quarta-feira, agosto 03, 2016

Livros de férias- City of God

Li dois livros durante uma deslocação a uma conferência na República Checa, e recomendo um para férias, "The City of God" de E.L.Doctorow. É o tipo de livro de substância que contrabalança com o vazio intelectual que as férias proporcionam. “City of God”, é um livro que começa de uma forma, sobre a teoria do espaço interligado com o advento do Mundo visto por um pastor anglicano norte-americano. É uma análise surpreendente do "big bang" que o autor procura justificar também com a religião e a formação do Universo pelo grande arquiteto, Deus. Mas sendo de leitura densa, não deixa de ser muito interessante. O teórico passa rapidamente ao relato da vida do pastor, incluindo a sua relação com mulheres, o que chega a ser contraditório á sua conformação religiosa, tratando-se de adultério. Não deixa de ser interessante ao revelar a hipocrisia que existe por esse mundo, ao se pregar uma coisa e fazer-se outra. Também é original o facto do pastor ser judeu de nascimento e pastor cristão quando adulto. Aliás uma grande parte do livro relata o seu passado num ghetto judeu controlado pelos nazis, na Estónia. O que se passava no ghetto e o que os judeus faziam para sobreviver é deveras chocante. Todo o livro incide sobre o cristianismo e o judaísmo, e o mote de partida é um acontecimento intrigante, relativo a uma cruz que é roubada da igreja de Pem, o pastor anglicano, e que acaba no telhado de uma sinagoga. A partir desse episódio, cometido por um desconhecido, toda uma relação se estabelece entre o pastor e o rabi, Joshua, e sua mulher, Sarah. Não querendo divulgar o final do livro, levanto o véu advertindo o leitor para um desfecho inevitável da relação destras três personagens e da condição religiosa de Pem, o pastor anglicano. Na religião, como na ciência, quando se questiona demasiado aquilo que nos ensinaram ou que aprendemos lendo e estudando, acaba-se por ser engolido por uma atitude de crítica constante. Talvez seja mais prudente mantermos sempre uma linha de pensamento constante, por muitas contradições que surjam no caminho a essa "teoria" de base. Talvez esteja enganado, mas penso que esta é a ideia que este livro pretende transmitir.

domingo, julho 17, 2016

Ministro tenta travar praxes

Na imprensa desta semana vem a notícia que o Ministro da Educação afirmou em audiência parlamentar que vai escrever a todos os reitores para que proíbam as praxes. Foi uma medida corajosa e que já devia há muito ter sido tomada apor anteriores ministros que o antecederam. Tudo o que o ministro disse sobre as praxes já foi dito e redito por muitos nomes conhecidos da política e da sociedade. Os jovens que morreram na praia do Meco ou no muro de Braga, são a consequência mais grave das praxes. Há ainda o jovem de Famalicão. Todos estes trágicos incidentes não tiveram culpados. Não foi possível juntar provas. Em alguns casos, como o da praia do Meco, uma vez que só muito mais tarde, depois da casa ser limpa, é que as autoridades revistaram a casa. Não vou aqui servir de inspetor para procurar provas, mas que ninguém consegue tirar da minha cabeça, assim como acontece com a maior parte dos que souberam dos pormenores que antecederam a tragédia, que aquilo foi consequência de uma praxe, em que o "dux" foi interveniente na tragédia, isso não conseguem. Nem chegou a ir a tribunal acusado de homicídio involuntário, por negligência na forma como conduziu a praxe, aparentemente ordenando que os praxados estivessem de costas para o mar. É a justiça que temos. No caso do rapaz de Famalicão, chegou-se ao cúmulo da mão ser acusada por um dos membros da tuna envolvida no trágico incidente, tê-la acusado de difamação! Como é possível, a praxe estar de tal maneira aceite pela sociedade, que nem mortes ocorridas não fazem todo um povo revoltar-se? Já aqui exprimi que é uma espécie de doença da nossa sociedade que tem medo do poder oculto que está por detrás dos praxistas, algum desse poder chegando à igreja, sistema judicial e obviamente órgãos de poder ou influentes na Universidade, estes protegendo as ações dos praxistas, ou simplesmente pactuando com elas. O ministro chamou-lhes "fascizantes" às praxes. É uma afirmação que nos faz pensar. Afinal, independentemente dos nomes que se lhes atribuem mais ou menos honrosos, tais como a integração de estudantes na vida académica, são também atos de submissão perpetrados por “bullies” que não têm outro objetivo para além de humilhar os praxados o que por si só justifica a afirmação proferida pelo ministro. Não haverá outra forma mais digna de integrar os caloiros? Porque não promovem o convívio e a receção ao caloiro, com festa e alegria, sem a componente da praxe? Da forma como o fazem agora, com a praxe, parece-me mais uma barreira que uma integração. No que respeita à UM, pareceu-me que a resposta do reitor da UM foi um pouco ténue, falando vagamente em valores humanistas e liberdade para todos. Isto o que é? Que tipo de resposta é esta? Não se entende. Um reitor que proibiu há algum tempo atrás praxes no campus, mas que as deixa praticar tais atos à vista de todos nas imediações, é o mesmo que fazer nada. Aliás as praxes continuam dentro do campus, embora transvasem para as imediações. O ministro não pode ditar regras às universidades devido à autonomia que foi concedida às universidades há muito tempo. Mas se a autonomia serve para evitar atuar, nomeadamente nestes casos gritantes de injustiça e prepotência por parte das Associações dos Estudantes e duma elite dentro da Associação que dirige as praxes, quase como uma estrutura autónoma, atuando impunemente perante os mais fracos daqueles que supostamente representam, os estudantes, então preferiria que não houvesse autonomia. O reitor não pode ir a votos de novo, mas apoiará um sucessor. Nessa altura será necessário ser claro na sua atitude que até agora tem sido ambígua no que respeita à praxe, para que quem o suceda, e a lista que o apoiará, seja também sujeito ao escrutínio da academia neste ponto tão relevante para a vida académica.