domingo, maio 13, 2018

O interior do norte do país e as novas medidas para o ensino superior

As universidades e politécnicos do interior norte, localizadas nas maiores cidades, como Bragança e Vila Real, têm dado um contributo muito positivo para o desenvolvimento local. No entanto esses diplomados não ficam. Vêm para o litoral acabar a sua formação, com um Mestrado, ou então emigram, já com o canudo de enfermeira ou coisa parecida. Por isso, a "discriminação positiva" que o Ministro da Educação está a propor, ao aumentar os numerus clausus das Universidades do interior, em detrimento das do litoral, é coisa que não vai influenciar em nada o desenvolvimento do interior. O que desenvolve o interior, são medidas como a melhoria dos acessos por estrada e ferrovia, e o investimento em serviços públicos tais com os hospitais e o aumento do número de médicos nesses hospitais, por exemplo. O investimento em estradas já foi em grande parte feito, e dos acessos também, culminando com a abertura do túnel do Marão. A ferrovia está-se a fazer, mas muito devagar. Há o comboio entre a Guarda e a Covilhã e pouco mais. Acessos e serviços públicos ajudam, mas o que realmente ajudará será a fixação de empresas, incluindo as agrícolas, no interior. Se o vinho do Porto deu um fôlego àquelas zonas de cultivo do vinho, o mesmo poderia acontecer a outras culturas, como a amêndoa, a castanha, entre outras que são mencionadas como de alto valor acrescentado. O azeite será outra cultura que interessa apoiar, mas sem descaracterizá-lo como está a acontecer no Alentejo com oliveiras de rápido crescimento. Muitos destes investimentos no Alentejo foram consequência do Alqueva, mudando a cultura de sequeiro por cultura de regadio, estranha à região mas que permitiu maiores e até novas culturas. Esse interior, o Alentejo, está no entanto na mesma situação que o interior norte, envelhecido e sem outros investimentos, fora os mencionados e algumas bolsas de investimento em cidades como Évora. Resumindo, não será com aumento de números cláusus e outras medidas paleativas que se desenvolve o interior. Só com um programa muito mais amplo de apoios, nomeadamente às empresas, se poderá desenvolver aquilo a que se designa por interior do país. Medidas como a baixa de impostos, junto com os programas que já existem à contratação, poderiam fazer a diferença. O ensino podia estar mais ligado à realidade do interior, com cursos mais virado para a agricultura, o que já acontece em Vila Real, mas também a indústrias transformadoras de produtos agrícolas. Outras especialidades, muito viradas para a investigação, poderiam ser mais viradas para cursos de engenharia alimentar para pôr em prática a ciência que se ensina nessas Universidades. Com a nova orientação politica para cursos de três anos com orientação prática em vez dos Mestrados Integrados em engenharia, a meu ver uma medida positiva, é possível ter cursos de engenharia nestas áreas e já com uma orientação mais virada para a realidade do interior do País.

sexta-feira, abril 06, 2018

Progressões na carreira desvirtuadas

A progressão na carreira dos professores universitários está empatada por uma questão que dá que pensar: não houve um regime de quotas na atribuição da classificação resultante do processo de avaliação. Como é que é possível que todo este processo que durou anos, tivesse sido efetuado desta forma, sem qualquer controlo ou comparação de resultados entre faculdades e entre universidades, que pudesse detetar eventuais abusos na avaliação. Consta que há casos de Escolas/Faculdades que tiveram 100% de classificação excelente! Para haver justiça em relação aos outros professores que tiveram noutras Escola/Faculdades uma classificação rigorosa e que não atingiram esse valor, deveria ser feita uma avaliação às...avaliações. Talvez um organismo independente poderia exigir uma nova avaliação a todos esses anos abrangidos por avaliações inflacionadas. Não será fácil, e é provável que o governo faça tábua rasa das avaliações e das duas uma, ou pura e simplesmente não as comtemple, ou considerará 1 ponto por ano para todos. Seria este o castigo por uma indisciplina total nas avaliações das universidades, com responsabilidades acrescidas para os reitores dessas universidades que homologaram estes resultados. Mais uma vez, o oportunismo de alguns, resulta no projuízo de muitos mais.

