer a existência desse cabo nos esgotos, e depois admitiam que afinal sabiam qualquer coisa que lhes fez tentar retirar o dito cabo, mas sem sucesso, aparentemente por falta de equipamento. Procuram agora um responsável de tudo isto, mas como a Associação se extinguiu, o que é de estranhar depois de um investimento tão elevado, não há a quem pedir meças. Penso que os responsáveis técnicos/científicos eram da universidade do Minho, que não se retrata das responsabilidades que eventualmente tem neste projeto. Uma delas seria o projeto da instalação da fibra, que dificilmente não seria do conhecimento dos membros da UM envolvidos neste projeto, que foi num esgoto! Seria a ideia aproveitar o fluxo de excrementos para melhor fluírem os dados? Ou seria uma forma de contraste entre vias físicas que se usam desde a antiguidade, como as vias digitais dos tempos modernos. O que há é muito amadorismo e imediatismo nestas iniciativas mediáticas. Pode-se depreender que o raciocínio foi o de que, se está ali um esgoto, porque não aproveitá-lo para encaminhar a fibra ótica da UM em Gualtar para o parque de exposições, num percurso de 2,5 kms!? Afinal, o que está por baixo da terra ninguém vê, o que está acima é que interessa e essa parte, para aqueles que se lembram, teve muita visibilidade.

domingo, novembro 22, 2015

Uma mesa-redonda sobre transferência de tecnologia universidade-empresas

No aniversário da Tecminho, foi tema do colóquio promovido para o efeito, a transferência de tecnologia das universidades para a indústria. Falou-se da discrepância entre o ranking de Portugal na Ciência e na Inovação, a primeira avaliada pelo número de publicações e a Inovação pelo número ode patentes, entre outros critérios, tais como a I&D no Estado, nomeadamente nas Universidades e nas empresas. Um comentário do moderador José Mendes, vice-reitor da UM, foi indicativo de como os números enganam, referindo.se que muita do I&D nas empresas são atividades consideradas de I&D e que não o são na realidade, tal como o trabalho de desenvolvimento de software efetuado em bancos. Não me espanta esta constatação, uma vez que num mundo em que os números e as estatísticas é que valem, tudo serve para empolar esses mesmos números. Numa nota otimista, o representante da ADI, Agência de Inovação, apresentou dados de evolução já conhecidos, sobre o aumento do número de projetos de co-promoção desde o último programa quadro da CE ao presente programa 2020. Não especificou como esta evolução encaixa na Inovação, uma vez que muitos destes projetos são mais baseadas na evolução do que na inovação. Não se refletindo em patentes, não se pode distinguir se é novo o que que se faz nestes projetos ou se pelo contrário é de facto uma evolução. O que se depreende destas afirmações, com referências a empresas tradicionais, confirma a suspeita de que são inovações evolutivas e não de novos produtos inexistentes no mercado. Os outros intervenientes presentes na mesa redonda eram o representante do INL, Instituto de Nanotecnologia Ibérico , e um professor Universitário holandês. Este último, sendo psicólogo, referiu que para as start-ups seria positivo terem outras valências que não só engenheiros ou cientistas, mas também que incluam licenciados em humanidades que poderiam fazer uma ponte com a sociedade, uma vez que a linguagem dos engenheiros/cientistas não é muitas vezes entendidas pelos empresários. Não está mal pensado. O representante do INL, recém-chegado a este instituto, traz ideias novas ao INL tais como colocar os seus investigadores nas empresas para perceberem como podem integrar a sua tecnologia na tecnologia das empresas. É um passo no sentido certo, mas não serão dois mundos muito distantes? A nanotecnologia desenvolvida no INL será mais indicada para empresas intermédias, spin-offs, que após regurgitarem essa mesma tecnologia e a transformarem em algo que será minimamente próximo da nossa indústria, poderiam talvez ter mais êxito que este salto inter-galáctico entre estes dois mundos. No entanto, a atitude deste novo diretor do INL é muito positiva quando comparada com a anterior direção, na opinião de um atento observador. O colóquio terminou com um curto vídeo sobre a Tecminho que fez 25 anos e que foi no seu tempo a primeira interface Universidade-indústria, numa altura em que a UM tinha mais colaboração com o tecido industrial das pequenas e médias empresas do que as outras universidades. Quando apagarem as velas, façam um pedido: peçam que esse espírito empresarial da UM volte, porque parece-me que se tem vindo a esvanecer. Um exemplo dessa tendência que deve ser revertida, foi a saída do único parque de Ciência e Tecnologia da região ao qual presidia, o Avepark. Faço votos que também esta saída seja revertida no futuro, ou por via da mudança de iniciativas governamentais do anterior governo, que provocaram em grande parte a tomada pela Câmara de Guimarães do Avepark, ou usando um pouco a imaginação e a motivação de apoio ao empreendedorismo, que andam muito por baixo na UM nos últimos anos, não tanto na discussão do tema, como foi o caso, mas mais na atuação.

