sábado, outubro 09, 2010

A Teoria da conspiração sobre os alunos das Universidades

Vemos com preocupação que o desemprego dos licenciados é equivalente aos demais desempregados sem licenciatura. Há uns anos atrás uma licenciatura era a porta aberta para o emprego e quem não tinha licenciatura aguentava com salários baixos, ou estava desempregado ou então emigrava. Agora ouve-se da boca de licenciados, que trabalham em empregos precários e de baixos salários ou que estão desempregados. Alguns dizem que estão a pensar emigrar. Uma das razões apontadas para esta situação é a desarticulação entre os cursos e as necessidades das empresas. Como resolver esta desarticulação? Fazendo um inquérito às empresas? O problema é que o universo das empresas é constituído principalmente por pequenas, médias e micro empresas, e nessas empresas os próprios empresários não sabem o que querem, ou se sabem hoje o que querem, daqui a uns anos ou já preencheram as suas necessidades, ou a empresa foi à falência, ou já mudaram de ideias. Outra hipótese é a de fazer projecções, mas as projecções normalmente falham num mundo em constante mudança. Assim, resta a um candidato apostar pelo seguro e tirar um curso de banda larga que abranja inúmeras hipóteses, como um curso de gestão, por exemplo. Não é por acaso que estes cursos são dos mais populares e existam em várias universidades públicas e privadas. Nas engenharias o exemplo mais abrangente seria talvez a "engenharia de materiais". Nas ciências seria talvez um curso geral de ciências, em que se abordassem as várias áreas das ciências sem aprofundar nenhuma delas. As coisas vistas assim, chegamos à conclusão que pelo menos nos caso das ciências e das engenharias, estaríamos a falar de Bolonha e das novas licenciaturas de três anos. Tudo estaria portanto de acordo com o que seria melhor para o mercado. Mas o problema é que como sempre ninguém cumpre o que proclama. Os cursos que seriam generalistas acabam por ser especialistas, porque não foram concebidos por generalistas mas por professores de departamentos específicos. Os empresários (aqueles que estão dispostos a pagar o salário a um licenciado) com tanta oferta de candidatos preferem alunos mais qualificados, com o Mestrado. Os alunos com o mestrado ficam especializados demais e não haverá empresas para a sua especialidade e...voltamos ao mesmo problema. É uma pescadinha de rabo na boca e não há volta a dar. Para piorar a situação as Universidades quase que obrigam os alunos a continuar para Mestrado, através de Mestrados Integrados, para manterem os alunos mais tempo no ensino e justificarem o número de docentes que têm. Ou será que tudo isto foi uma conspiração para chegar onde chegámos? Até parece!

sábado, outubro 02, 2010

A crise é para todos?

Numa altura que se pode dizer que todos os funcionários públicos sofreram com esta crise mais que os do sector privado, não se ouve por parte dos dirigentes do sector privado qualquer simpatia para com esta situação. Mas quando se repôs a diferença do que os funcionários públicos tinham perdido durante anos nos seus salários há uns dois anos atrás com um aumento de 2,9%, quase que caía o Carmo e a Trindade. O aumento dos impostos que estão anunciados, o IVA, afecta todos mas principalmente os mais pobres e mais uma vez os que ganham mais em empresas privadas ou participadas pelo Estado, não serão afectados, porque para eles uns 5 cêntimos a mais numa carcaça de pão não lhes faz diferença. Nos bancos, salvos da crise com o dinheiro de todos nós, terão uns pequenos impostos, ainda não se sabe quanto, mas já veio dizer a Caixa que quem vai pagar são quem tem empréstimos, ou seja, as prestações da casa, por exemplo, que vai fazer mais falta a quem tem menores rendimentos. Por isso quando ouvimos os economistas clamarem por mais cortes na despesa e menos nos impostos, em quem é que eles estão a pensar? Nos utilizadores do Serviço Nacional de Saúde que serão prejudicados? Na Educação? O salário mínimo a 500 euros, que eles rejeitam, seria uma forma de evitar a rotura em muitas família que vão sofrer com os cortes já feitos, e aqueles por fazer, mas isso não lhes interessa. O que interessa são números. Não falam em quebrar o sigilo bancário e evitar desta forma a fuga ao fisco de muitos daqueles que têm uma dívida para com o País que os fez progredir. Quem mais critica não haver cortes na despesa pública não fala em fazer um levantamento dos bens visíveis de alguns que não têm aparentemente um salário para os possuir. Não falam dos subsídios que as suas empresas receberam e continuam a receber do Estado, em percentagens que rondam os 50% em medidas como o QREN, e que não se sabe onde gastam esse dinheiro. Não falam que a verdadeira razão que dizem para se cortar na Educação é porque os seus filhos estão em colégios particulares sem qualquer sacrifício (sim porque ainda há pais que mesmo sem recursos insistem em colocar lá os seus filhos) e que não usam o Sistema Nacional de Saúde mas clínicas privadas (muitas subsidiadas pelo Estado e com médicos formados pelo Estado). Meus senhores, cortar no TGV é uma coisa que podemos ou não concordar sem qualquer hipocrisia. Mas exigir cortar no Estado Social porque não o usam é de uma hipocrisia atroz.

domingo, setembro 26, 2010

Fundação Lloyd Braga- que papel deve ter?

