quinta-feira, junho 19, 2014

A insustentável alienação dos académicos

Ás vezes temos a sensação de que estamos mal onde estamos. Se vivêssemos noutra cidade estaríamos melhor; se vivêssemos noutro país melhor ainda. Se estivéssemos noutro emprego, e no nosso emprego mas noutra entidade, no meu caso universidade, se estivéssemos noutro tempo...
Dizem que é próprio do ser humano estar insatisfeito. Há no entanto uma boa percentagem que está bem onde está. Vem isto a propósito do último "post" que fiz sobre a permanência em certos lugares de topo da instituição de alguns colegas nossos, que perpetuam o seu lugar como se realmente estivessem no sítio certo e não encontrariam outro melhor, fosse noutra condição ou mesmo fora de todo o que fizeram até à data. Penso que lhes fazia bem, a eles e à instituição. Uma ótima experiência que aconselho, longe das burocracias e das guerras intestinas dos académicos é o empreendedorismo. Cruzamo-nos com gente de outras proveniências, empresários, quadros e técnicos de empresas, diretores e empregados de organismos públicos, e outros. Os académicos, têm a tendência de viver para dentro, enquanto os empresários e os que trabalham para/com eles vivem para fora, procuram clientes e colaboradores. Cruzam-se com todo o tipo de profissões, vivências e projetos que lhes dão uma visão mais real da vida. Essa é que é a realidade. Os académicos vivem do que observam à sua volta, no meio académico, e do que leem nas revistas da especialidade, nunca saindo muito daquele mundo restrito das conferências e papers. Mais parece um mundo dentro de outro mundo.
 O que faz falta, é tirar-lhes o tapete, para bem deles. Obriguem-nos a vir cá para fora, nem que seja uma vez por ano, passar um ano numa empresa, e aposto que vai haver uma lufada de ar fresco no ensino superior e que os que se agarram aos lugares vão querer largá-los ao perceber a insignificância desses lugares no mundo exterior.

sábado, maio 31, 2014

A renovação e a rotatividade em risco na política e nas sub-unidades da UM

Há pessoas que realmente estão agarradas ao poder ! Tanto na política como até nas Universidades. Até fazem ou alteram estatutos para se perpetuarem no poder. Neste momento está a acontecer no PS com a entrada em cena de António Costa. Hoje saber-se-á que manobra o presente secretário geral tomará para evitar a eleição de António Costa. Já se sabe que não vai convocar um congresso extraordinário que seria arriscado para ele. Felizmente a lei geral que incide sobre as autarquias veio limitar a eternidade dos mandatos dos presidentes de câmara.
Nas Universidades, a mesma ideia, não podendo os reitores e os Presidentes de Escola ter mais de dois mandatos. Mas quando descemos na hierarquia dos órgãos, vemos que alguns departamentos e centros de I&D não têm essa restrição, nomeadamente as sub-unidades da Escola de Engenharia, sendo um desses exemplos o Conselho Pedagógico dos cursos de Engenharia e o Centro de Ciência e Tecnologia Têxtil, este último que conheço bem e que não impõe qualquer limite ao exercício do cargo de Diretor. Estes estatutos do Centro de Ciência e Tecnologia Têxtil foram propostos pelo atual Diretor e, tudo indica, candidato à eleições das próxima semana. Não se entende tais discrepâncias, sendo a rotatividade essencial em todos os órgãos, sejam eles Unidades ou sub-unidades. Por interesses pessoais ou por descuido na uniformização dos estatutos entre Unidades e subunidades por parte dos dirigentes das Unidades, existem estas discrepâncias entre sub-unidades, prejudicando a rotatividade e eventualmente a renovação das políticas, tão necessário nos tempos que correm em que o mérito não pode ficar para segundo plano, refém de estatutos inquinados.
Também o congelamento das admissões na função pública torna a renovação muito difícil. Nas Universidades, não deve já haver professores de carreira com menos de 35 anos! É urgente o descongelamento das admissões sob pena de não haver Universidades, tal como as conhecemos, dentro de 20 anos!