sábado, outubro 10, 2015

Então e a Fundação?

O Governo terminou funções, tendo terminado a sua legislatura, e ficaram por fazer algumas medidas anunciadas, nomeadamente a passagem a Fundação da Universidade do Minho. É caricato que por duas vezes isto acontece. Primeiro foi quando caiu o governo do partido socialista e o processo de passagem a Fundação estava em curso, com o então ministro da Educação entretanto falecido, Mariano Gago, ficou suspenso. Com a entrada em funções de novo governo, o ministro da Educação e Ciência Nuno Crato, abandonou essa ideia de novas Universidades-Fundação, sendo a sua nova política virada para outra forma de autonomia através de uma prometida reforma do ensino superior, que não se chegou a concretizar. Talvez por essa razão, à última hora o ministro decidiu dar o dito por não dito e voltar ao processo de transformação em Fundação dos processos em curso, nomeadamente o da Universidade do Minho. Só que, mesmo com a pressa e de se reiniciar o processo durante o período de férias, o que apanhou muita gente desprevenida, a Universidade do Minho não conseguiu que o ministério fosse a tempo de concretizar essa medida. É caso para dizer, que não há duas sem três, pois adivinha-se que o governo não vai ter a anuência do PS para esse fim, ou pior, o novo governo será outro, formado entre PS e partidos de esquerda, e então é que não vai mesmo para a frente a Fundação, a julgar pelas declarações desses partidos sobre este assunto mesmo antes das eleições. O reitor, atual ou futuro, bem pode esperar por mais uma legislatura, sem pressas, estudar e divulgar bem os prós e contras da passagem a Fundação, e nessa altura se a UM passar a Fundação que seja com a aprovação de uma larga maioria da academia.

domingo, julho 26, 2015

Os manuais escolares e os cheques-ensino

O escândalo dos manuais escolares está de volta. Num artigo no jornal Público, é relatado uma situação das famílias que gastam uma média de 200 euros em manuais escolares por filho a partir do 5º ano de escolaridade. Depois de em 2006 ter saído uma lei que determina que os manuais escolares têm 6 anos de duração, esta regra podendo ser quebrada desde que o Ministério da Educação faça revisões de programa ou metas curriculares. O governo fez esta revisão todos os anos nos últimos 3 anos! Também ficamos a saber a partir da leitura deste artigo que o Ministério estabeleceu bolsas de manuais escolares nas escolas para famílias que até então recebiam comparticipações para adquirir manuais. Sé têm direito a esta bolsa quem receba o salário mínimo. No entanto, o ensino é obrigatório, tal como lembra a jornalista. Noutros países da Europa por essa razão os manuais são gratuitos para todos. Aqui e agora, só os pobres têm direito a esta bolsa e à comparticipação na compra de livros que não façam parte dessa bolsa. O que alegam alguns pais entrevistados e a Confap, confederação da associação de pais, é que esta bolsa discrimina de duas formas: primeiro porque aqueles que ganham mais que o salário mínimo não têm acesso; por outro lado, aqueles que a recebam da escola e não diretamente em casa como antes, são estigmatizados na escola por serem pobres. Parece que estamos a voltar à caridadezinha do Estado Novo com os alunos pobres a evidenciarem a sua pobreza perante os outros alunos. Outra medida neste sentido, será a dos cheques-ensino pretendido por este governo para os alunos mais pobres poderem frequentar as escolas privadas. Nestes últimos 3 anos, segundo a Fenprof, tem havido uma transferência de recursos para os privados e em algumas zonas não há alternativa de ensino público. Os cheques-ensino a serem instituídos, eventualmente se o governo ganhar de novo as eleições, será também mais uma medida nesse sentido, além de evidenciarem que o aluno que os recebe e os "carrega" na sua identidade durante todo o período da sua educação nestes colégios. Não é que estes alunos não sejam provavelmente mais bem sucedidos do que se tivessem seguido para o ensino público. Esse é um facto com alguns colégios privados. Mas no ensino, seja público ou privado, não se "apreende" só o que vem nos programas, mas também se recebe uma lição de como ser um ser humano decente e orgulhoso. Ou quererá o governo que o aluno tenha outras qualidades normalmente consideradas importantes pela sociedade católica e submissa do Estado Novo, a submissão, e outros aspetos da personalidade dos jovens, também realçada por poetas de outros tempos: o perdão a quem o humilha, tal como as descreve Rudyard Kipling no poema If (Se) de um pai para um filho. Mas R.K. é de outros tempos, o do imperialismo britânico, e defendia com certeza a abnegação dos mais pobres e mais fracos para que a ordem "natural" das coisas de então se mantivesse a bem do Império.