sábado, março 24, 2018

Entrada e progressão para doutoramento

Parece que quanto mais difícil é a progressão na carreira dos professores, mais fácil é a progressão dos alunos (alguns) para o grau de doutoramento...È o sinal dos tempos. A progressão na carreira depende do esforço dos professores em reclamarem aquilo a que têm direito, o que não tem acontecido. A progressão para doutoramento parece depender só de quem gere os programas doutorais, sem qualquer outro controlo. Decidem sobre aceitação de candidatos mesmo que seja algo que será obviamente irregular, ainda que legal. Basta que os estatutos dos programas doutorais sejam tão abrangentes que aceitam qualquer especialidade como condição de entrada, sem haver necessidade de aval superior, ou por parte da Escola a que pertence o centro, ou mesmo por parte do Conselho de Escola ou do Conselho Geral (que aprova doutoramentos). Assim, temos doutoramentos para todos, sem necessidade de disciplinas nucleares que são também designadas por específicas no caso do acesso à Universidade. No caso que conheço, porque apareceram na minha UC há umas semanas, um grupo de 4 alunos com formação em gestão e outros em design, afirmaram que estavam ali porque a UC iria fazer parte do seu programa doutoral, Quando questionados qual o programa doutoral, qual não foi o meu espanto quando responderam que era em Engenharia Têxtil. Ainda perguntei se não seria em Design de Moda, que existe também no Centro de Ciência e Tecnologia Têxtil, 2C2T, e percebi que coloquei o dedo na ferida, ao avisá-los que teriam que estudar bastante uma vez que não teriam as bases para um doutoramento em Engenharia. Não mais frequentaram a minha UC, de Acabamentos Funcionais, tendo uma das alunas(!?) me informado por e-mail que afinal esta UC não fazia parte do currículo do programa doutoral (?!). Parece que os alunos é que determinam o que necessitam de frequentar...Tendo-me certificado junto do Diretor do Centro 2C2T que de facto é uma UC nuclear do programa doutoral, pergunto: que esquema é este? Um aluno que queira entrar na licenciatura em engenharia têxtil precisa de matemática e química ou física e para doutoramento, não precisa? É de facto uma situação singular e altamente preocupante. Vamos ter doutoramentos com uma designação que não vai corresponder ao que realmente se estudou e investigou, uma vez que sem as bases científicas não será possível fazer investigação a nível de doutoramento. Talvez, na realidade estes alunos façam um doutoramento em Design de Moda, afinal só que terá outra designação. Será que há ainda a possibilidade em Centros de I&D heterogéneos, como é o caso do 2C2T de ter um júri de Design de Moda a aprovar um doutoramento em Engenharia Têxtil? Fazendo parte do mesmo centro professores de ambas as especialidades, possível, é. Vamos ver na altura que júris serão propostos. Como já tivemos um caso no passado de plágio em doutoramentos de Design e Marketing neste Centro, muito divulgado nos media de então, penso que se devia ter mais cuidado para não colocar de novo o nome do Centro nos media pelas piores razões, mas parece que não se aprende com o passado, cometendo os responsáveis do Centro 2C2T, nomeadamente a Comissão do curso do programa doutoral em engenharia têxtil, erros de "casting" grosseiros, em programas tão importantes para o nível científico do Centro e do Departamento, como os programas doutorais. Suspeito que há outros casos como este noutros centros de I&D da UM, e compete aos membros desses centros de os denunciar, a bem da justiça académica. Não é justo para outros que tanto trabalho tiveram a aceder a um doutoramento numa área que ambicionam frequentar, especializando-se de acordo com os requisitos para o fazer, verem outros entrarem com base noutros critérios de maior tolerância, ou mesmo facilitismo em alguns casos.Também será difícil os orientadores destas teses poderem ter um a produção científica relevante com esta "matéria prima", mas esse será outro problema que persiste e terá que ser objeto de outro tipo de análise mais aprofundada, sob pena do Centro vir a baixar e muito a sua classificação nas próximas avaliações pela FCT.

domingo, março 11, 2018

Progressão na carreira- professores manifestam-se na rede UM

Finalmente alguns professores universitários reagem ao atraso do pagamento das progressões na carreira, a que têm (teriam?) direito por terem todos sido sujeios a uma avaliação pelo menos nos últimos 10 anos ( já havia avaliação em algumas Escolas/Faculdades antes disso). Neste caso, na UM fizeram-no através rede local, UM-net. É espelhada nestes e-mails a frustração pelo facto dos sindicatos do ensino superior não estarem a fazer o suficiente para acautelar este direito dos professores universitários, que tiveram uma avaliação até mais exigente do que os funcionários, e mais objetiva, com pontuações rigorosas para cada componente do currículo. Tomando como exemplo as escolas de engenharia, no caso da componente científica, a avaliação é baseada em publicações registadas nas bases de dados da Web of Science ou Scopus o que garante o reconhecimento a nível internacional da sua validade. Sugerem estes professores que se faça uma greve à submissão da candidaturas à avaliação deste triénio, que será feita nos próximos dois meses. Isto é, do meu ponto de vista, algo que não faz sentido, uma vez quem se prejudica são os próprios, porque seria previsível que a maioria dos professores submetiriam as suas candidaturas irrespetivamente de alguns em protesto as submetesse ou não. Não teria impacto mediático nem seria producente. Outra ideia seria, um pouco como os professores do ensino secundário fizeram, convocatórias nas redes sociais (facebook, etc) para manifestações à frente do ministério em ocasiões quando o ministro se desloca às universidades (o dia da universidade teria sido uma boa ocasião). Quanto à via sindical, também penso que não é solução, ou pelo menos que não seja a única via. O sindicato poderia de facto ser o meio de reivindicação do que é um direito dos professores Universitários, mas talvez pelas suas estruturas serem dominados por professores de politécnicos e por investigadores, preocupam-se neste momento mais com a integração de precários do que com os professore universitários. Seja qual for a razão, ao longo das últimas décadas nunca defenderam os interesses dos professores universitários, pelo menos que tivesse tido alguma consequência. Também é de estranhar a posição do CRUP nesta matéria. A ser verdade, a proposta do CRUP ou alguns reitores, de atribuirem 1 ponto por ano como classificação geral, sem tomar em consideração todo o trabalho feito nos últimos anos pelos professores tendo e vista a sua avaliação. Talvez esta proposta de nivelar por baixo, é a constatação que as avaliações das várias universidades não tiveram em conta o sistema de quotas, como vem referido em artigo do Público. Os responsáveis das instituições, tais como os sindicatos, lavam daí as suas mãos, deixando aos próprios a defesa dos seus interesses. Não é a primeira vez que isto acontece no ensino universitário.

