sábado, setembro 24, 2016
A classe média
Discute-se muito o que é a classe média, onde começa e onde acaba. Os professores são classe média? Normalmente são considerados classe média, pelo ordenado que auferem. Isto porque Portugal não tem classes baseadas na educação que tiveram e que demonstram como países como o Reino Unido por exemplo, mais concretamente a Inglaterra. Neste país os professores ganham mal, em relação por exemplo ao que alguém com um mínimo de habilitações, mas são considerados classe média. Também há a componente de trabalhar por conta de outrem, que ajuda a classificar alguém como classe média. Em Portugal há esta ideia que desde que tenha um carro, uma casa e os filhos a estudar, com um ordenado líquido acima dos 1000 euros cada membro do casal, são classe média. Independentemente de tudo o resto, baseando-se só no que auferem. Não entendo porque se fala de classe média com base só neste aspeto. A educação é importante e ao classificar a classe média só com base no que auferem, não há aquele objetivo altruísta que noutros países como a Inglaterra existe, de se ter orgulho de pertencer a esta classe. Embora este conceito possa ser considerado elitista, como não está tanto associado ao dinheiro mas à educação, querer ser da classe média é querer ter educação. E ao demonstrar essa educação, normalmente há mais civismo em relação à sociedade. Há muitos exemplos: respeitar filas e aguardar pela vez, falar baixo em lugares públicos, não incomodar outros de uma maneira geral sem razão para tal, pedir desculpa no caso de ofender alguém sem intenção, educar os filhos como os próprios foram educados ou quereriam ter sido educados, não dar tudo o que os filhos pedem mas dar o possível moderadamente, não exteriorizar sentimentos de forma a provocar sentimentos de pena noutros, e muito menos, regra de ouro da classe média, ostentar riqueza. Serão quase os mandamentos da classe média britânica que nós em Portugal teríamos muito a ganhar se os adotássemos. Com uma classe média com um número maior do que a que existe, baseada nestes critérios, talvez tomássemos atitudes que a todos beneficiaria, e vivêssemos num país com mais civismo.
Ao considerar a classe média com base só no rendimento, os políticos usam e abusam do termo sem quaisquer benefícios para ninguém com frases como: a classe média está a ser prejudicada com impostos. Quem? E porquê que é importante não sobrecarregar a classe média com impostos? Será que a classe média merece ser poupada? Se eu fizer parte da classe média, a minha primeira reação é que sim. Mas só quero pertencer a essa classe por essa razão. Não porque ela é mais educada. Se for só por essa razão, a dos impostos, não deveria ser a razão para eu querer fazer parte dessa classe se fosse um jovem na idade de escolher um rumo para a minha vida. A educação deveria ser o estímulo, e assim talvez houvesse esperança para o futuro de termos um país melhor ou pelo menos com mais civismo.
quarta-feira, setembro 07, 2016
Como impedir praxes de alunos que representam a UM, fora do campus?
Sobre as praxes, o reitor e presidente do CRUP, António Cunha afirma em jeito de resposta ao ministro que mais uma vez envia uma mensagem escrita aos reitores num artigo do jornal Expresso, reproduzido no jornal Público, que não tem maneira de controlar as praxes fora da UM. Penso que o que ele quer dizer é que não tem vontade de fazer nada nesse sentido. Todos nós na UM presenciamos as praxes dentro da UM, embora silenciosas porque as outras mais barulhentas são mas imediações, do outro lado dos muros à vista de todos dentro do campus de Gualtar. Basta transitar entre os complexos pedagógicos 1 e 2. Até parece um jogo...de praxes suaves de um lado do muro, a praxes agressivas, pelo menos à dignidade, do outro lado. A conduta de alunos da UM deve ser, enquanto alunos, regulamentada, seja dentro ou fora da UM. Assim é para membros identificados com farda ou distintivo das forças armadas, polícias, entre outros. Se um aluno fora do campus está identificado com traje da UM pode e deve se reger pelas normas da UM, e se as normas proíbem as praxes, deve obedecer sob pena de ser punido. Seria tão simples como isso. Se quiser fazer as praxes, que as faça a título individual, como cidadão, mas não como futuro engenheiro ou doutor da UM, É lamentável que um futuro doutor ou engenheiro, seja visto como um "bully" ou no outro extremo, como um ser humilhado e despojado do seu amor-próprio e dignidade.
Claro que membros da UM a servir de polícias para impedir que alunos trajados fizessem praxes fora do campus, não será fácil de implementar. Não se pode ter uma polícia militar como no caso dos militares. Mas havendo vontade, alguma forma de o fazer surgiria, até por acordo com as autoridades policiais, uma vez que a praxe pode ser considerada alteração da ordem pública, com o barulho que fazem e as obscenidades que gritam, e nesse caso a polícia poderia pedir identificação a quem estaria trajado e enviá-la à Universidade. Os polícias antigamente, quando as crianças partiam um vidro a jogar à bola, a polícia ia à casa dos pais avisar os pais para controlar os filhos. Neste caso, se os alunos da UM querem portar-se como crianças mal comportadas, deviam ser tratadas como tal.
terça-feira, agosto 30, 2016
O Turismo no seu pior
Findas as férias de verão, ficam imagens de um país encostado ao litoral, com a enchente de turistas e dos trabalhadores que servem esses turistas. Com cidades e o interior esvaziado de população, temos um país desequilibrado, como que inclinado. Já com os prédios contruídos no Algarve nos últimos anos, se fosse um barco, o país teria já capotado! Assim, temos só na realidade uma barreira de cimento constituída por esses prédios, que não se resume ao Algarve, abrangendo também a costa de Lisboa e Norte de Portugal, sendo as praias da Póvoa de Varzim e Vila do Conde os piores exemplos, para não falar das torres de Ofir, ainda de pé. Falando do pior do turismo, não podemos deixar de falar da nova tendência dos alugueres selvagens, que retiram a possibilidade do arrendamento a jovens casas que precisam de casa nas grandes cidades ou outros arrendatários para habitação permanente, para não falar dos despejos de idosos dessas casa, uma tendência baseada na especulação dos senhorios e proporcionada por imobiliárias virtuais como o airbnb. Como se tem discutido ultimamente, este é um problema dos centros históricos das cidades como Lisboa e Porto, como já o foi para Barcelona e Berlim, por exemplo. Podia-se aprender como o que de negativo ocorreu com este fenómeno nestas cidades, mas pelos vistos somos lentos a aprender e a atuar. A voracidade da ganância dos especuladores e dos futuros senhorios estrangeiros em ocupar casas em bairros históricos, inicialmente para se reformarem ou passarem férias mas agora para alugar e ganhar dinheiro fácil no aluguer a outros turistas, ainda por cima quando são apoiados generosamente com fundos para a reconstrução das casas, fundos esses que provêm do erário público, é uma realidade assustadora. Teremos as nossas principais cidades transformadas na Disneylândia ou parques temáticos históricos, sem alma nem habitantes residentes? Veremos até onde vai o desleixo das autoridades locais e do governo nesse sentido. Temos ainda o fenómeno dos "bagpackers", que viajam só com um mochila como o nome indica em voos low-cost e se albergam em hostels que crescem que nem cogumelos por essas cidades costeiras portuguesas, abrangendo aos poucos as outras cidades mais pequenas também com património histórico rico; hostels e hotéis também convertidos de antigas moradias ou pura e simplesmente que foram deitadas abaixo, e que pouco ou nada contribuem para a riqueza nacional. Não frequentam restaurantes mas comem fast-foods ou sandes que preparam nos hostels ou quartos alugados, pouco gastam em cafés, nada compram nas lojas de artesanato local e muito menos nas outras, visitam locais para tirarem fotos nos seus telemóveis, muitos de uma forma automática e sem outro objetivo que não seja o de as colocarem nas redes sociais, e de uma forma geral invadem espaços como museus e outros locais de acesso limitado e ruas estreitas de sítios históricos como Alfama em Lisboa, tornando o percurso e o acesso a estes locais cada vez mais difícil e menos apelativo. Há ainda os tuc-tuc, veículos que invadem ruas antes só de acesso aos peões. A voracidade dos bagpackers não tem limites! Antes, estes bagpackers eram jovens e contavam-se por os dedos de uma mão os que encontrávamos e até achávamos piada. Eram os chamados turistas de pé-descalço. Talvez por serem jovens em digressão pré-universitária. Agora, são pessoas de todas as idades, que têm os seus empregos mas que gostam de poupar, e mais, de apregoar o que pouparam (à nossa custa!).
