quinta-feira, outubro 16, 2014

Qual o sentido da praxe

O processo da praia do Meco em que morreram 6 estudantes, foi re-aberto, após um arquivamento prematuro, muito por força da insistência dos pais e da exposição nos média. Nem sequer foi considerada na avaliação do processo a possibilidade das mortes terem sido causadas por uma praxe, o que é estranho, dada a evidência dos factos e das circunstâncias em que ocorreu o "acidente". O caso da queda do muro em Braga, embora diferente, é outra consequência das praxes, em que também houve estudantes mortos. Estamos de novo no início do ano letivo com as praxes a ocorrerem como se nada se aprendesse destes dois casos. Impressiona a inconsequência de tais tragédias nas praxes e não se percebe o que mudou. Os alunos ou são irresponsáveis ou são ignorantes ou o mais provável, continuam a ser esmagados logo à entrada por toda uma encenação dos mais velhos, de tal forma intimidatória que não se atrevem a faltar à praxe. Poderá ser que alguns gostem da praxe. Mas quantos gostam realmente de práticas extenuantes, em que se mantêm de pé, tal como os vemos quando passamos pelos agrupamentos, horas a fio, à chuva e vento, mal protegidos, muitos em T-shirt ou equivalente, obrigados a gritarem e a fazerem outro tipo de brincadeiras forçadas, que de brincadeira não têm nada? Então se é assim, porque não forma para as forças armadas? Lá só não há as brincadeiras forçadas, porque de resto há tudo o resto: permanecer de pé horas, obedecer cegamente à hierarquia, gritar coisas sem nexo, etc.
É um fenómeno de um misto de medo, teimosia em ser aceite pelos pares, vontade quase masoquista de sofrer para alcançar o patamar superior, e a possibilidade de se divertirem como bónus logo após a praxe, em bebedeiras gerais, que leva mais uma vez à inconsciência do seus atos.
Não entendo, nem muitos entendem, a não ser que seja uma penitência que está imbuída no seu ser, proveniente de séculos de fé católica que os moldou sem eles se aperceberem. Afinal Cristo também teve que morrer para poder ser ressuscitado. Será essa a analogia nos seus pensamentos íntimos?

terça-feira, outubro 07, 2014

Prós sem contras

No programa "prós e contras" de ontem, no Teatro Circo de Braga, tivemos a ocasião de ouvir dos vários intervenientes os prós de Braga e da UM em várias frentes, centrada nos jovens de Braga, e no sucesso da intervenção da UM na sociedade. Foram passando os minutos e os membros da "mesa", desde o Presidente da Câmara ao ex-secretário de Estado, agora responsável pela mais recente incubadora de empresas de Braga, a investBraga, falaram de uma realidade que dificilmente se pode imaginar como sendo aquela da cidade de Braga. O que é certo é que faltaram exemplos de todo esse dinamismo que foi referido, sendo que quase a única foi a Primavera que da plateia fez um relato que deve ter posto muita gente a dormir. Aliás,entre o enfado que as várias intervenções provocavam, ao enjôo de tantos elogios à cidade e à UM, faltou algum discernimento sobre a nossa realidade. Que a cidade é a mais jovem, refira-se como jovem o facto de ter a população mais jovem, é o que temos ouvido há mais de 20 anos. Será que ainda é? A emigração de jovens para a Suíça, França e Reino Unido, parte principalmente do norte do país e o distrito de Braga deve ser o epicentro dessa emigração. O norte do país deve ser a região do país com mais pobres. Tem talvez o maior desemprego. No entanto só o arcebispo referiu timidamente estes dados, não fosse destoar do otimismo e autoelogio de todos os outros presentes. Não se coibiu no entanto de regogizar-se com o trabalho que a igreja tem feito junto desses setores da população mais desfavorecida. A moderadora Fátima Campos Ferreira, parecia que dançava num mar de rosas, incentivando à enaltação por parte dos presentes dos feitos que fizeram para Braga ser a cidade que pintou quando da apresentação do programa. Não destoou em nada, não havendo lugar aos "contras" normalmente presente no seu programa. O reitor fez o que lhe competia, referindo a Universidade como uma "research University", e até pecou por ser parco nas palavras, não deixando no entanto de referir mais um ranking onde a UM figura à frente das outras universidades portuguesas. Não disse no entanto o óbvio, que os rankings são baseados em critérios que nem sempre são objetivos. O discurso de quase euforia teve um pequeno solavanco com a intervenção de José Mendes que se queixou que a região merecia receber mais investimento por parte do poder central, considerando ser uma região exportadora e que muito contribui para a riqueza do país por esta via. Esqueceu-se da auto-europa e da Galp, as maiores exportadoras, situadas perto de Lisboa. Ainda houve lugar ao protesto do reitor sobre o financiamento dos centros por parte da FCT não ter contemplado um centro de I&D que tem no seu seio um investigador que fez parte da equipa de um nobel da física, com trabalho na área do grafeno. António Murta fez o discurso de exaltação deste investigador. Quase que estávamos ombro a ombro com os prémio nobel com tal exaltação! Foi o ponto alto da noite. Foi uma noite surrealista em que Braga se elevou acima das nuvens, o que ao menos já é uma melhoria para Braga, habitualmente debaixo de nuvens.