domingo, fevereiro 25, 2018

Os dias da Universidade

Naquele que é o órgão oficial das notícias da UM, "O que os media dizem sobre nós", pode-se ler sobre o discurso do reitor no dia de aniversário da UM a seguinte frase: Reconhecendo o papel ativo das universidades no desenvolvimento do país, o reitor salientou que são depois negados os instrumentos necessários (sobretudo dinheiro) para a prossecução desse fim. "A Universidade do Minho tem práticas de gestão rigorosa, fiáveis e transparentes", não podendo, por isso, ser vista "com desconfiança". É intrigante esta mensagem que o novo reitor decidiu enviar ao ministério da tutela. Serão notícias recentes sobre os ajustes diretos que o fizeram transmitir esta mensagem ou seria só o facto de ao passar a Fundação, a Universidade terá mais liberdade do que antes na afetação de verbas e o que se pretende dizer é que não há que ter medo dessa passagem? Só o reitor saberá o que quis dizer, mas que se presta a várias interpretações, é aparente. O dia da Universidade tem sido pródigo em queixas e pedidos aos ministros. Era altura do dia da Universidade ser mais de comemoração da Universidade, do que se fez no ano que passou desde o é e menos de mensagens a ministros que já no passado com outros reitores soam a queixas. Os ministros devem saber que a UM tem relevância a nível regional e nacional e deve ser tratada como as outras, nem mais nem menos. Se há outras questões conjunturais, tais como mediáticas, que têm a ver com questões de atuação na gestão de verbas, que é só da responsabilidade dos órgãos que fazem essa gestão, e em última análise da reitoria, não da responsabilidade dos professores e dos investigadores que até têm contribuído para uma boa imagem da UM no que respeita à sua atividade científica e de relacionamento com as empresas e a sociedade em geral, não se deve penalizar os professores e investigadores com corte de verbas, mas sim exigir dos órgãos responsáveis por estes atos que se retratem. Em última análise, devia ser a própria Universidade a fazê-lo e arrumar a casa, e não fazer-se de virgem ofendida.

terça-feira, fevereiro 20, 2018

Uma Auto-estrada para os Mestrados e Doutoramentos

O Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior apresentou o que pode ser considerada uma revolução na investigação do ensino superior, com base num estudo da OCDE, ao instituir doutoramentos nos politécnicos, entre outras medidas. Fê-lo à revelia do CRUP, o conselho de reitores das universidades, embora tivesse segundo afirma tido discussões sobre o assunto com este órgão. Não se entende esta pressa e esta decisão unilateral, com a oposição de um órgão que representa as universidades, seja esta tomada de posição boa ou má. Claro que foi logo aplaudida pelos politécnicos, e pelo sindicato do ensino superior onde tanto o presidente como a maioria dos militantes são professores de politécnicos. Não quero com isto dizer que não seja uma medida positiva, desde que com as devidas cautelas, que o ministro afirma ser condição para esta medida ser autorizada nos politécnicos e agora alargada às universidades: que tenham capacidade científica na área para poderem ser candidatos a orientarem doutoramentos. Faz sentido. E concretiza a nova medida com o mínimo de classificação dos centros de investigação de Muito Bom.
O problema não é só a capacidade científica dos professores. É também a dos candidatos. Para encherem os seus cursos, não será que as universidades estão a facilitar os acessos aso doutoramentos? Isso será mais evidente com as admissões de alunos estrangeiros inseridos em protocolos entre universidades, como aqui já foi referido.  Mas não só. Não é preciso ir fora de portas para encontrarmos situações caricatas de alunos sem as bases para frequentarem uma licenciatura por não terem as disciplinas específicas, frequentarem Mestrados e Doutoramentos na mesma área, sem essas mesmas disciplinas específicas. Cada colega que olha para o seu próprio centro e departamento e descobrirá casos destes.
Estes Mestres e doutores, são desta forma convertidos em engenheiros, por exemplo, sem o poderem ser na licenciatura.
Com o fim dos Mestrados Integrados, com o argumento da aplicação de Bolonha, outra das medidas anunciadas, será mais um incentivo para isso acontecer. Licenciados sem as matemáticas passsarão a engenheiros, que não vão conseguir fazer projetos de engenharia por não terem as bases. Passarão a doutores, sem terem as bases para poderem trabalhar na indústria. Ficarão mais longe de poderem ser integrados na indústria e longe de poderem participar na Inovação tão propalada que não vai acontecer.

sexta-feira, janeiro 19, 2018

Os professores universitários dão o exemplo de passividade sindical

Proliferam as reivindicações de todas as profissões. Sindicatos e ordens anunciam greves a todo o tempo. Ora são os enfermeiros, que parece que já estão satisfeitos pois conseguiram o que pretendiam, ora são os professores do ensino secundário, estes recorrentes, sendo que Mário Nogueira consegue ser o tomba ministros de diferentes governos do PSD e do PS, ora são os magistrados. Estes, em congresso hoje, reivindicam entre outro assuntos um novo estatuto para os magistrados. Entre outras, as razões invocadas são as de que devem ter um estatuto que lhes dê dignidade...por ganharem pouco (?). Por acaso o dinheiro confere dignidade a alguém? Por isso os Professores universitários são uma exceção à regra, como sempre. Não me lembro quando reivindicaram alguma coisa. São seres pacíficos muito diferentes dos seus colegas do ensino secundário, que todos os anos estão a reivindicar alguma coisa. Ou porque não querem ser avaliados, ou porque são colocados longe de casa, e agora porque não foram considerados no descongelamento das progressões, com retroatividade. Novas avaliações foram introduzidas nas universidades, como o RAD, Regulamento de Avaliação de Desempenho dos docentes, com o objetivo específico de progressão na carreira através de subida de escalão. À semelhança do SIADAP para os restantes funcionários públicos. Os sindicatos como o Snesup alertam para a falta de empenho das universidades, mas as universidades não se mexem. Não alertaram para a inclusão logo no orçamento de estado verba para esse efeito. Os professores universitários aparecem a questionar esta situação nos media? Não. São discretos e até se julgará que não estão interessados. Para o Governo estarão esquecidos.Diz o sindicato que a culpa também é da falta de sindicância dos Professores. E tem toda a razão. Já é de há muito, esta falta de sindicância. Não são só as progressões na carreira que tardam, mas também a alteração dos estatutos de que já referi como sendo urgente, dadas as incongruências do RJIES. Mas os professores universitários não reagem. E assim se vai a dignidade, mas neste caso a palavra faz mais sentido, porque neste caso não está conectada ao quanto se ganha. Estaria relacionada com o "como" se ganha, mas isso já será tema para outras conversas.

