segunda-feira, outubro 01, 2018
Os tomba-ministros
Continuam as greves dos professores do secundário. É desgastante; para o governo certamente mas também para quem segue as notícias e ouve os mesmos argumentos sobre a progressão na carreira por parte dos entrevistados, seja o Mário Nogueira, já conhecido de muitos governos e ministros que sucumbiram perante as suas posições, como de professores anónimos, convencidos da justiça das suas reivindicações. Tudo democrático, mas uma atitude que começa a estar divorciada da população. Os pais, não se manifestam, talvez por receio de piorar a situação. Mas nota-se que os media não entrevistam o povo em geral sobre o que pensam da atitude dos professores no que respeita a esta reivindicação. Podiam até perguntar o que pensam dos professores no contexto dos alunos, privados de um ensino de qualidade. É uma posição concertada de apoio pelos media aos professores e até o Presidente disse recentemente que os professores portugueses são os melhores do mundo (sem comentários).
A razão para este apoio será política por parte dos media. que procuram os que podem causar mossa no governo e menos aqueles que não terão influência nenhuma. Estou a apensar nos professores universitários. Não se manifestam, não fazem greves, aceitam o que lhes é dado. Por isso não é notícia. Já os investigadores tiveram alguma cobertura, e mesmo o ministro que claudicou perante as suas exigências, para ficar bem na fotografia num tema popular, nem o seu ministério tem escapado. A questão é que estes grupos com alguma força, e os professores serão os mais fortes, se o governo cede, eles pedem mais...e mais. Queriam turmas com menos alunos, foi-lhes dado, queriam manter-se na mesma escola por mais tempo, foi-lhes concedido, e por aí fora. Outras medidas positivas foram-lhes concedidas assim como a outros funcionários sem ser pedido, como o descongelamento das carreiras. Não aceitaram só isso, exigindo a recuperação do tempo em como se não tivesse havido congelamento. Dos 9 anos e picos foi-lhes ainda oferecido 2 anos e picos, para igualar a sua recuperação a outros funcionários. Não aceitam. Querem a totalidade, o que faz com que ultrapassem outros funcionários, que progridem mais lentamente (os professores de 4 em 4 anos). Seria esta a justificação do governo. Mas os professores não querem saber que ultrapassam outros. Também se esquecem que a regra estabelecida pelo governo foi que só aqueles que eram avaliados seriam contemplados durante o período de congelamento com a progressão, mas mesmo assim em 6 anos só àqueles que tiverem excelente. Os outros podem ter que esperar 10 anos. Mas avaliações para os professores só para os seus alunos. Outras tentativas de estabelecer a meritocracia na carreira dos professores falharam no passado em sucessivos governos, sendo a mais estrondosa a que Maria Lurdes Rodrigues tentou, um exame de acesso à carreira. Levou à sua demissão. Por isso, que se cuide o ministro e o governo, porque com estes professores , estamos a falar de grupos organizados de tomba ministros e eventualmente, de governos.
sexta-feira, setembro 21, 2018
Considerações sobre recentes notícias sobre investigadores e professores
Num artigo supostamente de informação no Observador, sobre investigadores que não foram contemplados com bolsas no último concurso da FCT, a jornalista do Observador, bióloga de formação, escolheu alguns casos em que os investigadores punham em causa os critérios de avaliação das candidaturas. Alguns desses investigadores bem conhecidos, uma por ter ganho o prémio Pessoa, outros responsáveis de equipas. Numa altura em que se fala tanto de interação entre a investigação e as empresas, não se percebe porquê tanta polémica sobre uma seriação de bolsas científicas totalmente desfasadas das empresas e do tecido empresarial português (malária, astronomia, microbiologia, etc). Também não se percebe como é que os argumentos dos queixosos são tomados como sendo mais válidos dos que dos avaliadores, que foram escolhidos pelo seu currículo de excelência e até se sugere, em desespero de causa, que a avaliação só pode ser aliatória. A excelência científica não pode ser avaliada pelo prémio Pessoa ou pela hierarquia dos candidatos. É o projeto e a equipa em si, além do currículo científico dos candidatos que sempre orientou a avaliação dos concursos.
Numa altura em que os governos e os partidos têm cedido às reivindicações dos investigadores, concedendo contratos de trabalho e uma carreira estável, quando a investigação não pode ser estável. A estabilidade, leva a que não haja incentivo para melhorar, publicar, e dessa forma ser competitivo e bem sucedido nas candidaturas a financiamento, seja da CE ou da FCT. Salário garantido na Função pública, sem objetivos claros a não ser "investigar", não vai produzir efeitos pretendidos. Veja-se o caso dos institutos públicos com carreiras de investigação e o seu currículo científico em termos de publicações, já para não dizer de patentes ou invenções (protótipos). Já os professores universitários, que têm que ensinar e não só investigar, estão a ser tratados como sendo de menos importância, remetendo a sua progressão para uma solução ad-hoc e completamente ilegal, já aqui discutida.
O Ministério, cede perante o governo, o governo cede perante os partidos e o ruído dos média, porque assim poderão tratar de outros assuntos mais prementes como a progressão dos professores do ensino secundário e básico. Mesmo sabendo que os professores com mais antiguidade ganham mais que os congéneres em França, Itália e possivelmente outros países europeus, e só os mais jovens ganham menos, ainda estão a considerar agravar esta situação e esta diferença entre escalões que existe nesta carreira, ao conceder-lhes parte do que reivindicam. Os professores querem progredir na carreira com base na antiguidade e não da excelência e do mérito. Sem serem avaliados, basta envelhecerem, mesmo sendo maus professores, para serem promovidos. Os professore universitários, têm concursos para subir de categoria e são avaliados para subirem de escalão. Tudo depende do músculo reivindicativo que cada um tem, e os professores universitários nem têm um sindicato. O que existe, defende todos os que frequentam o ensino superior, pondo no mesmo patamar os investigadores e os professores. E há algum movimento que combata esta situação em prol do professores universitários? Não conheço.
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sexta-feira, setembro 14, 2018
O jogo do empurra do governo e universidades na avaliação dos professores
A decisão pelos dirigentes do Ensino Superior, supostamente os reitores, de na progressão da carreira só premiar os que tiveram excelente ao longo dos seis anos na avaliação dos professores universitários, está ferido de ilegalidade perante o estatuto da carreira docente e dos estatutos de avaliação (RAD) da Universidade do Minho. O que está definido é a meta dos 10 pontos.
É extraordinário como se corta à medida um regulamento para cumprir um orçamento! Alegam que as universidades não recebem para mais. Isso não é verdade. Estão a contratar bolseiros, como previsto e determinado pelo governo, estão a contratar precários também como determinado, só não estão a cumprir em relação aos professores. É caso para perguntar quem dá as aulas e mantém a universidade na sua função principal que é a de formar alunos.