domingo, maio 25, 2014

Eleições hoje e amanhã

Mais uma eleição europeia em que a abstenção foi quem ganhou e em que os partidos tiraram as ilações que lhes convinha. A Aliança PSD/CDS não obteve sequer 30%, mas fala mais da expressão menor do que se esperava para o PS. O PS por sua vez fica satisfeito com os resultados que se situam abaixo dos 40% . Infelizmente para o País ninguém tira as ilações que devia. O governo saíu derrotado e o PS dececionou. O que seria de esperar era que o governo do PSD/CDS se demitisse e o PS mudasse de líder, isto sem qualquer animosidade em relação a José Seguro. Mas isto seria o que se esperaria e o que afirmarão amanhã ou nos dias seguintes os comentadores mais esclarecidos.
Amanhã serão as eleições "europeias" da UM, ou seja as eleições para o Senado. A abstenção será tão grande ou maior que nas eleições europeias; o Senado tal como o Parlamento Europeu é um órgão sem poder, um órgão consultivo. Esperemos que no fim os vencedores e vencidos não tirem as ilações que lhes convém, tal como as eleições europeias, mas que tirem as ilações mais lógicas e consequentes.
Há uma diferença, é que os candidatos nestas eleições para o Senado, não vão ter um emprego bem pago e com viagens em primeira classe. Terão, isso sim, um período da sua vida académica, em que fazem menos investigação ou outras atividades que teriam interesse para o se currículo, um período de discussões estéreis, frustrações (aqueles que levam o cargo a sério), e porventura até afetará as suas vidas privadas. Oxalá me engane.

domingo, maio 11, 2014

Assim vai o reino da..Cratogracia

O estatuto da UM, derivado do RJIES. prevê um órgão consultivo, O Senado, que não se sabe ao certo quais as competências reais. No entanto há umas almas que se candidatam com as melhores das intenções, uma vez que pensam fazer a diferença. Boa sorte é o que lhes desejo, embora desconfio que vão acabar frustrados pelo tempo perdido. Oxalá me engane, já que se esforçaram tanto e tantas expetativas criaram. Em vez do ministro andar a tentar cortar mais com a fusão de cursos de Universidades consideradas próximas geograficamente, faria melhor em reformular o RJIES e dar mais força ao Senado ou a um Conselho Académico que tratasse das questões pedagógicas, que tanta falta faz...
Para já, podia por o ECDU a funcionar, já que foi reformulado mas não foi posto a funcionar naquilo que seria o mais relevante para a tão propalada ligação Universidade-empresa: a possibilidade dos professores passarem um tempo nas empresas sem por essa razão serem penalizados na progressão da carreira.
Este ministro será que tem um plano ou estratégia? Ou estará preso pelas suas próprias contradições? É um rol de falsos arranques, tanto no secundário, com o inglês no primeiro ciclo e os exames aos professores, como no superior com os milhões que cortou e que diz que serão repostos e não o são. Agora diz que se vai avaliar os cursos segundo noções vagas de orientação, preferindo os cursos "técnicos" aos outros. Não se sabe bem o que quer mas não há um documento que guie as universidades neste ou naquele caminho. Ou se há, deve estar bem escondido.
Entretanto, nas Universidades reina a confusão, com o novo ano letivo já à porta.
Típico deste ministério e deste governo. Navegação à vista, como um comentador político definiu a sua atuação no outro dia numa análise pós anúncio da reforma do setor público, leia-se: dos cortes e impostos que vamos sofrer no setor público, desde o IRS à ADSE.

sábado, maio 03, 2014

O legado de Veiga Simão na UM

Morreu Veiga Simão o visionário Professor que fundou as Universidades novas, incluindo a Universidade do Minho. Na altura, eram politécnicos e institutos superiores, uma vez que os cursos eram de 3 anos e considerados bacharelatos. A ideia era de que preparassem engenheiros e especialistas em áreas onde não existiam, como a Engenharia Têxtil, que apoiaria a indústria principal do Minho, a Engenharia Metalomecânica, importante na região de Braga e a Engenharia de Polímeros, que foi fundada de seguida, já fora do seu local de implantação, por não haver Universidade em Leiria. Foi ainda fundada a Engenharia Informática, curso de onde provieram muitos empreendedores que formavam as primeiras empresas de informática, numa altura em que os computadores estavam a invadir as empresas e não havia técnicos para os manipular ou programar. É assim que eu interpreto as escolhas do então ministro da Educação, Veiga Simão. A Universidade rapidamente passou dos cursos de bacharelato para cursos de 5 anos, licenciatura, num espaço de 3 anos, sendo que muitos alunos que já estavam na indústria voltaram para acabar a licenciatura. Isto foi tudo há mais de 30 anos trás. Alguns desses alunos estarão já reformados ou próximo da reforma! Muitos transformaram as empresas assumindo posições de relevo, tais como diretores de produção, modernizando o tecido industrial numa altura em que as pequenas e médias empresas estavam entregues a empresários que não tinham a formação adequada e técnicos que aplicavam ainda métodos empíricos passados de pais para filhos. A Engenharia de Produção e Sistemas, fundada mais tarde por seguidores de Veiga Simão, como Barbosa Romero, membro da comissão instaladora e grande impulsionador destes novos cursos que vieram colmatar muitas deficiências na gestão das empresas, através dos seus licenciados. Foi a época áurea da engenharia, embora houvesse outros cursos únicos também fundados logo no início da Universidade do Minho, como a licenciatura em Relações Internacionais, que se espalharam pelo mundo, espalhando também o nome da UM esta forma. A fundação de cursos específicos, continuou com o curso de Administração Pública, que se esperava vir a modificar uma administração muito envelhecida. Foram tempos de mudança no tecido empresarial e na administração pública, que foram vividos com entusiasmo pelos seus protagonistas. Devemos muito desta revolução silenciosa a Veiga Simão, um homem que soube adaptar-se aos tempos modernos de então e não se ficar pelo saudosismo do passado, como infelizmente muitos se ficaram.