terça-feira, julho 21, 2015

Cursos do ensino superior para todos os gostos

Mais um ano em que desce o número de vagas no ensino superior acompanhando a descida do número de candidatos. É a tendência dos últimos anos. Há ainda a novidade do Ministério da Educação informar sobre a empregabilidade dos cursos. Os alunos continuam a preferir os cursos que lhes dão emprego, medicina e enfermagem, o primeiro em universidades e o segundo mais em politécnicos. O que se verifica é que muitos dos alunos que vão para enfermagem, já o fazem com a ideia de emigrar. Porquê então que o Ministério aceita tantos cursos e com númerus clausus tão elevados? Não se entende. São recursos do País que poderiam ser empregues noutros cursos, mesmo em cursos que à partida não têm empregabilidade, como o das humanidades. Ao menos estes cursos custam menos ao País por não precisarem dos meios que os cursos de enfermagem precisam. Não há qualquer planeamento de cursos, muito devido à autonomia das universidade e dos politécnicos. Será que a autonomia das universidade e politécnicos deverá determinar quais os cursos a oferecer? Talvez em parte. Mas não deveria também obedecer a uma estratégia nacional? Aliás como se fez em relação aos cursos de medicina. Pelo menos nas engenharias poderia haver mais organização e não depender só da lei da procura e da oferta, como está a acontecer com os cursos de engenharia civil. O governo lava dali as suas mãos, guiando-se pela procura dos cursos, como se os candidatos soubessem quais os cursos mais relevantes para o país. Basta ver quanto alunos se candidatam aos cursos de comunicação, jornalismo, media, etc, para perceber da disparidade da desproporcionalidade entre o número de jornais, canais de televisão e outros media. Ou no caso dos cursos de engenharia biológica ou biologia, a desproporcionalidade entre os candidatos a estes cursos e os empregos disponíveis para este tipo de especialização: indústria alimentar, ambiente, etc. Ou no caso da arquitetura. E haverá muitos mais disparidades como estas. Estamos com um ensino superior dependente dos gostos dos alunos, ou nestes casos, mais das alunas. Que fazer? Penso que se os alunos gostam de tirar um curso que os satisfaçam, e não que o país precise, deviam pagar esse curso, tal como se paga um curso de guitarra ou de culinária gourmet, ou outros (pintura, decoração, etc). Demasiado polémico? Talvez e certamente não exequível. Mas então que o governo tenha uma estratégia de "hair cut" aos cursos repetidos em universidades e politécnicos distantes poucos quilómetros uns dos outros e númerus clausus para cima de 50. Tentou timidamente através da formação de consórcios, começando a norte, mas depressa recuou, ao ser confrontado pelo lobby dos reitores do CRUP. A única boa ideia que o Ministério da Educação teve para o governo superior, nunca saíu do papel! É hora deste ministério dar lugar a outro que tenha mais garra.

