sábado, setembro 05, 2015

Catch 22 situation

A Universidade do Minho passará a Fundação muito em breve, de acordo com as últimas informações, uma das quais do reitor. Não seria tão mau assim, se não fosse o facto da instituição estar há muitos anos nas mãos de uma "dinastia" que atua como se a UM fosse a sua quinta. Começando pelo topo, o reitor atual foi sancionado e apoiado pelo seu antecessor. O anterior já o tinha sido pelo seu antecessor e assim sucessivamente. Pode-se dizer que é o que a distingue das outras Universidade mais antigas e maiores, que se regem pelas regras da alternativa. Com a Fundação, a mesma "gente", desde os órgãos dominados pelos professores, começando pela reitoria e Conselho Geral e acabando nas Escolas e sub-unidades orgânicas, e os órgãos dominados pelos funcionários do "regime", nomeadamente os SASUM e os diretores dos serviços, muitos nomeados pelo reitor, atuarão da mesma forma, promovendo os do seu grupo restrito, e deixando para trás os outros. Como se chegou a este ponto? Principalmente devido à inércia dos membros da Academia ao longo dos anos. Deixam para um grupo muito ativo de pessoas, conhecidas aliás por todos, a "política", porque estão ou apáticos ou demasiado envolvidos nas suas atividades letivas e de investigação. Também durante muito tempo não havendo o risco de casos mais graves para os professores, tais como despedimento, ninguém se incomodou com essa situação. Agora que se desenha no horizonte um maior risco para os próprios, como o despedimento ou a possibilidade de ficarem para trás irreversivelmente, não sendo promovidos, já soam as campaínhas de alarme. O reitor já iniciou o "emagrecimento" da instituição, forçando o despedimento ou a diminuição de horas até ao insignificante, a professores sem vínculo, em unidades orgânicas onde os há em maior número, como sejam os leitores nas humanidades. O RJIES permite extinguir serviços deixando em aberto o que acontecerá aos professores. No caso dos funcionários, é certo que os funcionários públicos não podem ser despedidos, e continuarão a manter esse estatuto mesmo com a Fundação. Mas há a possibilidade da mobilidade para aqueles que não tiveram excelente ou muito bom, e como muitos funcionários tiveram excelente na avaliação do SIADAP não devido às suas qualidades mas devido à fragilidade do sistema que permite que um júri, controlado por membros nomeados pelos do "regime", premeie os funcionários que entender e arranjam as justificações de acordo com os objetivos que eles próprios delinearam, os mais expostos à mobilidade serão os outros mesmo que sejam competentes. Assim é e sempre será no funcionalismo publico quando minado por uma hierarquia instalada demasiado tempo nos lugares de topo. Em democracia parlamentar, pelo menos há um votação direta para acabar com esta situação. No Ensino superior houve quase sempre um filtro, e agora há mesmo um colégio eleitoral, o Conselho geral. Voltando ao princípio, se quem participa nas eleições para o Conselho geral estivesse atento e fosse mais empenhado, poderia votar numa maioria que seria uma verdadeira alternativa. Aqui também se deparam com a falta de candidatos em que se revêem, ou que consideram capazes, porque muitas vezes os melhores, como já referido atrás, por que estão muito envolvidos noutras atividades não se envolvem ou não se querem envolver. E assim repete-se o ciclo dos mais interessado em manter o poder conseguirem alcançar a maioria no CG e eleger o reitor, que estará de qualquer forma já predeterminado. Não será este reitor especificamente, porque ele é também a consequência de toda uma máquina montada por uma pequena minoria muito ativa, que o quis lá, para poder manter os seus privilégios. Assim, sem uma mudança de atitude dos professores quando for da próxima eleição para o Conselho Geral, será com o próximo. Assim, não há volta a dar, sendo o que Joseph Heller designou por "catch 22" situation, ou como em bom português, pescadinha-de-rabo-na-boca.

