domingo, julho 05, 2015
Bolonha e doutoramentos
A propósito de Bolonha, vem a talhe de foice falar de Miguel Relvas. O caso é conhecido: alguém que conseguiu uma licenciatura, em Ciências Políticas, numa universidade portuguesa, a Lusófona, por lhe ter sido atribuídas equivalência a grande parte das UCs (disciplinas) com base no seu currículo de político. Diz o Professor Alberto Amaral que se a moda pegasse bastava a alguém trabalhar num stand da Renault para obter a licenciatura de engenheiro mecânico. Está bem visto. Bastaria a alguém trabalhar numa empresa têxtil para ter uma licenciatura em engenharia têxtil? Talvez. Os exemplos seriam muitos.
O caso de Relvas está em tribunal para se averiguar da sua legalidade. Mas independentemente da sua legalidade, há alguém que aceita este estado de coisas? De que serve a legalidade formal de um diploma se o diploma não vale nada? E se não vale nada pode-se concluir que as outras licenciaturas da Universidade Lusófona também não valem nada? Com certeza que não! Onde eu quero chegar é à generalização que se pode fazer de casos tristes em que a Universidade facilita, ou para ganhar alunos, ou compensações de outra ordem. Preocupa-me um pouco o facilitismo que se apoderou das Universidades desde que as licenciaturas e doutoramentos de Bolonha passaram a vigorar. E não se pode atribuir tudo a Bolonha. Mas uma vez que o facilitismo se instala, já não se distingue se é de Bolonha ou não. Por exemplo, doutoramentos em conjunto com outras Universidades que por não terem uma especialidade numa determinada área, formam os seus docentes nessa área através de um doutoramento em conjunto, mas que será atribuído pela UM. Não sei se existem outros casos, mas conheço o do Centro de Ciência e tecnologia Têxtil da Escola de Engenharia, o 2C2T. É um doutoramento pago, à Universidade e aos docentes. Põe-se logo a questão: se é pago, admite que algum dos seus doutorandos não obtenha o título de doutorado? A universidade de Maringá, Brasil, neste caso específico, espera que alguns dos seus professores voltem sem doutoramento depois de pagar? Há uma outra questão que se coloca e que há muito que eu ponho em causa: a formação de base dos alunos. Não sei como é nos outros centros, mas no caso do 2C2T entram alunos com os mais diversos currículos para o doutoramento em Engenharia têxtil, desde design a gestão. Deu-se o caso de há uns anos admitirem um aluno com contabilidade como área principal do seu currículo. Como me demiti nessa altura do Conselho de Cursos do PDET, Programa de Doutoramento em Engenharia Têxtil, considerando que esta era a gota de água, não sei que outros CVs têm sido admitidos. Sei que o Design tem sido admitido como currículo até porque houve recentemente doutoramentos na área do design que foram admitidos como doutoramentos em Engenharia Têxtil. A justificação é que não existe doutoramento em Design Têxtil. Depois do escândalo do doutoramento em Engenharia Têxtil que foi plagiado, também por ser numa área que se prestava a isso, Marketing, mais uma que se admite como Engenharia Têxtil, pensar-se-ia que no 2C2T se "navegaria" com mais cuidado. A questão é que no caso do doutoramento plagiado, não houve qualquer sanção aos envolvidos, nem qualquer demissão. Os mesmos continuam à frente do centro e os professores envolvidos continuaram a distribuir diplomas, em tudo igual, baseados em estudos de mercado, estatísticas e outras ferramentas que de originalidade não têm nada(veja-se o artigo de opinião de Vasco Eiriz em Empreender). Na altura o reitor e presidente de Escola afirmaram que iriam atuar. Ficou-lhes bem. Mas o tempo tratou de fazer esquecer e o risco de acontecer outra vez continua. É o que acontece quando se facilita. E voltamos ao assunto de início: facilitar, ajuda quem? O próprio é evidente. Mas a instituição em causa, e por último a imagem do ensino superior e do País? Com a ideia que os países do norte da Europa já têm dos portugueses que acham pouco gostam de trabalhar, muito por causa da dívida que acumulámos, este tipo de atitude vem mesmo a calhar para provar a sua teoria.
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segunda-feira, junho 22, 2015
Subsídio de exclusividade
Num artigo de opinião, um professor da Universidade Católica de Lisboa, sugere que se retire o subsídio de exclusividade a quem não faz investigação. Para além da questão óbvia da designação de "exclusividade" não ter muito a ver com a "investigação", não sendo líquido que um exclua o outro, há ainda a questão de saber se aqueles professores que não fazem investigação não terão outras funções uteis na instituição? E os funcionários que não trabalham como deveriam ser tratados? Também perderiam uma parte do ordenado? Alega que seria uma forma simples de aumentar a contratação de mais professores sem gastar dinheiro. E esses novos professores fariam investigação? Também não é seguro que o façam uma vez que alcançam a segurança do emprego. Penso que o mecanismo de avaliação dos professores, RAD, se fosse feito duma forma honesta, seria o suficiente para fornecer o incentivo necessário para os professores fazerem investigação e "assustar" aqueles que não a fazem. Não tem sido eficaz, por razões muito próprias da função pública, em que o fator de subjetividade prevalece, relacionado em parte com o receio de penalizar colegas. O sistema que o colega da Universidade Católica propõe também não deixa de ter os seus riscos de arbitrariedade. Quem é que decide se o professor faz investigação ou não faz? O Presidente (Direção) da Escola. Como é possível ter tal avaliação? Não seria melhor aproveitar o RAD que foi feito a pensar na objetividade do que estar sujeito a uma avaliação que não tem parâmetros seguros para comparação entre CVs? Seria aliás uma dependência perigosa dos professores da vontade unilateral de um só indivíduo. O atual estatuto RJIES já incentiva a investigação através da promoção no escalão, uma vez descongelados os escalões, e aponta para soluções para os casos de professores que não fazem investigação, permitindo que façam atividades alternativas, dedicando-se mais à componente pedagógica, por exemplo. Basta pôr o ECDU, o RAD e o RJIES a funcionar como deve ser para resolver este problema. Só é preciso haver força de vontade dos professores para que isso aconteça, e essa é a parte mais difícil, mas deve-se chegar lá motivando e não penalizando, na minha perspetiva. Promovendo os melhores na investigação, deixando por defeito os piores para trás. Esta seria uma forte mensagem para os que ficassem para trás alterarem a sua atitude.