Muito se tem dito do que o empreendedorismo é ou deve ser nas instituições de ensino superior. Tal como as patentes e os prémios recebidos pelos professores nesta ou naquela conferência, serve como marketing da instituição. Quando mais tarde outros se referem à Universidade do Minho, dizem que tem um dinamismo muito grande pois tem inúmeras patentes, empresas spin-off, prémios em várias áreas. Mas quando se pensa no professor que está por detrás de tais feitos, com algumas excepções daqueles que se põem em bicos de pés, não se sabe quem são e se foram posteriormente apoiados nas ideias que tiveram que deram origem a estes "notáveis"feitos. Nesse aspecto a Universidade assemelha-se muito às multinacionais, onde todos são anónimos, mas ao menos as multinacionais têm resultados práticos porque apostam forte nas novas ideias e têm financiamento para as levar por diante. As Universidades bem se podem queixar de não o terem. Mas se o tivessem, investiriam por exemplo nas spin-off como o fazem Universidades estrangeiras, como no Reino Unido a de Cambridge e a de Leeds, para mencionar duas que conheço? Não sei se o fariam ou se alguma o faz. Temos o exemplo da UM que investe em vários organismos que supostamente deviam ser activas no empreendedorismo, como a Fundação Lloyd Braga, participada a 100% pela Universidade e não o fazem. Para que serve esta Fundação? A Tecminho faz o seu papel de interface, mas como a designação "interface" indica, o seu objectivo não é o de participar em empresas, sendo ela própria "uma espécie" de spin-off de serviços da UM. Resta portanto a Fundação, entidade que noutras Universidades serve precisamente para isso, participar em empresas spin-off da UM. Fica aqui a sugestão.

quarta-feira, setembro 15, 2010

Fundação

Circulou um e-mail do sr.Reitor, convidando os docentes a se pronunciarem sobre a possibilidade da Universidade do Minho passar a Fundação, matéria que estará a ser objecto de estudo por parte do Conselho Geral. Ora embora esta seja uma atitude saudável e de saúdar, é de questionar porquê que na altura das eleições para o Conselho Geral a lista que apoiava o actual reitor não colocou esta questão fundamental para a UM no seu programa eleitoral. Dessa forma teria muito mais legitimidade para avançar com esse projecto. Doutra forma, conhecendo a apatia geral dos docentes em alturas fora dos actos eleitorais, será pouco provável que haja uma participação activa suficiente para legitimar esta decisão tão importante para o futuro da UM.