Se a autonomia das Universidades serve para isto, para fazer como entendem, não cumprindo os seus próprios estatutos, então estaríamos melhor sem essa autonomia e que o estado fosse completamente responsável por esta medida, para que houvesse um responsável comum a quem os sindicatos poderiam se dirigir. O Ministério do Ensino Superior escuda-se na autonomia das Universidades, e estas escudam-se no orçamento que não chega para ir mais além na reposição da lei. O Governo comprometeu-se nas suas propostas eleitorais a compensar aqueles que são avaliados, o que estão a fazer em relação aos funcionários públicos que foram abrangidos pelo SIADAP, o regulamento de avaliação que decorreu nos últimos anos de crise. Não está a cumprir no que se refere aos professores do ensino superior. As Universidades só tinham que cumprir o ECDU, estatuto de carreira docente, e os próprios estatutos de avaliação, que definem que os professores são promovidos na carreira após terem atingido 10 pontos. Ambos fugiram às suas responsabilidades, apontando as culpas ao outro. É uma triste realidade do estado do ensino superior e da anarquia que reina nos estatutos de autonomia, e já agora no estatuto das Universidades-Fundação.
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quinta-feira, agosto 30, 2018
Um livro do autor dos "versos satânicos" para ler e aprender
Agosto é o mês da "silly season" nas notícias e também das notícias de férias. Não sendo um blogue propriamente o facebook, com fotos e relatórios de férias, permito-me no entanto nesta altura do ano normalmente relatar e recomendar, se for caso disso, o(s) livro(s) lido nas férias. Daqueles que li nos meus 15 dias de férias, recomendo "Golden", de Salman Rushdie, o autor dos versos satânicos, que teve como consequência o lançamento de uma "fátua" por parte do Irão, já lá vão umas décadas. Este livro é muito diferente, sendo uma narrativa, um pouco complexa diga-se de passagem, sobre uma família poderosa que se instala em Nova Iorque, com uma identidade nova, vindo de não se sabia de onde, e porque motivos deixou o seu país natal nestas condições. O interesse da narrativa, para não chamar novela, é principalmente da riqueza do texto em termos de informação de cultura geral, uma vez que o autor náo se limita a descrever a família e os que gravitam à sua volta, mas vai buscar referências à mitologia grega, russa, e citações de filósofos, principalmente alemães, como anáise aos atos desta família tão estranha, que assume nomes de deuses gregos e romanos, e no caso do poderoso patriarca o nome de um imperador romano, Nero, na sua nova identidade. Não é um livro fácil de ler, mas é certamente rico no seu conteúdo com muitas citações que nos fazem pensar muito sobre a intranquilidade que aflige o ser humano, os seus fantasmas e as suas incertezas, mesmo quando são poderosos. Não vou narrar o livro, até porque me falta ler o último capítulo, para não retirar o interesse da novela, agora sim, que se aproxima do fim.
Boa leitura.
domingo, agosto 12, 2018
Reitores recompensam avaliações desvirtuadas
No caso da UM é um facto, nas outras universidades não sei. O reitor não cumpre a lei ao comtemplar somente os que tiveram excelente em seis anos consecutivos, esquecendo os outros. O regulamento diz que as progressões são após 10 pontos, sendo cada triénio pontuado conforme a classificação, Excelente será de 3 pontos. Pode ser que seja uma forma de calar aqueles que mais se queixaram e que até podem cumprir essas condições. Mas isso não é sério. Já se referiu aqui àqueles departamentos, ou até Escolas/faculdades que varreram tudo a excelente. Mas mesmo aqueles que procuraram fazer uma avaliação objetiva depararam-se com critérios que deturpam a classificação. O sistema de avaliação está feito de tal forma que é possivel a um professor trabalhar estritamente para conseguir o máximo de pontos sem ter feito trabalho científico de relevo nem ter sido um "excelente" professor. A componente cientifica será a que mais diferenciaria a classificação, já que a pedagógica está baseada no número de UCs que se lecionam, basicamente, mas da forma como está feita, privilegia-se a qualidade em detrimento da quantidade. Basta participar num número elevado de conferências, que por norma aceitam todas as comunicações submetidas, pelo facto que competem com outras conferências na angariação de verbas sendo que qualquer contribuição é bem-vinda. E o facto de estarem referenciadas na base de dados Scopus ou outra base de dados não é referência, uma vez que são todas aceites, desde que os organizadores as submetam. Basta percorrer a internet e procurar conferências que estão no Compendex e Scopus. Em determinadas áreas as melhores conferências da especialidade não estão referenciadas, porque não foram submetidas. Os organizadores não estão a angariar autores que se pautam pela pontuação mas sim aqueles que vão divulgar e aprender com outros que é a verdadeira função das conferências. Suponhamos que uma comunicação conferência tem 1 ponto e um artigo (paper) que foi submetido a um painel de reviewers de uma revista conceituada, com elevado fator de impacto, tem 4 pontos. Basta ir a 4 conferências sem qualquer avaliação e ter a mesma pontuação. O caricato é que a ida a conferências é apoiada financeiramente e sempre foi, e os papers nem sempre foram. Não é comparável o trabalho que dá escrever um paper e escrever um abstract e uns proceedings de uma apresentação, como todos sabemos. Há também o efeito da diluição do número de pontos que um autor tem ao escrever com outros autores o artigo (paper). É raro um artigo hoje em dia ter menos de quatro ou mais autores, o que significa que a pontuação cai para o mesmo valor que uma apresentação em conferência com um ou dois autores, o que é vulgar. Não quer isto dizer que não defendo a ida a conferências que é essencial para interagir com os nossos pares e aprender com eles. Mas não com este objetivo de "fintar" o RAD. Fui a muitas conferências antes de existir o RAD e poucas depois. Tenho consciência que há uma época para tudo. As conferências serão para aprender numa fase de início de carreira, ou então mais tarde serão mais para divulgar o que fizemos mas numa lógica de não escolher a dedo a conferência porque está referenciada no Scopus ou ISI wok, Compendex ou outra. Há também a transferência de conhecimento para as empresas a considerar na avaliação do desempenho de professores, que pode ser feita de muitas maneiras, mas que a forma de maior reconhecimento serão projetos com empresas e empreendedorismo, e os resultados serão a concessão de patentes e obtenção de prémios nacionais e internacionais. Esta componente terá a mesma pontuação que uma ida a uma ou duas apresentações em conferência e sem direito a uma visita turística ou a um cocktail de boas vindas....
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terça-feira, julho 31, 2018
Petição para cumprir
Vou assinar a petição e sugiro que muitos mais o façam.