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sábado, junho 13, 2015
Bolonha
Que balanço se faz da implementação de Bolonha? Nenhum? Porque é que as Universidades não fazem um balanço dos resultados? O que se ganhou e o que se perdeu? Afinal altera-se todo um sistema de ensino e não se fazem balanços, como se a mudança fosse definitiva. A sociedade empresarial, e principalmente a industrial, recusa empregar licenciados de Bolonha. O que é que isto nos diz? Diz-nos que os cursos de 3 anos de engenharia ou ciências não têm qualidade? É evidente que é isso que nos estão a tentar dizer. E na Educação? O que é que os resultados dos exames feitos aos professores com resultados preocupante, demonstrando o que muitos já sabíamos, que há muitos professores que não dominam a matéria que lecionam nas nossas escolas? Os próprios sindicatos vêm agora dar a mão à palmatória e concordar que de facto pode haver casos desses, mas que são as instituições de ensino que são ocupadas por não ensinarem bem. Na engenharia, procurou a Ordem dos engenheiros colmatar eventuais falhas das licenciaturas de Bolonha instituindo os Mestrados Integrados, com a mesma duração que as antigas licenciaturas. O problema é que foi tudo feito à pressa e os Mestrados Integrados acabaram por ser uma licenciatura mas sem estrutura. Não há aulas práticas como havia na licenciatura; não há tantas provas escritos recorrendo-se muito a trabalhos, que tantas vezes são copy-paste de outros trabalhos sem possibilidade de haver uma avaliação objetiva; não há estágio empresarial/industrial perdendo-se aquilo que seria uma introdução do aluno na empresa/indústria e quantas vezes tinha como consequência o aluno permanecer na empresa e conseguir um emprego, além de se afirmar com um projeto muitas vezes útil e ás vezes até inovador. O que há de positivo com Bolonha é talvez só a implementação de projetos integrados, em que os alunos usam de alguma iniciativa para apresentar soluções para apresentarem produtos ou processos, supostamente inovadores, que lhes são sugeridos pelos professores e que integram matéria de várias disciplinas (UCs). Talvez com tantos projetos integrados se espere que o aluno saia com capacidade para resolver problemas e até de inovar. Sem dúvida que este aspeto do curso estava ausente do formato anterior dos cursos, pelo menos do plano de estudo não constava, e só no estágio haveria algo de parecido. No entanto os professores das UCs eram livres de solicitar aos alunos que apresentassem trabalhos sobre determinados temas, da mesma forma como acontece agora com os projetos integrados. Só não eram temas que abrangessem também outras UCs. Mas quantas vezes essa integração é de facto feita? Até porque em muitos casos as UCs de um determinado semestre, serão muito difíceis de incluir num projeto integrado, por serem tão díspares. Falando dos casos que conheço dos cursos onde lecionei estes anos, verifico também que muitos assuntos são repetidos ano após ano, sem os alunos aprofundarem esses temas suficientemente ao longo dos anos. Acabam por não saber mais do que aparece nos motores de busca, que vem em abstracts, sumários e reportagens da atividade de empresas nas áreas abrangidas pelo tema em estudo.
No caso dos doutoramentos, que merecem uma análise separada, por supostamente serem de um trabalho original, verifica-se que os programas doutorais, que agora na UM contam para nota final, uma vez que sendo opções não são propriamente UCs que serão determinantes na formação do aluno em investigação, e retiram tempo precioso para que o aluno possa ter tempo de aprofundar o estudo que estará a realizar por iniciativa própria. Em três anos de doutoramento, é um ano que se "perde". São muitas vezes UCs que ao contrário do que se pretende, retira ao aluno a sua aprendizagem de investigação, ao tentar ensinar a investigar, pois retira a auto aprendizagem, essencial para a capacidade necessária à afirmação do investigador. Além do mais, um doutoramento com dois anos efetivos de doutoramento, dificilmente terá o mesmo nível que os doutoramentos que eram efetuados em 3 e muitas vezes 4 e mais anos.
sábado, maio 23, 2015
Inquéritos e estatísticas
As empresas são assediadas constantemente com inquéritos de alunos de mestrado ou doutoramento, e até de licenciatura, que fazem trabalhos e teses baseadas numa análise desses inquéritos. É algo que se tornou “viral” ultimamente, não estando os professores também livres de apanharem com inquéritos por parte também de alunos. Claro que todos gostamos de ajudar os jovens nesse seu percurso de aprendizagem. Mas será que ao responder estamos mesmo a ajudar? Que resultados tiram estes alunos de inquéritos que demoram uns minutos a responder? Por outro lado as empresas são obrigadas a preencher inquéritos do INE sobre I&D. Para que serve? Para estatísticas claro, mas na realidade qual o proveito? Inquéritos são o que são. Podem espelhar uma situação mas não a resolvem. Por isso não se percebe qual o objetivo, a não ser encher arquivos de números. Também temos na Universidade inquéritos à aprendizagem. Quem os faz terá a noção que ninguém os vai analisar? Ou mesmo ler? Parece que temos uma inquérito-mania. Tenho para mim, que as estatísticas são o oposto duma avaliação objetiva do mérito ou do fracasso, nivelando tudo pela média. Com a entrada do processo de Bolonha, as avaliações ponderadas dos trabalhos dos alunos, acabam sempre por nivelar, ou digamos, "terraplanagem", sem altos nem baixos. Os concursos também seguem a mesma "segurança" com avaliações ditas objetivas em folhas excel. Mal vamos quando ninguém sobressai e ninguém é excluído. Temos depois profissionais que não passaram por um verdadeiro crivo, sendo que não poderão responder a desafios que terão de enfrentar de uma forma conclusiva ao longo da sua vida profissional, mas antes acabam por evitá-los ou então acabam por aprender à própria custa, porque no ensino superior não foram verdadeiramente postos à prova.
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domingo, maio 17, 2015
A ciência é para ser aplicada?
Discute-se mais uma vez nos fóruns sobre ciência se esta deve ser fundamental ou aplicada. Durante os últimos anos investiu-se muito na ciência fundamental e supostamente na ciência aplicada. Mas os resultados são mais evidentes no que se investiu em ciência fundamental, com o número de doutorados e de publicações científicas a crescer exponencialmente nas últimas 2 décadas, mas o que se investiu em ciência aplicada não surtiu o efeito desejado, segundo Daniel Bessa no jornal Expresso deste sábado dia 16, só se tendo registado 18% das patentes da média europeia em Portugal. Há algo que não está certo, uma vez que o investimento em investigação e desenvolvimentos está a 82% da média europeia, muito superior portanto ao que se investe na maioria dos países europeus. No caso das patentes, nunca houve no passado incentivo científico ao seu registo, não se considerando no mesmo nível que os artigos científicos e não havia nem há incentivo financeiro para o se registo, que estará fora do alcance de qualquer inventor individual. Além do mais, quem regista patentes em Portugal tem pela frente examinadores que são mais papistas que o papa, chegando a ser mais fácil obter a sua aprovação noutros países europeus do que em Portugal. Há uma atitude de chumbo fácil, de uma forma leviana em que se faz uma análise negativa da patente sem o cuidado de analisar exaustivamente o seu mérito, tal como fazem os EUA no que respeita à patentes submetidas pelos seus cidadãos e empresas. Eles protegem a nossa tecnologia, nós penalizamos a nossa.