domingo, setembro 05, 2010

Os cursos e os diplomas pós-Bolonha:a análise que se impõe

Consta que com o processo Bolonha as licenciaturas passaram a Mestrados Integrados nas Engenharias por um golpe de mágica. Por outro lado as licenciaturas de menos de 5 anos não são aceites como tal, sendo o mais recente caso o do Bastonário da Ordem dos Advogados recusar a estágio diplomados com o curso de Direito (menos de cinco anos). Os cursos são curtos, os alunos não têm mais classificações ao entrarem para o ensino superior do que tinham antes de Bolonha, por isso é normal que os empregadores desconfiem que os alunos não saiam com o mesmo grau de conhecimento. Mas e os Professores? Estão conscientes da diferença? As razões da implementação do processo de Bolonha foi para fornecer o mercado de trabalho com profissionais rapidamente e para que os cursos fossem todos equivalentes na Europa. São razões lógicas. Mas o resultado é esse? Os Professores fizeram essa transformação nos cursos? Consta que não. O que aconteceu, ao que parece, foi a adaptação dos cursos de 5 para 3 anos, fazendo um corte-e-cose e uma compactação. O ensino teórico foi ainda mais compactado (ou truncado), pelo facto de grande parte das disciplinas (UCs) serem de projectos interdisciplinares que exige dos alunos um trabalho prático em grupo com uma apresentação de um relatório. Aliás o ensino com avaliação em trabalhos de grupos tem vindo a substituir a avaliação com base em testes escritos individuais o que implica uma avaliação niveladora, isto porque se verifica que as classificações são para o grupo, e mesmo entre grupos é difícil distinguir na avaliação obtida uma distinção real. Raros são os alunos que reprovam neste tipo de avaliação o que torna o ensino superior mais permeável a alunos "espertos" ou "penduras". Não se julgue que isto só se aplica ao ensino do 1º ciclo ou licenciatura. Os programas do 2º ciclo, Mestrado, e os novos programas doutorais vão também no mesmo sentido. Estes últimos encurtaram por um ano o tempo para a investigação, preenchendo o primeiro ano com UCs daquilo que se costuma designar por "encher chouriços", tais como Metodologias de Investigação e outras que o aluno dispensa, pois é o seu supervisor que teria obrigação de lhe transmitir essas "metodologias", ou então também não serve como supervisor/orientador.
O outro lado da moeda, que é positivo, é a prática que os alunos adquirem do trabalho em grupo e alguns também desenvolvem aptidões tais como a de” tomar a iniciativa”.
O que precisamos de futuro é de olharmos menos para dentro e olharmos mais para fora, procurando junto do meio empresarial saber o que se espera dos licenciados. Quais os conhecimentos, quais os "skills" e o perfil do licenciado que se pretende. Devia-se fazer uma auto-análise a todos os cursos e melhorar os aspectos negativos, nomeadamente a avaliação.
Seria ainda preciso a meu ver não só auscultar mas também transmitir aos empregadores e às Ordens o essencial sobre cursos que a Universidade fornece, para assim se evitarem mal-entendidos e para que os nossos alunos não enfrentem a desconfiança que paira na sociedade em geral sobre os cursos pós-Bolonha.

terça-feira, agosto 31, 2010

Regras de Concurso para Professores na UM: 2- Parametros de avaliação com limites pré-definidos

Ainda sobre o Regulamento para o concurso para Professores Catedráticos, Associados e Auxiliares (ver última mensagem) verifica-se que a reitoria da UM estabelece limites aos parâmetros de avaliação que por exemplo o Instituto Superior Técnico não estabelece mas antes deixa ao critério das Unidades Orgânicas (ver DR de 12 de Agosto passado). No despacho do reitor que precede a proposta de regulamento sobre a avaliação dos Professores alega-se que esta proposta é efectuada de acordo com o artigo 37, alínea r) dos Estatutos da UM. Mas esta alínea não é clara no que respeita a esta matéria como se pode ver no seu enunciado: artº 37: Compete ao reitor..r) aprovar os regulamentos previstos na lei e nos estatutos, designadamente os regulamentos gerais em matéria pedagógica, sem prejuízo do poder regulamentar das unidades orgânicas no âmbito das suas competências próprias;
Pergunta-se: os concursos para o quadro são regulamentos gerais em matéria pedagógica? Penso que seria esticar muito o conceito de matéria pedagógica. …
Já me pronunciei sobre o risco de subjectividade na avaliação pedagógica na mensagem anterior. Sendo assim agora pergunto porquê esta preocupação da reitoria (ou Pró-reitoria) em estabelecer limites que as Escolas poderão considerar excessivamente amplos para a componente pedagógica? Será porque a matéria que a alínea r) do regulamento explicita é pedagógica? Não haverá uma alínea para a matéria científica? Penso que este regulamento foi posto à discussão pública para nos pronunciarmos sobre ele. Assim, fica aqui o meu "pronunciamento" de que há uma grande confusão de quem legisla sobre o quê na UM e sobre o grau de autonomia das Unidades Orgânicas e sub-orgânicas. A meu ver, é por aí que se deve começar antes de legislar!
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quarta-feira, agosto 25, 2010

Regras de Concursos para Professores 1- Avaliação pedagógica vs científica

Recebemos por e-mail a proposta proveniente da reitoria sobre regras dos concurso para os Professores da UM. Sem fazer uma análisa em tempo de férias (ainda) há uma ou duas questões que me preocupam. Uma é a quase equivalência nos pesos da investigação científica e da componente pedagógica na avaliação a que são sujeitos os candidatos (entre 35 e 50% para o desempenho científico e 30 a 45% para a capacidade pedagógica). Se por um lado no passado os concursos davam um peso muito maior ao desempemnho científico, talvez até de mais, agora estão equiparados, como se a compensar a preponderância da componente científica do passado. Pior a emenda que o soneto, como se costuma dizer. Mesmo sem entrar pela discussão sobre o que é mais importante para a Universidade (e para o País), se uma Universidade de Investigação ("research University") ou uma Universidade de Ensino ("teaching University"), há outras razões relacionadas com o resultado do concurso em si; a mais evidente é aquela que diz respeito à avaliação em si, muito mais subjectiva no caso da avaliação pedagógica do que na componente científica, podendo levar a injustiças na ordenação dos candidatos. Afinal quem avalia um texto pedagógico? Um artigo numa revista internacional passa pelo crivo duma avaliação dum painel de revisores, uma Acta de conferência internacional, embora não tenha o mesmo grau de avaliação, também passa por uma comissão científica da conferência. Mas um texto pedagógico, qual a avaliação a que é sujeito? Qual o critério? número de páginas? A apresentação? A originalidade? Quem o avalia, o próprio júri do concurso? São perguntas que penso que ninguém tem ainda uma resposta que satisfaça cabalmente aqueles que defendem que a avaliação científica deveria predominar.