Dito isto, também fiz parte dos que rumaram à costa, só por uns dias, como todos os anos, mas não me revejo em qualquer aspeto do que referi nestes apontamentos: não construi nem comprei apartamentos em frente à costa, não fiquei em hostels só com um mochila, não viajo aliás com mochila porque acho que incomoda os outros cidadãos ao entrar em lugares apertados, não apregoo que poupei dinheiro à custa de outros, nem como fast-foods, mas antes vou a restaurantes ou como comida cozinhada em casa (às vezes confesso que faço sandes...).
quarta-feira, agosto 03, 2016
Livros de férias- City of God
Li dois livros durante uma deslocação a uma conferência na República Checa, e recomendo um para férias, "The City of God" de E.L.Doctorow. É o tipo de livro de substância que contrabalança com o vazio intelectual que as férias proporcionam. “City of God”, é um livro que começa de uma forma, sobre a teoria do espaço interligado com o advento do Mundo visto por um pastor anglicano norte-americano. É uma análise surpreendente do "big bang" que o autor procura justificar também com a religião e a formação do Universo pelo grande arquiteto, Deus. Mas sendo de leitura densa, não deixa de ser muito interessante. O teórico passa rapidamente ao relato da vida do pastor, incluindo a sua relação com mulheres, o que chega a ser contraditório á sua conformação religiosa, tratando-se de adultério. Não deixa de ser interessante ao revelar a hipocrisia que existe por esse mundo, ao se pregar uma coisa e fazer-se outra. Também é original o facto do pastor ser judeu de nascimento e pastor cristão quando adulto. Aliás uma grande parte do livro relata o seu passado num ghetto judeu controlado pelos nazis, na Estónia. O que se passava no ghetto e o que os judeus faziam para sobreviver é deveras chocante. Todo o livro incide sobre o cristianismo e o judaísmo, e o mote de partida é um acontecimento intrigante, relativo a uma cruz que é roubada da igreja de Pem, o pastor anglicano, e que acaba no telhado de uma sinagoga. A partir desse episódio, cometido por um desconhecido, toda uma relação se estabelece entre o pastor e o rabi, Joshua, e sua mulher, Sarah. Não querendo divulgar o final do livro, levanto o véu advertindo o leitor para um desfecho inevitável da relação destras três personagens e da condição religiosa de Pem, o pastor anglicano. Na religião, como na ciência, quando se questiona demasiado aquilo que nos ensinaram ou que aprendemos lendo e estudando, acaba-se por ser engolido por uma atitude de crítica constante. Talvez seja mais prudente mantermos sempre uma linha de pensamento constante, por muitas contradições que surjam no caminho a essa "teoria" de base. Talvez esteja enganado, mas penso que esta é a ideia que este livro pretende transmitir.
domingo, julho 17, 2016
Ministro tenta travar praxes
Na imprensa desta semana vem a notícia que o Ministro da Educação afirmou em audiência parlamentar que vai escrever a todos os reitores para que proíbam as praxes. Foi uma medida corajosa e que já devia há muito ter sido tomada apor anteriores ministros que o antecederam. Tudo o que o ministro disse sobre as praxes já foi dito e redito por muitos nomes conhecidos da política e da sociedade. Os jovens que morreram na praia do Meco ou no muro de Braga, são a consequência mais grave das praxes. Há ainda o jovem de Famalicão. Todos estes trágicos incidentes não tiveram culpados. Não foi possível juntar provas. Em alguns casos, como o da praia do Meco, uma vez que só muito mais tarde, depois da casa ser limpa, é que as autoridades revistaram a casa. Não vou aqui servir de inspetor para procurar provas, mas que ninguém consegue tirar da minha cabeça, assim como acontece com a maior parte dos que souberam dos pormenores que antecederam a tragédia, que aquilo foi consequência de uma praxe, em que o "dux" foi interveniente na tragédia, isso não conseguem. Nem chegou a ir a tribunal acusado de homicídio involuntário, por negligência na forma como conduziu a praxe, aparentemente ordenando que os praxados estivessem de costas para o mar. É a justiça que temos. No caso do rapaz de Famalicão, chegou-se ao cúmulo da mão ser acusada por um dos membros da tuna envolvida no trágico incidente, tê-la acusado de difamação! Como é possível, a praxe estar de tal maneira aceite pela sociedade, que nem mortes ocorridas não fazem todo um povo revoltar-se? Já aqui exprimi que é uma espécie de doença da nossa sociedade que tem medo do poder oculto que está por detrás dos praxistas, algum desse poder chegando à igreja, sistema judicial e obviamente órgãos de poder ou influentes na Universidade, estes protegendo as ações dos praxistas, ou simplesmente pactuando com elas. O ministro chamou-lhes "fascizantes" às praxes. É uma afirmação que nos faz pensar. Afinal, independentemente dos nomes que se lhes atribuem mais ou menos honrosos, tais como a integração de estudantes na vida académica, são também atos de submissão perpetrados por “bullies” que não têm outro objetivo para além de humilhar os praxados o que por si só justifica a afirmação proferida pelo ministro. Não haverá outra forma mais digna de integrar os caloiros? Porque não promovem o convívio e a receção ao caloiro, com festa e alegria, sem a componente da praxe? Da forma como o fazem agora, com a praxe, parece-me mais uma barreira que uma integração.
No que respeita à UM, pareceu-me que a resposta do reitor da UM foi um pouco ténue, falando vagamente em valores humanistas e liberdade para todos. Isto o que é? Que tipo de resposta é esta? Não se entende. Um reitor que proibiu há algum tempo atrás praxes no campus, mas que as deixa praticar tais atos à vista de todos nas imediações, é o mesmo que fazer nada. Aliás as praxes continuam dentro do campus, embora transvasem para as imediações. O ministro não pode ditar regras às universidades devido à autonomia que foi concedida às universidades há muito tempo. Mas se a autonomia serve para evitar atuar, nomeadamente nestes casos gritantes de injustiça e prepotência por parte das Associações dos Estudantes e duma elite dentro da Associação que dirige as praxes, quase como uma estrutura autónoma, atuando impunemente perante os mais fracos daqueles que supostamente representam, os estudantes, então preferiria que não houvesse autonomia.