domingo, julho 05, 2015

Bolonha e doutoramentos

A propósito de Bolonha, vem a talhe de foice falar de Miguel Relvas. O caso é conhecido: alguém que conseguiu uma licenciatura, em Ciências Políticas, numa universidade portuguesa, a Lusófona, por lhe ter sido atribuídas equivalência a grande parte das UCs (disciplinas) com base no seu currículo de político. Diz o Professor Alberto Amaral que se a moda pegasse bastava a alguém trabalhar num stand da Renault para obter a licenciatura de engenheiro mecânico. Está bem visto. Bastaria a alguém trabalhar numa empresa têxtil para ter uma licenciatura em engenharia têxtil? Talvez. Os exemplos seriam muitos. O caso de Relvas está em tribunal para se averiguar da sua legalidade. Mas independentemente da sua legalidade, há alguém que aceita este estado de coisas? De que serve a legalidade formal de um diploma se o diploma não vale nada? E se não vale nada pode-se concluir que as outras licenciaturas da Universidade Lusófona também não valem nada? Com certeza que não! Onde eu quero chegar é à generalização que se pode fazer de casos tristes em que a Universidade facilita, ou para ganhar alunos, ou compensações de outra ordem. Preocupa-me um pouco o facilitismo que se apoderou das Universidades desde que as licenciaturas e doutoramentos de Bolonha passaram a vigorar. E não se pode atribuir tudo a Bolonha. Mas uma vez que o facilitismo se instala, já não se distingue se é de Bolonha ou não. Por exemplo, doutoramentos em conjunto com outras Universidades que por não terem uma especialidade numa determinada área, formam os seus docentes nessa área através de um doutoramento em conjunto, mas que será atribuído pela UM. Não sei se existem outros casos, mas conheço o do Centro de Ciência e tecnologia Têxtil da Escola de Engenharia, o 2C2T. É um doutoramento pago, à Universidade e aos docentes. Põe-se logo a questão: se é pago, admite que algum dos seus doutorandos não obtenha o título de doutorado? A universidade de Maringá, Brasil, neste caso específico, espera que alguns dos seus professores voltem sem doutoramento depois de pagar? Há uma outra questão que se coloca e que há muito que eu ponho em causa: a formação de base dos alunos. Não sei como é nos outros centros, mas no caso do 2C2T entram alunos com os mais diversos currículos para o doutoramento em Engenharia têxtil, desde design a gestão. Deu-se o caso de há uns anos admitirem um aluno com contabilidade como área principal do seu currículo. Como me demiti nessa altura do Conselho de Cursos do PDET, Programa de Doutoramento em Engenharia Têxtil, considerando que esta era a gota de água, não sei que outros CVs têm sido admitidos. Sei que o Design tem sido admitido como currículo até porque houve recentemente doutoramentos na área do design que foram admitidos como doutoramentos em Engenharia Têxtil. A justificação é que não existe doutoramento em Design Têxtil. Depois do escândalo do doutoramento em Engenharia Têxtil que foi plagiado, também por ser numa área que se prestava a isso, Marketing, mais uma que se admite como Engenharia Têxtil, pensar-se-ia que no 2C2T se "navegaria" com mais cuidado. A questão é que no caso do doutoramento plagiado, não houve qualquer sanção aos envolvidos, nem qualquer demissão. Os mesmos continuam à frente do centro e os professores envolvidos continuaram a distribuir diplomas, em tudo igual, baseados em estudos de mercado, estatísticas e outras ferramentas que de originalidade não têm nada(veja-se o artigo de opinião de Vasco Eiriz em Empreender). Na altura o reitor e presidente de Escola afirmaram que iriam atuar. Ficou-lhes bem. Mas o tempo tratou de fazer esquecer e o risco de acontecer outra vez continua. É o que acontece quando se facilita. E voltamos ao assunto de início: facilitar, ajuda quem? O próprio é evidente. Mas a instituição em causa, e por último a imagem do ensino superior e do País? Com a ideia que os países do norte da Europa já têm dos portugueses que acham pouco gostam de trabalhar, muito por causa da dívida que acumulámos, este tipo de atitude vem mesmo a calhar para provar a sua teoria.

