domingo, janeiro 18, 2015

A revisão do RJIES

Em fim de mandato do governo o ministro Nuno Crato lembrou-se do RJIES. Bom, mais vale tarde que nunca, mas se for para a frente seria melhor rasgar e escrever de novo. O RJIES não tem nada que se tenha provado nos últimos anos da sua aplicação que é positivo para as Universidades. No caso das Universidades-Fundação, será necessário outro tipo de análise, uma vez que também não houve tempo para analisar os efeitos a médio prazo nas Universidades que foram contempladas. A Universidade do Minho poderá vir a ser também uma Fundação, a julgar pelas notícias mais recentes. Mas o RJIES que tanta discussão gerou, deixou de interessar a quase todos na UM. Porquê? Talvez porque tal como está a funcionar na UM é um anacronismo. Tem órgãos de poder, como o Conselho Geral, que acaba por não ter poder nenhum, a não ser 4 em 4 anos quando elege o reitor. No intervalo, não tem poder. Poderá aparentemente considerar-se que é um poder deliberativo em questões tão importantes como por exemplo a aprovação de novos centros de I&D ou das contas, mas como em todas as outras deliberações, a lista que vota no reitor é depois do ato da votação, um veículo das deliberações do reitor uma vez que o reitor pode estar por de trás da formação dessa lista quando da eleição para o Conselho Geral. Esta situação anómala foi instituída pelos estatutos da UM que determina faze-lo por listas. Embora aparentemente independentes de interesses setoriais, tal com estipula o nº 9 do artigo 81 do RJIES, na realidade não é assim. Os alunos eleitos estão normalmente ligados à Associação dos estudantes e os professores apresentam listas em que pelo menos uma será liderada pelo pretendente a reitor, para assim procurar assegurar a maioria quando da sua eleição. Aquela ideia simpática que até membros fora da Universidade podem ser eleitos, não tem desta forma viabilidade na UM, como se verificou nas primeiras eleições. Seria mais democrático que o reitor fosse eleito por eleição direta por todos os membros da UM, mesmo que divididos em corpos, com diferentes pesos, mantendo os professores com mais peso que os outros corpos, alunos e não-docentes. Pelo menos haveria menos manobras de angariação de votos, como acontece agora na formação das listas. O reitor teria o seus vice-reitores na mesma e o grande parte da gestão seria entregue ao administrador, que seria nomeado pelo reitor. Se fosse mantido o regime de eleição pelo Conselho Geral, pelo menos que se fizesse a eleição dos membros por eleição individual, sendo eleitos para cada um dos corpos aqueles que teriam mais votos, até esgotar o número máximo para cada corpo representado no Conselho, no caso dos professores quando o 12º elemento fosse eleito. À semelhança do Conselho Geral, os Conselhos de Escola são também inúteis. Não é um órgão executivo funciona como uma réplica do Conselho geral, direcionado pelo Presidente de Escola através da lista que o indigitou. É um ciclo vicioso. Mas de vícios já o sistema tem uma longa história, por isso não admira que se tenha habituado e manipulado com naturalidade o RJIES através de eleições por intermédio de listas organizadas.

quinta-feira, janeiro 15, 2015

Doutorados

O novo programa do governo de introdução de doutorados nas empresas vem na sequência de uma análise do número de doutorados que em Portugal subiu de há uns anos a esta parte mais do que nos outros países europeus, e a constatação de que este crescimento exponencial cingiu-se quase só às Universidades e institutos públicos, ou seja no Estado. Mas alguém fica admirado com isto? Só quem não anda atento à evolução, ou não, das empresas. O que é notório é que nem o tecido empresarial evoluiu, nem os doutorados se especializaram no que as (poucas) empresas querem no que se refere a novas tecnologias, novos processos, novos produtos. Faz pensar no ouro do Brasil do século 16. É outra oportunidade perdida. Não há planeamento, não há objetivos, gasta-se o dinheiro de Bruxelas como se gastou o dinheiro do Brasil que foi desperdiçado na corte e desviado para o estrangeiro, em vez de ser investido em infraestruturas e indústria (na altura indústria têxtil, uma vez que as sedas vinham da Flandres). Mas ao reagir já tarde, embora seja elogiável, não vai resolver nada. As especialidades dos doutorados continuam a não se enquadrar nos desígnios das empresas, pela simples razão que são os mesmos doutorados que já não tinham lugar quando fizeram a sua investigação, por ser desadequada à assimilação pelas empresas, desde o início da sua formação. Só se passarem por uma adaptação à realidade, o que não será fácil de fazer nem há quem o faça, ou seja, desde que passem por um estágio, mas as empresas não querem estagiários, mas sim mão-de-obra. Estamos perante um ciclo vicioso, ou uma pescadinha de rabo na boca, e a pescada é o peixe que antes de ser já o era, o que também se aplica aos doutoramentos dissonantes das empresas. Ou por outras palavras, o que nasce torto não mais se endireita.