sábado, dezembro 02, 2017

Investigadores e indústria

Há qualquer coisa que não bate certo na articulação entre a I&D e a indústria. Se por um lado o governo vai contratar 3000 investigadores, que fazem principalmente investigação fundamental, como irá essa investigação "ligar" a uma indústria maioritariamente de PMEs que não vão além de uma evolução tecnológica, modernização, e em alguns casos alguns produtos novos fruto de imaginação mais do que ciência? Ao vermos notícias na televisão sobre emprego, vemos imagens de trabalhadores em empresas de "baixa" tecnologia, como sendo a indústria têxtil, metalomecânica e alimentar. Num artigo no público hoje vem a problemática dos investigadores que vão ser contratados não transmitirem os seus conhecimentos por não serem professores. A investigação que fazem os professores também não é eficientemente transmitida e se o for, não encontrará terreno fértil na indústria para florescer, por a indústria não estar preparada, ou por serem PME's de baixa tecnologia, como já referido, ou por serem multinacionais que fazem a sua investigação noutros locais, resumindo-se o trabalho cá em Portugal a tarefas comandadas de fora. E se houver contribuição da parte dos alunos que aí encontraram emprego, será aproveitada "lá fora" e não cá em Portugal. Essa é a realidade que transparece quando se analisa o espetro de empresas existente em Portugal, com base no know-how, patentes, projetos de I&D, número de doutorados em empresas, entre outros dados. Como resolver este problema aparentemente sem solução a curto/médio prazo? Fala-se na reestruturação do tecido empresarial. Como? Só se for com investimento estrangeiro que também vai ser difícil por preferirem outras paragens de não de obra mais barata ou em regiões mais próximas do centro da Europa por questões de proximidade. Então foge-se para o turismo como salvação da economia. Mas turismo não necessita de I&D! É realmente necessário o governo parar para pensar e fazer um plano a longo prazo, e não medidas avulso como esta de contratar 3000 investigadores.

domingo, novembro 19, 2017

Os professores são todos iguais nos seus direitos de progressão temporal?

Os professores do ensino secundário de novo nas notícias. Não pelo sucessos que têm, ou pelo sucesso das escolas em que lecionam, que teimam em permanecer nos últimos lugares do ranking deixando os primeiros lugares para as escolas privadas. Não, ao contrário de outras profissionais, incluindo os professores universitários, que são notícia quando investigam e descobrem novos produtos ou contribuem para a descoberta de novas vacinas, os professores do ensino secundário são notícia quando conseguem derrotar governos, e mesmo deitá-los abaixo, com a sua força bloqueadora que pode afetar seriamente o ensino das crianças e jovens portugueses. Com a educação em risco, os governos cedem. Mais uma vez, depois de ceder na integração de precários e o de professores contratados mas não vinculados, o que seria justo se houvesse avaliação destes professores, cede agora na progressão com base no tempo. Enquanto outros funcionários públicos incluindo aqueles que partilham o espaço das escolas com os professores, progridem com base na avaliação, os professores não admitem ser avaliados. Tem sido assim com sucessivos governos. Os professores universitários, por outro lado, têm as duas formas de melhorar os seus rendimentos. Um é o da progressão na carreira com base em concursos para subida para lugares do quadro imediatamente acima, como seja de Professor Auxiliar para Professor Associado, e assim sucessivamente até chegar a Professor catedrático. Outra forma de rendimento é a de tempo de serviço contabilizado nos escalões, de 5 em 5 anos (o dos professores o secundário é de 4 em 4 anos, vai-se lá saber porquê). Esta progressão que tinha sido congelada para todos desde 2009, foi acordada agora pelo governo como sendo já contabilizada a partir de 2018. E a dos professores universitários? Não me parece que a FENPROF tenha incluindo estes professores no acordo. Nunca o fizeram em negociações anteriores, não o terão feito agora. E o governo? Finge que esta progressão, congelada da mesma forma que para os professores do secundário, e já agora também para os do ensino básico, não existe. Como esta classe de professores não tem a mesma força nem tem passado de reivindicações, o governo estará tranquilo. Resta saber se o governo considera que os professores têm todos os mesmos direitos, ou se uns têm mais direitos que outros por serem "mais ruidosos".

terça-feira, outubro 24, 2017

O novo mandato

A UM tem um novo reitor a partir de hoje, Rui Vieira de Castro. A UM tem 19,000 alunos o que a faz uma das maiores do país. Tem necessariamente um impacto na região onde está inserida. Este reitor tem um tarefa à sua frente que não é fácil, fazer com que a UM tenha um impacto real na sociedade nos próximos anos. Com a autonomia da UM, e agora que é uma Fundação pública de direito privado, terá que provar que merece esse estatuto. Tem que manter mais de 50% de receitas provindas do exterior tais como verbas de projetos de I&D financiados pela UE. Mas o maior desafio, na opinião da sociedade, é que forme licenciados e mestres que transformem o País e nomeadamente o norte do país, numa sociedade moderna e produtiva. A região não pode continuar a perder pessoas para o estrangeiro, sejam licenciados, mestres e doutores que rumam a outras Universidades para prosseguirem a sua carreira de investigação, perdendo-se a possibilidade de inovação nas empresas que pelo menos alguns destes cientistas trariam, ou sejam os que não têm um curso superior mas que são essenciais para o tecido produtivos. Com cursos intermédios profissionais, de eletricidade, mecânica, informática, entre outros, estes profissionais estão aptos para outros empregos menos qualificados mas tão importantes para o tecido produtivo como os licenciados ou mestres. São todos necessários. A Universidade responde pelos licenciados, mestres ou doutores, mas também tem responsabilidades indiretas sobre os outros, por ser determinante na sobrevivência do tecido produtivo que empregaria estes profissionais. Outros países mais avançados já o fizeram durante épocas, tendo agora uma estrutura que atrai os trabalhadores portugueses, não tendo Portugal essa capacidade. Em Portugal, houve durante épocas uma preguiça mental que levou a que ficássemos para trás na (r)evolução industrial. O que antes era de menos, agora é de mais, tanto assim é que a I&D que se faz nas universidades ultrapassa o que as empresas portuguesas têm capacidade para assimilar. Perde-se assim mais uma oportunidade de dar o salto qualitativo. Os reitores não podem fazer grandes alterações na orgânica e no caminho a seguir pelas universidades, nem no caso das Fundações- O RJIES tratou disso, fazendo com que ninguém possa liderar reformas. O Conselho Geral apoia o reitor, sendo a sua lista a maioritária. No entanto quem de facto manda é quem está mais perto dos departamentos e centros de investigação, que são as Escolas. Mesmo assim, se for um reitor determinado a por a universidade a trabalhar para a sociedade, conseguirá influenciar os vários órgãos da universidade nesse sentido. Cursos mais relevantes à sociedade e nomeadamente à indústria de amanhã, seria um começo.