E mesmo das patentes aprovadas só 3% da média dessas patentes contribuíram para as exportações, através do seu licenciamento ou venda. O mal não pode estar só nos investigadores, mas no desajuste dessas patentes ao tipo de empresas existentes em Portugal. Com algumas exceções, são pequenas e médias empresas sem estrutura para poder tirar partido de novos desenvolvimentos ou novos produtos. Os setores de atividade também são setores de grande imobilidade tecnológica, que mesmo modernizando-se, fazem-no através da importação, e não através de inovação obtida no país. É sem dúvida um problema complexo. Mas sem descomplexá-lo não se resolve. Vamos por partes: se os setores são de baixa tecnologia, há quem defenda que deviam-se substituí-los por outros mais sofisticados e mais produtivos. Como exemplo, o setor têxtil, que de momento está bem e exporta a maior parte da sua produção. Como vai uma indústria deste teor contratar doutorados? A sobrevivência faz com que não faça planos para alterar o seu paradigma: exporta mas não evolui. Outras indústrias como o calçado, também não têm necessidade de doutorados, por serem também de baixa tecnologia, e mais focados no design e no branding. Falou-se muito da Bosch a contratar engenheiros e possivelmente doutorados. Mas a Bosch é estrangeira e à primeira oportunidade de cortar nos custos, deslocaliza para países onde os salários e energia mais baixos, tais como os países de Leste. E mesmo que fique, é uma gota no Oceano. É necessário fazer um pausa para pensar, mesmo que isso signifique diminuir os número de bolseiros nas universidades. Talvez esperar uma década para o cenário industrial mudar para um de mais alto nível tecnológico e consequentemente mais apelativo para os doutorados e vice-versa, que precise de doutorados. Até porque temos 9,2 doutorados por cada 1000 habitantes quando a média da UE é de 6,2, segundo o mesmo artigo de Daniel Bessa.
Entretanto faça-se ciência mas com dinheiro de fora, sejam projetos europeus ou internacionais, e que não necessitem de comparticipação nacional. Porque fazer ciência é sempre necessário, para o futuro das universidades e da própria ciência, que todos os países têm que ter, em maior ou menor grau. Mas não com os escassos recursos que temos. É a única via, a meu ver. Pelo menos a mais lógica e pragmática.
sexta-feira, maio 08, 2015
Consórcios em risco-2
Devem as universidades fundir-se? A fusão traz mais-valias às universidades? A opinião da EUA, Associação Europeia das Universidades, divulgada em notícia do jornal "Público" em 3 de Maio, diz que não. Na verdade pode ser uma forma de atingir maior dimensão mas não traz sinergias. Cortes, talvez, nomeadamente quando os cursos se sobrepõem. E os centros de investigação ganham com o aumento da sua dimensão? Penso que não. Por muito que se tente juntar professores, o ADN do investigador-professor típico faz com que ele não ceda a sua autonomia. Haverá sempre colaboração entre equipas complementares, mas não será esse o cenário provável entre equipas da mesma área de investigação. No caso das universidades do norte, Minho, Porto e Vila Real, que formaram o primeiro consórcio existente, elas são réplicas uma das outras, apresentado basicamente os mesmos cursos, e os mesmos centros de investigação, à exceção de alguns pequenos cursos e centros de setores específicos da região, mais ligado à agricultura no caso de Vila Real e cursos ligados ao setor têxtil na Universidade do Minho. É uma situação muito diferente daquela das faculdades existentes em Lisboa, o Técnico, centrado nas engenharias, e a Universidade de Lisboa, lecionando principalmente cursos de humanidades e ciências. Não havia portanto duplicação de especialidades por isso não se prevê um processo de "otimização" de recursos, um eufemismo par "cortes" de recursos. Mas no caso das universidades a norte, que a ideia do consórcio destas universidades não foi suficientemente ponderado nem pelo governo nem pelas partes interveniente, é mais que óbvio. Como os responsáveis por este consórcio vão descalçar esta bota que se tornou incómoda para todos, não sei. Se esta ideia for para a frente, poderá haver uma subalternalização das universidades da periferia, em relação às do litoral, nomeadamente a universidade à do Porto, no caso do consórcio a norte, devido à maior população estudantil no litoral. Até pode implicar um maior fosso entre estas universidades. Receando este cenário, as universidades mais periféricas, matam o consórcio à nascença. Veja-se a mais recentes tomada de posição do presidente do CRUP e reitor da UM que já é um passo nesse sentido.
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domingo, abril 26, 2015
Consórcios em risco-1
Todo o processo de nascença dos consórcios sai inquinado à partida, é o que se deduz das novas tomadas de posição por parte dos reitores. O reitor da UM, António Cunha, já veio dizer em entrevista há duas semanas atrás, que o consórcio já formado "terá que deixar de existir". Argumenta que o Conselho de Coordenação previsto para o consórcio, iria esvaziar as competências dos Conselhos Gerais. Não tendo havido uma posição pública por parte dos C.G., não sabemos se será essa a razão principal da argumentação contra o que nos permite duvidar da bondade da atitude do reitor da UM em relação à posição em que ficariam os C.G. sendo talvez mais a sua própria posição em que ficaria como reitor, que não teria a total liberdade de atuar em determinadas áreas, como até aqui, e muito menos se a UM passasse a Fundação. O reitor da UM e Presidente do CRUP não deixa no entanto de sugerir que qualquer alteração teria que ser feita no âmbito de uma alteração ao RJIES. Não se entende porquê, uma vez que este Conselho de Coordenação estaria acima dos órgãos das Universidades, não sendo ele próprio um órgão universitário, mas depreende-se, até pela natureza do consórcio, que seria um órgão intercalar entre o Ministério da Educação e as Universidades. A Universidade de Lisboa na atualidade,originou de um processo não muito diferente de "consórcio" entre a anterior Universidade de Lisboa e o Técnico, passando depois numa fase mais adiantada, a uma instituição única. Não defendendo à partida os consórcios, por não saber concretamente quais as consequências da sua formação, nomeadamente no corte de cursos "duplicados" que existam nas duas ou três Universidades do consórcio, mas por outro lado, só tenho ouvido referências elogiosas a esta união de duas universidades, principalmente pela sua maior dimensão originar numa maior visibilidade em termos internacionais, nos rankings e nas candidaturas a projetos internacionais. Na altura este aspeto foi salientado como sendo uma grande mais-valia para o consórcio estabelecido entre as três universidades do norte: Porto, Minho e Vila Real. Aparentemente este e outros aspetos positivos propalados na altura pelos governo e pelos reitores, nomeadamente aqueles das universidades que formaram o primeiro consórcio, as universidades do norte, que correram com as suas canetas em punho a assinar o protocolo, já não são assim tão positivos. Agora que o consórcio está formalmente formado, vêm os reitores, ou pelo menos o reitor da UM na qualidade de Presidente do CRUP, mostrar arrependimento pela sua anterior concordância em relação à formação dos consórcios. Pena foi que não tivessem pensado nos aspetos negativos antes. Agora depois de tudo assinado, se não for demasiado tarde, no mínimo coloca os reitores numa posição de falta de coerência em relação a todo o processo.