Junto o link de um post que escrevi a 2 de Junho e ainda está atual, passados 2 meses!
É de facto uma vergonha a forma como os professores universitários estão a ser tratados se compararmos com os outros corpos profissionais das universidades. É aliás ilegal, como se constata ao ler o ECDU e o RAD que estabelece a progressão por pontos, 10 pontos, e não 6 anos consecutivo de classificação de excelente, por isso acho que se deve ir mais longe e o sindicato deve por exemplo apelar à Provedoria da Justiça e ao Presidente da República, já que o governo , nomeadamente este ministro, faz orelhas moucas. Os reitores idem aspas. O próprio parlamento, agora fechado para férias, recebeu representantes do ensino superior, ouviu e não se preocupou muito com esta situação, quando defendem, todos os partidos, agora percebemos que de uma forma abstrata, a educação e a investigação científica.
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quinta-feira, julho 19, 2018
A (falta) de militância dos professores universitários vista à luz da atualidade
De todas as classes profissionais é seguramente a dos professores universitários a que menos reivindica. Há posturas que outras classes assumem que já ultrapassam o surreal e os professores nem sequer conseguiram juntar 50 professores para protestar junto da reitoria pelo cumprimento de um seu direito, o das progressões. Por exemplo, os enfermeiros reivindicaram as 35 horas de trabalho, reduzindo das 40 horas impostas pelo governo Passos Coelho durante a crise. Agora denunciam que dezenas de camas foram eliminadas dos hospitais por causa das 35 horas. Em que ficamos? Não queriam as 35 horas? Os médicos queriam melhores condições porque não aguentam mais as situações nas urgências, em hospitais públicos, devido á falta de médicos, nomeadamente especialistas. Mas, não foram eles que exigiam que médicos com mais de 55 anos, os mais experientes especialistas, não fizessem urgências? Os magistrados, leia-se os juízes, queriam um estatuto novo que lhes dessem maior independência face ao poder político entre outras alterações e melhorias. Foi tudo aprovado pela ministra...menos o aumento de salários. Assim não serve para os magistrados, e estão outra vez a ameaçar greve. Mas então, não eram os estatutos? Ou era afinal mais dinheiro que os magistrados queriam? Que o dissessem logo em vez de andar com rodeios...ficariam alguns a ganhar mais que o primeiro ministro o que não é possível segundo a lei, mas afinal esta lei não é para se cumprir... pelos juízes. Todas as outras são. Há muitos mais exemplos. O dos professores do secundário que mesmo sem avaliações querem progressões. Afinal esta até mão é de admirar, pois…nunca quiseram ser avaliados. E continuam a fazer grandes manifestações, convencidos que estão cheios de razão, para ultrapassarem com tempos mais curtos de progressão, outras classes que…foram avaliadas. Tiveram redução de turmas, colocações como queriam com a integração dos contatados sem vínculo, recuperaram como todos os funcionários públicos dos cortes que tiveram desde o governo de Sócrates e os subsídios de férias e natal que lhes foram cortados, quando começou de facto a crise em 2009, mas afinal ainda está por cumprir o mais importante, a progressão automática nas carreiras…por via do envelhecimento. E ainda há outras classes que se poderão juntar a esta lista, menos uma, a dos professores universitários. Alguns colegas já aventaram hipóteses para este fenómeno de falta de militância dos professores universitários, como o complexo da imagem que pensam que têm de privilegiados, mas mesmo esta hipótese peca por não explicar tudo. É um mistério que dura há décadas.
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sábado, junho 02, 2018
A confusão das avaliações no CRUP e na UM
Numa carta dirigida aos professores, vem o reitor da Universidade do Minho, explicar a razão da falta de atuação da UM no que respeita a cumprir o que está estipulado na lei sobre a progressão da carreira dos professores. Depois de explicar a posição do CRUP, Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, faz um enquadramento da atuação da UM que tal como as outras universidades, se escusam a atualizar os salários com base na progressão por o Governo não contemplar essa despesa no orçamento para as Universidade. Foi decidido pelo CRUP, que seriam pagos aqueles professores que tiveram o máximo de classificação nos seis anos seguidos de avaliação. Não diz quais são esses anos embora se adivinhe que sejam os entre 2012 a2017, inclusive. A informação do reitor está confusa e merecia no mínimo de uma explicação ou esclarecimento de dúvidas, aos professores, num assunto que é de máxima importância para a motivação dos professores. Se não há informação sobre aquilo que os professores acham que lhes é devido, mas por outro lado, há um cumprimento de outras obrigações para outros grupos profissionais da UM, como sejam os funcionários, e bem, com o cumprimento do SIADAP, também com base nas avaliações, e com os precários com a sua integração na função pública e até com a contratação de alguns investigadores, cumprindo o que está estipulado pela FCT, então será de elementar justiça explicar o porquê desta diferença de tratamento. É-nos explicado que é por falta de verbas, por o governo, segundo o CRUP só ter assegurado aproximadamente 60% das verbas correspondentes às progressões. Talvez por isso o CRUP tenha decidido propor só avançar com o pagamento daqueles que tiveram excelente em duas avaliações seguidas, que corresponderia a 60% do orçamento para esse fim. Só que, como já foi escrito por um nosso colega na UM-net, o regulamento, como qualquer regulamento, ou se cumpre ou não se cumpre. Não pode ser cumprido só para alguns e os outros, que esperem. Ainda para mais, quando houve tantas falhas nas avaliações, sem preverem quotas para os mais bem classificados, começando pelas classificações de excelente, e mal distribuídos, e segundo consta, havendo departamentos, até Escolas/Faculdades inteiras com classificação de excelente, num claro abuso do objetivo de todo este processo e abusando do facto de não haver quotas. Sendo assim, o que era do conhecimento do CRUP, como é que se escolhe precisamente aquela classe em que náo houve objetividade na classificação, a classe dos excelentes, para se lhe atribuir a progressão na carreira deixando os outros que foram avaliados "a sério" para trás? Não se consegue perceber a lógica, mas com as Universidades e seus sindicatos, nunca se consegue perceber se as questões laborais são a sério ou não. Pelo menos não são tratadas como tal.