O reitor não pode ir a votos de novo, mas apoiará um sucessor. Nessa altura será necessário ser claro na sua atitude que até agora tem sido ambígua no que respeita à praxe, para que quem o suceda, e a lista que o apoiará, seja também sujeito ao escrutínio da academia neste ponto tão relevante para a vida académica.
sábado, julho 09, 2016
A festa têxtil e os elefantes brancos
Decorreu esta semana no dia 7, no Instituto de Design em Guimarães, uma atividade que se designou por festa têxtil, organizada pelo departamento de Engenharia têxtil da UM e a Câmara de Guimarães. Neste certame o departamento de engenharia têxtil junto com algumas empresas, expuseram os seus produtos como forma de demonstrar o que de melhor se faz nestas entidades. Por parte do departamento, foram expostos protótipos de equipamentos e os visitantes, principalmente alunos de escolas profissionais locais que frequentam cursos têxteis, foram incentivados a aprender ciência com os protótipos. Como já é hábito em eventos organizados pelo departamento de engenharia têxtil ou o centro de investigação têxtil, 2C2T, não houve uma grande adesão por parte das indústrias têxteis ao evento. No entanto, houve uma mostra muito profissional das empresas que lá estavam com os seus produtos, e por parte do departamento, considerando os recursos limitados do departamento/Centro 2C2T. Houve ainda uma tertúlia que contou com a presença do presidente da câmara de Guimarães, do reitor da UM, do presidente da Escola de engenharia e de convidados. A plateia também participou. Um dos temas apresentados pelo moderador incidiu sobre o equipamento científico disponível para apoiar o desenvolvimento da indústria, argumentando que já se justifica um centro de investigação, apoiado pela indústria, que confira ao setor a importância que ele merece. Houve por parte do presidente da câmara um apoio a esta ideia, mas por parte do reitor e de Mário Araújo, ex-professor catedrático do departamento e convidado para o painel, houve uma recetividade um pouco fria. Mário Araújo considera que já existem alguns elefantes brancos, não especificando quais mas não foi difícil adivinhar quais os institutos que apoiam a indústria têxtil que poderia ser classificados desta forma por M.A. Argumentou que um centro com equipamentos, de topo, mas sem massa cinzenta seria um desperdício. Considera que se pode organizar consultas em rede aos institutos europeus existentes, sem necessidade de fundar mais um. Não explicou no entanto como, ficando no ar uma indefinição que sugere que esta forma de resolver o apoio ao setor também não seria procedente. O reitor também alinhou por uma opinião semelhante, embora defendendo o que já existe nessa área na região, e nomeadamente na Universidade. Também houve por parte da assistência, na pessoa do diretor do centro de investigação têxtil da UM, 2C2T, a defesa deste centro argumentando que serve este propósito. Não foi tida em conta esta intervenção, considerando-se que o centro está mal apetrechado, continuando o representante da indústria a insistir na fundação de um centro de alto nível apoiado pela indústria.
O problema é que não sendo esta indústria, têxtil, como outros setores que apostam em projetos de I&D, pelo menos o passado o tem demonstrado, não vejo como de repente pode desatar a comprar equipamentos sofisticados sem um plano bem definido de como e em quem investe, sem recursos humanos à altura de tão grandes ambições, sem capital, uma vez que se dia que a indústria está descapitalizada, e sem uma atitude de investimento na sua própria indústria em quadros altamente qualificados (numa escala já de si modesta), antes optando por técnicos intermédios ou querendo pagar aos engenheiros saídos da universidade o mesmo que a um técnico saído de uma escola profissional. É de facto sonhar alto e também já agora, falar alto. Houve no entanto algo que poderia ser aproveitado desta discussão pelo senhor reitor, que ele próprio aceita, que é aceitar o facto das instalações do centro de ciência e tecnologia têxtil e do departamento de engenharia têxtil, estarem degradadas, muitos equipamentos a precisarem de reforma. Também concordo que a indústria deve ser convidada a dar opiniões, já que investimento em I&D não é com a indústria, a não ser que seja comparticipada a 100% pelo Estado, seja diretamente ou indiretamente, como tem sido habitual com os programas de investimento PEDIP, QREN e agora Portugal 2020.
O reitor até concordou em não se fazerem mais elefantes brancos, como argumentou Mário Araújo. Esqueceu-se no entanto que noutras áreas continua a promovê-los, como recentemente o fez em parceria com um elefante branco já existente. Desde que seja Física podemos pelos vistos ter elefantes brancos, em áreas tecnológicas essenciais à região, já será um desperdício.
Etiquetas:
investigação,
Política,
Sociedade
sábado, julho 02, 2016
O Brexit e nós
O referendo no Reino Unido que resultou numa saída da Comunidade Europeia, o chamado BREXIT, devia dar que pensar a Portugal e aos restantes europeus, sobre o papel dos britânicos na história da Europa, no deve e haver. A Inglaterra jogou tudo neste referendo nas suas relações com a Europa, arriscando-se ainda a perder a sua ligação à Escócia e ao desmembramento do Reino Unido. Não o fez de ânimo leve, mas após anos de insatisfação com as políticas europeias de controlo da aspetos que considera dizerem só respeito aos ingleses. São inúmeras as ingerências da CE nos estados membros, algumas bem intencionadas, como a dos refugiados, outras menos bem intencionadas e mais focada nos interesses dos estados fundadores, como por exemplo a PAC, política agrícola comum. Se os países como Portugal ganharam muito com o investimento da CE, foi também graças à comparticipação nesse investimento por parte do Reino Unido. Não temos que alinhar com a Alemanha na condenação ao Reino Unido, uma vez que a Alemanha é quem mais nos controla e humilha. O reino Unido não fazendo parte do euro, manteve-se sempre à distância. Veja-se recentemente as declarações do ministro das finanças da Alemanha, o sr. Shauble! A provocar um efeito internacional de desconfiança ao afirmar que Portugal vai ter um novo resgate. Não sei se devemos alinhar com um país com um ministro que constantemente nos ataca ou se devemos alinhar com o nosso mais antigo aliado e que nunca pôs em causa a nossa soberania. A Alemanha esteve por detrás da troika que com a aliança do governo de Passos Coelho nos forçou a comer o pão que o diabo amassou durante 4 anos. E agora vem dizer, pela boca do seu ministro das finanças, que temos que ter um resgate! É caso para dizer, levaram-nos a esta situação para nos condenarem. A Inglaterra foi nossa aliada desde a batalha de Aljubarrota, assegurando a nossa independência de Castela, nossa aliada contra Napoleão, assegurando a nossa independência novamente, na primeira grande guerra, não nos atacando na segunda grande guerra mesmo quando Salazar fornecia volfrâmio aos alemães. Agora que precisa de alguma consideração por parte de Portugal e de países europeus, que beneficiaram muito da sua aliança na grande guerra, aliás dos próprios alemães que queriam se libertar do jugo dos nazis na sua própria terra, depara-se com um coro de ataques por parte do sr. Hollande primeiro ministro da França, país que a Inglaterra juntamente com os americanos libertou dos nazis na II grande guerra, e de países como a Polónia que tinha uma força de libertação aquartelada em Inglaterra também durante a querra. De Gaulle não queria a Inglaterra na CE, e boicotou a sua entrada nos anos 60, numa atitude que na altura foi considerada de quase traição pelos ingleses que o abrigaram , tal como aos polacos, durante a guerra. Agora François Hollande faz coro com a Alemanha para o Reino Unido fazer as malas e saír depressa, como quem diz, vai-te que nunca te quisemos cá. Menos mal a postura da senhora Merkel que tenta acalmar os mais intolerantes. A decisão de sair pode não agradar a muita gente, e não me agrada a mim tampouco. Mas a democracia é assim, e temos que respeitá-la. Estão no seu direito. E acima de tudo respeitar a história que temos em comum com o Reino Unido que foi em grande parte o leito do País independente que somos hoje.