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domingo, março 29, 2015
Espaços verdes na UM
Vem a propósito de umas mensagens recebidas na UM-net este fim de semana sobre uma aluna ter sido avisada por um segurança para sair da relva onde estava sentada, um comentário sobre a falta de espaços verdes na UM. Pois se se havia de expandir os espaços verdes no campus, como seria de esperar quando se discutiu o futuro da quinta dos Peões mesmo em frente ao campus, e se prometeu uma expansão dos espaços verdes, o que parece ser a evolução no últimos anos é a ocupação de possíveis espaços verdes. Os edifícios aparecem por todos os lados, sabendo-se que alguns são de projetos megalómanos de projetos financiados que tudo indica não terão ocupação que justifique a sua dimensão, como por exemplo os edifícios a "norte" do campus. Podia-se ter expandido para esse lado com um espaço verde, com relva, árvores, arbustos, flores e toda uma envolvente que descansa se recomenda para descansar o corpo e a mente de quem estuda. Já antes a UM deitou abaixo sobreiros nessa zona, contra o parecer do Ministério do Ambiente. Porque será que as melhores universidades mundiais são as que têm as maiores zonas verdes? Basta passear pelo campus da Universidade de Oxford ou de Yale para nos apercebermos desse facto. Em Yale os espaços são de tal ordem que se montam tendas enormes para festejar a entrega dos diplomas no fim do ano, em que as famílias e toda a comunidade académica festejam em conjunto esse evento. Entretanto o projeto da quinta dos Peões parece estar parado, e já houve sucessivas alterações ao projeto que alteraram aquilo que estaria projetado no início, o prolongamento do campus para baixo, eliminando a estrada que neste momento separa os dois espaços. Tudo se alterou em nome do "progresso", estando agora previstos edifícios para congressos e incubadoras de empresas, associação dos estudantes, entre outros "equipamentos". Espaços verdes? Só se forem "incubados".
Não se sabe porque o projeto está parado, mas não será por qualquer decisão que teria resultado da consulta pública, pois nunca teria sido feita pela câmara. Esse tipo de consulta, mesmo que tivesse sido feita, seria meio escondida e sem divulgação junto dos interessados, leia-se os frequentadores do campus de Gualtar e mesmo que fosse, nunca teria uma condenação, especialmente se apadrinhada pela reitoria e pela Associação de estudantes, que aí terá ganho a promessa duma sede. O empreiteiro dono da quinta, o sr. Rodrigues de Névoa, agradece. A reitoria deveria ter auscultado a Academia antes de se pronunciar junto da Câmara e do sr. Rodrigues Névoa. É por estas e por outras que uma reitoria sem controlo de uma Academia, porventura através de um Conselho Geral independente que representasse a Academia, poderá fazer o que entender. Então quando tiver as mãos livres da obrigatoriedades de concursos públicos e movimentações de verbas ao passar a Fundação, passará também a ser uma espécie de imobiliária, vendendo, adquirindo e encomendando edifícios sem qualquer plano estratégico global para a UM, que inclua nomeadamente os espaços verdes. Tudo numa lógica de encher os cofres da instituição (onde é que eu já ouvi isto). Enchendo os cofres não se melhora a qualidade de vida, como todos sabemos, e a qualidade de vida académica também é uma parte importante da vida de quem passa pela Universidade durantes os seus anos de formação. Não será por uns e-mails inofensivos que alguma coisa mudará. Meus amigos, se querem fazer alguma coisa, façam mais e e-mailing menos.
domingo, março 15, 2015
Uma Autonomia crescente é bom para a UM?
Com os consórcios entre universidades já estabelecidos, e a passagem a Fundação da Universidade do Minho, teme-se o pior em relação a arbitrariedades no que respeita aos despedimentos, admissões e promoções. A autonomia atual de que as universidades gozam, já permite atuar fora do que está estabelecido pelos diretivas gerais do governo, no que respeita à contratação de funcionários e das diretivas do RJIES e do ECDU no despedimento de professores, pondo em causa, neste caso, a qualidade e mesmo a sobrevivência de cursos emblemáticos da UM. O RJIES veio diminuir a fiscalização dos órgãos decisores, como o reitor e administrador, pelos membros da Academia, como já comentado anteriormente. As contratações e promoções de pessoal não-docente, mesmo que condicionadas, sucedem-se na UM, especialmente na área da informática. Tem talvez a ver com a fúria de desmaterialização que assolou a reitoria que arrastou consigo a administração da UM. Aparentemente tudo se justifica se contribui para essa desmaterialização, nomeadamente investir recursos não-existentes para contratar, promover os funcionários que estão alocados a essas tarefas. Como o dinheiro não é elástico, assiste-se por outro lado ao despedimento ou redução do número de horas de professores sem vínculo, os professores convidados, já praticamente extintos, e os leitores, também já anteriormente referido. Com a passagem a Fundação, com a implementação dos consórcios, tudo será mais fácil de fazer no que respeita a despedimentos, contratações e promoções.
Com o mandato do reitor a aproximar-se do fim, dá também que pensar se não virá a acontecer como na política, quando os governos de gestão que antes de passarem a pasta, fazem as maiores despesas e muitas desastrosas e de duvidosa legalidade, pondo em risco a sustentabilidade do sistema para quem vem a seguir. Posto isto, qual o controlo que pode ser feito na UM? Nas condições atuais, nenhum, uma vez que o Conselho Geral é dominado maioritariamente por membros afetos à lista que elegeu o reitor. E com o próximo reitor será também assim. Só com uma alteração dos estatutos em que o Conselho Geral não elege o reitor, mas antes este é eleito diretamente por um processo independente da eleição do Conselho Geral. Para isso acontecer seria necessário a alteração do RJIES e dos Estatutos da UM. O RJIES está para ser alterado por este governo desde o princípio, mas parece que não vai acontecer, ou ao acontecer será feito em tempo record de uma forma atabalhoada que não traria nada de bom, e muito menos algo que mexa com os interesses dos governantes das instituições em causa. Resta aos professores, continuarem a trabalhar para que, atuando dentro do sistema atual, elejam um Conselho Geral que mude este estado de coisas, ao eleger um reitor que represente os interesses reais da instituição, ou seja, a "paz social" para que os funcionários e os professores se sintam motivados a trabalhar para uma universidade autenticamente democrática e em que os ideais académicos sobressaiam, nomeadamente a excelência na investigação científica e a excelência no ensino.