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sábado, maio 26, 2018
O ministro ambíguo e os amigos do seu RJIES- uma teoria
Circula uma petição sobre a investigação e os investigadores. Há queixas de burocracia, avaliações mas sobretudo da precariedade das carreiras de investigadores. O ministro Manuel Heitor assinou a petição, algo inusitado e surreal. Não faz sentido um ministro assinar algo que critica o seu ministério e o governo de que ele faz parte. Tem sorte do primeiro-ministro ser um político de consensos e que não está no ADN dele demitir ministros. Mas quais serão as razões desta atitude do ministro? Ele responde que assinou como professor universitário e não como ministro. Então estamos com um caso de Jeckyll e Hyde, em que ele às segundas, quartas e sextas é ministro, e às terças, quintas e sábados é professor investigador. Este ministro tomou algumas medidas positivas, como sendo o arranque de laboratórios colaborativos criados entre empresas e universidades com o apoio da FCT e o programa de contratação de investigadores. Este ministro no entanto tem outras contradições como seja a do corte de número clausus em algumas universidades. Numa atitude inesperada, aparentemente para defender as universidades do interior, a que já me referi neste sítio noutra ocasião, cortou números cláusus nas universidades ditas do litoral para desviar alunos para as do interior. É no entanto uma definição de interior e litoral um pouco enviesada, uma vez que nem na Universidade de Aveiro, junto ao mar, nem na Universidade do Minho a meia hora da costa por autoestrada, houve corte de vagas. Uma das razões destas contradições pode ser as amizades que criou no seu percurso académico e de governo. Assim, o ministro Manuel Heitor, tem-se mostrado ativo em apoiar determinadas figuras que o apoiaram no passado, o que pode explicar o seu apoio à petição de investigadores e professores.
Há também contradições nos laboratórios colaborativos, que seriam para dinamizar o interior e no entanto o maior de todos, o Laboratório Colaborativo em Transformação digital, já é no Minho, em Guimarães e coordenado pela UM com o ex-reitor como diretor. O bom entendimento que teve com António Cunha, ex-reitor da UM e principalmente como ex-presidente do CRUP, terá alguma coisa a ver com esta escolha? Qual foi o apoio de A. Cunha ao ministro? Há o RJIES, que tanta polémica tem causado, e que na vertente de Fundação foi elogiado inúmeras vezes pelo ex-reitor António Cunha até que conseguiu dentro da UM fazer passar a mensagem, conseguindo que a UM passasse a Fundação. Seria mais do interesse da UM a passagem a Fundação, na perspetiva de A. Cunha, que do ministro, a passagem da UM a Fundação, por isso não será só por essa razão. Mas em relação ao RJIES, lembro-me de uma sessão de esclarecimento no campus de Azurém, penso que na perspetiva das eleições para o Conselho Geral, em que numa pergunta minha sobre se o RJIES estava em discussão nesta eleição, António Cunha respondeu veementemente que não, não estava em discussão. Nesta defesa do RJIES pelo líder máximo da instituição, não é possível sequer discutir o RJIES na UM, com tão influente e veemente apoio manifestado desta forma quase violenta. O RJIES é o mais antidemocrático regulamento de sempre do Ensino Superior, desde a implantação da democracia em Portugal no 25 de Abril. Sobre o RJIES já escrevi bastante, criticando-o amplamente, mas sobretudo por não permitir a eleição direta do reitor e não ter representatividade ponderada dos vários corpos que compõem a universidade, nomeadamente o desequilíbrio entre o número de professores e alunos por um lado e funcionários por outro. Sobre a Fundação também já me exprimi neste espaço de opinião, e também há muito que dizer, sem esquecer a vertente mercantilista das Fundações.
Observação: este texto já foi alterado várias vezes na tentativa de chegar a uma conclusão lógica sobre estes últimos acontecimentos intrigantes, no Ministério da Ciência e Ensino Superior, mas mesmo assim há aspetos que não são ainda para mim completamente claros. Por isso, não nego que poderei alterar num próximo post, algumas destas suposições que nesta versão adianto.
quarta-feira, maio 23, 2018
Morreu Philip Roth- viva a sua obra
Philip Roth morreu hoje, mas a sua obra sobreviverá durante muitos anos. Ombreando com John Updike, e tal como ele, Philip Roth é daqueles escritores que dá gosto ler, não só pelos livros que escreveu, extraordinários, mas também porque viveu esses livros. No caso de Philip Roth, sendo judeu, numa época em que não existia Israel, os seus primeiros livros eram sobre judeus de alguma forma discriminados, nos Estados Unidos, coisa que hoje em dia até parece caricato, uma vez que os judeus são já de há muito, uma classe religiosa, altamente considerada, seja pela influência que detém, seja pelo seu peso eleitoral. Invariavelmente as personagens principais são judeus, tal como O Complexo de Portnoy, um livro sobre as vivências de um rapaz judeu em Nova Jersey na época da segunda grande guerra, quando existia uma grande comunidade judaica nessa cidade, junto a Nova Iorque, mais precisamente Newark. Curiosamente, talvez seja esta a única ligação a Portugal que podemos extrapolar, porque sucederam aos judeus os emigrantes portugueses, que povoaram os lugares que vêm descritos neste e noutros livros passados em Nova Jersey, como a Pastoral Americana. Neste livro, curiosamente, o judeu é loiro e alto, confundido com um nórdico, um atleta em jovem, que todos os outros judeus admiram, e depois um homem de negócios com uma pequena empresa de produção de meias, portanto um pequeno industrial que ascendeu a um lugar acima da classe de trabalhadores emigrantes judeus. O livro é depois sobre a filha, que é rebelde e se vê envolvida num movimento rebelde que a faz colocar uma bomba na estação de correios local, como protesto contra o "establishment", A partir desse evento, o pai, homem endeusado pelos seus conterrâneos procura remediar o mal feito de todas as maneiras sendo que não o conseguindo chega a um fim trágico. Vale a pena ler o livro, e colocarmo-nos na posição deste pai aflito, que soube lidar com tudo e ser bem sucedido em tudo o que se meteu, menos com esta situação de humilhação a que não tem como aceitar. Outros livros interessantes, são o Plot against America (tradução Conspiração contra a América) sobre uma situação em que os Estados Unidos são aos poucos transformados num país semelhante ao que a Alemanha nazi, antes da guerra, em que os judeus eram perseguidos. Na América, o equivalente ao Hitler, foi Lindberg que ascendeu a Presidente devido a ser um homem que tocava o imaginário dos americano por ter atravessado o atlântico num voo solitário, sendo o primeiro a fazê-lo. Embora uma forma mais suave de xenofobia, nomeadamente em relação aos judeus, impressiona pela inevitabilidade do que se adivinham ser os próximos passos, tais como envio de judeus para trabalhos forçados nos campos. O que é ficção confunde-se neste livro com a política real desses tempos, que foi dominada pelo Macartismo, com a perseguição de muito suposto comunistas, entre eles muitos judeus, e que está personificado no seu livro “I married a communist”. Curiosamente num dos seus melhores e mais conhecidos livros, Human Stain, (Mancha Humana), o racismo acompanha os tempos, neste caso um racismo virtual contra negros, mais concretamente estudantes negros. O politicamente correto, nesta caso como em muitos que se sucedem ao longo dos anos seguintes, numa sociedade com complexos e que procura compensar os erros do passado, leva a que um homem que não é racista seja acusado de o ser, por inadvertidamente ter feito um comentário numa aula em relação a dois estudantes negros, sem intenção. Valeu-lhe no entanto a expulsão da universidade e a perseguição ao longo da vida devido a este episódio. Outros livros mais recentes já versam quase só sobre adultos sem a saga familiar de acompanhamento desde crianças até adultos. O Teatro de Sabbath por exemplo, tem um cunho muito machista que hoje seria pouco tolerado, embora seja também talvez o livro de maior cariz erótico de Philip Roth. Este e de outros livros mais recentes de Philip Roth valeram-lhe, erradamente a meu ver, a fama de machista. O padrão de escrever livros sobre homens mais velhos, acompanha o envelhecer de Philip Roth, culminando em Nemesis o seu último livro que é uma espécie de adeus de Phylip Roth antecipando a sua própria morte ao evocar a sua infância. Assim acabou uma vida cheia de memórias de um homem que as escreve na forma de ficção, melhor do que qualquer outro seu contemporâneo.