quinta-feira, janeiro 01, 2015

Um ano de I&D a começar com boas notícias para alguns

Inicia-se hoje mais um ano, o de 2015. Em 2014, ao cair do pano, houve um anúncio de verbas que centros de I&D classificados por excelentes ou excecionais irão receber. É pouco ainda, mas já é um bom começo para 2015. Os centros com Bom ou menos, não terão verbas relevantes ou mesmo nenhum investimento, sendo o sue futuro incerto. Se esses centros estão indignados, há outros que estão admirados, uma vez que nem todos os centros excelentes são de facto excelentes no que respeita a número de publicações e citações dessas publicações Só se entende essa classificação com a sua atividade mais relacionada com o mundo empresarial, nomeadamente em número de patentes e empresas spin-off que emanaram desses centros. Esta relação de facto transparece nos relatórios efetuados pelos avaliadores. Sejam quais foram as razões, não será no relatório do seu centro que encontrarão a explicação, uma vez que os relatórios tendem só a referir os aspetos bons, mesmo que não sejam suficientes para a sua aprovação. Ninguém gosta de pôr o dedo na ferida. Aconselha-se os centros que não foram bem classificados a lerem os relatórios dos que foram bem classificados, para poderem entender as razões pelas quais não foram também selecionados para uma segunda fase, o que garantiria a sua classificação pelo menos com Muito Bom. Também abriu o concurso para I&D em todos os domínios. Também se lê nas entrelinhas que a aplicabilidade dos resultados obtidos. Parece que finalmente se percebeu que ao I&D fundamental cresceu demasiado sem qualquer efeito no tecido empresarial português. Quem quer fazer I&D fundamental terá que o fazer com fundos comunitários, o que me parece razoável, uma vez que os resultados serão só absorvidos por grandes empresas europeias, uma vez que as nossas não têm capacidade, ou interesse, em o fazer.

sexta-feira, dezembro 19, 2014

Natal Mau e Natal Bom

O que eu não gosto da quadra natalícia: -boas festas de pessoas que não conheço -boas festas por e-mail de pessoas que não conheço -boas festas por e-mail de pessoas que não prezo -boas festas por e-mail de pessoas que não prezo em lugares institucionais -boas festas por e-mail de pessoas que não prezo em lugares institucionais de que nunca ouvi falar -boas festa em várias línguas -boas festas com a frase "um santo natal" -boas festas com a frase "santa Klaus" ou coisa parecida -boas festas em postais com música -música de natal em supermercados -música de natal em altifalantes da cidade -música de natal que nos dão "música" (anúncios) -música de natal cantada por pessoas que não sabem cantar -música de natal para promoção dos músicos no "natal dos hospitais" -músicos pimba a cantar no "Natal dos Hospitais" -display dos doentes dos hospitais no "natal dos hospitais" O que eu gosto do Natal: - luzes de natal (simples) - música White Xmas de Frank Sinatra - Bacalhau com todos na véspera - Perú no forno no dia, com recheio (stuffing) à maneira inglesa - Um bom vinho português a acompanhar - doces de natal (rabanadas, aletria, filhoses, azevias, formigos) - bolo rei, pela nossa tradição - Xmas cake, pela tradição inglesa E por fim -sentimento de família - sentimento de paz e.....desejos de.. BOM NATAL a todos de quem eu gosto e conheço ou pelo menos que não desgosto e para quem o sentimento é mútuo !

domingo, dezembro 07, 2014

Uma sociedade esfrangalhada por uma política hipócrita

O Governo humilhou muitos, fez perder a muitos aquilo que mais gostavam, a sua profissão, e ainda vai ficar mais um ano para terminar de enterrar definitivamente a esperança. O governo como é feito de anjinhos, ninguém vê que nos está a aniquilar com palavras mansas e jogando com as clivagens que a sociedade portuguesa tem, duma forma muito subtil sacia os preconceitos da sociedade: são os do setor privado contra os dos setor público, cortando nas "regalias" do público tal como a ADSE; são os empresários contra os desempregados, instituindo um plafond máximo de subsídio, são os "ricos" do setor público contra os mais pobres e vice-versa, procurando agradar à maioria do setor público, taxando mais os que ganham mais que são muito menos em número; os novos contra os velhos, permitindo despedimentos por "inadequação" às novas tecnologias e procurando desta forma agradar aos mais novos, são os que falam contra os do rendimento mínimo, apelidando-os para todos os efeitos de mandriões. Agora o primeiro ministro vem dizer que acabou com os que mandam nisto tudo e protegeu os "mexilhões". Quais? Os do rendimento mínimo que reduziu para mais de metade ou os velhos a quem lhes cortou o rendimento de solidariedade, os desempregados a quem vai introduzir um plafond para que não recebem mais que um subsídio (a que teriam direito), aos inquilinos que têm sido despejados a torto e a direito com a nova regulamentação da ministra, ou os jovens do ensino especial que não terão os professores que os acompanhem devidamente, já para não falar da escola pública em geral prejudicada pela política de incentivo ao ensino particular (cheque ensino e subsídios a colégios privados). É preciso muita lata ! E quais os donos disto tudo que foram destituídos por este governo? Ou o governo confunde-se com a justiça, o que é natural dado os recentes acontecimentos, ou é melhor estar calado uma vez que os poderosos e ricos são cada vez mais, e o governo com a baixa do IRC, por exemplo, só os beneficia ao beneficiar as grandes empresas, prejudicando os restantes cidadãos com um pesado IRS. O governo obrigou-nos a uma austeridade que foi muito mais pesada para os funcionários públicos e todos os que dependem dele (desempregados, alunos, professores, enfermeiros, médicos..) e está a destruir a sociedade tal qual nós a conhecíamos até há bem pouco tempo, instigando a clivagens e aumentado o fosso entre os mais ricos e os mais pobres. Essa é que é essa. A Espanha não mandou vir a troika e com exceção do emprego que já era muito superior ao nosso, está muito melhor que nós. Os partidos do governo forçaram a vinda da troika e o governo até foi para além da troika, não olhando a quem espezinhava. Agora, com o argumento que o governo anterior levou o país à bancarrota (só o governo anterior esbanjou ou muitas autoestradas já estavam construídas ou em vias de construção e os submarinos que "tanta faltam fazem", quem foi que os encomendou?) corta a torto e a direito, e força de facto a bancarrota de muitas empresas portuguesas e muitos cidadãos portugueses. Assim se vê a hipocrisia desta frase, já muito gasta de tanto uso.