terça-feira, agosto 17, 2010

Verão Quente e as causas dos incêndios: esqueceram-se dos eucaliptos?

Como vem acontecendo quase todos os anos, os incêndios devoram as florestas. O Verão mais quente 5ºC que o habitual não ajuda mas o que realmente não ajuda são as políticas para a floresta que prevaleceram neste País nas últimas décadas, com o predomínio do eucalipto e do pinheiro nas nossas florestas. Pergunta-se porquê que esta situação se perpetua? A meu ver será a indústria de pasta de celulose (papel) uma das grandes culpadas. São indústrias que dizem ser exportadores e contribuirem significativamente para o produto interno bruto e para as exportações portuguesas. Pois pode ser que sim, mas a que custo? Alguém pesou os prós e contras da existência, apoio e incentivos que se dá a esta indústria? Não e penso que a razão será política. Os nossos governantes acham que não há indústria que possa substituir esta que obtenha os mesmos índices de exportação. A indústria de celulose tem outros malefícios a começar pela poluição, visível na Ria de Aveiro, por exemplo, e o cheiro, que quem passa na autoestrada A1 perto de Cacia bem conhece. Quem lá vive parece que já nem cheira, por tal cheiro estar de tal maneira entranhado que nem o sentem. Além do mais as indústrias de celulose têm acesso aos subsídios do Estado como qualquer outra indústria. Esta despesa, de todos nós, também devia ser contabilizada e adicionada aos outros custos já mencionados. Sem falar nos efeitos que os eucaliptos têm nos solos e na fauna. No caso dos solos, todos conhecem a expressão que "é como o eucalipto, seca tudo á volta" quando alguém se quer referir a um indivíduo que é prejudicial ao bom ambiente social. No que respeita à fauna, dizem que nem os mosquitos lá param o que é natural pois o óleo de eucalipto é utilizado como repelente. E então, porque se fala em limpar matas e não se fala em "limpar" eucaliptos? Mesmo o "povo" que combate os incêndios não fala nos eucaliptos. Porquê? Talvez porque para muitos deles é o seu sustento pelo que não seria de esperar que se queixassem. Preferem queixar-se da estratégia de combate aos incêndios e dos próprios bombeiros do que dos eucaliptos. As suas casas estão muitas vezes rodeadas de eucaliptos mas as culpas são dos bombeiros que não chegaram a tempo! Se fosse por mim, quem devia atacar o fogo seriam as empresas de celulose! Era mais lógico.
Os eucaliptos também servem de rastilho para que outras espécies autóctones também ardam, como se pôde ver no Soajo. Em vez de estabelecer um perímetro á volta do Parque da Peneda Gerês em que nemhuma espécie que arda, seja eucalipto, pinheiro ou outras espécies exóticas como as acácias e as mimosas, seja plantada, não! O que fazem? Deixam essas espécies e até madeira já cortada e pronta para ir para os madeireiros e as empresas de celuloses rodear o Parque e como muitos testemunharam, dentro do próprio Parque. Depois choram lágrimas de crocodilo que o único Parque Nacional já ardeu em 40%. Neste País, há gente com vontade de mudar este estado de coisas, mas essa gente desiste após deparar-se com a inércia e mesmo a oposição das autarquias, dos governos e dos próprios moradores. Para o Verão há mais do mesmo, podem ter a certeza, a não ser que alguém de cima implemente um verdadeiro ordenamento das florestas, incentivando a sério a plantação de espécies autóctones e limitando a zonas isoladas os eucaliptos, de forma que não possa haver propagação provocada pelo fogo dos eucaliptos a outras espécies e a zonas povoadas. Podia-se fazer o mesmo para os pinheiros, mas estes sempre existiram e não havia incêndios no tempo do rei D. Dinis, que se saiba, por isso desconfio que é a sua mistura com eucaliptos que provoca a sua ignição. Ou então...cimentem o País todo no local onde estão eucaliptos, pintem de verde, porque a diferença em termos da influência noutra flora e em relação à fauna seria o mesmo, o aspecto não seria pior e pelo menos não ardia de certeza!