sexta-feira, setembro 29, 2017

O financiamento desiquilibrado nas universidades

O Ensino superior continua sem financiamento suficiente para evoluir e até manter a qualidade dos seus cursos. Não há verbas para compra de equipamento, que em alguns departamentos não são substituídos há décadas. Em contraciclo, nas últimas décadas tem vindo a aumentar e muito o financiamento à investigação. Não que não seja importante, mas quando se colocam as duas vertentes num plano tão desigual em termos de financiamento, temos como consequência o que está a ser a evolução do País, com doutorados e pós-docs a mais, muitos emigrando por não terem onde praticar o que aprenderam nos anos de investigação. A contribuição nacional neste esforço de investimento em I&D comparticipado pela CE, é desajustado em relação ao esforço de apoio ao ensino no ensino superior. O resultado do investimento em I&D tem resultados obscuros, não se vislumbrando ao longo dos anos uma evolução no nível tecnológico do país, nomeadamente em zonas industriais no norte do País, onde ainda predominam as indústrias tradicionais, têxtil e do calçado. Mesmo estas indústrias são prejudicadas quando os engenheiro que saem das Universidades não têm a componente prática essencial à sua integração rápida na indústria a à evolução e modernização destas indústrias, mais evidente na têxtil que no calçado. Fala-se também no aumento exponencial dos alunos estrangeiros, que são na sua maioria brasileiros, que levam consigo uma imagem de departamento depauperados, equipamentos antiquados e pessoal, nomeadamente docente, já com idade próxima da reforma, tudo devido ao subfinanciamento do setor. Será esta a imagem que queremos para o ensino superior dentro e fora do País? Se algumas universidades e departamentos que apoiam os setores industriais, sejam as indústrias transformadoras sejam as de construção civil, vivem do que alcançaram no passado, na formação de quadros que ajudaram a construir estas indústrias , agora podem ajudar a descredibilizar essa mesma indústria se não se modernizarem e investirem no rejuvenescimento do seu pessoal docente. O governo e particularmente o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, devem começar a pensar no desenvolvimento da indústria para onde vão estes engenheiros e não tanto na investigação, nomeadamente aquela I&D "sem consequência", e devem alterar a sua política de investimento no ensino superior, investindo mais nos cursos e menos em I&D, pelo menos enquanto não houver um equilíbrio entre os dois vetores.

segunda-feira, setembro 18, 2017

As praxes sem controlo

Agora que as féria acabaram e as aulas começaram, temos as notícias do costume no que respeita ao ensino superior. Número de alunos que entraram, que este ano subiu enchendo a maior parte dos cursos, e a praxe. Vamos à praxe. Todos os anos há abusos nas praxes, e todos os anos comentamos esses abusos e lamentamos que quase tudo fique na mesma. Este ano não vou fazer comentários sobre os alunos. A prática da praxe já está enraizada, muito por culpa e complacência das Universidades, e para acabar com a praxe teriam que se tomar providências que afetariam toda a estrutura estudantil. As universidades não teriam coragem de fazer um "clean start" que seria necessário para alcançar o fim da praxe. Também teria que haver uma mudança de mentalidades dos alunos, o que não é possível num curto espaço de tempo. Por isso é melhor as universidades não terem a veleidade de poder fazer mudanças profundas agora. Limitem-se a impedir o pior das praxes evitando abusos maiores e não façam promessas que cheiram a propaganda. Se querem acabar a sério com a praxe, iniciem desde já um programa sério de reuniões, workshops, para talvez para o ano se iniciar um ano diferente, com um ano de transição para uma universidade sem praxes. Já muito foi dito das praxes e das tradições académicas. Elas complementam-se, e a praxe escuda-se muito nas tradições. No caso da maior parte das universidades as tradições são muito recentes e baseiam-se já na iniciação dos alunos e não propriamente em tradições académicas. A praxe é muito baseada no respeito pelas hierarquias, ou melhor, na submissão dos mais novos aos mais velhos. Nos colégios privado ingleses, os alunos têm uma hierarquia em que há prefeitos que tem poder sobre os alunos mais novos. Este sistema foi imitado por muitos colégios em muitos países, incluindo Portugal. Mas os alunos têm este sistema instituído dentro dos regulamentos dos colégios e ele é controlado à distância pelos professores, que mantêm um certo equilíbrio que protege na medida do possível os mais novos. Quando passamos para o nível do ensino superior, esta proteção desaparece e os alunos mais novos, os caloiros, ficam à mercê dos mais velhos, o que pode originar situações de humilhação para os caloiros que podem deixar sequelas. Quem se importa com isso? Só quando há uma desgraça, porque de resto a "caravana passa e os cães ladram" sem mordiscarem nem um pouco a estrutura da praxe.