segunda-feira, março 02, 2015
A carreira docente estagnada
Quando o Estatuto da Carreira docente foi escrito, em 1979, na sua forma essencial, estava-se numa situação de crescimento, em que as universidades precisavam de professores de uma estrutura em pirâmide, com catedráticos, associados e auxiliares. Com o estabelecimentos da pirâmide veio a promoção dos professores ao longo dos anos, preenchendo os lugares vagos da pirâmide e culminando com o preenchimento dos lugares de catedrático. Nos últimos anos, com o congelamento das contratações de funcionários públicos, não houve entrada de doutorados, uma vez que com as alterações ao ECDU de 2009, tornou-se obrigatório o doutoramento para entrada nas universidades, para o lugar de professor auxiliar. Mas curiosamente houve entrada de novos professores diretamente para o lugar de Professor Associado, pela via do concurso público. Também têm diminuído os concursos para professores associados e catedráticos, devido aos cortes nos orçamentos das universidades. Na UM houve uma ligação da abertura de concursos ao número de alunos dos cursos e consequentemente dos departamentos responsáveis por esses cursos. Parece justa esta ligação mas também tem efeitos perversos, sendo o mais óbvio a desmotivação dos professores auxiliares nesses departamentos. A desmotivação leva a que os professores não façam I&D por não acharem que vão precisar de currículo para o resto da sua carreira académica, uma vez que a maior parte já ultrapassou os 45 anos, e por outro lado, não tendo a veia de investigador, também não fazem investigação porque não sentem prazer profissional nisso. O que acaba por acontecer é uma boa parte do pessoal docente, e são muitos os departamentos onde isto acontece, só dá aulas e gere o resto do tempo da melhor maneira que entender. Não sendo obrigatório picar o ponto, podem até fazer outras atividades ou pura e simplesmente não fazer nada, ou seja, nada relacionado com a I&D. Se ao menos tivessem atividades relacionadas com a sua especialidade, no caso das engenharias formassem empresas spin-off, ou fizessem consultoria para empresas do seu setor, através de projetos de prestação de serviços ao exterior, PSECS (que quase desapareceram), seria algo de que a Universidade beneficiaria, até seria aquilo que muitos pretendem como sendo uma relação entre o tecido empresarial e as empresas. Mas o que acontece é que mais parecem professores do ensino secundário ou mesmo ensino primário, que vão para casa quando não estão a dar aulas, mas com a agravante de terem menos de 1/3 de horas que estes profissionais.
Como é possível uma universidade crescer na sua produção científica e consequentemente no seu valor, com uma estagnação desta ordem?
Penso que o que deve ser feito e com urgência será de alterar totalmente o regulamento universitário. Uma hipótese seria de considerar que só os professores associados seriam do quadro e abrir concursos para todos os lugares docentes existentes como lugares de professores associados. Assim, os atuais professores auxiliares teriam que concorrer para o lugar de Professor Associado, juntamente com doutorados externos. Dar-se-ia um prazo de 2 a 3 anos para prepararem as candidaturas. Haverá outra formas semelhantes de resolver esta estagnação, mas a meu ver todas devem ter como objetivo o preenchimento de um lugar acima do que ocupa, como incentivo. Como qualquer concurso alguém ficará de fora, e espera-se que serão os melhores e mais motivados os que preencheriam esses lugares. Assim a Universidade terá futuro.
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domingo, fevereiro 15, 2015
Pequenas coisas na UM que irritam
Há pequenas coisas nesta Universidade que não sendo graves, irritam. Por exemplo, uma questão irritante foi o blackboard ter deixado de funcionar de uma forma direta no que toca ao DUC, ficando os docentes sem acesso aos sumários. Depois de muito tentar consegui uma informação dos serviços GAE como contornar o problema. Se a desmaterialização continua a dar problemas deste género, estamos mal e espero que não aconteça na desmaterialização o que aconteceu com o programa informático Citius fruto da desmaterialização feita à pressa no Ministério da Justiça.
Outra questão que me irrita são os constantes e-mails de informação inútil sobre opiniões que professores da UM deram a jornais e canais de televisão sobre isto e aquilo da vida política nacional. Chamam a isto "O que os media dizem de nós" ou qualquer coisa do género. Não é altura de se fazer alguma coisa de substância em vez de opiniões? Anda muito por baixo o gabinete de comunicação e imagem... Se não tem mais nada a dizer, seria melhor acabar com este boletim ou pelo menos não o distribuir por e-mail na rede da UM.
Outras pequenas irritações do dia a dia, principalmente no campus de Gualtar, são a falta de acessos para os carros e a falta de estacionamento. Quem chega depois das 10:00 horas vindo por exemplo de uma aula de Guimarães, já não tem lugar e tem que pagar. No entanto há um parque vazio, o das "oliveiras" logo à entrada. É um dos parques que passaram a terem pagamento extra. Para quê? A UM é uma empresa de parques que quer ganhar dinheiro com os seus membros? Ou é uma instituição que devia ter lugar para todos os seus membros e sem pagar, como a maior parte das empresas e instituições do país? Pelos vistos os alunos estão no mesmo barco. Mas os alunos pagam para ter aulas e os Professores são pagos para dar aulas ! Há uma diferença. Outras infraestruturas que não são feitos para os Professores, são os bares. Para beber um café no CP1 antes de dar uma aula é necessário ir um quarto de hora antes e mesmo assim um Professor arrisca-se a não ter tempo de beber o café, especialmente perto do meio-dia quando as filas de alunos são intermináveis. A alternativa seria a sala dos Prodessores que é uma sala num 2º andar, sem bar, com umas poltronas confortáveis de mais, resumindo, sem serviço rápido e eficaz para quem está de passagem entre aulas. Em Azurém, menos mal. Mas como estava bem, tinham que estragar. Agora no bar à entrada são cadeiras fixas em grupos de 4. O que acontece se forem mais de 4? Não se conseguem mover e o grupo tem que se partir em dois (ou três). Talvez tenham que decidir como se parte, se por idades, por departamentos, por tópicos de conversação ou por sexo. No entanto somos bombardeados constantemente com um jornal dos SASUM, serviços sociais da UM para quem não sabe, com fotos e artigos sobre as maravilhas que a equipa faz nesta Universidade em prol dos seus utentes. Não há paciência para tanta vaidade. Mas voltando ao que irrita na UM, aposto que este meu "post" vai irritar muita gente...e se o fizer e tiver alguma consequência positiva, então já foi tempo bem empregue escrevê-lo.
domingo, fevereiro 01, 2015
Desmaterialização
A Universidade está a ficar desmaterializada, como gosta de afirmar o sr. reitor. A última medida nesse sentido foi a nomeação dum diretor de serviços informáticos para o cargo de administrador, alguém sem experiência na área da administração pública, mas que tem vindo a desmaterializar os procedimentos administrativos, algo que o sr. reitor considera uma competência suficiente para o cargo. Diria que faltam outras valências, como a capacidade para administrar pessoas, uma vez que esse é uma parte muito importante do cargo. O que já se percebeu é que as pessoas também estão a ser desmaterializadas, com as alterações introduzidas no pessoal adstrito à contabilidade e à administração. Esperamos que tanta desmaterialização não cause problemas na assistência aos projetos de candidatura da UM, agora que a FCT e o programa 2020 estão abertos. Esperamos para ver se a vaga que varreu os serviços de contabilidade e administrativos não se torne num Tsunami e nos afunde a todos!