quinta-feira, junho 23, 2016
O RJIES, a Fundação e o sistema (pouco) democrático de eleição dos orgãos de poder
Passado alguns anos de implementação do RJIES, e dos estatutos da UM, é de estranhar que não haja maior discussão das vantagens e desvantagens destes estatutos na vida e funcionamento da Universidade. O RJIES foi talvez dos regulamentos mais discutidos mas sem ter beliscado o fundamental do regulamento. Não se nota grande aclamação do RJIES pelos universitários ao longo destes anos. Pelo contrário. No caso dos funcionários, logo desde o princípio houve uma reclamação, que não foi atendida, de só terem um lugar no órgão máximo de governo da Universidade, o Conselho Geral, composta por 25 elementos. Sempre achei que tinham razão por me parecer um medida elitista. Por outro lado, a experiência mostrou que o Conselho Geral é dominado por uma maioria, oriunda de uma lista que ganhou as eleições, e que uma vez no poder, dificilmente outros que não fizeram parte dessa lista terão influência nas decisões. Este sistema funciona num quadro político, como num parlamento ou assembleia, mas não é benéfico para a instituição por não haver forma de controlar o que provém da reitoria. Curiosamente é definido pelo RJIES que é o Conselho Geral que define a estratégia da Universidade. Todos percebemos que não é assim. O reitor, apoiado pela lista que o elegeu, é que define a estratégia. O Conselho Geral poderá ter comissões para tratar dos detalhes, mas as linhas gerais, são definidas pelo reitor. Outro aspeto já muitas vezes focado aqui neste "expositor" pessoal, é de que o RJIES transformou uma democracia direta numa democracia indireta, uma vez que o reitor não é eleito por todos os membros da Academia, mas por uma espécie de colégio eleitoral, ou seja o Conselho Geral, que até já tem o candidato escolhido aquando da formação das listas. É por demais evidente, que o espírito do RJIES ao permitir qualquer candidato a reitor, desde que seja Professor Catedrático, e até encoraja a que seja de fora da Universidade em questão, é totalmente falseado ao ter candidatos já pré-definidos aquando da candidatura das listas, sendo que o reitor é um apoiante, declarado ou encapotado, de uma das listas. O mesmo sucede nas Escolas, que á imagem da Universidade tem um Presidente e um Conselho de Escola, que terão as mesmas funções que o Reitor e o Conselho Geral à escala de uma Faculdade.
Com a Fundação pouco muda no que se refere à eleição do reitor ou dos Presidentes de Escolas/Faculdades. No funcionamento da Universidade haverá algumas alterações, como seja a figura dos curadores, que segundo se percebe vão controlar a Universidade no que respeita à sua estratégia orçamental. Por estas razões, sendo Fundação ou não, ficamos nas Universidades na mesma no que respeita à eleição dos órgãos de poder, sujeitos a lobbying por parte de quem já governa, ou seus parceiros, durante o período de campanha eleitoral para a formação as listas, com a agravante deste lobbying ser efetuado por quem já tem o poder o que o torna opressivo para quem é abordado. Com uma democracia indireta, baseada num Conselho Geral que se comporta como um colégio eleitoral, é inevitável que assim seja.
Etiquetas:
Estatutos,
Fundação,
Orgânica Universitária
domingo, junho 05, 2016
Os cursos têxteis e os empregos na indústria
Vimos na imprensa recentemente ser anunciado que na UM, os 8 finalistas do curso de engenharia têxil tinham tido ofertas de 200 empregos. Será que é benéfico anunciar as vagas que existem na indústria para aliciar candidatos aos cursos das Universidades? Não seria melhor anunciar onde estão os melhores empregos? É que para um licenciado hoje arranjar emprego, tem que aceitar um ordenado que não tem nada a ver com o que um licenciado recebia há uns anos atrás. As habilitações académicas estão desvalorizadas, não porque estejam piores, o que também é difícil de avaliar, mas porque há muitos licenciados para a geografia empresarial existente em Portugal. No caso da têxtil os candidatos ao curso e os seus pais têm essa perceção. São na maioria pequenas e médias empresas que não comportam um licenciado, e muito menos dois ou três, na perspetiva dos patrões. Na verdade o que os patrões querem e sempre quiseram, com honrosas exceções, é mão de obra barata. Os engenheiros fizeram-lhes jeito para darem o salto de empresas rudimentares que eram em empresas modernas e bem equipadas, graças também ao esforço que o país fez com os programas comunitários de apoio financeiro nas últimas décadas. Agora que as empresas funcionam de uma forma rotineira e automática. sentem que não precisam dos engenheiros. Põe-se a questão se não deveria haver uma maior aproximação para o grosso das empresas e fornecer-lhes profissionais que teriam cursos técnicos, a nível do que o politécnico oferecia há uns anos atrás, os engenheiros técnicos, sem descurar os cursos com maior exigência para as grandes empresas, que não são assim tantas, e para a novas empresas dedicadas a setores mais exigentes tecnologicamente, como a dos têxteis técnicos. Para formar engenheiros técnicos, com a tentativa de fusão de que se falou em tempos, seria uma solução para o IPCA, por exemplo, em conjunto com a Universidade do Minho, fazer um tal curso desse género. Seria também útil que os alunos fizessem estágios frequentes na indústria ao longo dos 2 a 3 anos do curso. Para o caso do curso mais evoluído, seria uma ideia manter os Mestrados e doutoramentos, mas não prosseguir com o curso de Mestrado Integrado, uma solução que nasceu com Bolonha e que tantas críticas tem merecido por parte de todos, empregadores em primeiro lugar, mas também de professores e dos próprios alunos.
domingo, maio 22, 2016
O ensino privado e o público, comentados por liberais
A guerra entre colégios privados e o Estado, sobre o financiamento de turmas aos colégios privados, teve o condão de despertar em muita gente os sentimentos liberais em relação ao ensino de uma maneira geral. Os argumentos liberais são centrados na liberdade de escolha dos pais e alunos, um argumento que se aceita em democracia. Mas não refere que esse ensino é pago por todos nós para alimentar um negócio que são os colégios privados. Esconde a verdade dos factos e propagandeiam uma ideologia de "liberdade". Os meios de comunicação, na maioria simpatizantes de ideias liberais, ajudam na mistificação. Tudo isto seria de esperar, uma vez que sendo algo que lhes foi oferecido, por uma governo liberal , de Passos e Portas, agora vêm o seu presente lhes ser retirado. Já tinha tentado com o cheque-ensino, outra aberração. É normal que se sintam frustrados. O governo contrapõe que o dinheiro dos contribuintes é para a escola pública e que só quando a escola pública não pode responder, ou porque não tem oferta de ensino nas proximidades dos alunos ou porque é um ensino especial, é que abre uma exceção. Este problema também teve o condão de revelar uma faceta de certos comentadores que normalmente não é divulgada pelos próprios. Veja-se por exemplo Miguel Sousa Tavares do Expresso, na sua coluna de opinião dessa semana. Conclui a sua crónica. dizendo que o Estado é gastador porque vai utilizar o dinheiro retirado aos colégios privados para distribuir manuais escolares a todos! Para já não é sério dizer que é para todos, porque será só para o ensino primário, segundo li em artigos sobre este assunto. Depois os manuais escolares gratuitos vão beneficiar aquelas famílias que não têm dinheiro para os comprar. Não serão as famílias de classe média ou alta que terão problemas em pagar 200 ou 300 euros.Dizer que dinheiro retirado colégios de meninos que têm a sorte de pertencer a estas famílias, ou que não têm outros problemas que os travam de entrar no colégio, deficiência ou outros problemas de educação, e que é utilizado para manuais de suporte aos pais de meninos e meninas que não tem sequer dinheiro para comer decentemente quanto mais pagar manuais de que precisam para "terem a tal liberdade de escolha" no seu futuro profissional, dizer que é um desperdício de dinheiro e que o "Estado" está rico, é de facto extraordinário quando vem de alguém que nos habituou a ter um sentido crítico sem cor política e normalmente consensual.