segunda-feira, agosto 14, 2017

As férias dos outros

As férias estão à porta e com elas as pequenas coisas que nessa altura do ano irritam. Queremos praias e para chegar lá temos que ir para a fila. Na praia, temos que procurar um lugar no meio de uma multidão para colocar a toalha. Nos restaurantes, temos as filas e a lentidão do serviço. Á noite, o barulho dos altifalantes de bares e pessoas já alcoolizadas se estivermos a falar do Algarve. Noutros locais, temos as festas de verão que é melhor nem falar....para não ofender os que gostam. Enfim, é melhor se calhar ir para outras paragens mais sossegadas. É o que vou fazer este ano, não me livrando no entanto do caos dos aeroportos. Será que não podiam todos fazer férias repartidas como se sugeria há uns anos atrás? Aposto que haveria quem se queixasse de não haver precisamente todos estas chatices que para alguns são o essencial de se sentirem de férias. Ler um livro? Os mais jovens não sabem o que isso é e preferem as redes sociais nos telemóveis enquanto se bronzeiam ou esperam em restaurantes ou outros locais como sendo na praia, piscina ou outras zonas de lazer. Se não os acompanharmos, será que corremos o risco, nós os de outra geração anterior às redes sociais, de ficarmos noutra órbita e nunca fazermos parte das suas vidas? O tempo o dirá.

domingo, julho 23, 2017

As eleições para reitor e um RJIES que engana

No dia 13 de Julho foram anunciadas as eleições para reitor da UM a realizar em Outubro. Podem-se candidatar Podem candidatar-se ao cargo de Reitor, os professores/professoras ou investigadores/investigadoras doutorados/as da Universidade do Minho ou de outras instituições de ensino universitário ou de investigação, nacionais ou estrangeiras, em exercício efetivo de funções. Mas quem vota? O Conselho Geral. Sabemos que nas eleições para o Conselho Geral se delineavam candidatos a reitor nas duas listas que concorreram, tendo um deles expressamente indicado essa sua intenção, Nada que não se tivesse passado em eleições anteriores. O que isto indica e que no passado foi comprovado, é que os membros do Conselho Geral de listas ligadas a estes candidatos, votam neles, não sendo previsível qualquer voto num candidato de fora. Então para quê esta regra no Regulamento do Ensino Superior, o RJIES, que todos sabem que não tem qualquer consequência? Será para iludir os meios de comunicação social e o público em geral que o processo é ultra-abrangente e democrático? O atual ministro lá saberá pois ele foi um dos mentores deste regulamento. É mais uma incongruência do RJIES, mas esta em particular é mais publicitada que outras, sendo que pode induzir em erro candidatos desprevenidos no estrangeiro, que não conhecem este viciamento das regras por parte do RJIES e que são publicamente humilhados com zero número de votos ou muito próximo do zero. Como dizia Herman José num dos seus sketch: não havia necessidade.

sexta-feira, julho 14, 2017

Estudantes a meio gás

Soubemos pela boca do vice-reitor da Universidade de Coimbra em entrevista ontem à TSF, que há Universidades entre elas a Universidade do Minho, a cobrarem metade do valor das propinas a estudantes de Erasmus, nomeadamente referindo-se a estudantes brasileiros. A Universidade de Coimbra cobra as mesmas propinas que aos estudantes portugueses, Diz ele, e bem, que estamos todos a pagar para estudantes de fora estudarem nas nossas universidades, uma vez que metade do valor das propinas não paga os custos da Universidade por aluno. Para além desse aspeto, injusto também para os estudantes nacionais que pagam as propinas por inteiro, há ainda a considerar o facilitismo que é na generalidade concedido a esses estudantes na hora de lhes atribuir uma classificação. Vejam-se os Mestrado e doutoramentos que têm convénios com Universidades brasileiras e que já referi anteriormente. Não sei qual é a intenção dos reitores destas instituições nesta abordagem aos estudantes estrangeiros e nomeadamente aos brasileiros que já representam 1 em 5 da totalidade dos estudantes, segundo a mesma fonte. Será de engordar o número de alunos fugindo aos numerus clausus e dessa forma apresentar uma universidade com mais alunos competindo desta forma no ranking das maiores universidades portuguesas? Será porque consideram que as universidades são mais atraentes a estudantes estrangeiros e por isso são melhores? É um mistério...Maior contribuição para a produção científica dificilmente será, uma vez que estes estudantes, salvo raras exceções, não permanecem o tempo suficiente para produzir algo de cientificamente válido que seja publicável nas melhores revistas internacionais. Os estudantes devem ser todos tratados da mesma maneira e com o mesmo rigor, como é evidente. Penso que os professores e estudantes da UM, no caso que nos toca, merecem uma explicação por parte da reitoria.

domingo, julho 02, 2017

Penalizações salariais, ECDU e RJIES

Desde que os professores tiveram cortes nos salários, a partir de 2010, que a sua situação têm vido a piorar. É o IVA, a sobretaxa do IRS, e o agravamento da contribuição para ao ADSE. Para os professores Associados e Catedráticos, como todos os cálculos são baseados em percentagens, os salários mais altos são mais penalizados. Quando é possível escaparem a esta situação que acham injusta, estes Professores saem dela, como é o caso de saírem da ADSE, tendo saído mais de 2000 professores desde este aumento da ADSE para 3,5% de percentagem do salário. Se fosse possível evitar a sobretaxa de IRS, que penaliza muito mais os Professores mais graduados, também o fariam. Como não é possível, ficam-se pela desmotivação. Como as responsabilidades dos professores Catedráticos é muito limitada, sendo a orgânica do RJIES orientada mais para partidos políticos com base num sistema eleitoral mais adequado para a Assembleia da República, sem ter em conta a hierarquia conferida pelo Estatuto da Carreira Docente Universitária, ECDU, estes professores podem ainda sentir-se marginalizados e sem poder cumprir as suas responsabilidades previstas no ECDU. O RJIES veio desvirtuar o ECDU e este ministro tinha uma oportunidade para o alterar, não fosse ele um dos mentores deste regulamento, como membro da equipa de Mariano Gago. O sistema anglo-saxónico premeia o mérito, sendo aqueles que chegam a Professor com tenure, os que assumem funções diretivas, e o (Full) Professor, equivalente a Professor catedrático, o chefe de departamento/centro I&D. A democracia total de um homem um voto, independentemente da categoria, não se compadece com a excelência nas instituições científicas, como aliás acontece nas forças armadas, nos hospitais e na magistratura, em que os mais graduados é que são responsáveis pelo funcionamento das instituições. A votação, se a houver, é entre membros da mesma categoria elegíveis para o cargo, para assegurar que o coletivo de professores trabalhe para a excelência e não para eles próprios, coletivamente, como parece acontecer em muitos departamentos e centros das universidades. Quantos regulamentos é que o ensino superior deve ter? Não bastava o ECDU? Não poderia ser este documento alargado para através das áreas disciplinares já mencionadas nele, serem constituído departamentos/centros de I&D? Penso que é esse o modelo nos países anglo-saxónicos. Aqui, pelo contrário queremos inventar a roda e estamos sempre a legislar, dando tiros nos pés, em vez de aprofundar e alargar aquilo que já está estabelecido há muito nesses países que têm Universidades como Yale, Oxford, MIT, Cambridge, como um modelo próprio que funciona para universidades.