sexta-feira, maio 08, 2015

Consórcios em risco-2

Devem as universidades fundir-se? A fusão traz mais-valias às universidades? A opinião da EUA, Associação Europeia das Universidades, divulgada em notícia do jornal "Público" em 3 de Maio, diz que não. Na verdade pode ser uma forma de atingir maior dimensão mas não traz sinergias. Cortes, talvez, nomeadamente quando os cursos se sobrepõem. E os centros de investigação ganham com o aumento da sua dimensão? Penso que não. Por muito que se tente juntar professores, o ADN do investigador-professor típico faz com que ele não ceda a sua autonomia. Haverá sempre colaboração entre equipas complementares, mas não será esse o cenário provável entre equipas da mesma área de investigação. No caso das universidades do norte, Minho, Porto e Vila Real, que formaram o primeiro consórcio existente, elas são réplicas uma das outras, apresentado basicamente os mesmos cursos, e os mesmos centros de investigação, à exceção de alguns pequenos cursos e centros de setores específicos da região, mais ligado à agricultura no caso de Vila Real e cursos ligados ao setor têxtil na Universidade do Minho. É uma situação muito diferente daquela das faculdades existentes em Lisboa, o Técnico, centrado nas engenharias, e a Universidade de Lisboa, lecionando principalmente cursos de humanidades e ciências. Não havia portanto duplicação de especialidades por isso não se prevê um processo de "otimização" de recursos, um eufemismo par "cortes" de recursos. Mas no caso das universidades a norte, que a ideia do consórcio destas universidades não foi suficientemente ponderado nem pelo governo nem pelas partes interveniente, é mais que óbvio. Como os responsáveis por este consórcio vão descalçar esta bota que se tornou incómoda para todos, não sei. Se esta ideia for para a frente, poderá haver uma subalternalização das universidades da periferia, em relação às do litoral, nomeadamente a universidade à do Porto, no caso do consórcio a norte, devido à maior população estudantil no litoral. Até pode implicar um maior fosso entre estas universidades. Receando este cenário, as universidades mais periféricas, matam o consórcio à nascença. Veja-se a mais recentes tomada de posição do presidente do CRUP e reitor da UM que já é um passo nesse sentido.

sexta-feira, janeiro 23, 2015

Dia da Escola de Engenharia com ministro e autarcas mas sem Ambiente

Na sessão solene de inauguração dos 40 anos da Escola de Engenharia, houve lugar a um debate entre membros de um painel que incluía 4 presidentes de câmara, e o ministro do ambiente, além do presidente da Escola e do reitor. Nesse debate, os quatro presidentes do quadrilátero, como foi referida a rede que seria formada por estas camaras e a região que estas camaras cobrem, concelhos de Braga, Guimarães, Famalicão e Barcelos, falaram, após questões colocadas pelo moderador, Luís Amaral, teceram considerações vagas sobre o quadrilátero, sem nunca se referirem a objetivos concretos. No entanto, ao juntar as quatro câmaras sob o mesmo teto já foi um passo no sentido da colaboração entre si. O ministro de alguma forma referiu os PDM's como sendo demasiado limitados por serem de concelhos e não de associações intermunicipais. É um recado importante mas que cai em orelhas moucas. Os vários presidentes, nomeadamente o de Guimarães e o de Braga nunca se entenderam ao longo dos anos, e eram na maior parte das vezes do mesmo partido. Agora de partidos diferentes ainda terão menos em comum. Oxalá me engane. vejamos os projetos que ou nunca arrancaram ou nunca foram completados: ligação ferroviária entre Braga e Guimarães, fosse comboio ou metro de superfície. Nunca saiu do papel. Fala-se muito do desenvolvimento da região pro parte destes dois presidentes, mas sempre para a sua cidade e concelho, como se tivessem dimensão suficiente para fazer qualquer diferença a nível nacional. Fazia todo o sentido esta ligação ferroviária. Em vez disso, outro projeto, a ligação de uma via rápida entre as duas cidades, construiu-se uma autoestrada, com todos os custos que isso implica para os utentes. As portagens não estavam previstas, mas como não havia uma consonância de posições entre as cidades, a concessionária da autoestrada teve "via verde" para avançar, e com as portagens mais altas do país, por km. Outra consequência de se construir uma autoestrada em vez de via rápida, foi o facto de um projeto ambicioso e importante não só para a Universidade do Minho mas também para a região, o parque de ciência e tecnologia, Avepark, ficou sem acessos rápidos às vias principais que o ligariam às duas cidades e ao Porto e ao porto de Leixões. Muitas empresas e possivelmente até centros de I&D que poderiam ter ido para o Avepark não foram em grande parte, devido aos acessos. Disto não se falou, pelo menos enquanto o ministro esteve presente. Outros projetos que até estavam a funcionar bem, como o SIDVA, sistema de interligação dos efluentes das tinturarias do Vale do Ave,um projeto da Associação dos Municípios do Vale do Ave, que surgiu numa altura em que a consciência ambiental estava a dar os seus primeiros passos e as empresas estavam a entrar no espírito do tratamento de efluentes, pelo menos no pré-tratamento dos efluentes uma vez que o SIDVA exigia que os efluentes estivessem minimamente tratados antes de serem encaminhados para o sistema, através de coletores que transferiam para ETARs estrategicamente situadas no rio Ave, eis senão que aparentemente tudo mudou, não sei bem quando, para uma situação de total "lavagem de mãos" em que as empresas enviam os seus efluentes tal e qual como são para os coletores do SIDVA. Não sei se coincidiu com a privatização do SIDVA para as Águas de Portugal ou não, mas o que é um facto é que houve uma total falta de consciência ao voltar atrás e desperdiçar anos de esforço daqueles que estavam a consciencializar as empresas para a componente ambiental. Não sei se as ETARSs conseguem tratar os efluentes tão carregados de produtos poluentes ou não, mas consta que não têm capacidade para tal, o que não espanta. De quem teria sido esta ideia peregrina? Será que o ministro sabe desta "colaboração" intermunicipal que transporta as empresas para os anos 70? A privatização é o forte deste governo sendo quase sagrado esse princípio de melhor gestão se for feita por privados. Ora aqui está um exemplo de mais um "sucesso" privado, e intermunicipal, tal como o ministro advoga. O resto da sessão não trouxe surpresas, mais do menos de referências a falta de alunos e das desigualdades Lisboa/Porto e o resto do país. Não sei qual a novidade nem a surpresa sobre esta situação. É assim há décadas e será assim por muito tempo, ou não fosse o próprio reitor o presidente do CRUP...sediado em Lisboa.