domingo, maio 13, 2018
O interior do norte do país e as novas medidas para o ensino superior
As universidades e politécnicos do interior norte, localizadas nas maiores cidades, como Bragança e Vila Real, têm dado um contributo muito positivo para o desenvolvimento local. No entanto esses diplomados não ficam. Vêm para o litoral acabar a sua formação, com um Mestrado, ou então emigram, já com o canudo de enfermeira ou coisa parecida. Por isso, a "discriminação positiva" que o Ministro da Educação está a propor, ao aumentar os numerus clausus das Universidades do interior, em detrimento das do litoral, é coisa que não vai influenciar em nada o desenvolvimento do interior. O que desenvolve o interior, são medidas como a melhoria dos acessos por estrada e ferrovia, e o investimento em serviços públicos tais com os hospitais e o aumento do número de médicos nesses hospitais, por exemplo. O investimento em estradas já foi em grande parte feito, e dos acessos também, culminando com a abertura do túnel do Marão. A ferrovia está-se a fazer, mas muito devagar. Há o comboio entre a Guarda e a Covilhã e pouco mais. Acessos e serviços públicos ajudam, mas o que realmente ajudará será a fixação de empresas, incluindo as agrícolas, no interior. Se o vinho do Porto deu um fôlego àquelas zonas de cultivo do vinho, o mesmo poderia acontecer a outras culturas, como a amêndoa, a castanha, entre outras que são mencionadas como de alto valor acrescentado. O azeite será outra cultura que interessa apoiar, mas sem descaracterizá-lo como está a acontecer no Alentejo com oliveiras de rápido crescimento. Muitos destes investimentos no Alentejo foram consequência do Alqueva, mudando a cultura de sequeiro por cultura de regadio, estranha à região mas que permitiu maiores e até novas culturas. Esse interior, o Alentejo, está no entanto na mesma situação que o interior norte, envelhecido e sem outros investimentos, fora os mencionados e algumas bolsas de investimento em cidades como Évora. Resumindo, não será com aumento de números cláusus e outras medidas paleativas que se desenvolve o interior. Só com um programa muito mais amplo de apoios, nomeadamente às empresas, se poderá desenvolver aquilo a que se designa por interior do país. Medidas como a baixa de impostos, junto com os programas que já existem à contratação, poderiam fazer a diferença. O ensino podia estar mais ligado à realidade do interior, com cursos mais virado para a agricultura, o que já acontece em Vila Real, mas também a indústrias transformadoras de produtos agrícolas. Outras especialidades, muito viradas para a investigação, poderiam ser mais viradas para cursos de engenharia alimentar para pôr em prática a ciência que se ensina nessas Universidades. Com a nova orientação politica para cursos de três anos com orientação prática em vez dos Mestrados Integrados em engenharia, a meu ver uma medida positiva, é possível ter cursos de engenharia nestas áreas e já com uma orientação mais virada para a realidade do interior do País.
sexta-feira, abril 06, 2018
Progressões na carreira desvirtuadas
A progressão na carreira dos professores universitários está empatada por uma questão que dá que pensar: não houve um regime de quotas na atribuição da classificação resultante do processo de avaliação. Como é que é possível que todo este processo que durou anos, tivesse sido efetuado desta forma, sem qualquer controlo ou comparação de resultados entre faculdades e entre universidades, que pudesse detetar eventuais abusos na avaliação. Consta que há casos de Escolas/Faculdades que tiveram 100% de classificação excelente! Para haver justiça em relação aos outros professores que tiveram noutras Escola/Faculdades uma classificação rigorosa e que não atingiram esse valor, deveria ser feita uma avaliação às...avaliações. Talvez um organismo independente poderia exigir uma nova avaliação a todos esses anos abrangidos por avaliações inflacionadas. Não será fácil, e é provável que o governo faça tábua rasa das avaliações e das duas uma, ou pura e simplesmente não as comtemple, ou considerará 1 ponto por ano para todos. Seria este o castigo por uma indisciplina total nas avaliações das universidades, com responsabilidades acrescidas para os reitores dessas universidades que homologaram estes resultados. Mais uma vez, o oportunismo de alguns, resulta no projuízo de muitos mais.
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sábado, março 24, 2018
Entrada e progressão para doutoramento
Parece que quanto mais difícil é a progressão na carreira dos professores, mais fácil é a progressão dos alunos (alguns) para o grau de doutoramento...È o sinal dos tempos. A progressão na carreira depende do esforço dos professores em reclamarem aquilo a que têm direito, o que não tem acontecido. A progressão para doutoramento parece depender só de quem gere os programas doutorais, sem qualquer outro controlo. Decidem sobre aceitação de candidatos mesmo que seja algo que será obviamente irregular, ainda que legal. Basta que os estatutos dos programas doutorais sejam tão abrangentes que aceitam qualquer especialidade como condição de entrada, sem haver necessidade de aval superior, ou por parte da Escola a que pertence o centro, ou mesmo por parte do Conselho de Escola ou do Conselho Geral (que aprova doutoramentos). Assim, temos doutoramentos para todos, sem necessidade de disciplinas nucleares que são também designadas por específicas no caso do acesso à Universidade. No caso que conheço, porque apareceram na minha UC há umas semanas, um grupo de 4 alunos com formação em gestão e outros em design, afirmaram que estavam ali porque a UC iria fazer parte do seu programa doutoral, Quando questionados qual o programa doutoral, qual não foi o meu espanto quando responderam que era em Engenharia Têxtil. Ainda perguntei se não seria em Design de Moda, que existe também no Centro de Ciência e Tecnologia Têxtil, 2C2T, e percebi que coloquei o dedo na ferida, ao avisá-los que teriam que estudar bastante uma vez que não teriam as bases para um doutoramento em Engenharia. Não mais frequentaram a minha UC, de Acabamentos Funcionais, tendo uma das alunas(!?) me informado por e-mail que afinal esta UC não fazia parte do currículo do programa doutoral (?!). Parece que os alunos é que determinam o que necessitam de frequentar...Tendo-me certificado junto do Diretor do Centro 2C2T que de facto é uma UC nuclear do programa doutoral, pergunto: que esquema é este?