segunda-feira, agosto 31, 2015

A Fundação aí está

A Fundação parece que vai mesmo para frente, a julgar pela pressa com que o reitor submeteu ao Conselho Geral a proposta. Esta iniciativa juntamente com a coincidência do governo estar a finalizar o seu mandato, levam-nos a crer que há conjugação de interesses, entre a reitoria e o governo. Claro que passa no C.G. sem grande oposição, por este ser o nosso sistema: Um Conselho Geral eleito pela lista que apoia o reitor. Não sei se o Conselho Geral se mantém com a Fundação, mas nestes moldes não faz muita diferença. Podemos dizer que neste esquema instaurado pelo RJIES só o Presidentes de Escola, devido ao estatuto de autonomia das escolas, têm alguma independência relativamente ao reitor. A Fundação, segundo o RJIES, tem a tutela de um conselho de curadores, em número de 5, nomeados pelo governo. Estes curadores seguem pelos vistos as decisões do Conselho Geral, incluindo a destituição do reitor,visto de uma maneira simplista. Claro que devido á composição do Conselho geral, já referida, esse cenário é muito pouco provável. mas de qualquer modo, talvez com a Fundação o Conselho Geral ganhe importância. Vamos ver. Quanto a outros aspetos diferenciadores, há um curioso que aparece à cabeça: a Fundação é dona e gere o seu património,o que quer dizer que vamos ter vendas (e compras) brevemente de imóveis na UM? Eu sugeria que se vendesse a reitoria, no centro da cidade. Está num lugar muito apetecido por outros e com certeza que haverá um empreiteiro disposto a trocar por uns hectares para construir mais prédios quadrados para albergar mais salões de congressos, mais espaços para a Associação dos estudantes, mais parafarmácias, campos de golfe, ginásios, e tudo o mais que entusiasma os SASUM, à semelhança do negócio da quinta dos peões. O que vai acontecer é que a arbitrariedade nas contratações (e despedimentos?) e promoções vai continuar ou vai-se agravar. Só pode, como dizem os nossos amigos brasileiros!

sábado, agosto 22, 2015

Férias e livros

As férias são para relaxar: ir a banhos, ler um livro (ou dois) e passear.Pelo menos era assim. Procuro ainda manter os mínimos destes parâmetros. No meu caso, ir a banhos no Algarve, ler um livro de um escritor conceituado, já que leio poucos ao menos que sejam bons. Ir passear só em Portugal e eventualmente Espanha, evitando os aeroportos. O Algarve esteve como sempre, cheio de gente por isso quem gosta de algum sossego para poder relaxar, deve ir a sítios menos concorridos, praias com acessos mais difíceis e hotéis perto dessas praias. O livro escolhido foi de Don de Lillo, um conceituado escritor americano que ficou conhecido pelo seu livro "Libra", sobre o assassinato de John Kennedy, um livro extraordinário. Desta vez li "Mao II", um livro muito diferente do seu estilo habitual de relato de personagens violentas e cheios de ação, como no caso de Libra e de outro livro, Underworld. Neste livro trata-se da vida de um escritor relatado por uma fotógrafa conhecida que quer publicar fotografias suas, e que vive escondido há anos desde que publicou a sua obra prima, a escrever um novo livro que nunca considera que está pronto para ir para a editora. A segunda parte do livro perde um pouco esta mística de um escritor solitário, e avança para reportagens de guerra no Líbano, centrada em redor de um rapto de um escritor, como que a lembrar-nos que afinal é De Lillo o autor e não um escritor romântico enternecido por uma vida solitária de um outro escritor que eventualmente reflete a sua própria vida. Outro livro interessante que comecei a ler, é o "Lágrimas do meu pai", de John Updike, autor da trilogia da família Coelho (Rabbit), mas este lido em português. Devo dizer que não perde muito na tradução, que a meu ver está muito bem conseguida. Os da trilogia da família Rabbit, lidos em inglês tal como os de De Lillo, pela razão que não havia na altura tradução em português, são ricos na descrição das personagens e do ambiente que envolve essas personagens, indo ao pormenor, como é típico de Updike, de descrever plantas, árvores, ruas e casas que constituem o habitat destes americanos do sudeste os EUA, as Carolinas e a Virgínia, estados conservadores e que mais espelham a meu ver o americano típico da província, se é que existe um estereótipo americano, nação tão díspare entre norte e sul, este e oeste, cidade e província. Updike, mais próximo da sua morte em 2009, através de "short stories", talvez por essa razão centra-se muito na idade já avançada dos seus protagonistas dessas estórias, o que não é para qualquer um, especialmente alguém jovem. Os últimos livros de outro escritor conceituado, Philip Roth, lidos em férias anteriores, também seguem esta tendência. Mas como quem lê livros é cada vez mais a geração mais velha, talvez estes escritores estejam a acompanhar não só a evolução da sua idade, mas também, infelizmente, a tendência da era pós-internet e do facebook, You tube e twitter, para mencionar algumas redes sociais tão viciantes que absorvem todo o tempo livre antes dedicado, em parte, aos livros.