Esta semana comemora-se a Páscoa mas também o 25 de Abril de 1974. O dia da liberdade. O dia em que uma ditadura caduca caiu. O dia em que muitos caciques de regiões do interior tremeram e mais tarde em eleições livres também caíram. Em 1974 abriu-se um novo ciclo em que o país saiu da sua ignorância e se iniciou uma abertura o mundo exterior e um processo de alfabetização como nunca se vira na Europa. Esse processo teve grandes dificuldades de se afirmar nas aldeias do interior, nomeadamente a norte do Tejo, devido aos caciques e à igreja. Havia uma propaganda de sinal oposto ao da revolução que tal como o regime deposto, apelidava de comunista a todos os que queriam ensinar o povo analfabeto. A igreja desses locais isolados era a aliada. Felizmente tudo isso mudou e a própria igreja de então mudou muito. Nas cidades já tinha mudado sendo o bispo do Porto um exemplo disso. No entanto havia uma cidade que não mudava: Braga. Nem com a vinda da Universidade mudou assim tanto. Continuava a associação entre a igreja local e os grupos de extrema-direita que ainda perduravam na sociedade bracarense. O MDLP, um movimento que se tornou num grupo terrorista, que perseguia partidos de esquerda, organizava incêndios de sedes do partido comunista, como aliás aconteceu em Braga, armado com armas e bombas e que era acusado de ter morto o padre Max, tinha o seu refúgio em Braga, em casas de simpatizantes. O cónego Melo era acusado de pactuar com tais criminosos. No entanto, era venerado pela sociedade bracarense ao ponto de estar em todas as atividades mais relevantes da cidade, desde o futebol à universidade. Tinha como amigos figuras como o Presidente da Câmara, que pela sua filiação partidária os tornava "odd partners"("estranhos parceiros"). Talvez não tão estranhos, uma vez Mesquita Machado, que é a quem me refiro, o seu interesse seriam os votos da população maioritariamente católica e obediente à influência do cónego, e desta forma sabia que garantia mais uns milhares de votos nas eleições. Assim se manteve Mesquita Machado durante estes anos todos desde a revolução até atingir o limite de mandatos no ano passado, agradando à igreja local e ao povo das aldeias, acompanhando o cónego tanto no Sporting clube de Braga como nas atividades da vida da cidade, tais como inaugurações de obras de encher o olho ao povo, até à morte do cónego, não deixando no entanto de apadrinhar a estátua que se ergueu num local bem visível da cidade.
Outra contradição desta semana é a tolerância de ponto que a
Universidade, leia-se o reitor, decidiu dar aos seus funcionários na segunda feira de Páscoa. Não faz
sentido. Não se deu tolerância no carnaval, quando era essa a tradição da
universidade e do país. Não se deu aos funcionários tolerância de ponto quando
a UM fez 40 anos embora se tivesse dado essa tolerância aos professores. Mas na
segunda feira de Páscoa dá-se tolerância. É tradição em algumas vilas e aldeias do Minho,
tais como Terras do Bouro, que a cruz seja levada às casas dos crentes na
segunda de Páscoa e não ao domingo, como acontece por exemplo em Braga. Também há a questão das tradições populares e esta também poderia ser considerada uma delas, mas sendo tão localizada como o é, temos o caso da UM querer mesmo ser uma universidade regional? Não o creio.