domingo, julho 15, 2012

Requiem pelo cursos têxteis

Ao ver a lista de cursos que vão funcionar na UM neste próximo ano lectivo, verifico que não aparece o curso de Engenharia Têxtil. A ser verdade, esta omissão será o epílogo do inevitável declínio de um curso que foi dos primeiros cursos da UM, e que na altura veio cobrir uma lacuna numa indústria que não tinha engenheiros formados em Portugal mas que ao longo dos anos se veio a revelar menos interessante para os candidatos ao ensino superior, porventura influenciados por notícias de uma indústria em crise. O curso passou a pós-laboral há uns quatro anos atrás com a intenção de captar novos públicos, como os alunos que trabalham na indústria e que querem mais qualificações, ou mesmo alunos que não trabalhando na indústria têm uma ocupação diurna e que podem desta forma tirar um curso superior, neste caso em engenharia têxtil. Infelizmente os alunos foram diminuindo em número e as notas de entrada também seriam das mais baixas dos cursos da UM, o que indiciava que nem esta alteração tinha motivado os candidatos ao ensino superior a candidatarem-se a engenharia têxtil. É um fenómeno estranho, que ocorre precisamente quando a indústria está muito mais moderna, competitiva e com o aumento das exportações não tem tido mãos a medir. Têm necessidade de especialistas têxteis com o curso superior, sejam engenheiros ou químicos, sendo que não só não conseguem engenheiros, como também não conseguem químicos, uma vez que o curso de química-ramo materiais têxteis também acabou. O fim deste curso foi fruto de uma alteração do ramo têxtil para uma opção não obrigatória, o que implicou um desvio de alunos para as outras opções, fomentada pelos respectivos docentes. Assim, aos poucos, houve uma capitulação dos responsáveis pelo departamento de engenharia têxtil ao longo dos anos e dos directores dos respectivos cursos, demonstrando um fatalismo e uma incapacidade para novas opções que serviriam na mesma o departamento e a própria indústria. Há uns anos propus que o departamento se virasse para os materiais, o que não foi atendido. A mudança foi para o Design para o qual o departamento não tem todas as competências necessárias, muito longe disso. Sugeri também que não aceitassem a proposta do departamento de química no que respeitava à opção têxtil, sem garantia de um mínimo de alunos. Fui afastado da comissão de negociações. É com pena que vejo que o curso que justifica a existência do departamento, o de engenharia têxtil, desaparece, e nunca é demais insistir que não tinha que ser desta forma, sem glória. Só nos restam as memórias de dois cursos, o de engenharia têxtil e o de química-ramo materiais têxteis, que forneceram durante anos quadros especializados que quero crer fizeram um bom serviço à indústria e ao país, que neste momento tanto precisa de indústrias exportadoras.

domingo, julho 01, 2012

INL-Laboratório Ibérico de Nanotecnologia

Num evento que ocorreu no INL esta semana que passou, os empresários foram convidados a uma apresentação dos projectos do INL. O Diário do Minho comentou que as empresas que lá estavam não entenderam a utilidade dos projectos ou dos equipamentos do INL. Porquê que isto não me surpreende? Todos esperávamos algo de inovador e relevante para o País quando este instituto foi anunciado. Mas isso foi quando a nanotecnologia se vendia bem pois tudo era fantástico nesse mundo nano e todos gostamos de passear a nossa imaginação por esse mundo fantástico em que muitos pensavam que seria o futuro mas já próximo. Os empresários são mesmo assim, procuram soluções para os seus problemas e quando não encontram soluções que os seus fornecedores mais imediatos lhes sugerem, andam ás voltas pelos locais mais óbvios: universidades. O INL nesse aspecto também é como uma Universidade, tem I&D que baste mas não tem ligações à indústria, nem forma de as conseguir, pelas mesmas razões das Universidades, que são várias. Uma delas é o conceito de investigação fundamental que não se orienta por prazos curtos, que seriam do agrado das PME que constituem a maior parte das indústrias portuguesas. Multinacionais ou mesmo grandes empresas nacionais, talvez tenham capacidade para absorver as tecnologias ainda em fase de desenvolvimento, ou mesmo ainda de investigação, porque podem prosseguir com o seu desenvolvimento e endogeneização com as suas próprias equipas de I&D. Agora as PMEs do nosso tecido industrial e especialmente do norte do País que muitas vezes nem laboratórios bem equipados têm nem equipa de I&D, que poderão fazer com essas tecnologias que na maior parte dos casos são ainda projectos de I&D? Não quero com isto dizer que foi mal pensado o INL. Foi mal concebido o que é diferente. Tal como está, concorre com as Universidades, com os mesmo tipos de projectos e os mesmos equipamentos, incluindo a UM. Estando à porta da UM até é aberrante, tamanho investimento em equipamento muito dele já existente na UM. Ao menos que ele seja utilizado pelos investigadores da UM, se forem mais recentes ou diferentes e porventura essenciais para a investigação dos investigadores da UM. Temos um INL numa zona nobre da cidade que poderia ter sido uma zona verde. Mas não, talvez a visibilidade fosse importante e por isso não foi para a periferia, como foi por exemplo o AvePark. Ma a visibilidade pode-se tornar embaraçosa, porque por ali passa muita gente de carro que poderá indagar-se o que estará a fazer ali aquele edifício branco? A cor pode até levar alguns a incluir um paquiderme na frase, ao não perceber para que serve. Com muitos projectos de alto nível universitários, infelizmente quem vai usufruir do que por lá se investiga vão ser as multinacionais estrangeiras e pouco ficará no País. Talvez em Espanha, um pouco à frente de nós, usufruam da I&D que por lá se faz, mas também não serão muitas mais as empresas que o farão. A história repete-se em Braga. Tivemos o Idite-Minho que para a altura era também inovador e deveria sobreviver com base na sua transferência de tecnologia para a indústria. Não o conseguiu, reduzindo-se a uma infinitésima parte daquilo que era quando arrancou. Não sei qual é o esquema de financiamento do INL, mas se não estiver por debaixo de um chapéu como a FCT em Portugal e a sua congénere em Espanha, poderá ter o mesmo destino que o Idite-Minho. A meu ver, a única forma seria a sua integração na Universidade como um Centro de Investigação, talvez partilhado pela Universidade de Santiago de Compostela, concorrendo com os outros centros a projectos nacionais e internacionais, mas beneficiando da massa cinzenta já existente na UM, e dos investigadores com bolsa da FCT que são muitos na UM em vez de suportarem salários de investigadores que se tronarão cada vez mais pesados para o orçamento do INL, especialmente no clima de crise que Portugal e Espanha atravessam