domingo, junho 04, 2017

Embalar a investigação e a ciência

A Universidade está (mal) organizada cientificamente. Não me estou a referir organização de regime e tradicional: humanidades/engenharias/ciências. Estou-me a referir à forma como são organizadas as equipas de I&D e que crescem com base nos resultados da investigação e como são avaliadas estas áreas, numa lógica métrica de número de publicações em revistas da especialidade com impacto no meio científico internacional. A questão é também se isto é só um problema das Universidades ou se tem consequências depois a jusante na sociedade e também na produtividade do país e em última análise, no planeta. Estou-me a referir àquilo que já aqui referi como sendo a massificação de publicações, a maior parte com a mesma origem, sem resultados determinantes para a sociedade, senão já se tinha evidenciado algo de novo na sociedade: a descoberta de uma nova vacina ou a descoberta de uma nova forma de tratar doentes com doenças incuráveis no caso de ciências da saúde, ou a descoberta de um novo meio de transporte ou de novas moléculas para novos plásticos (polímeros) completamente biodegradáveis e acessíveis ao consumidor, de forma a não poluírem os mares, no caso das engenharias. São exemplos que nos vêm à mente, um pouco por influência do que lemos nos media como sendo as preocupações da sociedade de hoje. Hoje a ciência é produzida por equipas cada vez maiores e há a perceção que só com muitos recursos, humanos e materiais, é que se consegue chegar a estes objetivos. Sem dúvida que é uma necessidade. No entanto em muitas áreas, devido à abundância de recursos, obtidos com subsídios, o que se obtém são cada vez mais recursos que por sua vez produzem mais do mesmo, para com estes resultados se obterem mais recursos e assim sucessivamente. Assim funcionam por exemplo muitos dos subsídios da União Europeia para a investigação. Sem objetivos claros, sem qualquer exigência a nível de resultados que funcionem "no terreno", e já agora sem preocupações quanto ao futuro dos investigadores que trabalham nestes projetos, uma vez que são usados para fins pouco claros. Depois vêm as emendas a algo que está mal de raiz: propostas de contratar investigadores de forma a que possam fazer o que têm vindo a fazer indefinidamente, mas pelo menos terão um futuro mais seguro em termos financeiros e assim as entidades que promovem este monstro que criaram, as mega-equipas de investigação possam ter a consciência tranquila. O problema é que desta forma o "monstro" continua a ser alimentado uma vez que os investigadores serão profissionais nesta forma de fazer investigação. Pois esta forma de fazer investigação, que não é I&D (investigação e desenvolvimento) mas só I, pode produzir muitas publicações ditas originais, mas não produz nada de radical, que é o que o mundo precisa para resolver problemas sérios das suas populações e da sua sustentabilidade. Há uma expressão que está muito desgastada por ser tão (mal) usada, mas que de facto devia ser tomada a sério, que são os pensamentos "fora da caixa". Sem juntar esta possibilidade aos recursos existentes, temo que nunca mais se saia deste ciclo vicioso, de fazer investigação pelo prazer de o fazer, ou pior, pelas estatísticas, hoje dominadas pelos "rankings". Não é automático obtê-los (os pensamentos, as ideias). Não há muitos "Einsteins" e não há uma fórmula mágica de os produzir. Mas uma coisa é certa, se embalarmos a ciência, em qualquer que seja o sentido da palavra "embalar", não há mesmo maneira de quebrar este ciclo, deste "faz-de-conta" de que estamos a trabalhar para um planeta melhor.

sexta-feira, maio 12, 2017

SNESup-Equiparar investigadores a professores

O SNESup, Sindicato Nacional do Ensino Superior, veio comentar as tabelas salariais previstas no diploma DL 56/2017 para os investigadores da carreira de investigação científica, argumentando que deve haver paridade com a tabela salarial dos Professores do Ensino Superior. Sempre defendi a investigação científica como forma de prestigiar as instituições de Ensino Superior. O ECDU promove a I&D através da sua inclusão na avaliação dos Professores para a progressão na carreira. Também é avaliada a componente pedagógica. No caso dos investigadores, a avaliação só se baseará na atividade de I&D. Não se entende com é que um sindicato que diz representar os professores do ensino superior, desvaloriza a atividade extra dos professores em relação aos investigadores, ou seja a componente pedagógica e já agora de gestão e de atividades de extensão universitária, todas efetuadas por professores. É de louvar o que o governo vai fazer, integrando precários nas carreiras respetivas do Estado. No entanto, no Ensino Superior não se pode equiparar carreiras tão distintas com a de investigador e a de professor, como pretende o sindicato. É fácil, por exemplo, integrar enfermeiros precários numa carreira que já existe, e que exercem as mesmas funções que os de carreira. Não é tão linear no entanto equiparar as funções de investigador e professor. O sindicato SNESup não tem sido tão ativo quando ocorreram os cortes nos salários dos professores, aproximando os salários dos professores associados aos dos auxiliares e o dos catedráticos as dos associados como agora está a ser com a proposta para os investigador principal, e investigador coordenador, que defende deve ter um salário bastante superior ao do investigador auxiliar. Concorda com o salário do auxiliar, no entanto. Não se compreende. Há contradições que devem ser explicadas nesta argumentação tendo em consideração a evolução negativa dos salários dos lugares correspondentes de professor associado e professor catedrático, tendo como referência o salário de professor auxiliar.