domingo, maio 01, 2016
A Festa dos Finalistas
Todos os anos assistimos ao mesmo, a feira de vaidades das diversas cerimónias de entrega de diplomas: o desfile de alunos em traje e insígnias; a bênção dos finalistas, uma cerimónia que nunca assisti mas que presumo seja uma cerimónia religiosa a certificar ou proteger pela mão de Deus um grau académico, o chamado "canudo"; a imposição das insígnias. Não entendo muito bem estas cerimónias nem a sua relevância no que respeita ao sucesso do aluno em obter um grau académico. Toda estas atividades se imiscuem no que devia ser um ato puramente académico de entrega de diploma e todos desviam a atenção do que suposto ser o objetivo da Universidade: ensinar e produzir graduados, não atores ou atrizes, soldados ou polícias fardados, com disciplina de praxe, fiéis católicos, modelos de passerelle....
Tudo o resto é folclore e o ensino dispensaria tal folclore se não fossem os pais dos alunos, os amantes das praxes, os responsáveis de protocolo, que não o dispensam. Compreende-se que os pais que investiram tanto no futuro dos filhos, queiram ver o resultado, e não os satisfaz só o canudo, querem ver e mostrar o sucesso dos filhos ou filhas que trouxeram a este mundo, como se de troféus se tratassem.
Embora discorde, compreende-se. Agora os responsáveis de uma instituição de saber e ciência, a Universidade, alinhar com este folclore, subjugar-se ao capricho de associações de estudantes como na imposição das insígnias, não separar a religião do ensino na bênção dos finalistas, como manda a lei, é que é já mais difícil de aceitar no século XXI. Mas enfim, desde que se divirtam sem haver mal maior, quem pode criticá-los? O problema é que pode deixar sequelas no caráter das personagens que participam demasiado em tais atividades, nomeadamente os Professores que ano após ano assumem funções de protocolo, ficando eles próprios imbuídos de um espírito artificial e desligado da realidade científica e do saber e do verdadeiro objetivo do ensino universitário, que se devia pautar por uma entrega humilde dos professores à tarefa de ensinar o melhor que podem. Quanto aos alunos, isso, a vaidade de um ato único passa-lhes com o tempo, espero. Os pais talvez sejam os mais gratificados, ao verem os seus filhos chegarem ao pódio. Mas será que o pódio é uma prova que alcançaram a ciência e saber? Fica a pergunta.
domingo, abril 03, 2016
Que estatuto para os bolseiros?
Com o novo governo, há um novo impulso para a I&D por via de maior apoio à estabilidade dos contratos dos bolseiros. Não é claro se estes contratos são só para os pós-doutoramentos tal como foi ventilado pelo ministro da tutela e também não é claro que tipo de contrato se está a pensar instituir. Como muitas das regras e leis introduzidas pelo Ministério da Educação e Ciência ao longo dos anos foram introduzidas sem grandes estudos prévios e muitas tinham a autoria quase exclusiva do Ministro, tal como o RJIES tinha do Ministro Mariano Gago, é natural que seja este o esboço dos novos regulamentos ou estatutos: transformar pós-doutores em investigadores contratados. Mais uma vez se for assim, sem estudos e consultas às Universidades, é natural que sejam os Institutos que beneficiem desta estratégia, assegurando quadros permanentes para as suas atividades, aliás já expectável pelo constante lobbying de institutos independentes, e dos laboratórios Associados na esfera das Universidades que no passado conseguiram contratos de 10 anos para os seus bolseiros, o que não era possível para outro Centros de I&D que não eram Associados.
Nas Universidades, a investigação é feita e supervisionada por Professores que desta forma para além de cumprirem uma das suas obrigações, sendo a principal a de lecionarem, também fazem por alcançar um currículo que lhes permita progredir na carreira. Muito se perdeu com os cortes percentuais feitos nos salários iniciados há 6 anos atrás, que diminuiu a diferença entre salários de Professores Catedráticos e Professores Associados, e entre Professores Associados e Professores Auxiliares, no que respeita ao incentivo para Professores na categoria mais baixa subissem de categoria. Não obstante, não deixa de ser um incentivo esta possibilidade de subir na carreira. Se os investigadores não tiverem incentivo para progredir na carreira, e tiverem ordenado fixo sem qualquer outro prémio de mérito, pode-se imaginar que a I&D perderá em qualidade e produtividade. Muitos se recordam que o antigo INETI funcionava assim, com muito pouca produção científica, muito por causa de se reger por estas regras. Esperamos que não se repita o erro, ao tornar investigadores em funcionários públicos.
É necessário recuar aos tempos do ECDU em que os Professores Auxiliares tinham que alcançar a nomeação definitiva para permanecerem na Universidade. A lei foi depois alterada para rodear esta questão, tornando o processo burocrático e muito pouco baseado no mérito, significando que muito poucos eram excluídos, mesmo aqueles sem qualquer currículo que permaneceram e continuaram sem outro controlo previsível para o resto da sua carreira, com uma atitude de comodismo e inatividade científica. Acomodaram-se dando aulas e pouco mais. Não se pode cair no mesmo erro com o novo estatuto para os bolseiros. É necessário incutir incentivos aos investigadores, não com contratações a prazo, como parece adivinhar-se para todos, mas contratos sem termo para aqueles, mesmo que sejam uma minoria dos atuais, que realmente mereçam, e introduzir um mecanismo não só de incentivos mas também de risco, baseado no currículo. Esse seria a meu ver um esboço correto para um estatuto que asseguraria uma evolução positiva para aqueles que justamente têm expetativas de estabilidade de emprego, e para o Estado que tem necessidade da Ciência e Tecnologia de topo.
Sem outras atividades, nomeadamente a de transmitirem os seus conhecimentos a outros, através de aulas ou de tutoria, também não será tão proveitoso para o Estado a sua atividade e será previsivelmente um foco de conflito entre professores e investigadores, especialmente se a recompensa, monetária ou outra, for equivalente, uma vez que os professores vão considerar que é uma situação injusta para eles, que também dão aulas.
Etiquetas:
Avaliação docentes,
ECDU,
Estatutos,
investigação
sexta-feira, fevereiro 26, 2016
Desenvolvimento na UM passa ao lado de muitos utentes? Ou não?