Um aluno que queira entrar na licenciatura em engenharia têxtil precisa de matemática e química ou física e para doutoramento, não precisa? É de facto uma situação singular e altamente preocupante.
Vamos ter doutoramentos com uma designação que não vai corresponder ao que realmente se estudou e investigou, uma vez que sem as bases científicas não será possível fazer investigação a nível de doutoramento. Talvez, na realidade estes alunos façam um doutoramento em Design de Moda, afinal só que terá outra designação. Será que há ainda a possibilidade em Centros de I&D heterogéneos, como é o caso do 2C2T de ter um júri de Design de Moda a aprovar um doutoramento em Engenharia Têxtil? Fazendo parte do mesmo centro professores de ambas as especialidades, possível, é. Vamos ver na altura que júris serão propostos. Como já tivemos um caso no passado de plágio em doutoramentos de Design e Marketing neste Centro, muito divulgado nos media de então, penso que se devia ter mais cuidado para não colocar de novo o nome do Centro nos media pelas piores razões, mas parece que não se aprende com o passado, cometendo os responsáveis do Centro 2C2T, nomeadamente a Comissão do curso do programa doutoral em engenharia têxtil, erros de "casting" grosseiros, em programas tão importantes para o nível científico do Centro e do Departamento, como os programas doutorais. Suspeito que há outros casos como este noutros centros de I&D da UM, e compete aos membros desses centros de os denunciar, a bem da justiça académica. Não é justo para outros que tanto trabalho tiveram a aceder a um doutoramento numa área que ambicionam frequentar, especializando-se de acordo com os requisitos para o fazer, verem outros entrarem com base noutros critérios de maior tolerância, ou mesmo facilitismo em alguns casos.Também será difícil os orientadores destas teses poderem ter um a produção científica relevante com esta "matéria prima", mas esse será outro problema que persiste e terá que ser objeto de outro tipo de análise mais aprofundada, sob pena do Centro vir a baixar e muito a sua classificação nas próximas avaliações pela FCT.
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domingo, março 11, 2018
Progressão na carreira- professores manifestam-se na rede UM
Finalmente alguns professores universitários reagem ao atraso do pagamento das progressões na carreira, a que têm (teriam?) direito por terem todos sido sujeios a uma avaliação pelo menos nos últimos 10 anos ( já havia avaliação em algumas Escolas/Faculdades antes disso). Neste caso, na UM fizeram-no através rede local, UM-net. É espelhada nestes e-mails a frustração pelo facto dos sindicatos do ensino superior não estarem a fazer o suficiente para acautelar este direito dos professores universitários, que tiveram uma avaliação até mais exigente do que os funcionários, e mais objetiva, com pontuações rigorosas para cada componente do currículo. Tomando como exemplo as escolas de engenharia, no caso da componente científica, a avaliação é baseada em publicações registadas nas bases de dados da Web of Science ou Scopus o que garante o reconhecimento a nível internacional da sua validade.
Sugerem estes professores que se faça uma greve à submissão da candidaturas à avaliação deste triénio, que será feita nos próximos dois meses. Isto é, do meu ponto de vista, algo que não faz sentido, uma vez quem se prejudica são os próprios, porque seria previsível que a maioria dos professores submetiriam as suas candidaturas irrespetivamente de alguns em protesto as submetesse ou não. Não teria impacto mediático nem seria producente. Outra ideia seria, um pouco como os professores do ensino secundário fizeram, convocatórias nas redes sociais (facebook, etc) para manifestações à frente do ministério em ocasiões quando o ministro se desloca às universidades (o dia da universidade teria sido uma boa ocasião).
Quanto à via sindical, também penso que não é solução, ou pelo menos que não seja a única via. O sindicato poderia de facto ser o meio de reivindicação do que é um direito dos professores Universitários, mas talvez pelas suas estruturas serem dominados por professores de politécnicos e por investigadores, preocupam-se neste momento mais com a integração de precários do que com os professore universitários.
Seja qual for a razão, ao longo das últimas décadas nunca defenderam os interesses dos professores universitários, pelo menos que tivesse tido alguma consequência.
Também é de estranhar a posição do CRUP nesta matéria. A ser verdade, a proposta do CRUP ou alguns reitores, de atribuirem 1 ponto por ano como classificação geral, sem tomar em consideração todo o trabalho feito nos últimos anos pelos professores tendo e vista a sua avaliação. Talvez esta proposta de nivelar por baixo, é a constatação que as avaliações das várias universidades não tiveram em conta o sistema de quotas, como vem referido em artigo do Público. Os responsáveis das instituições, tais como os sindicatos, lavam daí as suas mãos, deixando aos próprios a defesa dos seus interesses. Não é a primeira vez que isto acontece no ensino universitário.
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domingo, fevereiro 25, 2018
Os dias da Universidade
Naquele que é o órgão oficial das notícias da UM, "O que os media dizem sobre nós", pode-se ler sobre o discurso do reitor no dia de aniversário da UM a seguinte frase: Reconhecendo o papel ativo das universidades no desenvolvimento do país, o reitor salientou que são depois negados os instrumentos necessários (sobretudo dinheiro) para a prossecução desse fim. "A Universidade do Minho tem práticas de gestão rigorosa, fiáveis e transparentes", não podendo, por isso, ser vista "com desconfiança". É intrigante esta mensagem que o novo reitor decidiu enviar ao ministério da tutela. Serão notícias recentes sobre os ajustes diretos que o fizeram transmitir esta mensagem ou seria só o facto de ao passar a Fundação, a Universidade terá mais liberdade do que antes na afetação de verbas e o que se pretende dizer é que não há que ter medo dessa passagem? Só o reitor saberá o que quis dizer, mas que se presta a várias interpretações, é aparente. O dia da Universidade tem sido pródigo em queixas e pedidos aos ministros. Era altura do dia da Universidade ser mais de comemoração da Universidade, do que se fez no ano que passou desde o é e menos de mensagens a ministros que já no passado com outros reitores soam a queixas. Os ministros devem saber que a UM tem relevância a nível regional e nacional e deve ser tratada como as outras, nem mais nem menos. Se há outras questões conjunturais, tais como mediáticas, que têm a ver com questões de atuação na gestão de verbas, que é só da responsabilidade dos órgãos que fazem essa gestão, e em última análise da reitoria, não da responsabilidade dos professores e dos investigadores que até têm contribuído para uma boa imagem da UM no que respeita à sua atividade científica e de relacionamento com as empresas e a sociedade em geral, não se deve penalizar os professores e investigadores com corte de verbas, mas sim exigir dos órgãos responsáveis por estes atos que se retratem. Em última análise, devia ser a própria Universidade a fazê-lo e arrumar a casa, e não fazer-se de virgem ofendida.