quinta-feira, janeiro 15, 2015

Doutorados

O novo programa do governo de introdução de doutorados nas empresas vem na sequência de uma análise do número de doutorados que em Portugal subiu de há uns anos a esta parte mais do que nos outros países europeus, e a constatação de que este crescimento exponencial cingiu-se quase só às Universidades e institutos públicos, ou seja no Estado. Mas alguém fica admirado com isto? Só quem não anda atento à evolução, ou não, das empresas. O que é notório é que nem o tecido empresarial evoluiu, nem os doutorados se especializaram no que as (poucas) empresas querem no que se refere a novas tecnologias, novos processos, novos produtos. Faz pensar no ouro do Brasil do século 16. É outra oportunidade perdida. Não há planeamento, não há objetivos, gasta-se o dinheiro de Bruxelas como se gastou o dinheiro do Brasil que foi desperdiçado na corte e desviado para o estrangeiro, em vez de ser investido em infraestruturas e indústria (na altura indústria têxtil, uma vez que as sedas vinham da Flandres). Mas ao reagir já tarde, embora seja elogiável, não vai resolver nada. As especialidades dos doutorados continuam a não se enquadrar nos desígnios das empresas, pela simples razão que são os mesmos doutorados que já não tinham lugar quando fizeram a sua investigação, por ser desadequada à assimilação pelas empresas, desde o início da sua formação. Só se passarem por uma adaptação à realidade, o que não será fácil de fazer nem há quem o faça, ou seja, desde que passem por um estágio, mas as empresas não querem estagiários, mas sim mão-de-obra. Estamos perante um ciclo vicioso, ou uma pescadinha de rabo na boca, e a pescada é o peixe que antes de ser já o era, o que também se aplica aos doutoramentos dissonantes das empresas. Ou por outras palavras, o que nasce torto não mais se endireita.