Alguns argumentarão que a vida na universidade tornou-se mais fácil e mais agradável. Com os novos processos informáticos ( 0 novo site, os pedidos de equiparação a bolseiro, os pedidos de pagamentos de deslocações) com as novas instalações, com os novos regulamentos como o processo de Bolonha, o blackboard, os inquéritos qualidade on-line, entre outros, tudo parece que melhorou. Tal como eu, suponho que para muitos não é assim. Em relação a Bolonha já muito se falou e eu também já desabafei com a falta de qualidade do ensino nos novos moldes e na desvalorização dos graus de ensino. Nos procedimentos, talvez por termos menos tempo ou menos paciência, admito, tudo se complicou. O novo site da UM não foi explicado, (onde está a intranet por exemplo? Hei-de encontrá-la ainda hoje?), o blackboard muitas vezes avaria, não se podendo aceder ao DUC, os inquéritos da qualidade são uma mera fantasia, muito pior que os presenciais em sala de aula, as novas instalações estão vazias e as antigas, as mais antigas pelo menos como as de Azurém, estão numa lástima (casas de banho com equipamentos avariados, portas de acesso nos corredores que só abrem com muito esforço, aquecimento dos corredores e muitos das salas que não estão ligados, laboratórios à espera há anos para que se arranje uma simples pia entupida, esgotos permeáveis nesses laboratórios, etc). O próprio reitor afirmou numa reunião de empresários recentemente após uma visita aos laboratórios do departamento de engenharia têxtil que as instalações estavam antiquadas. Esperemos que a chegada da Fundação com a propalada flexibilidade de utilização de verbas, se resolvam ao menos estes problemas de instalações. Os outros, os informáticos, teremos que esperar por sessões de esclarecimento a mostrar, e mais importante, a provar que houve uma melhoria, porque para muitos houve sim um exercício de experimentação em que todos nós fomos, e muitos ainda somos, as cobaias.
quarta-feira, fevereiro 10, 2016
Bolsas de investigação para politécnicos
O novo ministro da educação veio hoje anunciar um novo aumento de verbas para a Ciência, o que já era anunciado pelo programa do partido socialista. Mas o mais interessante é que veio anunciar algo de novo que é o acesso a verbas de I&D aos politécnicos, ou seja, supõe-se que bolsas de doutoramento, e o seu acesso por pessoas não integradas no sistema do ensino superior. Quanto ao maior acesso às bolsas, estou de acordo, embora não o ministro não especificasse muito bem quem poderia concorrer. Mas só o princípio já é de aplaudir. Quanto mais abrangente na sociedade o acesso à investigação, melhor. Agora, o acesso a doutoramentos nos politécnicos, vai no sentido da desvalorização que os doutoramentos têm vindo a sofrer na última década nas universidades. Com a entrada em vigor dos programas doutorais, e baseio-me no que conheço nas engenharias, há um primeiro ano académico e só dois de investigação. Alguém consegue perceber como em dois anos se faz um doutoramento equivalente aos doutoramentos que se efetuavam, por exemplo, pelos assistentes que necessitavam do doutoramento para passarem a Professores Auxiliares' Podiam demorar oficialmente 4 anos de investigação e normalmente duravam mais. Não admira portanto, chegados aqui, a uma transformação de doutoramentos em cursos, desde Bolonha, que os politécnicos também tenham essa hipótese. De outra forma, considerando como antes que os politécnicos seriam para formar técnicos para as empresas, e não para fazer investigação, não se compreenderia. Muitos politécnicos não são mais do que escolas de formação superior em que os cursos não são práticos, como o eram antes, nem são teoricamente ricos em substância, como supostamente o serão os das universidades. Chegou-se a um estado de coisas em que os politécnicos, salvo honrosas exceções, são como antes se designavam muita universidades privadas, "de papel e lápis", agora talvez melhor designados de cursos de "wikipedia". Por outro lado, os seus professores , não fazendo investigação, não se vislumbra como a podem incutir nos alunos ou como podem orientá-los. Muitos desses professores só lá vão para dar aulas, não tendo atividades de I&D. Seria pedir de mais que fizessem aquilo que o país pediria deles? Ou seja, transferir novas tecnologias e produtos para o tecido industrial, diretamente ou por via dos alunos colocados no tecido empresarial, e principalmente no industrial? Não se incentiva essa função do politécnico atribuindo bolsas de investigação. O que se vai fazer agora é aproximá-los artificialmente ainda mais das universidades, com bolsas. Já temos universidades de primeira e outras de segunda (os politécnicos) devido a políticas que os sindicatos pedem e que os ministérios aceitaram ao longo dos anos. Esta, das bolsas, é mais uma.
Etiquetas:
alunos,
Bolonha,
Cursos,
investigação
domingo, janeiro 03, 2016
Uma Fundação para servir a região
No final do ano entrou em funções o novo governo, e quase de imediato confirmou a passagem da UM a Fundação. Foi uma prenda de Natal para o reitor António Cunha que sempre defendeu a Fundação como forma de governo da universidade. Não só pela maior flexibilidade na gestão, por ser uma gestão mista privado-pública, com a possibilidade de contratar professores escapando ao controlo do Estado que congelou as contratações na Função Pública há anos, e não parece alterar essa sua posição, mas também por poder adquirir e vender imobiliário sem ter que passar pelo controlo da tutela e talvez nem do Tribunal de Contas. Essa parte nós compreendemos e até podemos beneficiar tanto com as contratações como com a aquisição de edifícios, desde que ambas sejam necessárias. Não precisamos nem de contratações desnecessárias nem de edifícios de fachada, sem uma função nobre, digna de uma Universidade que ombreia com as maiores universidades portuguesas. Desde que não enveredamos por novo-riquismos no imobiliário, nem em contratações sem objetividade. Seria uma oportunidade perdida. Se por outro lado se apostar em novas valências, sejam cursos virados para as necessidades da região, sejam infraestruturas para Centros de I&D de Excelência que tenham um percurso de apoio à indústria da região, e para, por exemplo, alojar empresas spin-off que emanaram da UM, aproveitando os espaços disponíveis no Avepark por exemplo, então já é, na minha perspetiva, uma evolução no sentido positivo. A UM deve mostrar a diferença em relação a outras Universidades, por estar no meio de uma região de pequenas e médias empresas, PMEs, na sua maioria indústrias transformadoras de setores tradicionais mas também nichos de excelência em eletrónica e software. Menos conhecido é a evolução em empresas de produtos bioativos, que quando desenvolvidos em têxteis, potenciam as indústrias tradicionais como a indústria têxtil. Outra área de interesse serão as indústrias a montante da indústria têxtil, tais como a indústria de corantes e de produtos auxiliares têxteis, quase na totalidade importados. O que fica no País, depois dos gastos nestes produtos, é muito pequeno para o que poderia ser se houvesse uma maior integração de produtos portugueses no artigo final têxtil. É preciso portanto que a Universidade aposte em novas indústrias de apoio às indústrias existentes, nomeadamente empresas a montante. Mas também é preciso que a Universidade invista em apoio à Gestão dessas empresas, que carece de uma lufada de ar fresco, muitas ainda nas mãos de famílias conservadoras eoutras nas mão de gestores de fundos de capital de risco, que não entendem nada de gestão de empresas transformadoras, tais como empresas têxteis. As humanidade são também importantes nas áreas que são muitas vezes menosprezadas na indústria mas que tanta falta fazem. Por isso noutros países os gestores têm muitas vezes outra sensibilidade por serem formados em áreas "soft" como línguas, psicologia, filosofia entre outras.