terça-feira, fevereiro 20, 2018
Uma Auto-estrada para os Mestrados e Doutoramentos
O Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior apresentou o que pode ser considerada uma revolução na investigação do ensino superior, com base num estudo da OCDE, ao instituir doutoramentos nos politécnicos, entre outras medidas. Fê-lo à revelia do CRUP, o conselho de reitores das universidades, embora tivesse segundo afirma tido discussões sobre o assunto com este órgão. Não se entende esta pressa e esta decisão unilateral, com a oposição de um órgão que representa as universidades, seja esta tomada de posição boa ou má. Claro que foi logo aplaudida pelos politécnicos, e pelo sindicato do ensino superior onde tanto o presidente como a maioria dos militantes são professores de politécnicos. Não quero com isto dizer que não seja uma medida positiva, desde que com as devidas cautelas, que o ministro afirma ser condição para esta medida ser autorizada nos politécnicos e agora alargada às universidades: que tenham capacidade científica na área para poderem ser candidatos a orientarem doutoramentos. Faz sentido. E concretiza a nova medida com o mínimo de classificação dos centros de investigação de Muito Bom.
O problema não é só a capacidade científica dos professores. É também a dos candidatos. Para encherem os seus cursos, não será que as universidades estão a facilitar os acessos aso doutoramentos? Isso será mais evidente com as admissões de alunos estrangeiros inseridos em protocolos entre universidades, como aqui já foi referido. Mas não só. Não é preciso ir fora de portas para encontrarmos situações caricatas de alunos sem as bases para frequentarem uma licenciatura por não terem as disciplinas específicas, frequentarem Mestrados e Doutoramentos na mesma área, sem essas mesmas disciplinas específicas. Cada colega que olha para o seu próprio centro e departamento e descobrirá casos destes.
Estes Mestres e doutores, são desta forma convertidos em engenheiros, por exemplo, sem o poderem ser na licenciatura.
Com o fim dos Mestrados Integrados, com o argumento da aplicação de Bolonha, outra das medidas anunciadas, será mais um incentivo para isso acontecer. Licenciados sem as matemáticas passsarão a engenheiros, que não vão conseguir fazer projetos de engenharia por não terem as bases. Passarão a doutores, sem terem as bases para poderem trabalhar na indústria. Ficarão mais longe de poderem ser integrados na indústria e longe de poderem participar na Inovação tão propalada que não vai acontecer.
O problema não é só a capacidade científica dos professores. É também a dos candidatos. Para encherem os seus cursos, não será que as universidades estão a facilitar os acessos aso doutoramentos? Isso será mais evidente com as admissões de alunos estrangeiros inseridos em protocolos entre universidades, como aqui já foi referido. Mas não só. Não é preciso ir fora de portas para encontrarmos situações caricatas de alunos sem as bases para frequentarem uma licenciatura por não terem as disciplinas específicas, frequentarem Mestrados e Doutoramentos na mesma área, sem essas mesmas disciplinas específicas. Cada colega que olha para o seu próprio centro e departamento e descobrirá casos destes.
Estes Mestres e doutores, são desta forma convertidos em engenheiros, por exemplo, sem o poderem ser na licenciatura.
Com o fim dos Mestrados Integrados, com o argumento da aplicação de Bolonha, outra das medidas anunciadas, será mais um incentivo para isso acontecer. Licenciados sem as matemáticas passsarão a engenheiros, que não vão conseguir fazer projetos de engenharia por não terem as bases. Passarão a doutores, sem terem as bases para poderem trabalhar na indústria. Ficarão mais longe de poderem ser integrados na indústria e longe de poderem participar na Inovação tão propalada que não vai acontecer.
sexta-feira, janeiro 19, 2018
Os professores universitários dão o exemplo de passividade sindical
Proliferam as reivindicações de todas as profissões. Sindicatos e ordens anunciam greves a todo o tempo. Ora são os enfermeiros, que parece que já estão satisfeitos pois conseguiram o que pretendiam, ora são os professores do ensino secundário, estes recorrentes, sendo que Mário Nogueira consegue ser o tomba ministros de diferentes governos do PSD e do PS, ora são os magistrados. Estes, em congresso hoje, reivindicam entre outro assuntos um novo estatuto para os magistrados. Entre outras, as razões invocadas são as de que devem ter um estatuto que lhes dê dignidade...por ganharem pouco (?). Por acaso o dinheiro confere dignidade a alguém? Por isso os Professores universitários são uma exceção à regra, como sempre. Não me lembro quando reivindicaram alguma coisa. São seres pacíficos muito diferentes dos seus colegas do ensino secundário, que todos os anos estão a reivindicar alguma coisa. Ou porque não querem ser avaliados, ou porque são colocados longe de casa, e agora porque não foram considerados no descongelamento das progressões, com retroatividade. Novas avaliações foram introduzidas nas universidades, como o RAD, Regulamento de Avaliação de Desempenho dos docentes, com o objetivo específico de progressão na carreira através de subida de escalão. À semelhança do SIADAP para os restantes funcionários públicos. Os sindicatos como o Snesup alertam para a falta de empenho das universidades, mas as universidades não se mexem. Não alertaram para a inclusão logo no orçamento de estado verba para esse efeito. Os professores universitários aparecem a questionar esta situação nos media? Não. São discretos e até se julgará que não estão interessados. Para o Governo estarão esquecidos.Diz o sindicato que a culpa também é da falta de sindicância dos Professores. E tem toda a razão. Já é de há muito, esta falta de sindicância.
Não são só as progressões na carreira que tardam, mas também a alteração dos estatutos de que já referi como sendo urgente, dadas as incongruências do RJIES. Mas os professores universitários não reagem. E assim se vai a dignidade, mas neste caso a palavra faz mais sentido, porque neste caso não está conectada ao quanto se ganha. Estaria relacionada com o "como" se ganha, mas isso já será tema para outras conversas.