segunda-feira, abril 10, 2017

A Universidade sem rumo

Hoje, ao contrário de "ontem", a Universidade parece que deixou de ser um lugar de altos desígnios, em que o saber, a diplomacia e a solidariedade, pelo menos no trabalho conjunto para melhorar o ensino, eram consensuais entre os Professores. Há grupos que o RJIES veio ainda acentuar a sua inconsequência, como é o caso dos funcionários. Limitados a um representante no Conselho Geral, encostados pelos Professores a lugares de cada vez menos relevância, deixando um vazio na gestão diária da Universidade. Outros grupos no outro extremo que são os Professores Catedráticos, uma minoria, que devido a uma organização de "pirâmide invertida" de suposta democracia, baseada nos votos de uma maioria dos que se acomodaram ao longo dos anos, permanecendo num patamar cómodo de nível de Professores Auxiliares e Associados, não evidenciando vontade de subir de categoria por razões que talvez se prendam com a desvalorização salarial e de direitos que sofreram nestes anos de crise os do topo da carreira. O argumento para haver um verdadeiro leque salarial de forma a incentivar quem quer subir na carreira, com maiores ordenados e responsabilidades no topo, é um argumento que outras profissões usam, tanto nas forças armadas como no sindicato dos juízes, e que tem sido aceite pelos últimos governos, mas que no que diz respeito ao Ensino Superior tem ficado na gaveta, muito por culpa da falta de reivindicação dos sindicatos neste sentido. Estes preferem defender por exemplo que Professores Auxiliares convidados sejam integrados sem qualquer concurso nos quadros das universidade e principalmente nos politécnicos. É corporativismo nivelado por baixo, igual ao dos polícias, guardas da GNR, magistrados entre outros, em que se defende a maioria sem defender o mérito. No caso dos funcionários da universidades, o que se procurou resolver pelo mérito, através de avaliações com base em quotas de excelente, deu azo a muitas injustiças, uma vez que ao contrário do que acontece com os Professores com júris constituídos por especialistas e membros externos, são júris constituídos maioritariamente por Professores, sem conhecimentos para avaliar funcionários com tarefas que desconhecem, e portanto são vulneráveis a influências várias, vindas normalmente de cima, uma vez que pensam que o que distingue os funcionários de uma maneira geral não é nada de mais e que nada de mal vem a este mundo se quem for promovido não será porventura o mais capaz. Penso que há muitos anos, sem SIADAP se faziam as coisas de maneira diferente, sendo que para se ser técnico superior ou diretor de serviços era necessário pelo menos a licenciatura e alguma experiência na área. Agora, o novo regulamento e a autonomia da universidade permite que qualquer uma seja promovido, sem qualquer destes requisitos, para estes lugares que teriam influência no funcionamento da universidade e que desta forma serão lugares que não serão consequentes, mas que terão um gasto para a universidade que poderia se melhor empregue, nem que fosse numa empregada de limpeza. Bem vistas as coisas, tudo se conjuga para aquilo que se espera provar, pelo ministro da tutela, em parte mentor do RJIES e do regime fundacional, e por outros que defendem o regime fundacional, que nada que vem aí com este regime pode ser pior que o que temos agora, que é péssimo, e que as contratações e promoções por esta via poderão até ser mais justas que as que foram nos últimos anos com o RJIES e o SIADAP.

domingo, março 19, 2017

Doutoramentos financiados

Numa reportagem do programa da RTP 1 "sexta às 9", dedicada a um doutoramento na Universidade de Vila Real e Trás os Montes, UTAD, encomendado por uma universidade brasileira, houve denúncias de alunos que não podiam apresentar as suas teses de doutoramento porque os serviços da Universidade não tinham registo do pagamento das suas propinas. O caso tornou-se num caso de justiça, quando se percebeu que alguns professores, tinham contas bancárias paralelas onde se depositavam valores que deveriam ir para a Universidade para pagar as propinas das alunas em causa. Mas não é esse episódio que me leva a comentar este assunto deste doutoramento. É o facto de aparentemente não ter havido orientação por parte dos orientadores e portanto das teses não terem qualidade de teses de doutoramento. Era altura de se fazer uma avaliação aos doutoramentos que existem nas universidades portuguesas financiadas por entidades brasileiras, no que respeita nomeadamente à qualidade desses mesmos doutoramentos. Nos casos como este em que os professores da Universidade recebem para orientar esses alunos, a própria universidade também recebe, não haverá um conflito de interesses na avaliação feita pela própria universidade? Não será difícil estabelecer um exame independente bastando para isso por exemplo que os doutoramentos voltassem a exigir que a maioria dos elementos do júri fossem de outras universidades, o que de momento está dependente dos regulamentos dos programas de doutoramento, não havendo nos estatutos das universidades como o da UM por exemplo, uma norma que regulamente este aspeto em particular. No ECDU também não aparece por não dizer respeito à carreira docente. Há ainda uma questão de imagem. Nas Universidades de países como o Reino Unido ou outros muito procurados pelos alunos estrangeiros, os alunos pagam propinas, mais altas que os do país de origem ou da Comunidade Europeia no caso da Europa, mas os professores não são pagos extra para a orientação desses alunos, não havendo por isso um claro conflito de interesses quando da sua avaliação. Porquê que em Portugal é diferente? Não será algo que pode desvalorizar a nossa imagem perante outras universidades concorrentes na captação de alunos estrangeiros? Fica aqui a questão.