Outras novidades virão com a passagem da Universidade a Fundação. É uma luta antiga do sr.reitor e agora parece que a conseguiu levar por diante. Não me recordo de mais nada que fosse referido pelo sr.reitor como uma vantagem, que não fosse relacionado com o aligeiramento dos procedimentos burocráticos e as autorizações para adquirir e vender imobiliário. Neste último caso, parece que a Universidade tem como objetivo fazer mais-valias e com essas mais-valias fazer mais obras. Para quê? Para despedir professores, o que também será mais agilizado com a passagem a Fundação, principalmente aqueles sem vínculo. Para quê mais espaços vazios? Só se for para encher o olho. Dinheiro que seria mais bem empregue a reforçar a componente pedagógica e científica da UM, que tem andado muito por baixo nestes últimos anos e que não se vislumbra que melhore com os cortes que ainda ainda aí vêm. Com pouco dinheiro, ainda é mais importante gastá-lo bem. Por muito importante que seja desmaterializar os processos burocráticos, de que não discordo, porque não aproveitar a passagem a Fundação e materializar aquilo que ainda falta materializar, o fundamental, ou seja, a formação de excelência, a ciência, de preferência com consequência, e a democracia académica, acabando com o sistema eleitoral vigente baseado em listas. Neste último caso, alterando os estatutos se necessário, para o conseguir. É o que eu desejo, sem no entanto esperar que isso aconteça com este reitor e com este administrador, ou outros que se lhes sigam saídos do mesmo lote, a julgar pelos últimos acontecimentos.
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sexta-feira, janeiro 23, 2015
Dia da Escola de Engenharia com ministro e autarcas mas sem Ambiente
Na sessão solene de inauguração dos 40 anos da Escola de Engenharia, houve lugar a um debate entre membros de um painel que incluía 4 presidentes de câmara, e o ministro do ambiente, além do presidente da Escola e do reitor. Nesse debate, os quatro presidentes do quadrilátero, como foi referida a rede que seria formada por estas camaras e a região que estas camaras cobrem, concelhos de Braga, Guimarães, Famalicão e Barcelos, falaram, após questões colocadas pelo moderador, Luís Amaral, teceram considerações vagas sobre o quadrilátero, sem nunca se referirem a objetivos concretos. No entanto, ao juntar as quatro câmaras sob o mesmo teto já foi um passo no sentido da colaboração entre si. O ministro de alguma forma referiu os PDM's como sendo demasiado limitados por serem de concelhos e não de associações intermunicipais. É um recado importante mas que cai em orelhas moucas. Os vários presidentes, nomeadamente o de Guimarães e o de Braga nunca se entenderam ao longo dos anos, e eram na maior parte das vezes do mesmo partido. Agora de partidos diferentes ainda terão menos em comum. Oxalá me engane. vejamos os projetos que ou nunca arrancaram ou nunca foram completados: ligação ferroviária entre Braga e Guimarães, fosse comboio ou metro de superfície. Nunca saiu do papel. Fala-se muito do desenvolvimento da região pro parte destes dois presidentes, mas sempre para a sua cidade e concelho, como se tivessem dimensão suficiente para fazer qualquer diferença a nível nacional. Fazia todo o sentido esta ligação ferroviária. Em vez disso, outro projeto, a ligação de uma via rápida entre as duas cidades, construiu-se uma autoestrada, com todos os custos que isso implica para os utentes. As portagens não estavam previstas, mas como não havia uma consonância de posições entre as cidades, a concessionária da autoestrada teve "via verde" para avançar, e com as portagens mais altas do país, por km. Outra consequência de se construir uma autoestrada em vez de via rápida, foi o facto de um projeto ambicioso e importante não só para a Universidade do Minho mas também para a região, o parque de ciência e tecnologia, Avepark, ficou sem acessos rápidos às vias principais que o ligariam às duas cidades e ao Porto e ao porto de Leixões. Muitas empresas e possivelmente até centros de I&D que poderiam ter ido para o Avepark não foram em grande parte, devido aos acessos. Disto não se falou, pelo menos enquanto o ministro esteve presente.
Outros projetos que até estavam a funcionar bem, como o SIDVA, sistema de interligação dos efluentes das tinturarias do Vale do Ave,um projeto da Associação dos Municípios do Vale do Ave, que surgiu numa altura em que a consciência ambiental estava a dar os seus primeiros passos e as empresas estavam a entrar no espírito do tratamento de efluentes, pelo menos no pré-tratamento dos efluentes uma vez que o SIDVA exigia que os efluentes estivessem minimamente tratados antes de serem encaminhados para o sistema, através de coletores que transferiam para ETARs estrategicamente situadas no rio Ave, eis senão que aparentemente tudo mudou, não sei bem quando, para uma situação de total "lavagem de mãos" em que as empresas enviam os seus efluentes tal e qual como são para os coletores do SIDVA. Não sei se coincidiu com a privatização do SIDVA para as Águas de Portugal ou não, mas o que é um facto é que houve uma total falta de consciência ao voltar atrás e desperdiçar anos de esforço daqueles que estavam a consciencializar as empresas para a componente ambiental. Não sei se as ETARSs conseguem tratar os efluentes tão carregados de produtos poluentes ou não, mas consta que não têm capacidade para tal, o que não espanta. De quem teria sido esta ideia peregrina? Será que o ministro sabe desta "colaboração" intermunicipal que transporta as empresas para os anos 70? A privatização é o forte deste governo sendo quase sagrado esse princípio de melhor gestão se for feita por privados. Ora aqui está um exemplo de mais um "sucesso" privado, e intermunicipal, tal como o ministro advoga.
O resto da sessão não trouxe surpresas, mais do menos de referências a falta de alunos e das desigualdades Lisboa/Porto e o resto do país. Não sei qual a novidade nem a surpresa sobre esta situação. É assim há décadas e será assim por muito tempo, ou não fosse o próprio reitor o presidente do CRUP...sediado em Lisboa.