O que não precisamos é mais do mesmo, com investimento nas mega-áreas existentes na UM, que já deram mostras de viverem à custa de projetos que mais não são que o suporte a bolseiros e investigadores que não estão inseridos nas áreas existentes no tecido empresarial do norte de Portugal, nem sequer do país, mas que estarão numa ilha sem pontes para esse mesmo tecido empresarial. É preciso criar estas pontes, e se a Fundação o fizer, que seja bem vinda.
Etiquetas:
Empreendedorismo,
Fundação,
Serviços,
Sociedade
quarta-feira, dezembro 16, 2015
Abaixo de Braga
Veio a lume no jornal público, uma notícia caricata de um episódio em Braga. Trata-se de um derrame de efluentes domésticos, diga-se de esgotos, que inundou o rio Este por a conduta de esgotos ter ficado entupida com um cabo de fibra ótica. Isto junto à Universidade e ao INL, Instituto de Nanotecnologias. O cabo de fibra ótica aparentemente estava esquecido dentro da conduta de esgotos, acumulando os dejetos e acabando por entupir, provocando o derrame desses dejetos par o rio. O cabo foi colocado pela Associação Braga Digital, aparentemente sem autorização por parte da empresa municipal AGERE, uma iniciativa muito badalada e que arrancou com o anterior executivo da câmara, tendo se extinguido há pouco, depois de se terem gasto 10 milhões de euros, segundo o artigo. É caso para dizer, mas onde está a porcaria, no rio Este ou na política? O que provocou tamanho desleixo das autoridades que primeiro diziam desconhecer a existência desse cabo nos esgotos, e depois admitiam que afinal sabiam qualquer coisa que lhes fez tentar retirar o dito cabo, mas sem sucesso, aparentemente por falta de equipamento. Procuram agora um responsável de tudo isto, mas como a Associação se extinguiu, o que é de estranhar depois de um investimento tão elevado, não há a quem pedir meças. Penso que os responsáveis técnicos/científicos eram da universidade do Minho, que não se retrata das responsabilidades que eventualmente tem neste projeto. Uma delas seria o projeto da instalação da fibra, que dificilmente não seria do conhecimento dos membros da UM envolvidos neste projeto, que foi num esgoto! Seria a ideia aproveitar o fluxo de excrementos para melhor fluírem os dados? Ou seria uma forma de contraste entre vias físicas que se usam desde a antiguidade, como as vias digitais dos tempos modernos. O que há é muito amadorismo e imediatismo nestas iniciativas mediáticas. Pode-se depreender que o raciocínio foi o de que, se está ali um esgoto, porque não aproveitá-lo para encaminhar a fibra ótica da UM em Gualtar para o parque de exposições, num percurso de 2,5 kms!? Afinal, o que está por baixo da terra ninguém vê, o que está acima é que interessa e essa parte, para aqueles que se lembram, teve muita visibilidade.
sábado, dezembro 05, 2015
A máquina científica a funcionar
Temos a ideia que no caso das universidades quem tem mais publicações é quem tem mais mérito. É, a meu ver, uma forma simplista de avaliar o mérito de um investigador. Publicações são na maior parte das vezes baseadas na continuidade de publicações em que só a primeira é original. E mesmo assim esta primeira pode ter sido baseada noutra de outro investigador. É assim que cresce a ciência, step-by-step e não por transformações radicais. Há quem colecione publicações. Há quem tenha equipas em que cada um faz a sua parte, qual cooperativa, para produzir publicações em massa. Nestes casos o número de autores é normalmente elevado, não se percebendo muitas vezes quem teve a maior fatia da investigação em causa. O diretor do centro em muitos casos também faz obrigatoriamente parte do rol de autores, embora não tenha participado ativamente no trabalho. Esta forma de fazer I&D é transversal a muitas áreas e em muitos países. É assim há pelo menos duas décadas e são muitos os que beneficiaram desta "entreajuda". É essa a perceção do investigador que não faz parte destas autênticas fábricas de "papers" e que depois olha com ironia para os resultados que essa investigação tem na sociedade e nomeadamente nas empresas, e verifica, baseando-se nas estatísticas que têm vindo a ser publicadas sobre esta discrepância, que não têm de facto uma correspondência. A questão também em termos científicos torna-se endémica, quando os doutoramentos são baseados em publicações. Como se pode avaliar um trabalho individual com base em publicações coletivas? Nunca entendi esta forma de submeter teses de doutoramento. E dá-se desta forma a compensação ao investigador que esteve numa equipa e ajudou também a outros obterem os seus doutoramentos. Agora com a classificação dos doutoramentos então ainda é mais surreal. Como se pode distinguir entre um 14 e um 19 se não há um só autor no trabalho que se apresenta, mas vários autores? Não será de estranhar que com esta falta de objetividade, a classificação que agora é norma na Universidade do Minho não signifique nada, tanto pode ser 14 como 19, dependendo de muitos fatores subjetivos, como uma boa apresentação, um júri mais tolerante ou mais exigente, a dimensão júri, ou pura e simplesmente a boa ou má disposição do júri. Assim se joga um intervalo de meia dúzia de valores.
O que a Universidade deve tentar alcançar, como têm insistido ultimamente muitos responsáveis políticos, além de comentadores vários, é uma maior influência do que se faz na Universidade, naquilo que as empresas necessitam para reformar e inovar. Se saíssem mais patentes das universidades talvez o panorama fosse diferente. Mas o número de patentes saídas das Universidades é confrangedor quando comparado com outros países de dimensão e economia semelhante. Hoje o Expresso de novo, num artigo sobre a COTEC, refere-se que Portugal tem 40% da média europeia de patentes e só 3% estão presentes nas exportações, em licenças concedidas, o que já tinha sido referido noutro artigo aqui também referenciado, e com um número de patentes ainda inferior à média europeia(18%). Seja como for, os números são evidentes e devem ser motivo de reflexão de todos os professores e investigadores das Universidades.
Etiquetas:
alunos,
Empreendedorismo,
investigação,
Sociedade
domingo, novembro 22, 2015
Uma mesa-redonda sobre transferência de tecnologia universidade-empresas
No aniversário da Tecminho, foi tema do colóquio promovido para o efeito, a transferência de tecnologia das universidades para a indústria. Falou-se da discrepância entre o ranking de Portugal na Ciência e na Inovação, a primeira avaliada pelo número de publicações e a Inovação pelo número ode patentes, entre outros critérios, tais como a I&D no Estado, nomeadamente nas Universidades e nas empresas. Um comentário do moderador José Mendes, vice-reitor da UM, foi indicativo de como os números enganam, referindo.se que muita do I&D nas empresas são atividades consideradas de I&D e que não o são na realidade, tal como o trabalho de desenvolvimento de software efetuado em bancos. Não me espanta esta constatação, uma vez que num mundo em que os números e as estatísticas é que valem, tudo serve para empolar esses mesmos números.