quinta-feira, janeiro 01, 2015

Um ano de I&D a começar com boas notícias para alguns

Inicia-se hoje mais um ano, o de 2015. Em 2014, ao cair do pano, houve um anúncio de verbas que centros de I&D classificados por excelentes ou excecionais irão receber. É pouco ainda, mas já é um bom começo para 2015. Os centros com Bom ou menos, não terão verbas relevantes ou mesmo nenhum investimento, sendo o sue futuro incerto. Se esses centros estão indignados, há outros que estão admirados, uma vez que nem todos os centros excelentes são de facto excelentes no que respeita a número de publicações e citações dessas publicações Só se entende essa classificação com a sua atividade mais relacionada com o mundo empresarial, nomeadamente em número de patentes e empresas spin-off que emanaram desses centros. Esta relação de facto transparece nos relatórios efetuados pelos avaliadores. Sejam quais foram as razões, não será no relatório do seu centro que encontrarão a explicação, uma vez que os relatórios tendem só a referir os aspetos bons, mesmo que não sejam suficientes para a sua aprovação. Ninguém gosta de pôr o dedo na ferida. Aconselha-se os centros que não foram bem classificados a lerem os relatórios dos que foram bem classificados, para poderem entender as razões pelas quais não foram também selecionados para uma segunda fase, o que garantiria a sua classificação pelo menos com Muito Bom. Também abriu o concurso para I&D em todos os domínios. Também se lê nas entrelinhas que a aplicabilidade dos resultados obtidos. Parece que finalmente se percebeu que ao I&D fundamental cresceu demasiado sem qualquer efeito no tecido empresarial português. Quem quer fazer I&D fundamental terá que o fazer com fundos comunitários, o que me parece razoável, uma vez que os resultados serão só absorvidos por grandes empresas europeias, uma vez que as nossas não têm capacidade, ou interesse, em o fazer.

domingo, dezembro 07, 2014

Uma sociedade esfrangalhada por uma política hipócrita

O Governo humilhou muitos, fez perder a muitos aquilo que mais gostavam, a sua profissão, e ainda vai ficar mais um ano para terminar de enterrar definitivamente a esperança. O governo como é feito de anjinhos, ninguém vê que nos está a aniquilar com palavras mansas e jogando com as clivagens que a sociedade portuguesa tem, duma forma muito subtil sacia os preconceitos da sociedade: são os do setor privado contra os dos setor público, cortando nas "regalias" do público tal como a ADSE; são os empresários contra os desempregados, instituindo um plafond máximo de subsídio, são os "ricos" do setor público contra os mais pobres e vice-versa, procurando agradar à maioria do setor público, taxando mais os que ganham mais que são muito menos em número; os novos contra os velhos, permitindo despedimentos por "inadequação" às novas tecnologias e procurando desta forma agradar aos mais novos, são os que falam contra os do rendimento mínimo, apelidando-os para todos os efeitos de mandriões. Agora o primeiro ministro vem dizer que acabou com os que mandam nisto tudo e protegeu os "mexilhões". Quais? Os do rendimento mínimo que reduziu para mais de metade ou os velhos a quem lhes cortou o rendimento de solidariedade, os desempregados a quem vai introduzir um plafond para que não recebem mais que um subsídio (a que teriam direito), aos inquilinos que têm sido despejados a torto e a direito com a nova regulamentação da ministra, ou os jovens do ensino especial que não terão os professores que os acompanhem devidamente, já para não falar da escola pública em geral prejudicada pela política de incentivo ao ensino particular (cheque ensino e subsídios a colégios privados). É preciso muita lata ! E quais os donos disto tudo que foram destituídos por este governo? Ou o governo confunde-se com a justiça, o que é natural dado os recentes acontecimentos, ou é melhor estar calado uma vez que os poderosos e ricos são cada vez mais, e o governo com a baixa do IRC, por exemplo, só os beneficia ao beneficiar as grandes empresas, prejudicando os restantes cidadãos com um pesado IRS. O governo obrigou-nos a uma austeridade que foi muito mais pesada para os funcionários públicos e todos os que dependem dele (desempregados, alunos, professores, enfermeiros, médicos..) e está a destruir a sociedade tal qual nós a conhecíamos até há bem pouco tempo, instigando a clivagens e aumentado o fosso entre os mais ricos e os mais pobres. Essa é que é essa. A Espanha não mandou vir a troika e com exceção do emprego que já era muito superior ao nosso, está muito melhor que nós. Os partidos do governo forçaram a vinda da troika e o governo até foi para além da troika, não olhando a quem espezinhava. Agora, com o argumento que o governo anterior levou o país à bancarrota (só o governo anterior esbanjou ou muitas autoestradas já estavam construídas ou em vias de construção e os submarinos que "tanta faltam fazem", quem foi que os encomendou?) corta a torto e a direito, e força de facto a bancarrota de muitas empresas portuguesas e muitos cidadãos portugueses. Assim se vê a hipocrisia desta frase, já muito gasta de tanto uso.