domingo, janeiro 18, 2015
A revisão do RJIES
Em fim de mandato do governo o ministro Nuno Crato lembrou-se do RJIES. Bom, mais vale tarde que nunca, mas se for para a frente seria melhor rasgar e escrever de novo. O RJIES não tem nada que se tenha provado nos últimos anos da sua aplicação que é positivo para as Universidades. No caso das Universidades-Fundação, será necessário outro tipo de análise, uma vez que também não houve tempo para analisar os efeitos a médio prazo nas Universidades que foram contempladas. A Universidade do Minho poderá vir a ser também uma Fundação, a julgar pelas notícias mais recentes. Mas o RJIES que tanta discussão gerou, deixou de interessar a quase todos na UM. Porquê? Talvez porque tal como está a funcionar na UM é um anacronismo. Tem órgãos de poder, como o Conselho Geral, que acaba por não ter poder nenhum, a não ser 4 em 4 anos quando elege o reitor. No intervalo, não tem poder. Poderá aparentemente considerar-se que é um poder deliberativo em questões tão importantes como por exemplo a aprovação de novos centros de I&D ou das contas, mas como em todas as outras deliberações, a lista que vota no reitor é depois do ato da votação, um veículo das deliberações do reitor uma vez que o reitor pode estar por de trás da formação dessa lista quando da eleição para o Conselho Geral. Esta situação anómala foi instituída pelos estatutos da UM que determina faze-lo por listas. Embora aparentemente independentes de interesses setoriais, tal com estipula o nº 9 do artigo 81 do RJIES, na realidade não é assim. Os alunos eleitos estão normalmente ligados à Associação dos estudantes e os professores apresentam listas em que pelo menos uma será liderada pelo pretendente a reitor, para assim procurar assegurar a maioria quando da sua eleição. Aquela ideia simpática que até membros fora da Universidade podem ser eleitos, não tem desta forma viabilidade na UM, como se verificou nas primeiras eleições. Seria mais democrático que o reitor fosse eleito por eleição direta por todos os membros da UM, mesmo que divididos em corpos, com diferentes pesos, mantendo os professores com mais peso que os outros corpos, alunos e não-docentes. Pelo menos haveria menos manobras de angariação de votos, como acontece agora na formação das listas. O reitor teria o seus vice-reitores na mesma e o grande parte da gestão seria entregue ao administrador, que seria nomeado pelo reitor. Se fosse mantido o regime de eleição pelo Conselho Geral, pelo menos que se fizesse a eleição dos membros por eleição individual, sendo eleitos para cada um dos corpos aqueles que teriam mais votos, até esgotar o número máximo para cada corpo representado no Conselho, no caso dos professores quando o 12º elemento fosse eleito.
À semelhança do Conselho Geral, os Conselhos de Escola são também inúteis. Não é um órgão executivo funciona como uma réplica do Conselho geral, direcionado pelo Presidente de Escola através da lista que o indigitou. É um ciclo vicioso. Mas de vícios já o sistema tem uma longa história, por isso não admira que se tenha habituado e manipulado com naturalidade o RJIES através de eleições por intermédio de listas organizadas.
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quinta-feira, janeiro 15, 2015
Doutorados
O novo programa do governo de introdução de doutorados nas empresas vem na sequência de uma análise do número de doutorados que em Portugal subiu de há uns anos a esta parte mais do que nos outros países europeus, e a constatação de que este crescimento exponencial cingiu-se quase só às Universidades e institutos públicos, ou seja no Estado. Mas alguém fica admirado com isto? Só quem não anda atento à evolução, ou não, das empresas. O que é notório é que nem o tecido empresarial evoluiu, nem os doutorados se especializaram no que as (poucas) empresas querem no que se refere a novas tecnologias, novos processos, novos produtos. Faz pensar no ouro do Brasil do século 16. É outra oportunidade perdida. Não há planeamento, não há objetivos, gasta-se o dinheiro de Bruxelas como se gastou o dinheiro do Brasil que foi desperdiçado na corte e desviado para o estrangeiro, em vez de ser investido em infraestruturas e indústria (na altura indústria têxtil, uma vez que as sedas vinham da Flandres).
Mas ao reagir já tarde, embora seja elogiável, não vai resolver nada. As especialidades dos doutorados continuam a não se enquadrar nos desígnios das empresas, pela simples razão que são os mesmos doutorados que já não tinham lugar quando fizeram a sua investigação, por ser desadequada à assimilação pelas empresas, desde o início da sua formação. Só se passarem por uma adaptação à realidade, o que não será fácil de fazer nem há quem o faça, ou seja, desde que passem por um estágio, mas as empresas não querem estagiários, mas sim mão-de-obra. Estamos perante um ciclo vicioso, ou uma pescadinha de rabo na boca, e a pescada é o peixe que antes de ser já o era, o que também se aplica aos doutoramentos dissonantes das empresas. Ou por outras palavras, o que nasce torto não mais se endireita.
quinta-feira, janeiro 01, 2015
Um ano de I&D a começar com boas notícias para alguns
Inicia-se hoje mais um ano, o de 2015. Em 2014, ao cair do pano, houve um anúncio de verbas que centros de I&D classificados por excelentes ou excecionais irão receber. É pouco ainda, mas já é um bom começo para 2015. Os centros com Bom ou menos, não terão verbas relevantes ou mesmo nenhum investimento, sendo o sue futuro incerto. Se esses centros estão indignados, há outros que estão admirados, uma vez que nem todos os centros excelentes são de facto excelentes no que respeita a número de publicações e citações dessas publicações Só se entende essa classificação com a sua atividade mais relacionada com o mundo empresarial, nomeadamente em número de patentes e empresas spin-off que emanaram desses centros. Esta relação de facto transparece nos relatórios efetuados pelos avaliadores. Sejam quais foram as razões, não será no relatório do seu centro que encontrarão a explicação, uma vez que os relatórios tendem só a referir os aspetos bons, mesmo que não sejam suficientes para a sua aprovação. Ninguém gosta de pôr o dedo na ferida. Aconselha-se os centros que não foram bem classificados a lerem os relatórios dos que foram bem classificados, para poderem entender as razões pelas quais não foram também selecionados para uma segunda fase, o que garantiria a sua classificação pelo menos com Muito Bom.
Também abriu o concurso para I&D em todos os domínios. Também se lê nas entrelinhas que a aplicabilidade dos resultados obtidos. Parece que finalmente se percebeu que ao I&D fundamental cresceu demasiado sem qualquer efeito no tecido empresarial português.
Quem quer fazer I&D fundamental terá que o fazer com fundos comunitários, o que me parece razoável, uma vez que os resultados serão só absorvidos por grandes empresas europeias, uma vez que as nossas não têm capacidade, ou interesse, em o fazer.
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sexta-feira, dezembro 19, 2014
Natal Mau e Natal Bom
O que eu não gosto da quadra natalícia:
-boas festas de pessoas que não conheço
-boas festas por e-mail de pessoas que não conheço
-boas festas por e-mail de pessoas que não prezo
-boas festas por e-mail de pessoas que não prezo em lugares institucionais
-boas festas por e-mail de pessoas que não prezo em lugares institucionais de que nunca ouvi falar
-boas festa em várias línguas
-boas festas com a frase "um santo natal"
-boas festas com a frase "santa Klaus" ou coisa parecida
-boas festas em postais com música
-música de natal em supermercados
-música de natal em altifalantes da cidade
-música de natal que nos dão "música" (anúncios)
-música de natal cantada por pessoas que não sabem cantar
-música de natal para promoção dos músicos no "natal dos hospitais"
-músicos pimba a cantar no "Natal dos Hospitais"
-display dos doentes dos hospitais no "natal dos hospitais"
O que eu gosto do Natal:
- luzes de natal (simples)
- música White Xmas de Frank Sinatra
- Bacalhau com todos na véspera
- Perú no forno no dia, com recheio (stuffing) à maneira inglesa
- Um bom vinho português a acompanhar
- doces de natal (rabanadas, aletria, filhoses, azevias, formigos)
- bolo rei, pela nossa tradição
- Xmas cake, pela tradição inglesa
E por fim
-sentimento de família
- sentimento de paz
e.....desejos de..