Numa nota otimista, o representante da ADI, Agência de Inovação, apresentou dados de evolução já conhecidos, sobre o aumento do número de projetos de co-promoção desde o último programa quadro da CE ao presente programa 2020. Não especificou como esta evolução encaixa na Inovação, uma vez que muitos destes projetos são mais baseadas na evolução do que na inovação. Não se refletindo em patentes, não se pode distinguir se é novo o que que se faz nestes projetos ou se pelo contrário é de facto uma evolução. O que se depreende destas afirmações, com referências a empresas tradicionais, confirma a suspeita de que são inovações evolutivas e não de novos produtos inexistentes no mercado. Os outros intervenientes presentes na mesa redonda eram o representante do INL, Instituto de Nanotecnologia Ibérico , e um professor Universitário holandês. Este último, sendo psicólogo, referiu que para as start-ups seria positivo terem outras valências que não só engenheiros ou cientistas, mas também que incluam licenciados em humanidades que poderiam fazer uma ponte com a sociedade, uma vez que a linguagem dos engenheiros/cientistas não é muitas vezes entendidas pelos empresários. Não está mal pensado. O representante do INL, recém-chegado a este instituto, traz ideias novas ao INL tais como colocar os seus investigadores nas empresas para perceberem como podem integrar a sua tecnologia na tecnologia das empresas. É um passo no sentido certo, mas não serão dois mundos muito distantes? A nanotecnologia desenvolvida no INL será mais indicada para empresas intermédias, spin-offs, que após regurgitarem essa mesma tecnologia e a transformarem em algo que será minimamente próximo da nossa indústria, poderiam talvez ter mais êxito que este salto inter-galáctico entre estes dois mundos. No entanto, a atitude deste novo diretor do INL é muito positiva quando comparada com a anterior direção, na opinião de um atento observador.
O colóquio terminou com um curto vídeo sobre a Tecminho que fez 25 anos e que foi no seu tempo a primeira interface Universidade-indústria, numa altura em que a UM tinha mais colaboração com o tecido industrial das pequenas e médias empresas do que as outras universidades. Quando apagarem as velas, façam um pedido: peçam que esse espírito empresarial da UM volte, porque parece-me que se tem vindo a esvanecer. Um exemplo dessa tendência que deve ser revertida, foi a saída do único parque de Ciência e Tecnologia da região ao qual presidia, o Avepark. Faço votos que também esta saída seja revertida no futuro, ou por via da mudança de iniciativas governamentais do anterior governo, que provocaram em grande parte a tomada pela Câmara de Guimarães do Avepark, ou usando um pouco a imaginação e a motivação de apoio ao empreendedorismo, que andam muito por baixo na UM nos últimos anos, não tanto na discussão do tema, como foi o caso, mas mais na atuação.
Etiquetas:
Empreendedorismo,
investigação,
Política,
Serviços,
Sociedade
sábado, novembro 14, 2015
Atratividade do ensino superior em crise
Hoje uma notícia no jornal Público diz-nos que o ensino superior é menos atrativo para os jovens por o emprego estar a crescer mais, embora modestamente, para os jovens com o ensino secundário completo do que para os licenciados, citando um relatório da Comunidade Europeia(CE).
Por outro lado, muitos jovens licenciados exercem empregos abaixo das suas qualificações. A CE não foge à regra com 25% de jovens nessa situação. Adianta este relatório algumas causas, sendo a das oportunidades de emprego a primeira, mas que o abandono escolar também é elevado, pelo que se conclui que os alunos chumbam muito, talvez por os cursos não serem interessantes ou relevantes para um mundo em mudança. No caso de Portugal, com o que se perdeu nos último 4 anos, em que a indústria não evoluiu, em que não houve uma re-industrialização do país, mas que pelo contrário, houve um reforço das empresas dos setores tradicionais de mão de obra barata, os têxteis e o calçado por via das exportações, as saídas para os licenciados para postos de relevo nestas ou noutras engenharias são muito pequenas. Mesmo aqueles que exercem nestas indústrias, recebem ordenados pouco acima do ordenado mínimo. É o País que não acompanha o ensino ou é o ensino que não acompanha a indústria? É um ciclo vicioso porque uma coisa precisa da outra. Se a indústria não existe, os curso para essa indústria não fazem sentido e se os cursos não existem, embora não seja tão linear, também não há incentivo para a indústria se estabelecer no país, nomeadamente por via do investimento estrangeiro. Qual a saída então? Há quem defenda que as start-ups serão a solução. Mas estas são uma gota no oceano. Poderão no entanto, quando têm origem nas universidades como spin-offs, ter um efeito catalisador dos cursos donde emanaram, por servirem de exemplo para os candidatos aos cursos de ensino superior. Estes cursos com atratividade, por sua vez, terão um efeito de incentivo para a formação de outras spin-offs e assim sucessivamente. Será um ciclo vicioso mas desta forma, com efeito positivo tanto no tecido industrial como nos cursos de ensino superior.
Etiquetas:
alunos,
Cursos,
Empreendedorismo,
Sociedade
domingo, outubro 25, 2015
Praxes de novo
Será que alguma vez nos vamos livrar das praxes? Todos os anos as mesmas cenas. Jovens a serem humilhados em nome da integração da academia por outros jovens que já passaram por essa humilhação. Dir-se-ia que quem passou por isso, é pior que se não passasse, por ser uma espécie de vingançazinha ou uma catarse, para se livrarem da humilhação sofrida quando eram caloiros. Um psicólogo e em casos extremos de praxe um psiquiatra, conseguirá melhor que um simples observador, como é o meu caso, avaliar estas mentes que momentaneamente perdem o discernimento civilizacional, para se portarem como se fossem uns animaizinhos. Não se entende de outra forma. Já aqui de novo no ano passado discorri sobre este fenómeno tentando compreendê-lo mas sem grande sucesso. Já nem vou tentar mais entender este fenómeno. Por mim, fazia-se se uma semana ou duas de receção ao caloiro, com atividades, promovidas pelos clubes desportivos, por exemplo, e pelos alunos mais velhos, os finalistas em primeiro lugar, que promoviam atividades sobre os cursos que frequentam, com simpósios, convites a empresas e entidades que representassem a sociedade civil onde estes alunos se vão encaixar, quando acabarem o curso. Os alunos estariam assim ocupados, sem grande disponibilidade para as praxes. É o que se faz, ou pelo menos fazia-se, no Reino Unido. Porque não cá? Teremos menos imaginação que outros países para fazer singrar estas atividades de integração de estudantes caloiros? Talvez, ou talvez a praxe impeça isso, obrigando à participação de todos, por intimidação e por "tradição".
As praxes foram banidas dos campi da UM? Ou foram banidas só as praxes violentas? Não se sabe onde está a linha divisória. A humilhação é uma violência. A reitoria devia banir praxes do campus, "tout court". Sejam ou não aparentemente violentas. Sejam barulhentas ou não. Divertidas ou não. Integradoras ou não, por ser muito subjetivo o que é a "integração de pessoas". Quando se discriminam aqueles que não querem a praxe, a integração mais parece uma filiação numa seita que uma integração. Quando a participação de quem é praxado deriva de uma ordem de um superior e não de iniciativa própria, não é uma integração, mas uma sujeição. Quando se "lambem as botas" aos praxantes, isso torna os praxados em súbditos e não em colegas, como seria de esperar numa integração séria. A hierarquia está sempre presente, até ao fim do curso, e isso não é próprio de uma integração numa equipa, mas mais parece uma integração numas forças armadas onde se exige um hierarquia rígida. Enfim, haverá tantas mais observações a fazer, mas mais uma vez, mais um ano passa e tudo o que se diz sobre a praxe cai em saco roto. É frustrante.
Subscrever:
Mensagens (Atom)