domingo, abril 27, 2014

O que pagamos e recebemos é mais justo do que há 30 anos atrás?

José Afonso dizia numa das suas canções de intervenção, os Vampiros, que "eles comem tudo". Pois hoje com  evolução do País cada vez mais capitalista e de livre concorrência, podemos dizer que eles "vendem tudo". Vem isto a propósito de vários sinais que têm surgido e divulgados nos média, tais como as privatizações em curso das empresas de água e resíduos urbanos. Há uma guerra em Lisboa entre a autarquia e o governo para evitar a privatização dos resíduos de Lisboa. Todos estão conscientes que os resíduos são um negócio apetecível, uma vez que os pobres contribuintes, ou melhor, munícipes, não têm outro remédio senão pagar, sob pena e serem levados a tribunal. Depois há as empresas municipais que conseguem sempre ter preços mais elevados do que quando o serviço pertencia à Câmara.Temos exemplos perto de casa, como o preço dos serviços da empresa municipal AGERE formada há uns anos. Os preços dispararam. Nós pagamos mais de 20 euros todos os meses, quando há municípios que pagam menos de 5 euros aqui muito perto, como por exemplo Terras de Bouro. Porquê? Será porque uma é para pagar os empregos que foram aninhados nessa empresa aquando da sua formação e noutro caso é a própria Câmara a tratar do assunto, não sendo necessário neste caso pagar ordenados extra de extra funcionários? Antes queria a Câmara como era há trinta anos atrás a cobrar.
Depois temos o que recebemos como Professores nas Universidades. Os custos com os ordenados dizem-nos que são 90% do orçamento das Universidades ou por aí. Mas ordenados de quem e de quê? Em tempos, no início da UM em 1975/76 havia a discussão sobre o subsídio de investigação que foi considerado pouco mais tarde, se não estou enganado, como o subsídio de exclusividade. Era separado do ordenado. Mais tarde foi incluído como fazendo parte do ordenado, numa daquelas medidas que antecedem eleições, quanto a mim erradamente, uma vez que quem faz investigação deve receber por isso separadamente. Imaginem quanto se pouparia se voltássemos ao tempo do subsídio de investigação ser pago a quem fazia investigação? É caso para pensar...Não que eu defenda fazer investigação só com o intuito de publicar, ser promovido em concurso por o ter feito extensivamente, e receber extra por isso. Não tenho a certeza que seja este tão pouco o melhor caminho. Mas, por exemplo, entre pagar ordenados a Professores Auxiliares com nomeação definitiva, Professores Associados que estão satisfeitos ou conformados com a sua posição na carreira e não fazem investigação e Catedráticos que chegando ao topo da carreira não terão incentivo para fazer investigação, ou pagar um subsídio àqueles que realmente fazem investigação fundamental, eu optaria por esta última hipótese como a melhor alternativa possível. Como membro da Escola de Engenharia  e por teimosia de querer de facto fazer algo de útil à sociedade, defendo mais a investigação com alguma consequência para parte dessa sociedade, nomeadamente a indústria, mas como isso é quase impossível com os obstáculos existentes, sejam causados pelo ECDU ou pelos próprios Estatutos da UM, ao menos que se faça uma investigação que possa dar alguma formação científica aos professores que suplante em muito a dos alunos que eles vão ensinar, para o bem da qualidade do ensino universitário, e que essa investigação seja compensada.