BOM NATAL a todos de quem eu gosto e conheço ou pelo menos que não desgosto e para quem o sentimento é mútuo !
domingo, dezembro 07, 2014
Uma sociedade esfrangalhada por uma política hipócrita
O Governo humilhou muitos, fez perder a muitos aquilo que mais gostavam, a sua profissão, e ainda vai ficar mais um ano para terminar de enterrar definitivamente a esperança. O governo como é feito de anjinhos, ninguém vê que nos está a aniquilar com palavras mansas e jogando com as clivagens que a sociedade portuguesa tem, duma forma muito subtil sacia os preconceitos da sociedade: são os do setor privado contra os dos setor público, cortando nas "regalias" do público tal como a ADSE; são os empresários contra os desempregados, instituindo um plafond máximo de subsídio, são os "ricos" do setor público contra os mais pobres e vice-versa, procurando agradar à maioria do setor público, taxando mais os que ganham mais que são muito menos em número; os novos contra os velhos, permitindo despedimentos por "inadequação" às novas tecnologias e procurando desta forma agradar aos mais novos, são os que falam contra os do rendimento mínimo, apelidando-os para todos os efeitos de mandriões. Agora o primeiro ministro vem dizer que acabou com os que mandam nisto tudo e protegeu os "mexilhões". Quais? Os do rendimento mínimo que reduziu para mais de metade ou os velhos a quem lhes cortou o rendimento de solidariedade, os desempregados a quem vai introduzir um plafond para que não recebem mais que um subsídio (a que teriam direito), aos inquilinos que têm sido despejados a torto e a direito com a nova regulamentação da ministra, ou os jovens do ensino especial que não terão os professores que os acompanhem devidamente, já para não falar da escola pública em geral prejudicada pela política de incentivo ao ensino particular (cheque ensino e subsídios a colégios privados). É preciso muita lata ! E quais os donos disto tudo que foram destituídos por este governo? Ou o governo confunde-se com a justiça, o que é natural dado os recentes acontecimentos, ou é melhor estar calado uma vez que os poderosos e ricos são cada vez mais, e o governo com a baixa do IRC, por exemplo, só os beneficia ao beneficiar as grandes empresas, prejudicando os restantes cidadãos com um pesado IRS.
O governo obrigou-nos a uma austeridade que foi muito mais pesada para os funcionários públicos e todos os que dependem dele (desempregados, alunos, professores, enfermeiros, médicos..) e está a destruir a sociedade tal qual nós a conhecíamos até há bem pouco tempo, instigando a clivagens e aumentado o fosso entre os mais ricos e os mais pobres. Essa é que é essa. A Espanha não mandou vir a troika e com exceção do emprego que já era muito superior ao nosso, está muito melhor que nós. Os partidos do governo forçaram a vinda da troika e o governo até foi para além da troika, não olhando a quem espezinhava. Agora, com o argumento que o governo anterior levou o país à bancarrota (só o governo anterior esbanjou ou muitas autoestradas já estavam construídas ou em vias de construção e os submarinos que "tanta faltam fazem", quem foi que os encomendou?) corta a torto e a direito, e força de facto a bancarrota de muitas empresas portuguesas e muitos cidadãos portugueses. Assim se vê a hipocrisia desta frase, já muito gasta de tanto uso.
domingo, novembro 30, 2014
Assim vai o ensino superior na transição para 2015
Aproxima-se mais o fim de um ano em que as contas das Universidades chegam ao fim e mais um orçamento entra em vigor em 2015. Pelo que sabemos do que é divulgado que resta do orçamento deste ano, não chega para mais que uns consumíveis. Longe vai o tempo em que tínhamos o desafio de gastar mais do que tínhamos tempo para o fazer, a cumprir todas as regras, claro. Que o governo cortou no ensino superior já sabemos, mas que cortou ao ponto de cortar no futuro das universidades e do I&D é menos claro para os mais distraídos. Mas quando vemos que os cursos perdem professores, convidados e leitores, despedidos só por não terem vínculo, por muito bons professores que sejam, e quando bolseiros perdem a bolsa só porque a FCT decide cortar nas bolsas aliatoriamente e alterar a forma de avaliar os centros, atribuindo a uns que mal têm publicações a classificação de excelência a e a outros com mais que reconhecido nome internacional uma classificação menor, então perde-se o rumo, não se sabendo mais qual o objetivo da Universidade. O Governo humilhou muitos, fez perder a muitos aquilo que mais gostavam, a sua profissão, e ainda vai ficar mais um ano para terminar de enterrar definitivamente a esperança de muitos mais professores e investigadores.
Com os cortes vêm também os despedimentos, com consequências para a qualidade que tinha como base no mérito dos seus professores. A meritocracia sai muito prejudicada e o que prevalece é aquilo que durante muitos anos andou a sondar o ensino superior, o corporativismo por um lado, e o "salve-se quem puder" de outros, eliminando os mais fracos e procurando salvar a pele sem olhar a critérios de mérito. É a promoção dos mais baixos instintos profissionais, que vem de cima. Leitores e bolseiros, os elos mais fracos, são as vítimas nas Humanidades, e os professores convidados, nas Engenharias. Precisamente aqueles que poderiam construir o futuro do ensino superior mais ligado à I&D e à sociedade. Tudo feito por colegas em reuniões departamentais, sem qualquer critério de mérito. O corporativismo vem de jogadas auto-protetoras por parte daqueles que constituem a maioria, normalmente os menos competentes, normalmente instigados por um líder eleito por eles, o que é uma deturpação da democracia e um atentado à meritocracia. O salve-se quem puder é normalmente típico de outros espíritos fracos e muitas vezes incompetentes que se juntam ao grupo da matilha, para não serem eles próprios sacrificados.
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domingo, novembro 16, 2014
O outro lado dos funcionários públicos
Fiz aqui há duas semanas uma brincadeira escrita sobre os funcionários públicos, enaltecendo a sua abnegação e dedicação, e também resignação pelos cortes que sofreram. Não demorou muito que funcionários públicos, nomeadamente os que têm chefias em repartições que supostamente têm a nossa justiça nas mãos, como a secretária geral do ministério da justiça, deixaram ficar mal a classe. Na realidade os vistos gold contaminaram também as polícias, o notariado e em última análise um elo comum a muitos destes arguidos que á a amizade que os liga ao Ministro da Administração Interna, Miguel Macedo. Pelos vistos a única suspeita sobre ele é não ter nomeado um fiscal na China que deveria ter nomeado há uns 6 meses atrás, para impedir que malfeitores chineses se aproveitassem do programa para lavagem de dinheiro, que veio de facto a acontecer. De qualquer forma, o Ministro devia ter mais cuidado com as suas amizades. Habitante de Braga, amigo de Marques Mendes, também envolvido numa empresa com familiares dos arguidos, os dois colocam o PSD do norte muito mal na fotografia e o próprio governo, caso Miguel Macedo não se demita ou não seja demitido.
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