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sábado, dezembro 02, 2017
Investigadores e indústria
Há qualquer coisa que não bate certo na articulação entre a I&D e a indústria. Se por um lado o governo vai contratar 3000 investigadores, que fazem principalmente investigação fundamental, como irá essa investigação "ligar" a uma indústria maioritariamente de PMEs que não vão além de uma evolução tecnológica, modernização, e em alguns casos alguns produtos novos fruto de imaginação mais do que ciência? Ao vermos notícias na televisão sobre emprego, vemos imagens de trabalhadores em empresas de "baixa" tecnologia, como sendo a indústria têxtil, metalomecânica e alimentar. Num artigo no público hoje vem a problemática dos investigadores que vão ser contratados não transmitirem os seus conhecimentos por não serem professores. A investigação que fazem os professores também não é eficientemente transmitida e se o for, não encontrará terreno fértil na indústria para florescer, por a indústria não estar preparada, ou por serem PME's de baixa tecnologia, como já referido, ou por serem multinacionais que fazem a sua investigação noutros locais, resumindo-se o trabalho cá em Portugal a tarefas comandadas de fora. E se houver contribuição da parte dos alunos que aí encontraram emprego, será aproveitada "lá fora" e não cá em Portugal. Essa é a realidade que transparece quando se analisa o espetro de empresas existente em Portugal, com base no know-how, patentes, projetos de I&D, número de doutorados em empresas, entre outros dados.
Como resolver este problema aparentemente sem solução a curto/médio prazo? Fala-se na reestruturação do tecido empresarial. Como? Só se for com investimento estrangeiro que também vai ser difícil por preferirem outras paragens de não de obra mais barata ou em regiões mais próximas do centro da Europa por questões de proximidade. Então foge-se para o turismo como salvação da economia. Mas turismo não necessita de I&D! É realmente necessário o governo parar para pensar e fazer um plano a longo prazo, e não medidas avulso como esta de contratar 3000 investigadores.
domingo, novembro 19, 2017
Os professores são todos iguais nos seus direitos de progressão temporal?
Os professores do ensino secundário de novo nas notícias. Não pelo sucessos que têm, ou pelo sucesso das escolas em que lecionam, que teimam em permanecer nos últimos lugares do ranking deixando os primeiros lugares para as escolas privadas. Não, ao contrário de outras profissionais, incluindo os professores universitários, que são notícia quando investigam e descobrem novos produtos ou contribuem para a descoberta de novas vacinas, os professores do ensino secundário são notícia quando conseguem derrotar governos, e mesmo deitá-los abaixo, com a sua força bloqueadora que pode afetar seriamente o ensino das crianças e jovens portugueses. Com a educação em risco, os governos cedem. Mais uma vez, depois de ceder na integração de precários e o de professores contratados mas não vinculados, o que seria justo se houvesse avaliação destes professores, cede agora na progressão com base no tempo. Enquanto outros funcionários públicos incluindo aqueles que partilham o espaço das escolas com os professores, progridem com base na avaliação, os professores não admitem ser avaliados. Tem sido assim com sucessivos governos. Os professores universitários, por outro lado, têm as duas formas de melhorar os seus rendimentos. Um é o da progressão na carreira com base em concursos para subida para lugares do quadro imediatamente acima, como seja de Professor Auxiliar para Professor Associado, e assim sucessivamente até chegar a Professor catedrático. Outra forma de rendimento é a de tempo de serviço contabilizado nos escalões, de 5 em 5 anos (o dos professores o secundário é de 4 em 4 anos, vai-se lá saber porquê). Esta progressão que tinha sido congelada para todos desde 2009, foi acordada agora pelo governo como sendo já contabilizada a partir de 2018. E a dos professores universitários? Não me parece que a FENPROF tenha incluindo estes professores no acordo. Nunca o fizeram em negociações anteriores, não o terão feito agora. E o governo? Finge que esta progressão, congelada da mesma forma que para os professores do secundário, e já agora também para os do ensino básico, não existe. Como esta classe de professores não tem a mesma força nem tem passado de reivindicações, o governo estará tranquilo. Resta saber se o governo considera que os professores têm todos os mesmos direitos, ou se uns têm mais direitos que outros por serem "mais ruidosos".
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terça-feira, outubro 24, 2017
O novo mandato
A UM tem um novo reitor a partir de hoje, Rui Vieira de Castro. A UM tem 19,000 alunos o que a faz uma das maiores do país. Tem necessariamente um impacto na região onde está inserida. Este reitor tem um tarefa à sua frente que não é fácil, fazer com que a UM tenha um impacto real na sociedade nos próximos anos. Com a autonomia da UM, e agora que é uma Fundação pública de direito privado, terá que provar que merece esse estatuto. Tem que manter mais de 50% de receitas provindas do exterior tais como verbas de projetos de I&D financiados pela UE. Mas o maior desafio, na opinião da sociedade, é que forme licenciados e mestres que transformem o País e nomeadamente o norte do país, numa sociedade moderna e produtiva. A região não pode continuar a perder pessoas para o estrangeiro, sejam licenciados, mestres e doutores que rumam a outras Universidades para prosseguirem a sua carreira de investigação, perdendo-se a possibilidade de inovação nas empresas que pelo menos alguns destes cientistas trariam, ou sejam os que não têm um curso superior mas que são essenciais para o tecido produtivos. Com cursos intermédios profissionais, de eletricidade, mecânica, informática, entre outros, estes profissionais estão aptos para outros empregos menos qualificados mas tão importantes para o tecido produtivo como os licenciados ou mestres. São todos necessários. A Universidade responde pelos licenciados, mestres ou doutores, mas também tem responsabilidades indiretas sobre os outros, por ser determinante na sobrevivência do tecido produtivo que empregaria estes profissionais. Outros países mais avançados já o fizeram durante épocas, tendo agora uma estrutura que atrai os trabalhadores portugueses, não tendo Portugal essa capacidade. Em Portugal, houve durante épocas uma preguiça mental que levou a que ficássemos para trás na (r)evolução industrial. O que antes era de menos, agora é de mais, tanto assim é que a I&D que se faz nas universidades ultrapassa o que as empresas portuguesas têm capacidade para assimilar. Perde-se assim mais uma oportunidade de dar o salto qualitativo. Os reitores não podem fazer grandes alterações na orgânica e no caminho a seguir pelas universidades, nem no caso das Fundações- O RJIES tratou disso, fazendo com que ninguém possa liderar reformas. O Conselho Geral apoia o reitor, sendo a sua lista a maioritária. No entanto quem de facto manda é quem está mais perto dos departamentos e centros de investigação, que são as Escolas. Mesmo assim, se for um reitor determinado a por a universidade a trabalhar para a sociedade, conseguirá influenciar os vários órgãos da universidade nesse sentido. Cursos mais relevantes à sociedade e nomeadamente à indústria de amanhã, seria um começo.
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