domingo, abril 20, 2014

O 25 Abril,Braga, e Páscoa, uma semana de contradições



Esta semana comemora-se a Páscoa mas também o 25 de Abril de 1974. O dia da liberdade. O dia em que uma ditadura caduca caiu. O dia em que muitos caciques de regiões do interior tremeram e mais tarde em eleições livres também caíram. Em 1974 abriu-se um novo ciclo em que o país saiu da sua ignorância e se iniciou uma abertura o mundo exterior e um processo de alfabetização como nunca se vira na Europa. Esse processo teve grandes dificuldades de se afirmar nas aldeias do interior, nomeadamente a norte do Tejo, devido aos caciques e à igreja. Havia uma propaganda de sinal oposto ao da revolução que tal como o regime deposto, apelidava de comunista a todos os que queriam ensinar o povo analfabeto. A igreja desses locais isolados era a aliada. Felizmente tudo isso mudou e a própria igreja de então mudou muito. Nas cidades já tinha mudado sendo o bispo do Porto um exemplo disso. No entanto havia uma cidade que não mudava: Braga. Nem com a vinda da Universidade mudou assim tanto. Continuava a associação entre a igreja local e os grupos de extrema-direita que ainda perduravam na sociedade bracarense. O MDLP, um movimento que se tornou num grupo terrorista, que perseguia partidos de esquerda, organizava incêndios de sedes do partido comunista, como aliás aconteceu em Braga, armado com armas e bombas e que era acusado de ter morto o padre Max, tinha o seu refúgio em Braga, em casas de simpatizantes. O cónego Melo era acusado de pactuar com tais criminosos. No entanto, era venerado pela sociedade bracarense ao ponto de estar em todas as atividades mais relevantes da cidade, desde o futebol à universidade. Tinha como amigos figuras como o Presidente da Câmara, que pela sua filiação partidária os tornava "odd partners"("estranhos parceiros"). Talvez não tão estranhos, uma vez Mesquita Machado, que é a quem me refiro, o seu interesse seriam os votos da população maioritariamente católica e obediente à influência do cónego, e desta forma sabia que garantia mais uns milhares de votos nas eleições. Assim se manteve Mesquita Machado durante estes anos todos desde a revolução até atingir o limite de mandatos no ano passado, agradando à igreja local e ao povo das aldeias, acompanhando o cónego tanto no Sporting clube de Braga como nas atividades da vida da cidade, tais como inaugurações de obras de encher o olho ao povo, até à morte do cónego, não deixando no entanto de apadrinhar a estátua que se ergueu num local bem visível da cidade.
Outra contradição desta semana é a tolerância de ponto que a Universidade, leia-se o reitor, decidiu dar aos seus funcionários na segunda feira de Páscoa. Não faz sentido. Não se deu tolerância no carnaval, quando era essa a tradição da universidade e do país. Não se deu aos funcionários tolerância de ponto quando a UM fez 40 anos embora se tivesse dado essa tolerância aos professores. Mas na segunda feira de Páscoa dá-se tolerância. É tradição em algumas vilas e aldeias do Minho, tais como Terras do Bouro, que a cruz seja levada às casas dos crentes na segunda de Páscoa e não ao domingo, como acontece por exemplo em Braga. Também há a questão das tradições populares e esta também poderia ser considerada uma delas, mas sendo tão localizada como o é, temos o caso da UM querer mesmo ser uma universidade regional? Não o creio.

sábado, abril 12, 2014

Consórcio de Universidades a norte

As universidades do norte vão formar um consórcio para terem massa crítica nas canndidaturas a programas europeus, segundo notícias vindas a público esta semana. Na verdade a união devia ser mais ampla, mas já é um começo. Por exemplo na otimização de recursos, com a utilização de equipamentos nas áreas das ciências e das engenharias. mas o que se adivinha é que com os alunos a deixarem de garantir a existência de todos os cursos, seria útil escolher os melhores cursos e encaminhar os alunos para esses cursos. Só assim temos verdadeiramente um nivelamento das Universidades, porque de outra maneira haverá sempre cursos duplicados e o das Universidades do Minho e ainda mais os da Universidade de Trás os Montes ficarão sempre para segunda escolha em relação aos da Universidade do Porto. Não porque os da Universidade do Porto são melhores, mas devido à sua localização privilegiada, junto à costa e geograficamente mais perto de uma maior população estudantil mais preparada para entrar na Universidade. Por estas razões é pouco provável que a Universidade do Porto vá mais longe do que aquilo a que se propõe, otimizar as suas candidaturas a projetos europeus, aumentando a massa crítica. Por isso, não se entusiasmem demasiado com consórcios, porque as Universidades competem umas com as outras na captação de alunos e tudo o resto é folclore. E infelizmente para a UM, não será o Vira.